segunda-feira, março 24, 2025

Lanche ajantarado

 

A modalidade nos últimos fins de semana tem sido o lanche ajantarado. Em época de testes, assim conseguem aproveitar melhor o tempo de estudo. Chegando por volta das quatro e tal ou cinco, dá para conviver, depois lanchamos, conversamos, e, quando vão, já não precisam de ir jantar, quando muito petiscam ou ceiam. E eu gosto desta versão pois, como gosto de improvisar e variar, posso fazer várias coisas, sempre na expectativa de que possam ter por onde escolher.

De cada vez, tenho uma ideia. Penso no que uns gostam e avanço por aí, sei que outros nem por isso e evito ou arranjo alternativa. Claro que tenho sempre aquelas velhas dúvidas quanto às quantidades. Pelo sim pelo não, faço a mais, pensando que é bom que sobre pois, se quiserem, podem levar marmita para o dia seguinte.

Para este domingo o meu marido disse que podíamos fazer bifanas e eu lembrei-me de fazer uma quiche de frango assado, uma quiche de camarão e uma tortilha de salmão. E para sobremesa resolvi fazer uma coisa que vi no instagram, com aveia e tangerina.

Fui ao supermercado e, como sempre, não levei lista. Penso sempre que não vale a pena, pois, à medida que for passando nos corredores, vou-me lembrando do que preciso. 

No entanto, quando já estava perto da caixa com o carrinho a transbordar e de tal forma pesado que mal o conseguia manobrar, vi que me tinha esquecido da massa quebrada para as quiches. Claro que poderia fazer em casa mas, no meio da azáfama que são as minhas culinárias, seria inútil perder tempo com uma coisa que se se compra feita e que é boa. Lá fui. 

E lá voltei para a caixa.

Mal cheguei a casa, vi que me tinha esquecido de comprar frango assado. Gaita. E nem cru o tinha. Ou seja, quiche de frango assado já era. Fiquei passada. Apostava tanto naquela quichezinha...

Como trouxe costeletas para o almoço -- e em quantidade generosa, já a contar que sobrassem para o almoço desta segunda --, pensei que teria que ser quiche de costeletas. Quem não tem cão, caça com gato. E assim foi, desossei e parti em bocadinhos quatro costeletas fritas de cebolada, juntei a cebola, juntei uma boa quantidade de espinafres que tinha amolecido por cima das costeletas (depois destas já estarem fritas), e com o leite, os ovos e queijo ralado por cima bem com bacon aos minicubos, fez-se.

A quiche de gambas fiz com crème fraiche, ovos e um pouco de ketchup. Para evitar gordices, não usei natas nas quiches. Tinha fritado os camarões ainda com casca, com louro e alho. Depois o meu marido descascou-os e tirou a tripinha, abrindo-os ao meio longitudinalmente. Eram grandes. O caldo da fritura foi misturado com o resto. Como tinha 'planchado' uns lombos de salmão, também com alho, cebola, louro, e receando que os camarões, apesar de muitos e grandes, se perdessem na quiche (dado que têm uma textura muito leve, praticamente neutra), lasquei ainda um lombo de salmão dos que tinha feito para a tortilha. Penso que estava boa (não comi pois sou alérgica a marisco de casca encarnada). Mas, de facto, o meu filho disse que a textura dos camarões perdia-se na quiche, mais valia que se tivessem comido por si só.

Para a tortilha, estufei, com um pouco de azeite, legumes variados (cenoura ralada, alho francês, couve lombarda, micro bocadinhos de pimento, cebola, salsa, batatas aos cubos). Quando estava cozinhado, lasquei os lombos de salmão, juntei seis ovos, envolvi tudo. Aqueci uma frigideira muito grande e, quando o azeite estava quente, deitei tudo lá para dentro. Depois foi aquela cena de rodar a frigideira para não se pegar, depois de tostado virar com um prato grande, voltar a colocar, rodar, etc, e mais uma vez.

E fritei as bifanas de porco. Tinha comprado vinte e tal bifanas. Quando estava a fritar, pensei que era um exagero. Depois do resto, ninguém comeria tanta bifana. O meu marido também achou demais mas disse que fritasse, o que sobrasse eles levariam.

Foi tudo para a mesa bem como uma taça de salada de alface. E o meu marido levou a frigideira com as bifanas para a mesa, disse que cada um faria as que entendesse. Aqueci um monte de bolinhas de Rio Maior que também foram para a mesa bem como mostarda e ketchup. 

Resultado: sobrou um pouco de tortilha, pouco, uma fatia pequena de quiche de camarão e duas míseras bifanas. Fiquei zonza. Quando tinha acabado de fazer aquilo tudo, juraria que tinha sido um daqueles exageros de que sempre me acusam. Mas não. Para a próxima tem que ser mais. E nem sei se o mais novo não é o que come mais. Como dizia a minha avó, 'benza-o Deus'. Dá gosto vê-lo comer. E aprecia. E dá opinião. Até o 'doce' ele comeu de gosto. Meu rico menino.

E o que comem vê-se: estão todos a ficar enormes. Não imaginam como fico pequena ao lado deles quase todos. Um deles, o que está quase a fazer catorze anos, quando passou junto ao muro de lado  -- para ir com o primo e o tio para ajudarem o avô que não tinha conseguido desencarcerar sozinho um dos troncos grandes que se quebraram na noite de vendaval  -- perguntou-me: 'O muro sempre foi assim tão pequeno?'. E não estava a fazer-se engraçado. Não. Estava mesmo intrigado. É que antes ele era bem mais pequeno que o muro. Agora está quase da mesma altura. Uma coisa impressionante.

