sábado, agosto 16, 2014

Alô! Alô! Senhores do Expresso que fizeram o "Especial BES"! Não se terão esquecido de nenhuma geografia no mapa BES? Não quererão dar uma vista de olhos ao 'Nine to Five'? Dou uma ajuda: "A crise bancária portuguesa: um ricaço leva mil milhões para as Ilhas Cayman e sobrecarrega a Europa com um grupo Espírito Santo sem qualquer valor".


Sendo o Um Jeito Manso um blogue, presta-se à diarística e, assim sendo, volta e meia gosto de aqui registar as minhas andanças. Sou moça simples, eu. Poderia até dizer que sou um verdadeiro caso de alterne. De facto, ora sou executiva ora sou sopeira, ora sou dada à política ora à decoração. Este sábado fui sopeira, femme à menage e com muito orgulho e, pelo meio, ainda fiz uma reportagem fotográfica de modo a satisfazer os meus Caros Leitores que gostam de decoração.

Mas isso é a seguir, no post a seguir a este.

__


Aqui agora, alterno de novo e de sopeira passo a alfinetadeira. Ora, então, aqui vai mais uma alfinetadela. Coisa simples.

Depois das limpezas, do banho reparador e do jantar, foi tempo de Expresso.

E que vi eu?

Depois do BES, a PT como não podia deixar de ser. A seguir, outras virão. Quando uma borboleta bate as asas no cu de Judas, alguém aqui espirra. Imagine-se agora se, em vez de uma borboleta, for um colosso e se, em vez de ser no cu de Judas, for aqui mesmo ao pé de nós...? Numa economia frágil, em que o capitalismo é de brincadeirinha e que, em vez de fortunas, há dívidas, cai um Grupo Espírito Santo e um banco como o BES e toda a economia abana. Riscos sistémicos. 

Por enquanto, a coisa fica-se pela guerra aberta na PT e é informação e contra-informação com o Expresso no olho do furacão. 


Se o trabalho dos jornalistas económicos do Expresso tem sido determinante (Pedro Santos Guerreiro a fazer um trabalho que ficará na história do jornalismo português; João Vieira Pereira a sair da casca e, entre umas tacadas de golf que eu bem o vi lá no Expresso/BPI, lá consegue assinar crónicas cada vez mais veementes), há agora o risco de serem instrumentalizados. Começamos a ver mails e comunicados de um e outro lado, Ricardo Salgado e advogados, brasileiros da Oi, há para todos os gostos. A guerra aqui não é a brincar: é daquelas guerras sujas em que vale tudo. Tomara que 'os homens do Expresso' (nos quais incluo as jornalistas mulheres envolvidas neste trabalho) consigam preservar o distanciamento necessário para verem com alguma clareza no meio das nuvens que vão sendo forjadas e das que existem e são espessas.

O que eu espero é que a justiça aja rapidamente porque fazerem o que fizeram a uma grande empresa como a PT - que não tarda é nada, esfumando-se entre guerras em que ninguém ganha e que deixam o caminho totalmente livre para os accionistas brasileiros que já mandam e desmandam à boca cheia nesta mera subsidiária da Oi - deve merecer punição e da grossa.

O que eu leio, não apenas é uma subserviência cega perante o accionista BES como é, sobretudo, um desrespeito pelas mais elementares regras de gestão e, melhor, uma gestão de faz de conta. Estou mesmo a ver: um senhor faz os taleaux de bord com os dados relativos à gestão. Deve ter umas ferramentas de business intelligence  ou até uma simples folha de cálculo com tabelas dinâmicas, toda formatada, cheia de links,  em que há uma linha para os depósitos do BES. Quando lhe aparece papel comercial do GES deve ficar sem saber o que fazer. Reprogramar aquilo tudo para inserir mais uma linha? Se se mete a fazer isso, ainda acaba por não conseguir entregar a tempo e horas o quadro com os KPIs (KPI=Key Performance Indicator). Portanto, que se lixe, assim como assim, para quem é, bacalhau basta. E, portanto, soma-se o BES com o GES e fica na linha do BES e está muito bem.

Para quem lê os mapas, se é que os lê, é tinto. O que interessa é o glamour da gestão, os contactos, o bom da coisa. Mapas...? Bahhh...

Põe-se a outra questão: mas quem é que autorizou?

