segunda-feira, março 23, 2015

A história verdadeira de um optimista romântico


No post abaixo já falei dos dois comentadores pimbas que arrebatam audiências com tiradas populistas, insinuações deixadas cair como que por acaso, sorrisos matreiros, pretensamente sedutores na forma como sorriem e se bandeiam: nas horas de maior audiência, em horário nobre aos fins de semana, eles aí estão procedendo a diligente lavagem ao cérebro dos portugueses: Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, vou falar de outra coisa. Em tempos tinha pensado escrever sobre pessoas cujas vidas tinham deixado uma marca em mim. E comecei por escrever sobre a pessoa sobre quem vão ler. Mas não encontrei o registo certo. Detive-me. Várias outras vezes pensei voltar e, de cada vez, me arrependia a meio.

Vou hoje tentar de novo. Uma vez que é uma pessoa de verdade, não quero subverter o que dela me lembro nem quero ser demasiado explícita pode alguém reconhecer e achar que não estou a ser justa. Vamos ver se hoje levo mesmo até ao fim o meu propósito.








Esta é a história verdadeira de um optimista romântico. Tinha todas as razões para ser um pessimista mas, pelo contrário, até ao ponto em que dele tive conhecimento, nunca desmoronou. Belo rosto, senhor de um charme natural e de um optimismo que ninguém percebia de onde vinha, tentou sempre enfrentar a má sorte com determinação e pensamento positivo.

Pouco depois de eu começar a trabalhar conheci-o: era bem mais velho que eu e estava nos escritórios centrais mas guardava a nostalgia da altura em que tinha um cargo operacional chefiando centenas de pessoas. 

Este meu colega, que eu conheci como simpatizante socialista, e que me contou ser socialista desde antes do 25 de Abril (aliás, pertencia a uma família ligada ao partido socialista e que ocupou os mais altos cargos nacionais, coisa de que ele pouco falava e de que nunca usufruiu qualquer tipo de vantagem), tinha sido saneado das suas anteriores funções na sequência de um plenário no verão quente de 75, quando, por aquelas bandas, praticamente toda a gente que tivesse cargo de direcção era apodado de fascista e, logo, liminarmente afastado.

Pela grande injustiça e porque dizia ter sempre mantido uma relação de respeito e defesa pelos direitos dos seus colaboradores, esse saneamento era uma coisa da qual lhe ficou uma grande mágoa.




Nessa altura em que o conheci vivia ainda um outro problema. O casamento era já apenas uma fachada, há muito que ele e a mulher não faziam vida conjugal. Ela era toda esquerdista e, segundo ele, um bocado agressiva. Tenho ideia de que era investigadora mas que pouca atenção dedicava à investigação porque, a maior parte do tempo, andava a preparar a revolução.

Tinham 3 filhos, na altura adolescentes, dois mais velhos, já universitários, e uma miúda então ainda no liceu, e, apesar do sacrifício, ele pretendia esperar que estivessem todos já mais ou menos ‘encarreirados’ para se separar da mulher pois sabia que a mulher, naquelas andanças revolucionárias, pouca atenção lhes dedicava e temia desestabilizá-los e, de alguma forma, prejudicar o seu futuro. Pelo que ele contava, a mulher odiava-o como odiava todos os ‘vendidos’ ao capital (classe na qual incluía o coitado do marido). Além disso, manipulava os filhos contra o pai de uma forma que o deixava revoltado e, sobretudo, muito triste.

Durante os muitos anos que lidei de perto com ele, sempre o achei uma pessoa trabalhadora, muito sincera, pura, sensível, mesmo boa pessoa. 

Ele, entretanto, tinha ‘arranjado’ uma senhora viúva, que vivia no mesmo bairro e que tinha um filho também universitário. Ele gostava muito dela, dizia que era boa pessoa, calma, dedicada à casa, atenciosa, carinhosa – tudo o que a mulher não era. Contudo, existia um grande senão naquela relação: por ele ser um ‘homem casado’, a senhora não assumia a relação perante ninguém, muito menos perante o filho. Por isso, ele tinha que entrar em casa dela furtivamente, pelo cair da noite, para, muitas vezes, ter que sair logo a seguir, não fosse o filho chegar. Essa senhora pressionava-o muito para que ele se divorciasse da mulher mas, não apenas a mulher lhe dizia que nunca lhe daria o divórcio com ele próprio achava por bem aguardar, pelo menos, até que a filha entrasse na universidade e que os outros acabassem os cursos.