Mas falta falar do doce. Aí é que não acharam muita graça. Lá está: não gosto de fazer doces, não tenho mão. Fiz uma papa de aveia com leite, com quatro ovos, casca de duas tangerinas e, lá dentro, não me lembro se quatro ou cinco tangerinas (sem caroço). Ainda dois paus de canela e açúcar mascavado. Como geralmente nunca ponho açúcar em nada, tenho sempre receio que, ao pôr, fique doce demais. Por isso não pus muito. Provei e pareceu-me bom. Depois de estar bem cozido, grossinho, e etc, retirei os paus de canela e a casca das tangerinas e triturei bem tudo o resto, até ficar bem cremoso. Quando fui pôr no maior tabuleiro que tenho, quase deitava por fora. Fiz uma quantidade exagerada. Voltei a colocar os paus de canela e polvilhei. Quando provaram, estranharam pois acharam que eu me tinha esquecido do açúcar. Uns juntaram mais açúcar e já toleraram. Acharam que parecia papa de pequeno-almoço. 

Também tinha feito um tabuleiro de frutas. Disponho em riscas. Uvas brancas. Mirtilos. Gomos de tangerina. Morangos. Papaia aos cubos. Acho que fica bonito. Tiram à mão e servem-se. Voa num instante. 

Como sobrou imensa 'papa' (não sei como me saiu tamanha quantidade...) levaram  para comerem à noite, à ceia, ou, então, ao pequeno-almoço. Lá proteica e saudável é. 

Ficou um bocado para o meu marido que disse que gostou.

E é isto. 

Sobre o resultado das eleições na Madeira não falo. Indispõe-me. Há coisas que custam a perceber. Também me poupei à conversa do Portas. Vi o Louçã no Isto é Gozar com quem trabalha. Foi desenterrado pela Mortágua. E, para meu espanto, constatei que elege como inimigo o PS. Uma coisa surreal. Grande parte do tempo a cascar no PS -- isto em vez de cascar no Chega. Gente com astigmatismo político, caraças.

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Uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Dias felizes

domingo, março 23, 2025

Será que as sondagens mentem tanto como o Montenegro?
-- A palavra ao meu marido --

 

Desde quinta-feira que temos o regabofe instalado na comunicação social. Como foi publicada uma sondagem em que a AD tinha 20% das intenções de voto, o PS 15% e o conjunto da esquerda 3%, a maioria dos comentadores e algumas televisões (claro que a SIC foi a mais entusiástica) não se calaram a tecerem loas à governação do Montenegro, concluindo que Portugal são uns Estados Unidos em miniatura e que, tal como o MAGA em relação ao Trump, a malta se está nas tintas para os "enviesamentos" (para ser meigo) do Montenegro.

Mas vale a pena analisar a sondagem com mais profundidade e rigor do que foi feito propositada ou involuntariamente (quiçá por falta de conhecimento) por alguns dos jornalistas e comentadores. 

Segundo  a ficha técnica da sondagem, o universo da amostra é 802 pessoas (que correspondem aos escassos 15% que responderam às questões o que, já de si, mereceria uma ponderação). Analisemos, então, os números, segundo a informação publicitada.

  • Na AD afirmaram ir votar 160 pessoas, 
  • 120 pessoas afirmaram votar no PS
  • 72 pessoas têm intenção de votar no Chega 
  • na IL temos 32 pessoas 
  • e, em cada um dos partidos de esquerda, menos mal, lá houve uns 8 que têm intenção de votar ou no PC ou no Livre ou no BE. 

Não parecem quantidades de respostas impressionantes para que tanto alarido tenha sido feito.

Aliás, na mesma sondagem,os dados mais interessantes talvez até tenham sido estes:

  • 313 pessoas responderam que ainda não tinham decidido 
  • e 417 pessoas responderam que os esclarecimentos do Montenegro são insuficientes.

Portanto, as conclusões -- admitindo que com um número de respostas tão pequeno podemos considerar os resultados válidos --  são:

  • temos mais indecisos do que o conjunto de intenções de voto nos dois maiores partidos, PDS e PS
  • e mais pessoas do que o total de pessoas que afirmou terem intenções de votar em qualquer dos partidos responderam que pretendem saber mais sobre o Luís e a sua empresa (Spinunviva). 

Ou seja, afinal, as "historietas" do Luís não passaram à história.  

Apresentar os dados desta forma é bastante diferente do que tem sido alardeado pelos órgãos de comunicação social. Seria mais honesto e mais ético apresentar os números como eles são (honi soit qui mal y pense).

Nota: o total das percentagens não dá 100% pelo que pode haver uma questão de casas decimais e/ou de intenções de votos em pequenos partidos aqui não mencionados ou, mesmo, imprecisões nos dados divulgados. 

Já agora, e não querendo aborrecer o Luís, pergunto:

  • Não parece esquisito que, a ser verdade o que tem sido noticiado e não desmentido, o valor do metro quadrado de construção declarado por ele para a luxuosa casa de Espinho -- que até elevador tem --, tenha sido inferior ao preço médio da construção em Espinho? 
  • O valor declarado estará relacionado com alguns subsídios? Ou terá também a ver com alguma 'optimização fiscal'? 
  • Não parece esquisito que uma empresa que se dedicava a atividades relacionadas com o RGPD, só 18 meses depois de iniciar a atividade tenha cumprido os requisitos legais nesta área? 
  • Não parece esquisito que não estejam reduzidos a escrito os contratos relacionados com as avenças da Spinunviva? 
  • Não parece esquisito que alguém que pormenorizou o número e tipo de árvores que tinha em cada terreno não se tenha lembrado das relações comerciais da empresa de que era proprietário? 
  • Não parece esquisito que o advogado Luís não soubesse que a passagem das quotas para a mulher o mantinha como proprietário da Spinunviva?
  • Ou que não podia unir andares com diferentes proprietários?
  • E que os pedidos de licenciamento não podem se apresentados trinta dias depois do início das obras?~
  • ... 