Pois, cá para mim, ninguém. Deviam ser renovação de outros que se venceram e, nestes vazios de permissões que existem nestas empresas cuja gestão de topo é essencialmente um faz de conta, ninguém se deve ter lembrado de pensar: 'Espera aí. Mesmo que seja renovação e em condições idênticas, deve ser analisado e autorizado na mesma, porque as circunstâncias podem ter-se alterado'. Pois. Mas, do que se vê, isso já era esperar de mais. Era preciso que houvesse naquela administração alguém que fosse capaz de pensar. E depois, aquilo eram produtos dos Espíritos e toda a gente sabia que os Espíritos é que mandavam na PT e que, se Granadeiro pudesse escolher, até escolhia Ricardo Salgado como irmão.

Quanto à auditoria do Sr. Mello Franco que veio dizer que a auditoria viu tudo o que era suposto ver: claro! Está a falar verdade. Mas o que prova é que, na PT como no BES e em tantas outras empresas, haver ou não haver auditorias é tudo a mesma coisa. Uma treta. O que o Sr. Mello Franco veio constatar é que não está lá a fazer nada.


É como aquelas cenas das certificações de Qualidade, Segurança, Ambiente, Gestão de Recursos Humanos, etc. Tretas. Aquilo até poderia ser uma boa coisa se fosse conduzido por gente inteligente e por gestores a sério. Assim é uma treta. A Administração sponsoriza, claro, porque todos os consultores dizem que é importante que a Administração se envolva. Depois o Administrador arranja um responsável pela Qualidade (idem para a Sustentabilidade, idem para a Segurança, idem para tudo). O responsável* depois vai falar com os responsáveis pelos outros processos. Os responsáveis têm mais que fazer e delegam noutro. O outro não tem tempo para essas merdas e delega noutro. Às tantas quem está a descrever os procedimentos é o funcionário que faz o que faz porque sempre fez e, portanto, relata o business as usual. E passa a letra de forma. Claro que depois a cadeia hierárquica em peso vai receber a descrição do procedimento para a validar. Mas, caraças, quem é que tem pachorra para andar a ler folhas e folhas a dizer como é que se faz uma encomenda ou se faz um depósito a prazo? E vai de cruz. 
(* Digo o Responsável apenas por facilidade, já que o mais frequente, nestas empresas, é serem putos contratados por empresas de consultoria.) 

a fina flor do entulho da gestão em portugal
A partir daí, todas as auditorias vão verificar se as coisas estão a ser feitas conforme estão descritas no procedimento. E, se estão, concluem que está tudo bem. Claro que o procedimento pode ser um disparate ou estar omisso em relação a uma série de aspectos - mas isso não interessa para nada.

Isto é assim em todas as empresas? Não. Felizmente. Sempre que há gestores a sério, gente que sabe o que anda a fazer e que, em vez de querer receber prémios de centenas de milhares de euros a troco de uma gestão de faz de conta, gere mesmo, questiona, quer saber, quer ver, sabe perguntar, isso não acontece. Mas, estou em crer, são excepções nas grandes e mediáticas empresas.

Portanto, a PT foi ao ar sem ninguém dar por isso e agora anda tudo às turras e aos murros na mesa a ver quem é que foi e ninguém faz a mínima. E no GES/BES foi a mesma coisa. 


Soube há pouco que o Montepio também está a ser investigado e tomara que não venha por aí mais outra bronca, mais um Novíssimo Banco - e isto é tudo uma grande vergonha, uma verdadeira bandalheira.

Mas, enfim, volto à cold cow, ao GES/BES.

No Expresso de hoje, aparece uma imagem do mundo em que se sinalizam os locais por onde os Espíritos andaram a circular ou, em particular, por onde o dinheiro andou a viajar.

Contudo, noto que não aparecem as Ilhas Caimão.

Ora as Ilhas Caimão aparecem referidas no site holandês 925.nl como sendo o destino dos milhões de Ricardo Salgado. 


Já lá foram publicados alguns artigos relativos ao escândalo Espírito Santo, artigos que falam da OnGoing e de Nuno Vasconcellos e Maria Alexandra Mascarenhas, falam das empresas no Luxemburgo e na Suiça, falam nas contas furadas, mostram números, desmontam esquemas e afirmam que nas Ilhas Caimão terá Ricardo Salgado qualquer coisa como mil milhões de euros. Coisa pouca. Trocos. 


Cá para mim, parece-me um exagero mas já não digo nada.