Foram anos de discussões com a mulher, e de desgaste com a outra senhora, mas, sobretudo, anos de espera.

Entretanto, os dois filhos mais velhos licenciaram-se. E a miúda entrou na universidade.




Nessa altura, apesar de a mulher continuar a recusar o divórcio, ele assumiu perante os filhos o fracasso do casamento e anunciou que ia sair de casa. Viviam numa boa casa mas abriu mão de qualquer contrapartida pois era ele que ia sair de casa e aí viviam também a sua filha e o filho do meio e ele nunca os quereria afectar (além disso, a mulher já o tinha avisado que não esperasse outra coisa pois, caso contrário, acusá-lo-ia de adultério com abandono de lar e entrariam numa disputa judicial)

Pensava ele que, assim, a ‘outra senhora’ o aceitaria sem reservas mas teve um inesperado dissabor. A senhora achava que perante o filho, perante os amigos e vizinhos não podia acomodar na sua casa um ‘homem casado’ e disse-lhe que, perante ela, a situação se mantinha a mesma: teria que continuar a entrar às escondidas, sair às escondidas, ter que sair à socapa pelas traseiras caso pressentisse que o filho pudesse entrar sem aviso, etc.

Foi um balde de água fria. Mas em casa não podia continuar.

O filho mais velho vivia desde há algum tempo num apartamento próprio, um T1. E então ele, imaginando que seria uma boa coisa aproximar-se do filho, dividir despesas e que, também, seria por pouco tempo, propôs ir viver com ele.

No entanto, as coisas não correram bem. Entrou então num novo e difícil período da sua vida. O filho tinha hábitos de jovem solteiro e um grande pé atrás em relação ao pai, dado ter sido, desde sempre, manipulado sistematicamente nesse sentido pela mãe. De modo que tratava o pai como um quase indigente a quem estivesse a dar abrigo por comiseração.

Sendo a casa um T1, o filho, que antes dormia no quarto, apesar do pai ter ido viver lá para casa, não o cedeu. Ou seja, o pai dormia no sofá-cama da sala. Todos os dias, o meu colega fazia e desfazia a cama e pendurava a roupa em cabides nuns fios que tinha colocado na varanda e a restante guardava numa mala e em sacos. O filho também não tinha disponibilizado espaço de roupeiro ou gavetas.

Depois o filho entrava tarde e fazia barulho, acendia luzes ou, se estava em casa, via televisão na sala até de madrugada e o pai, coitado, de favor, não o podia impedir disso. Das poucas vezes que protestava o filho dizia-lhe secamente que ‘quem está mal é que se muda’.

Tamanho foi o desconforto geral por toda a nova situação, o stress, que a relação com a ‘outra senhora’, que tinha durado anos, também acabou por não resistir e ele viu-se sozinho e sem esperança.




Mas isso não durou muito tempo. Uma vez, foi ao lançamento de um livro e viu lá uma mulher muito interessante, sexy, vistosa. No fim, dirigiu-se ao metro e o mesmo fez a sexy lady. Vinham os dois com o livro na mão e naturalmente meteram conversa. A voz dela fascinou-o, era quase rouca, sensual. Combinaram novo encontro. E assim começou uma nova relação.

Lembro-me dele nessa altura: apaixonado, leve, alegre, um menino. Passado pouco tempo já eram mais as noites que ele passava na casa dela do que as que passava na casa do filho. 

Reformou o guarda-roupa, ele que era um homem bonito de meia idade, remoçou, todo ele se ria. E quando ela lhe ligava, todo ele se derretia. No fim, dizia invariavelmente, com ar rendido: “Ai esta voz…”.