E finalmente, mais uma cereja no topo do bolo. A célebre Inês Patrícia afirmou numa entrevista que  a Spinunviva se auto geria. Até fiquei comovido: recordou-me o PREC e as empresas em autogestão. E das duas uma: ou estamos perante perigosos revolucionários ou querem enganar-nos. Só faltava mais esta pérola! Não parece esquisito... é, no mínimo, muito esquisito!

  • Questão adicional: não seria mau, para sabermos se também não será esquisito, conhecermos quais as despesas contabilizadas na Spinunviva. Terão sido contabilizadas despesas não decorrentes da estrita atividade da empresa? Estando  a empresa em "autogestão", não terão sido indevidamente consideradas admissíveis? Senhores Jornalistas temos e devemos saber!

E uma sugestão aos Senhores Jornalistas: leiam 'Como mentem as sondagens' do Luís Paixão Martins. Talvez vos seja útil.

sábado, março 22, 2025

Eros... Eros...
[Algumas proezas da menina Vera Mulanver que, como é sabido, é danadinha para a brincadeira]

 

Hoje, de tarde, voltou a passar por aqui uma pontinha de vento que, em pouco tempo, virou tudo do avesso. Não sei como se chama a isto, se é um mini-tornado, se é uma fúria momentânea do vento. O que sei é que até uma mesa de madeira pesada desandou e iria por ali afora não se desse o caso de o meu marido ter posto uma rede a separar o terraço do relvado. 

Desde que o nosso cão mais fofo quase ia morrendo (com a língua inchada e escura) sob efeito de uma lagarta do pinheiro, agora, a partir de Fevereiro, o meu marido coloca uma rede nos acessos ao relvado. Supostamente, já terá terminado a altura das maganas descerem dos ninhos e virem enfiar-se na terra mas no INCF disseram-nos que, dado o mau tempo, admite-se que algumas se tenham atrasado. Por isso, por precaução, a rede ainda ali está. 

E uma cadeira que costuma estar ao pé do sofá comprido seguiu o mesmo caminho e ficou também ao fundo, encostada à mesa. E a mesinha pequena, metálica, idem.

E um dos cadeirões que trouxe de casa da minha mãe também voou e também ficou retido na rede, bem como as as almofadas. E uma almofada grande, rectangular, não sei como mas voou por cima da rede e foi aterrar ao pé de um pinheiro, na subida relvada. 

Depois de toda esta revoada, a ventania acalmou. 

O tempo anda assim, insolente, mais do que atrevido, descarado mesmo. E parece que esta noite a coisa vai outra vez acelerar. 

Gosto de chuva, em especial quando não é demais. Mas tenho medo do vento. É bicho sem dono, sem obediência, sem princípios.

Mas, enfim. É o que é. Fiz a 'reportagem' -- e como o Instagram é mais à base de imagens do que de palavras, coloquei-as lá, quer nas Stories quer no Feed. 

Ainda não ganhei bem a mão àquilo, ao Instagram, dá ideia que o que desperta mais a atenção são as 'lives', os vídeos -- muita gente a vestir-se, muita gente a maquilhar-se, muita gente a fazer ginástica, muita gente a desembrulhar coisas (unboxing, dizem). Mas a verdade é que me ponho a ver e de alguns até gosto, em especial vídeos de decoração, de pintura, de trabalhos manuais, de cortes de cabelo. É viciante. Mas, para eu fazer, ainda não percebi bem o que posso fazer que tenha algum jeito. Quando faço vídeos ficam uma porcaria...

Bem. Adiante. 

Hoje vou falar dos dois livros que têm tido 'mais saída', os de contos eróticos. 

Depois de ter visto as capas, os títulos e as sinopses dos livros 'eróticos' que estão à venda na Amazon, fiquei a achar que os meus, inocentes, são apenas umas gracinhas. Mas já estava, já estavam registados, com aquele número de registo atribuído, o ISBN, já não podia fazer nada. 

Quando o meu filho me informou que não ia ler nenhum dos meus livros ditos eróticos, a minha filha encolheu os ombros e disse que as minhas cenas eróticas são uma coisa assim mais ou menos, mais para o eroticozinho. Pois não sei. Quem se der ao trabalho de ler, ajuizará de si.

Os livros são uma selecção de contos que, ao longo dos tempos, em especial lá mais para trás, aqui fui escrevendo. Mas juntei alguns originais. 

  • Um deles, o da Festa de Beneficência, foi escrito há pouco tempo e inspirado numa festa real, tão bem frequentada quanto a descrevi, com particularidades como ali aparecem. E, se o conto for lido por alguém que lá esteve, poderá confirmá-lo.
  • A do Quarto Escuro foi inspirada por uma coisa que está muito em moda, mas mais para cenas de terror. Ao ouvir as descrições dos sustos que lá apanham, a minha mente -- que é como sabem, dada a desvios por maus caminhos --, ocorreu-me que poderia ser um belo presente de aniversário...