Segundo me dizem e quem o diz sabe o que diz o  principal do 527 é advogado, foi redactor-chefe de uma prestigiada revista, é assustadoramente bem informado, amigo de há uma vida de Marc Rutte, o actual PM da Holanda, mas sujeito independente a sério e capaz a sério. Fora isso, comentador da TV, figura do Jet Set, dandy também a sério.

Os textos são naturalmente escritos em holandês mas, a quem não compreenda a língua, dou a dica que me deram a mim: a tradução do google para português é imprópria para consumo mas a tradução para inglês dá para perceber alguma coisa, o suficiente para se perceber que, quem escreve aquilo, documentou-se e não fala de cor.


Do fim para o princípio: aqui, aqui (o tal onde se fala das Ilhas Cayman) e aqui. Acho que falta ainda um mas agora não consegui encontrar.

Conviria que alguém, com tempo, desse uma vista de olhos ao Nine to Five pois pode ser que debaixo daquele angu haja caroço.

O que me dá mais pena, para além da desgraça para tanta gente que não tem responsabilidade nenhuma nestes verdadeiros crimes e se vê vítima*, é a imagem desgraçada que damos de nós próprios lá fora. Parece que isto é um país de terceiro mundo, em que o poder fátuo do dinheiro (que nem sequer existe, já que o que há são monstruosos buracos) a todos corrompe e, além disso, uma cambada de totós que é roubada por um bando de artistas de alto gabarito e que não dá por nada.


* Uma vez mais Henrique Monteiro assina no Expresso uma crónica do mais infeliz que há. Dá-lhe o nome 'Calma, ó vítimas do BES'. Mostrando que, como sempre, não vê um palmo à frente do nariz, põe-se agora a criticar os que criticam a decisão do BdP porque, diz ele, investidores não podem ser comparados com aforradores e quem anda à chuva molha-se. 


Mas, digo-lhe eu, muitos pequenos investidores são como pequenos aforradores, acreditam no que lhes diz a pessoa da agência, acreditaram que o dinheiro aplicado em acções do BES estava seguro e que rendia mais. Mas se é um crime rapar o dinheiro dessas pessoas que não tinham voto na gestão (e estou a referir-me aos pequenos investidores) também é um tiro no capitalismo e, por infame que o capitalismo frequentemente se mostre, é o regime em que vivemos. Tirando os especuladores, a malta do short selling e dos CDSs, quem é que, em consciência, vai voltar a investir no mercado de acções em Portugal? E não pensarão que, se isto é assim agora na Europa, mais vale é estarem quietos? Poderia tentar aqui explicar ao Henrique Monteiro muitos outros aspectos espúrios desta decisão, da forma como ela se revestiu, mas estaria a gastar o meu latim. O Henrique Monteiro gosta de falar de cor, diz o que lhe vem à cabeça, gosta de tiradas de efeito e pouco mais. Não é para ser levado a sério. A chatice é que passa a vida nas televisões a dizer o que diz e, com isso, é capaz de influenciar muita gente.

___


Bem, é tardíssimo, fico-me por aqui. Não vou rever porque já não me aguento acordada.
Relembro: sobre decoração de casa de banho e limpezas e mais não sei o quê, desçam, por favor, até ao post já a seguir.

___


Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.


.

2 comentários:

Unknown disse...

Este post merece mesmo a pena ler.E sobre o papel comercial, maldosamente, lembro aquele curso da CMVM de especialização em origami

Anónimo disse...

Subscrevo António Cristovão!
Mais um dos seus excelentes Post sobre a estuporada crise do BES. À medida que a coisa vai continuando, venho a saber de umas tantas histórias a ele ligados. Hoje, mais um dos que lá tinham metido - muito - dinheiro, um milionário do Norte, amigalhaço do Salgado que agora não consegue levantar as massas que lá tem. Milhões. Só não ponho o nome dele por, enfim, respeito pela privacidade do sujeito. Salgado tem dinheiro em muito sítio. Via Londres e Suíça, também vim a perceber, através de conhecidos como "aparentemente", o dito Salgado fez voar os seus milhões, para sítios fora de vista e de impostos. Enquanto nos dava lições de como nos devíamos comportar. Em Zurique há ruas onde se encontram várias "portas de saída" de dinheiros, onde os Espirito Santo aportavam, sem ter de darem a cara, até porque tinham lá uma sucursal.
P.Rufino