Mas há pessoas que não nascem para ter vida fácil. Passado algum tempo, o semblante começou a andar sombrio.

Eu fui, durante todos esses anos, sua amiga e confidente.

O que se passava, então, agora?

A senhora, dizia-me ele, escolhendo as palavras, ‘é muito inteligente, muito culta, move-se nos meios da cultura, os amigos são escritores, jornalistas, artistas, gente do teatro, e parece divertir-se no meio deles mas a verdade é que sofre de crises de ansiedade e, de facto, nunca nada a satisfaz, parece até que se recusa a dar-se por satisfeita, porque o seu estado é o de procura, e então gera-se dentro dela uma tensão enorme e tem, imagine só, crises de histeria. Quem a veja na rua não percebe mas, na intimidade, é um desassossego. A todos os níveis, percebe?’. Eu percebia.

Aconselhou-a a procurar médico. Depois de meses de insistência, conseguiu, foram os dois. Mas ela, a mulher sexy e aparentemente feliz, era de facto uma pessimista congénita, uma infeliz, com pesadas depressões e, durante as crises de histeria, tornava-se insuportável. E agora acusava-o de não a compreender, de achar que ela era maluca, e o clima foi-se deteriorando. 

Até que ele não aguentou mais e separaram-se. E não suportou mais viver de favor na casa do filho. O mais novo, com quem teve sempre um excelente relacionamento e de quem falava sempre com grande ternura, era professor, estava colocado longe, só vinha a Lisboa ao fim de semana. Portanto, alugou um quarto, creio que ali para as Avenidas Novas. Ele, que já tinha vivido numa bela casa, que em tempos tinha tido um importante cargo de chefia num grande grupo, ia agora viver para um quartinho alugado. As voltas que a vida dá. Mas, sem dramas, lá foi.




Entretanto, nova crise pairava no ar. A filha começou a namorar um ‘sujeito’ muito mais velho, divorciado, ligado à música e que, segundo ele, era mal encarado, tinha ar de consumir drogas. E, como se isso não fosse suficiente para preocupar o pai, resolveu largar o curso da universidade e inscrever-se num grupo amador de teatro experimental. Tinha então perto de 20 anos e nunca, até essa data, tinha manifestado qualquer aptidão para a representação. Na família próxima havia uma actriz bastante conceituada e o contraste não podia ser mais gritante. Mas a miúda não via isso, a mãe tinha mais que fazer e o namorado achava que ela devia seguir o seu próprio destino sem se importar com os velhos do Restelo.

O pai quase chorava com o que a filha andava a fazer: Imaginava-a abandonada pelo ‘malandro’ – que era mais o tempo que não fazia nada que o que trabalhava – qualquer dia grávida e sem dinheiro, sem profissão, sem um curso.

De notar que quer ele, a mulher e os filhos, bem como toda a família é gente de boas profissões, de cultura, tudo gente com cursos superiores, mesmo os mais velhos, pelo que ele imaginar que a filha não ia ter um curso e se ia meter numa aventura de representação, sem qualquer aptidão ou preparação para isso, o deixava transtornado. Depois o ‘sujeito’, dizia ele, parecendo quase da mesma idade que ele, levando a filha para uma vida de borga e leviandade, estava a dar cabo da vida da sua menina.

Os telefonemas que ele tinha com a miúda – em que, quase sempre, acabavam a discutir, e ele, depois de desligar o telefone, quase a chorar – eram constantes.




Até que aconteceu a gota de água. A miúda saíu de casa da mãe e foi viver com o namorado. Ele foi lá com a ideia de a convencer a voltar atrás mas veio derrotado: aquilo é um tugúrio’ dizia ele, ‘e a minha filha deixou de ouvir a voz da razão’.

Ele dava uma pensão à filha e, para além da verba estipulada, passava a vida a dar mais dinheiro, para roupas, para sapatos, para livros, para ir aqui, para ir ali. Mas desde que ela tinha deixado de estudar e especialmente depois de ir viver com o homem ‘quase com idade para ser pai dela’, as discussões sobre dinheiro eram também frequentes.