Vou transcrever apenas uns excertozinhos inocentes. Sendo este um blog de família, aqui não posso esticar-me. Por isso, aqui é apenas uma amostrazinha. De qualquer forma, não quero induzir ninguém em erro: que ninguém espere hard porn. Quando muito, soft porn.

Mostro também as capas dos dois livros.

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Uma festa de beneficência

A festa era de beneficência e nela participavam todos os que em Lisboa e arredores nadam em dinheiro mas não gostam de o alardear. Estavam lá também alguns aristocratas que, não tendo grandes rendimentos, têm ainda propriedades e jóias e, sobretudo, um prestígio antigo que dá uma certa patine a estes eventos. Tinham também sido convidados administradores de grandes empresas, daqueles que ganham bem e que, embora nas suas finanças pessoais sejam mais poupadinhos do que os verdadeiramente pobrezinhos, podem abrir os cordões à bolsa das tesourarias já que o dinheiro não é deles e é o tipo de despesas que pode trazer benefícios fiscais às empresas. 

Havia jantar com ementa apurada ou não estivessem algumas das senhoras da organização muito habituadas a seleccionar criteriosamente os caterings dos encontros familiares. E havia música, fado e quartetos de cordas, tudo generosidade dos respectivos intérpretes. E, claro, leilão.

(....)

Eu: ‘Muito bem. Então não quer ser um cavalheiro?’

Ele: ‘Ser um cavalheiro? Como?’

Eu: ‘Sendo. Venha comigo. Acompanhe-me. Não vai deixar uma senhora aventurar-se sozinha pelos misteriosos recantos de uma noite escura.’

Desci a escada de pedra. Ele veio atrás. Avancei pelo jardim. Quando senti a relva, descalcei-me. Com os sapatos pela mão, continuei a avançar. Ele ao meu lado. 

Um pássaro piou numa árvore.

Quase às escuras, avancei até ao lago, até ao banco debaixo do chorão. Ele, em silêncio, ao meu lado.

Quando chegámos, disse-lhe: ‘Então não quer pôr-se à vontade?’

Ele, sem saber o que fazer: ‘Faço o quê? Tiro os sapatos? As meias?’

Eu: ‘Olhe para mim. A luz é fraca, o luar pouco ilumina. Por isso olhe com atenção. Olhe para mim. Veja como eu faço.’

Então coloquei um pé em cima do banco e tirei uma meia. Uso meias com liga de renda com autocolante. Ele sorriu. Passou-me uma mão pela perna. 

Depois tirei a outra meia. 

Disse-lhe: ‘Sente-se. Olhe para mim. Preste atenção’.

Sentou-se. 

Com um pé fui conferir. Estava com atenção, sim.

 

(Continua...)
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O quarto escuro como presente de aniversário

Chega-se àquela fase da vida em que não há nada de material que verdadeiramente se deseje. Pelo contrário, um certo despojamento começa a ser apreciado. Talvez por isso, como presente de aniversário, naquele ano, pedi um quarto escuro. 

Se calhar sempre assim foi e eu é que desconhecia, mas tenho ideia de que, até não há muito, estas experiências não estavam à venda. Não sei. Seja como for, agora tudo se vende. Mesmo o que não faz parte do cardápio, se o cliente quer, logo os fazedores de experiências as customizam. 

E, portanto, quando me perguntaram o que é que eu desejava para festejar mais uma volta em redor do sol, foi isso que me ocorreu.

(...)

Enquanto a música tocava, eu ouvia passos, respirações. Não sabia quem mais estaria ali. Estava com os sentidos todos despertos, inquietos.
 
Então senti um sopro, como uma aragem. Parecia que uma janela se tinha aberto. De facto, logo senti como se fossem suaves afagos. Devia ser uma cortina de seda, adejando, roçando-se no meu corpo. Sem saber o que era esperado de mim, deixei-me ficar.

 Um corpo masculino encostou-se a mim, de frente, roçando-se também. Senti que outro corpo se encostava por trás. Novamente uns seios.

Depois rodaram à minha volta. Quando uns lábios afloraram os meus, não fui capaz de perceber se eram os dele ou os dela. Depois foi uma língua a entrar na minha boca. Poderia, com a mão, ter averiguado. Mas estava quase hipnotizada, obedecia submissamente.


(Continua...)

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Podem adquirir-se na Amazon (seja como e-book, seja como livro de capa normal). Junto o link para cada um:



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E quero dizer uma coisa. A Amazon apenas me informa qual o país origem das encomendas. Não sei quem encomenda. Portanto, a privacidade dos clientes e leitores está absolutamente garantida.

E quero aqui fazer uma ressalva. Tenho dito que os livros só estão à venda na Amazon mas, há pouco, ao googlar, apareceram-me à venda noutras plataformas. Fiquei intrigada. Depois é que me lembrei que, quando publico os livros, ponho um 'pisco' na opção de permitir que outras empresas de vendas de livros que tenham acordos com a Amazon os possam vender. 

Ou seja, alguns dos meus livros estão também à venda na Waterstones, BAM! Books-a-Million e creio que noutras. Mas funcionam com distribuidoras pois eu só tenho contrato com a Amazon. Para quem compra é indiferente, comprem onde comprarem, os livros são sempre impressos na Amazon.

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E é isto. 

Um bom sábado!

sexta-feira, março 21, 2025

Um segredo tão azul e Um ordenado paraíso

 

Quem me espreitou no Instagram terá visto o que nos aconteceu. Mal menor quando comparado com o que presenciámos nas redondezas e nas reportagens mas, ainda assim, um susto e um transtorno. 

