Há pouco tempo, um colega apareceu-me no gabinete e perguntou: Quer ver como era quando era nova? e deu uma gargalhada. Não percebi. Ele, rindo-se, acrescentou: E o Paulinho? Um menino. Chamou-me, então, que fosse ao seu gabinete. Foi à estante e, de uma pilha de revistas, escolheu uma. Era uma revista que, no tempo do papel, se fazia no Grupo. Agora ainda se faz mas, como é bom de ver, já é tudo para ver no computador, uma tremenda falta de graça. Mas, então, folheou a revista e mostrou-me: Olhe para si. E eu vi-me. Teria, naquela altura, seguramente menos uns dezassete ou dezoito anos do que tenho hoje. Pesaria cinquenta e poucos quilos e usava o cabelo bem curto, quase uma Jean Seberg. Na primeira fotografia, de grupo, estamos todos junto ao autocarro que nos levaria para um fim de semana de aventura. Tínhamos todos ar de jovens, ríamos sem saber ao que íamos. Eu estava com uns jeans, uns ténis, uma blusinha justa, decotada, sem mangas. Numa outra fotografia já tenho outra blusa, estou sentada num chão atapetado de erva, encostada a uma árvore, ao lado de outros colegas. Combinávamos uma estratégia e, pelo ar atento de todos, levávamos aquilo muito a sério. Numa outra estou com eles a fazer uma jangada e noutra já vou em cima dela com alguns deles, todos com um colete que identificava a equipa. Não apareço naquela corda oscilante, suspensa por cima do rio, onde apanhei um dos grandes sustos da minha vida, e é pena que não tivessem registado esse grande momento. Nem há fotografias das provas de orientação diurna, muito menos do festival que foi a orientação nocturna.
Nessas fotografias mal consegui localizar o colega que estava agora a mostrar a revista. Ele ajudou-me: Então não reconhece aqui o menino? Não mesmo. Agora tem o cabelo completamente branco enquanto naquela altura não apenas tinha metade do volume que tem hoje como tinha o cabelo todo preto.
Com quem ele se divertiu mais, e eu também, foi com o Paulo, grande director da 'casa', então quase um puto, tal o ar de menino, tal o cabelinho à beto e o outfit de rapazola. Olhe aqui o nosso grande Paulinho...! E riu à gargalhada. Eu também.
Nunca mais tinha conseguido localizar onde tinha sido esse épico evento de team building. Nem ele nem o Paulinho se lembravam. Um dizia: Seria Canas de Senhorim? Pelo menos o hotel acho que era. Outro dizia: Não sei. Penela? Ou Penalva? Não nos lembrávamos.
Pois bem. Sem querer, agora vim parar a esses lugares. Hoje, à hora de almoço, estive no Panorâmico onde, numa das vezes, tínhamos almoçado. E hoje reconheci o lugar onde fizemos as jangadas e as águas em que remámos como se tivéssemos que chegar mesmo a um certo destino. Os homens são muito competitivos e eu vi-me e desejei-me para os acompanhar para que não os fizesse perder o lugar na competição. Eles próprios, quando andávamos por montes e vales a correr, a escorregar e a trepar, quando me viam a perder a força, me davam a mão e puxavam por mim.
Tinha de memória que tinham sido lugares lindos mas, na altura, o convívio, a palhaçada, a diversão e a ocupação permanente não deixavam grande espaço para o desfrute das belezas naturais.
Hoje não, hoje estive dedicada não à aventura e à competição mas ao encantamento. E se me encantei. Quanta beleza. A água corre, sala e canta por aqui. Para além de nós, hoje, quatro franceses. E, mais à frente, dentro de água, um pescador. Pensei na felicidade que deve ser estar assim, ali, em paz, sem pressa, sem ruído, entre verdes e sombras quase douradas na água, esperando o peixe. Um luxo. O verdadeiro luxo é isto, o contacto directo e silencioso com a natureza. Luxo e felicidade.
Maravilhada, fotografei sem parar. Andei pelos caminhos de pedra, junto às levadas de água, pelas margens do rio. Tudo tão lindo. Pudesse eu e convidava-vos a todos a virem até aqui visitar estes lugares que parecem de um outro tempo, de um outro planeta que não aquele, citadino, que habito durante a semana. Tudo tão puro e límpido e intocável, tudo tão tranquilo e belo.
Os pássaros cantam no maior chilreio e os patos deslizam pela água e, de vez em quando, vêm dar uma volta a pé, sem se importarem com a presença humana. E a sua plumagem tem umas cores que parecem perfeitas demais para não terem sido desenhadas e pintadas por alguém. Mas certamente o grande deus que é o acaso e o tempo que aperfeiçoa todas as coisas explicam o que por aqui se pode ver.
E até os cogumelos, senhores, até os cogumelos em alegre ajuntamento, estão solares, atrevidos, serzinhos brincalhões de dentinhos de fora.