Até que depois de muitas discussões (‘fazes o que quiseres, quando fores dona da tua vida’, ‘enquanto for eu a pagar, deves-me respeito já para não falar em obediência’, ‘se ele acha muito bem, então pede-lhe o dinheiro a ele’, etc), num dia de cabeça perdida e muitas lágrimas, ‘a minha filha está transformada, foi mal criada, ofendeu-me', resolveu suspender a mesada.

Seguiram-se os telefonemas ameaçadores da ex-mulher, seguiu-se a preocupação dele, dando a um dos filhos dinheiro para que ele ajudasse a irmã mas sem lhe dizer que era dele o dinheiro. O filho do meio apoiava-o e compreendia-o mas vivia longe, e o mais velho, dizendo que não estava para se meter no meio de chatices, sempre se pôs de fora. Dias de agonia para ele, sem saber qual a melhor forma de acautelar o futuro da filha.

Mas as coisas podem sempre piorar.




E pioraram. Um dia recebeu uma notificação. A filha tinha-o processado por incumprimento dos deveres de pai. Ia morrendo de dor. Andava branco, quase sem voz. 

Pediu se eu e outro colega podíamos ser testemunhas dele. Claro que sim.

Um dia lá fui então. Foi no Palácio da Justiça da Marquês da Fronteira. A filha chegou com o advogado e nem o cumprimentou. Ele aflito.

Quando chegou a minha vez (a primeira e única vez que me vi neste papel), entrei nervosa. Fiquei de pé em frente do juiz. O juiz fazia-me perguntas secas e tendenciosas. Se eu respondesse afirmativamente sem enquadrar e sem explicar o contexto, entalaria certamente o meu colega. ‘Ouviu o Senhor Fulano de tal dizer que ia suspender a pensão à filha?’, ‘Ouviu o Senhor Fulano de Tal ameaçar a filha de que se não abandonasse o curso que ela tinha escolhido e o namorado que tinha escolhido, a castigaria suspendendo a pensão?’. 

Mas sempre que eu começava a explicar o contexto, e o amor dele pela filha, a preocupação pelo seu futuro, etc, o Juiz interrompia-me bruscamente ‘Sim ou não? Limite-se a responder ao que lhe pergunto. Sim ou não? Vou ter que lhe lembrar outra vez que não está aqui para falar sobre o que lhe apetece mas para responder ao que lhe pergunto? Sim ou não?’ e eu ‘ Sinto que se me limitar a responder sim ou não, estarei a induzi-lo em erro, contribuindo para uma ideia distorcida. Deixe-me acrescentar uma explicação.’ E ele, ‘Não tenho tempo para explicações, tenho muitos assuntos para tratar’ e depois, no fim, quando eu pensei que finalmente ia poder fazer um enquadramento explicativo: ‘Pode sair’

Saí de lá com a noção de que o tinha prejudicado. O mesmo aconteceu com o outro meu colega que também tinha ido testemunhar. 

E assim aconteceu: foi condenado. E humilhado. 




Mas, estranhamente, este meu colega, a quem a vida corria tão mal, não era um pessimista e sempre achou que melhores dias haveriam de vir.

Costumava, ao fim da tarde – como a sua casa agora se restringia apenas a um quarto e como o único filho com quem se dava vivia longe – ir-se sentar num banco de jardim, ali para o Príncipe Real, jardim tranquilo, e lia o jornal ou um livro. Ou ia para a esplanada, comia uma tosta e um leite que lhe serviam de jantar. 

E aí conheceu uma senhora, segundo ele com ar de senhora de família. Começaram a falar, não me lembro como. Ela era viúva, tinha um filho casado, netos. Trabalhava como modista para um costureiro da sociedade. Tomaram-se de amores. Era uma senhora serena. Ele passou a, volta e meia, ir jantar a casa dela, a senhora cozinhava muito bem, tomava-lhe conta da roupa, passou a ir lá ficar muitas noites, às vezes também ao fim de semana.

Até que nova tempestade se desenhou no horizonte.