De noite, um estrondo violento que não identificámos. Apenas de manhã vimos. Daquela árvore gigante que tem raízes aéreas, quebrou-se um tronco que, ao rachar e vergar, fez quebrar vários outros troncos abaixo. Agora não apenas nos parece desequilibrada e muito menos harmoniosa como, desde lá de cima da árvore até ao chão, há ramadas, folhagens. O caminho para o jardim ficou tapado.

O meu marido já esteve a serrar e esteve lá durante não sei quanto tempo e já desobstruiu o caminho mas não quer (não quer ele nem quero eu) ir lá acima, a não sei quantos metros de altura, para serrar melhor onde o tronco quebrou e para soltar os troncos que estão presos. Tem que vir cá alguém que tenha arnês e cordas e se calhar daquelas botas com picos para se fixar aos troncos. E depois há que levar todo aquele material que certamente encherá uma camioneta.

Os vasos também estavam caídos, mesmo os grandes, mas milagrosamente não se partiram.

De resto, as cadeiras e as almofadas que estavam, supostamente, abrigadas debaixo do telheiro voou tudo, foi tudo parar longe. Mas isso nem é tema.

O pobre cão, coitado, tem um medo que se pela destas intempéries, tremia, tremia, todo encostado às minhas pernas. 

Enfim, parece que o pior já lá vai. Só espero que no campo, in heaven, esteja tudo bem. Como o vizinho que mora no fim da rua não nos telefonou, presumimos que o Martinho não fez das dele por aquelas bandas.

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Ontem disse que hoje falaria um pouco dos meus livros. Aqui vai um pouco sobre dois deles. São dois romances nunca passaram pelo blog. São originais. 

Um Ordenado Paraíso tem uma grande componente verídica -- quase diria que uma certa componente autobiográfica -- e tem muito a ver com a incompreensível dinâmica da casa ao lado. Já passaram por ali vários ocupantes e nunca conseguimos compreender as relações, as ocupações, as vivências daquelas pessoas. Sempre foi tema que nos intrigou, muitas possibilidades nos ocorreram, mas nunca conseguimos chegar a qualquer conclusão. Ainda há dois dias vi uma das principais personagens e, de novo, constatei uma mutação que nem eu nem o meu marido compreendemos. E pensei que ela nem sonha que inspirou a Dona Amélia do meu livro.

Claro que, depois, a minha mente perversa me desencaminha e me leva para maus caminhos e aí a história ganha contornos algo picantes. 

Quando escrevo, parece que estou sempre à espera do momento em que posso portar-me mal. E, mal a oportunidade se desenha, eu salto e faço das minhas. E divirto-me imenso. Aliás tenho até que e conter para não me atirar completamente para fora de pé.

A capa é uma fotografia de uma flor aqui do jardim. O título foi extraído de um poema de Jorge Luis Borges.

Há em 3 versões e, claro, só pode ser adquirido via Amazon, nestes links: em capa normal (tapa blanda, em espanhol) e em capa dura e também em e-book

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O outro romance original é daquelas histórias de quem se pode quase dizer que é uma história digamos que maldita. Não o romance em si mas a história subjacente ao romance.

Já uma vez aqui falei do que aconteceu.

No Liceu tinha um colega um pouco incomum, inteligente mas vagamente esotérico. Interessava-se muito por descobertas, invenções, e por explorar fenómenos paranormais. Sempre achou que eu tinha dons telepáticos e usava-me muitas vezes para experiências. Com frequência eu adivinhava coisas segundo testes ou exercícios que ele fazia. Quer eu quer ele, sendo pessoas já na altura ligadas mais à Ciência e pouco a religiões, a nossa curiosidade era mais encontrar explicação para o que parecia inexplicável. Não seguimos o mesmo curso mas voltei a encontrá-lo como colega do meu marido. Quando nos encontrávamos as nossas conversas eram sempre estimulantes mas uma delas impressionou-me bastante pois, na verdade, relacionou-se com coisas estranhas e misteriosas que me tinham acontecido. Há algum tempo, quando trouxe cartas de casa dos meus pais, encontrei cartas dele, com uma caligrafia perfeita e ideias extraordinárias. 

No romance Um segredo tão azul relato essas coisas estranhas que me aconteceram e relato a conversa que tive com ele a propósito disso. E falo de um palacete muito real, que frequentei, e que aparece não apenas neste romance mas noutros livros. É um palacete ou solar, como se queira, no centro de uma das nossas mais belas vilas. Alguns dos personagens foram inspirados pelos donos desse palacete.

E a história da mãe da personagem feminina, a pintora, é também muito inspirada na mãe de um amigo meu que viveu uma vida incrível.

Ou seja, é um romance que tem componentes inspirados em vidas muito reais.

E acontece que fui escrevendo, escrevendo e, às tantas, o Fred, o personagem inspirado pelo meu amigo morre inesperadamente. Custou-me muito prosseguir com a escrita pois quase sentia que estava a matar uma pessoa real. Parei algumas vezes. Escrevia e até me encolhia por estar a acontecer aquilo, a falar da morte de um personagem que, na minha cabeça, era esse meu amigo. Mas lá me fui convencendo que era ficção e lá continuei. Claro que, lido assim, parece estúpido pois se estava a incomodar-me, alterava a história e não o punha morto. Mas não consegui. Na minha cabeça tudo aquilo só fazia sentido se ele tivesse morrido sem a personagem feminina saber, com o choque que ela sentia ao descobrir. 