Chove enquanto escrevo. Chove muito. A chuva foi este domingo uma constante. Agora ouço também o vento. Tão bom andar por aqui com este tempo abençoado. Era bom que pudesse ficar mais uns dias. Mas não dá. Fica para a próxima.
Ainda tenho outros lugares bonitos para vos mostrar, mormente, o espaço do Senhor Alfredo, mas agora já não consigo, tenho que apagar a luz. Fica, talvez, para amanhã.
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Envio daqui os meus votos para que Luis Sepúlveda tenha consigo a imagem de Greta Garbo para que o proteja. Era dele a história de que não há muito aqui falei. Mas se não for a Greta Garbo pois que qualquer outra santo ou santo da sua afeição zele por ele.
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Se ainda não conhecem Santa Comba Dão, não deixem de visitá-la ao vivo ou, se não puderem, aqui
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Hoje não consigo comentar os comentários pois, reconheço, já estou a pisar o risco.
Desejo-vos uma bela semana, a começar já por esta segunda-feira
9 comentários:
UJUM de costas na fota acima?
J.L
Apesar de relativamente perto... Confesso que nunca fui ao vimieiro. A associação àquela figura sinistra sempre me causou alguma repulsa. Mas bonito, pelo que vejo aqui. Típica terra do Dão - Lafões. ;)
Suba o buçaco na volta. Se tiver tempo faça a caminhada da vila (Luso) até às cruz alta (ou, de uma das entradas da mata). Vale a pena. Aí vou com alguma frequência.
Abraço e boas férias!
Ah! E antes de entrar na autoestrada, vá do Buçaco / Luso até à Curia (de preferência via Vila Nova de Monsarros. Na Curia, procure a estação de comboios. O edifício está transformado numa loja da Rota de Vinhos da Bairrada. Peça para fazer uma prova. O valor (barato) é descontado numa compra de vinho na loja. Provará bons vinhos e levará alguns para casa a muito bom preço. Se optar pelo Marquês de Marialva Baga Grande Reserva, levará um belo tinto, de características diferenciadas e bem bairradinas.
Abraço!
Paulo B
Já agora, um nativo típico destas bandas: https://youtu.be/LDR5P-Vk_l0
(E sim, eu tinha um primo - faleceu faz uns 2 anos - que falava exatamente assim... Aliás, o engraçado das personagens do Bruno Aleixo é o seu grau de verosimilhança.. embora sejam fenómenos muito restritos e em desaparecimento acelerado).
Ps: ali acima de Santa Comba Dão, em Tondela, vale a pena ir na Páscoa, ver a magnífica queima do Judas organizada pela Acert. Costumo estar lá batido.
Olá Anónimo,
Acha?! Nem pó. Esta era uma senhora do grupo de quatro que andava também por ali à descoberta. A UJM é secreta, não se mostra assim tão facilmente...
Paulo, olá,
Vou agora falar de um lugar e a ver se ainda consigo aqui voltar para falar consigo.
Até já ou até amanhã.
Olá Paulo,
Já fui conhecer o Luso, a Curia, o Buçaco (ou Bussaco? nunca sei) e até já fiquei no Palace e muito passeámos por entre aquele arvoredo mas não conheço o que referiu e, da próxima que lá for, irei visitar. Houve uma altura que ia muito à Curia.
Mas não conhecia as terras em volta da Barragem da Aguieira. Terras tão lindas. E já fiquei uma vez em Tondela mas não conhecia essa tradição. O nosso país é cheio de hábitos e tradições e é um fascínio ir conhecer todas as nossas maravilhas.
E sempre achei que as falas daqueles viriatos do Bruno Aleixo nada tinham a ver com a realidade. Não me diga que há quem seja e fale assim...? Deve ser de ir às lágrimas...
Tem muita sorte em ser de uma parte do país onde há tanta lugar lindo para visitar, Paulo.
Abraço.
Estando em Tondela, que é uma terra muito agradável de visitar, não foi até à aldeia de Tonda e ali ir comer ao "3 Pipos"? Se não foi, numa próxima vez não deixe de lá ir. Fica a sugestão.
Aquela região ali à volta foi muito fustigada pelos incêndios de Outubro de 2017.
P.
Olá P.
Não fui, não. Nem sabia, não só dos 3 Pipos nem da aldeia. Mas fica para quando lá voltar.
E muito bem se come por estas bandas... Comida tão boa e tão bem servida. Diria mesmo que há algum exagero, tanta carne, tanta comida. Uma pessoa está habituada às little doses da capital e chega ali e quase cai para o lado só de ver aquelas travessonas cheias de comida...
Sabe do que eu mais gosto? Daquelas sopas de legumes tão boas. Cheirosas, macias, saborosas. Mas o melhor foi um alguidar de barro com uma macia e gostosa chanfana. Puxa, que boa.
E tudo tão lindo, tão puro!
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