Pelo meio de todas as crises anteriores, a mãe dele morreu. Ele herdou a casa, a casa onde ele tinha vivido até vir estudar para Lisboa. Cheguei a visitar essa casa: era relativamente simples, mas com vários quartos, com um terreno razoável e numa zona turisticamente muito valorizada. Desde há vários anos, ainda em vida da mãe, ele vinha reabilitando anexos, arranjando a casa e não tencionava, nem por sombras, desfazer-se da casa. Era o único património que teria para deixar aos filhos. Além disso, por ser no sítio que era, alimentava a esperança de que os filhos, e mais tarde os netos, viessem a juntar-se naquela casa, afinal tão perto das praias. Tinha o sonho de voltar a reconstruir o espírito de família com os filhos.

Eis senão quando a ex-mulher, reclamou para si o direito a metade da casa por a herança ter ocorrido enquanto casados em comunhão total. Não me lembro como é que as coisas se passaram, mas sei que ela lhe moveu um processo, exigindo direito a metade do valor da casa, depois de a ter mandado avaliar. O valor era muito mais do que o que ele possuía pois a casa encontrava-se no coração de uma zona turística, altamente valorizada. Só lhe poderia dar a verba pedida, se vendesse a casa - e isso ele jamais faria. Era o que lhe restava de seu, eram as suas recordações, era o que ele queria deixar de herança aos filhos.

No entanto, para seu grande desgosto, foi o que teve que fazer. Obrigado a isso, vendeu a casa da mãe e deu metade do dinheiro à mulher. Morreu um pouco nesse dia.

Mas ficou ‘rico’ dizia ele algum tempo depois, tentando consolar-se. Por achar que essa verba era indesejada, resolveu dividir a verba entre ele e os filhos e, no fim, acabou com pouco. Mas a senhora com quem namorava a isso também o aconselhou e ele acabou por se ficar a sentir de bem com a consciência porque afinal teve a possibilidade de ajudar os filhos, permitindo a herança em vida.

Nessa altura mudou-se para casa da senhora que entretanto passou a trabalhar em casa.

Entrou numa fase mais aquietada da sua vida. Reformou-se.

Nessa altura perdi o contacto regular com ele.

Algum tempo depois soube que essa fase aquietada durou apenas até ao dia em que o pior aconteceu. O filho do meio, o seu suporte e o único carinho filial com que sempre contou, inesperadamente morreu. Um aneurisma fatal que clandestinamente vivia no seu cérebro como uma bomba-relógio, sem aviso prévio, levou-o num dia que parecia normal.


Não voltei a saber dele. Tomara que tenha encontrado a paz e a felicidade que sempre tanto procurou.




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As fotografias são da autoria de  Hidenobu Suzuki

A música é de Max Richter - On the Nature of Daylight

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Permitam que relembre que sobre a dupla laranja-pimba de comentadores, Marcelo & M.Mendes, falo já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

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4 comentários:

Vitor disse...

Dramático e impressivo texto da vida real, estimada UJM .
Emocionou-me, profundamente .
Melhores Cumprimentos
Vitor

Anónimo disse...