Um dia estava a conversar com o meu marido e ele falou nele. Achei engraçado ele estar a lembrar-se de uma pessoa que tinha entrado na história que eu estava a escrever. Não sabíamos que era feito dele. Contei-lhe que o tinha googlado e que não o tinha descoberto mas que ele era uma pessoa meio secreta, não admirava que não deixasse rastos. Contei-lhe que curiosamente estava a usá-lo como personagem no livro que estava a escrever mas não fui capaz de confessar que o tinha liquidado. Tive vergonha ou receio, nem sei. Aliás sei: sei que ele ia achar péssima ideia, não ia gostar.

Entretanto, estando já na recta final do livro, já a história tinha evoluído num outro sentido, já havia amor e malandrice no ar, ligou-me uma amiga. Estivemos a conversar e, às tantas, ela falou-me num colega, digamos que Rosário. Até estremeci, estava, do nada, a falar-me dele. Disse-lhe que me lembrava bem dele, das nossas conversas telepáticas. E ela disse: 'Ah sim, mas eu estava a falar do António Rosário. Esse de que falas é o Nunes Rosário.' Os nomes não são estes mas para o caso tanto dá. E, então, diz ela: 'Mas o Nunes Rosário, não soubeste?, morreu...'. Fiquei gelada. Fiquei verdadeiramente impressionada. 

Contei ao meu marido. Ficou também deveras impressionado. 'Falámos nele há dias...'. Continuei a não ser capaz de lhe contar que, na minha história, ele também tinha morrido.

Nesse dia, equacionei verdadeiramente não acabar o romance. Estava assustada. Incomodada com tudo aquilo. 

Mas, uma vez mais, forcei-me a pensar: 'É ficção. Não tem nada a ver com a realidade. Foi apenas uma coincidência.'

Quando acabei o livro, como sempre, pedi ao meu marido que lesse.

Como se levanta sempre muito antes de mim, quando me levantei estava ele muito mal disposto, aborrecido. Disse que não queria acabar de ler o livro. Já tinha chegado ao ponto em que se sabia que ele tinha morrido. Perguntou-me: 'Mas quando escreveste isto já sabias?'

Claro que não. Já tinha escrito essa parte há semanas. Não tinha como saber. Contei-lhe que tinha ficado passada e indisposta quando tinha sabido não apenas pelo facto em si, sobretudo por isso, mas também por eu ter 'antevisto' isso ao escrever.  

Mas a verdade é que se recusou a ler o resto do livro, incomodado, incomodado com a coincidência.

Mas isto é a história por detrás da história. A história em si tem mistério mas não é esotérica ou sinistra. Não, nem pensar.

A capa é a tal que a minha filha acha pirosa. Mas eu queria mostrar uma pintora que procurava o azul perfeito. Talvez um dia arranje uma capa menos realista. 

Neste caso, ainda não criei a versão capa dura: apenas há em e-book e em capa normal

Este é o terceiro livro mais comprado e mais lido. Os dois primeiros são, sem surpresa, os dois livros de Contos Eróticos... )

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Depois logo falo de outros dos livros. 

Gosto de falar de livros, mesmo que sejam os meus. Só espero que, para vocês, não seja uma seca...

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Uma boa sexta-feira.

quinta-feira, março 20, 2025

Eu, Vera Mulanver, me confesso

 

Tenho andado a adiar... Sabem o que é...? Não me sinto segura. Tenho receio que haja erros, que pareça trabalho pouco asseado.

Mas como também não tenho paciência para me debruçar sobre eles a tentar descobrir-lhes imperfeições, resolvi que não valia a pena esperar que se revissem sozinhos porque, notoriamente, isso não vai acontecer.

Então, vou revelar. 

Como creio que já contei, reuni vários textos antes aqui publicados, uns como 'folhetins', outros como 'prosas' soltas e 'montei' uns livros que tenho vindo a publicar na Amazon.

Tenho também três outros que são completamente originais (um dos quais para crianças).

Mesmo nos que são compilação de textos, há textos originais.

Só que eu gosto é de escrever, não de rever, não de burilar. É que, quando me ponho a rever, ou me apetece reescrever de cabo a raso ou, então, distraio-me ou lá o que é e, às tantas, já não estou a prestar qualquer atenção.

Portanto, se se derem ao trabalho de adquirir algum e se descobrirem pontos onde deviam estar vírgulas ou palavras repetidas ou omissas, só vos peço que façam a caridade de me informar para eu poder alterar.

Quero ainda explicar a razão da escolha da Amazon. Enviei dois originais para algumas das principais editoras mas as que responderam disseram que já tinham fechada a lista de livros a publicar este ano. Depois enviei um deles para três das editoras em que o autor é o responsável pelo investimento inicial, através da aquisição de cerca de 60 ou 70 exemplares. E isto parece ser a prática usual. Todos responderam elogiando o livro, dizendo que queriam publicá-lo. Mas naquelas condições. Dizem que na sessão de lançamento, os autores costumam vender, eles próprios, esses seus livros. Ora não estou a ver-me a 'cravar' amigos e conhecidos e a 'impingir-lhes' livros. 

Contactei o José Cipriano Catarino que, lembrava-me, tinha falado no seu blog Viajante no Tempo que tinha publicado livros na Amazon. Foi simpaticíssimo, tranquilizou-me, disse-me que não era muito difícil, que, ao contrário de outras editoras, são transparentes nos cálculos, que corre bem.

Portanto, meti mãos à obra.

E já publiquei uns quantos. Comecei nos últimos dias de Dezembro, creio que a 22 ou 23. Depois retomei em Janeiro. 

Paginar, fazer as capas, escrever a sinopse, escolher as palavras chave, seleccionar as categorias... E lá vai disto.

Quando viu as capas que eu tinha feito, a minha filha achou uma piroseira. Portanto, tive que fazer reset e refazê-las. 

Mostro esta pois acho que ficou bonita. E esta ela aprovou.

Só não refiz uma delas porque percebo o que ela diz mas acho que mostra o que eu tinha em mente quando escrevi. Ela acha uma coisa mesmo pirosa, e até estou tentada a dar-lhe razão, mas, até ver, fica como está. 

Talvez um dia a refaça mesmo... 

Depois, ao ver uma outra capa, a do 1º volume dos Contos Eróticos, a minha nora disse-me que estava muito parecida com a capa de 'A Criada'. Desconhecia. Aliás, desconhecia o livro, desconhecia a autora. Fui ver e de facto estava parecida. Fiquei perplexa. Como foi tal possível? Portanto, nova capa. Uma trabalheira...

Enfim. Todo um novo desafio...

Vender livros na Amazon é o mesmo que plantar um florzinha pequena no meio de uma selva. Ninguém vai descobrir a florzinha. Segundo a Amazon, deveria oferecer livros às comunidades que fazem leituras de livros e vão lá ao site avaliar pois, ao que parece, as pessoas compram sobretudo pelas reviews. Ou deveria fazer campanhas de marketing ou sei lá. Parece que as redes sociais também ajudam e, então, à pala disso, resolvi criar uma conta no Instagram (podem pesquisar pelo nome, que lá está, uma coisa ainda a apalpar terreno e apenas iniciada em Fevereiro). 

Mas a verdade é que, já mesmo quando trabalhava, gostava mais de comprar do que de vender. Não tenho à-vontade como vendedora, muito menos a vender coisas minhas. Mesmo para escrever as sinopses que, supostamente, devem ter um cariz comercial, apelativo, sinto um certo pudor. Estar a enaltecer o que escrevo parece-me petulância, falta de noção.

Idealmente, publicava-os e fazia como aqui, ou seja, nada, publicidade nenhuma. Até hoje a autoria deste blog é desconhecida da maior parte das pessoas da minha família e de todos os meus amigos. Volta e meia alguns amigos dizem-me que tenho jeito para escrever, que devia publicar. E eu caladinha. Nem conto do blog nem dos livros. Nada. 

Quando aqui estou, escrevo, publico e está feito, quem quiser que leia. Com os livros era bom que fosse a mesma coisa. 

Mas, por outro lado, é estúpido, não é? Se publico, parece fazer algum sentido que alguém saiba disso. E, sabendo, se quiser, compra. Se não quiser, segue adiante.

Publiquei os livros em versão e-book e em versão capa normal. Em dois deles, publiquei também com capa dura, que são bem melhores. Mas, como saem mais caros, ainda não estendi aos outros mas, na volta, um dia destes, ocupo-me disso.

Tive que escolher o preço de venda para cada um. Penso que coloquei um valor relativamente baixo, pelo menos comparativamente com livros de outros autores. A margem para mim também é baixinha. Mas não penso ficar rica com a venda de livros. Contudo, não sei se, em termos de marketing, é a opção mais inteligente. Geralmente parece que a gente desconfia do que é mais barato, não é?

Não sei. 

Por causa daquilo da capa, fui informar-me e li que a autora de A Criada, Freida McFadden, por não conseguir que as editoras 'normais' a publicassem, optou pela Amazon. E que decorreram 10 anos até que uma editora 'normal' tivesse resolvido apostar nela. Já vendeu milhões, todos os livros são best sellers.

Não creio que vá ter a mesma sorte mas, pelo menos, fiquei animada... Talvez ter os livros na Amazon não seja sinónimo de ninguém conhecer os meus livros para todo o sempre... Claro que ela é mais nova que eu... Mas não faz mal, sou optimista, tenho sempre esperança.

A Amazon recomenda que se escreva um sub-título. Parece que pode ajudar nas pesquisas. Lá o fiz. Mas parece-me disparatado. A dois dos livros, livros de contos, dei como subtítulo 'Contos Eróticos' e classifiquei-os na categoria de 'erotismo' ou 'literatura erótica'. Quando fiz uma pesquisa na Amazon, por lá os livros ditos eróticos parecem ser porno da pesada. Quem vai à espera de encontrar coisa da pesada, ficará frustrado com os meus tão cheios de subtilezas, ironias, brincadeirinhas...

Como balanço, à data de hoje, já foram comprados 701 exemplares. A grande, larguíssima maioria, foi comprada no Brasil. Mas também, Estados Unidos, França, Espanha, Alemanha e, até, Japão. E há também uma modalidade, que eu desconhecia, em que, se bem percebo, em vez de os leitores comprarem o livro, podem ler online, pagando um x (1 ou 2 cêntimos, creio) por página lida. Até hoje já foram lidas 2.444 páginas. Sinceramente, pasmo como me descobriram. Eu própria, se não me pesquisar pelo nome, não me encontro.

Que eu me tenha dado conta ainda não foi comprado nenhum livro em Portugal. Para os meus filhos comprei-lhes eu, claro, e foram provas de autor, não contam para a estatística.

Podem ser comprados através da Amazon.es ou Amazon.com ou em qualquer outra. 


Já é muito tarde e isto já vai longo mas amanhã ou depois logo falo um pouco de cada livro, está bem?

(E tenho mais uns quantos originais para avançarem para publicação. Falta-me é o tempo pois ocupo-o sobretudo a escrever, a escrever torrencialmente, uma coisa do caraças...)