Que história tão triste, UJM!
Mas esse seu amigo, caramba!... Ao fim e ao cabo, estragou 2 dos 3 filhos. Há muita gente assim, estraga os filhos, cria-os mimados e sem consideração pela própria família, a julgarem-se no direito de desprezaram os pais e depois é uma tristeza, são maltratados por eles. Mas para ser merecedor do seu respeito e até do seu amor, não deveria ele, como pai, tê-los educado, no verdadeiro sentido da palavra? Com certeza, enquanto os miúdos cresciam, era mais fácil não se chatear muito com o que se passava com eles, com o ter de lhes ralhar, era mais fácil deixa-los nas mãos da mãe, mesmo sabendo que ela era uma víbora... Como o Afonso da Maia... Ao fim e ao cabo, o seu amigo trouxe muito mal ao mundo, gerando duas criaturas tão detestáveis. O único decente morreu, coitadinho, esse foi um duro golpe. Agora, os outros dois são culpa dele... Até lhe digo mais, não será revoltante que o senhor fosse tão otimista com a culpa toda que tem em ter criado os filhos como criou? Mas claro, é tudo sofrimentos de quem tem a mais, de quem recebe do nada uma herança que dá para sustentar durante uns tempos a vida miserável que a filha está condenada a levar, a ex-mulher ressabiada e a si próprio... É revoltante! E o pior é que conheço pessoas que mesmo tendo pouco ou quase nada, mesmo tendo perdido tudo, são negligentes, até com os seus próprios negócios. Estão literalmente a passar fome e não fazem tudo para angariar um cliente, para fechar um negócio, o que seja! Conheço um senhor que tinha dinheiro, um empresa grande e muitos amigos. Perdeu tudo ao ser enganado por um sócio que tinha dívidas enormes. A mulher dele ficou doente há uns anos - a doença das vacas loucas, ficou completamente senil em 4/5 meses. A filha há uns 2 anos saiu de casa para ir viver com um tipo qualquer e levou todo o dinheiro que ele tinha, deixando o pai e o irmão mais novo sem nada com que comprar sequer comida. Nessa altura também estávamos a passar por uma fase complicada aqui em casa e o meu pai não tinha com que o ajudar, por isso juntámos as sobras do meu mealheiro e do da minha irmã para ele poder comprar o passe, senão nem podia ir trabalhar. Nessa altura, ele trabalhava na empresa do meu pai, mas mesmo depois de ela ter fechado, o meu pai tem-no ajudado, encontrando uns trabalhos para ele. De há uns meses para cá, pô-lo a arranjar a casa de uma velhota também senil, coitadinha, completamente maluca, que vive como numa lixeira, é uma acumuladora - acumula porcarias que nem se consegue dar dois passos em casa dela sem ter de dar um salto sobre o entulho -, uma vez que o senhor tem jeito para as obras, tendo tido até uma empresa de construção. Mas o homem tem um problema crónico: não é capaz de acabar uma tarefa! Não consegue fazer nada do início ao fim! Então na semana passada, decidiu ir mexer no sifão do lavatório, mas deixou aquilo inacabado e a velhota ligou aflita ao meu pai, que estava tudo inundado inclusiva no andar de baixo, de que ela é senhoria. Uma chatice! Eu digo ao meu pai que o homem estraga mais do que arranja, que lhe compra mais coisas para amontoar com o dinheiro dela em vez de tirar porcarias de casa, mas o meu pai tem pena dele e diz que a velhota assim sempre tem alguém que a acompanhe, que esteja às vezes com ela. E concordo, acho que é bom ela ter alguém por perto, porque ela precisa de ser orientada. Mas o senhor não podia ser mais dedicado? Não podia ser mais diligente e cuidadoso?
E o seu amigo era um otimista? Parece que andava a gozar com isto tudo...
JV

FIRME disse...

LAMENTÁVEL,COMENTÁRIO...Há gente que olha,ouve,lê...e nada VÊ,ESCUTA E NEM 1 FRASE percebe...ou finge! A santa má "ignorância",ainda exite...UjM,desculpe -me este comentário !Boa semana...

Um Jeito Manso disse...

Credo JV, que intolerante...,

Coitado do meu amigo. Posso assegurar-lhe que é das pessoas mais encantadoras que até hoje conheci. Sempre disponível para se apaixonar de novo, sempre pronto para dar mais uma hipótese aos filhos, sempre a achar que estava a fazer o melhor. Nunca desesperado, nunca deprimido. Triste, sim, muitas vezes o vi. Mas logo a arranjar energia para recomeçar.

A vida é feita de opções e pode acontecer que se façam sempre as escolhas certas ou não. E há a sorte que é exógena.

A vida pode ser um mar de rosas ou pode mesmo ser um castigo.

De fora é fácil achar que os outros fazem bem ou mal, mas para quem está dentro das situações nem sempre é fácil.

E a vida normal, muitas vezes é feita de más escolhas e de pouca sorte.

Mas, olhe JV, gostei de ver o seu ímpeto! De rajada, um vendaval. Gosto imenso de quando por cá aparece com toda essa sua fantástica energia.