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E vai por aqui um vendaval que nem vos digo nem vos conto. Prevejo que parte dos meus vasos estão caídos e tomara que não partidos. Tenho ouvido estrondos que só visto. Mas nem ouso abrir a janela, de tal forma o Martinho está desencabrestado.

Desejo-vos um bom dia
 (e agora vou dormir)

quarta-feira, março 19, 2025

De facto, nunca se sabe...

 

Quando vejo o que já fiz fico espantada. 

Lembro-me sempre de quando um colega de trabalho veio a minha casa. Quando apontei as carpetes de Arraiolos (por exemplo, esta aqui ao lado) e disse que tinha sido eu a fazê-las, ele ficou espantado. Na brincadeira disse: 'Mas como? Quando vou ao seu gabinete, nunca a vi a fazer...'. Na realidade, chegando a casa sempre bastante tarde, tendo filhos, tendo jantar a fazer, levantando-me sempre cedo, como conseguia eu fazer aquelas grandes carpetes apenas à noite ou ao fim de semana, sendo que, ao fim de semana, íamos para o campo com toda a demorada logística que isso acarretava, lá andava nas jardinagens e noutras actividades, como conseguia...? E, no entanto, conseguia. Adorava fazer. E bordava a um ritmo impressionante.

Hoje fotografei duas colchas de crochet, uma das quais feita por mim (a que está aqui abaixo). Em que momento a consegui fazer, tão grande? Creio que a fiz ainda solteira. Ora, como se, durante a semana, estava por minha conta e muito longe de crochets, e se, ao fim de semana, tinha o meu namorado lá em casa? Custa-me a perceber. Mas a verdade é que a fiz.

Da mesma maneira quando vejo as dezenas, dezenas, muitas, muitas, telas que pintei. Como? Como consegui eu pintar tudo aquilo?

Talvez seja o mesmo espanto com que fico quando me ponho a seleccionar ou a tentar organizar textos que escrevi aqui (e no Ginjal & Lisboa, a love affair). Não sei como consegui escrever tanto, em especial quando a maior parte foi escrita estando eu a trabalhar de sol a sol, carregada de trabalho até à ponta dos cabelos. 

Olho para trás, para todas estas fases e espanto-me como se não fosse eu. Na verdade, não me lembro de qualquer esforço, nem tenho ideia de que fosse grande feito. Apenas sei que o fazia com prazer. E, em qualquer dos casos, apenas deixei de fazê-lo por não ter onde pôr o que fizesse, se continuasse a produzir. 

E não estou a falar de tudo, pois, por exemplo, também houve a fase do tricot. Fiz camisolas, casacos, até que chegou a Zara com malhas giríssimas e a bom preço e já não fazia sentido usar as minhas peças.

Mas o que, nisto, para mim é mais espantoso não é nada do que falei: o mais espantoso é que, durante todos esses anos, a minha actividade principal não teve nada a ver com nada disto. Era uma executiva, creio que bem sucedida, exigente, creio que uma boa profissional. Contudo, olho para trás e parece que pouco ficou. Do resto ficaram colchas, tapetes, pinturas. Mas das longas décadas de trabalho o que ficou foram memórias que com o tempo se esbaterão pois parece que tudo aquilo só fazia sentido naquele contexto, naquele tempo. Saída desse contexto, o que vivi parece que pouco ou nada interessa, nem a mim nem a ninguém.

De facto, nunca se sabe o que fica daquilo que é a nossa vida. 

Estou agora numa outra fase. 

Hoje fomos almoçar a um restaurante naquela zona da cidade de que tanto gosto, Alvalade. Felizmente arranjámos facilmente estacionamento e felizmente fomos muito bem servidos. E aproveitámos para passear e ver o pequeno comércio tradicional, de que tanto gosto. Mas o ruído da cidade, o trânsito, isso já nos incomoda um bocado. Parece que estamos melhor no nosso sossego, nas nossas insignificantes tarefas domésticas, respirando o ar puro, jardinando, cozinhando, passeando com o nosso cão. 

Aqueles tempos exigentes do traçado dos objectivos, das sempre difíceis avaliações, dos projectos complexos, das fusões de empresas, das grandes reorganizações, na negociação de grandes contratos internacionais, parecem coisas meio difusas das quais não sobrou prova, pelo menos nada que possa pôr no chão, numa parede, numa cama.

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Mountain Girl 

- Documentary Short Film

Award-winning (Silver Telly 2024 - Documentary Under 40 Minutes) inspiring mini-documentary about aging gracefully and overcoming the obstacles in life with an 80-year old retired fashion model (Vogue, Bazaar) and a star of a cult classic film "Manos: The Hands of Fate" (as Diane Mahree). 


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Dias felizes

terça-feira, março 18, 2025

Uma surpresa muitos anos depois

 

A beleza das coisas é que, mesmo quando pensamos que já não há mais nada a saber, descobrimos algo que nos deixa espantados.

O que se passa com o meu cadeirão, aquele em que mais me sento, é um caso de estudo. 

Foi adquirido, há muito tempo, para uma salinha pequena in heaven, a salinha em que se está maravilhosamente quando, no verão, está muito calor cá fora. É um cadeirão relax, num material que parece camurça, que se reclina quando se puxa uma patilha num dos braços. Nessa altura, levanta-se a parte de baixo da frente, onde ficam as nossas pernas, e o cadeirão inclina-se. 

Anos depois dele lá estar, trocámos de bergères na casa da cidade e as antigas foram para o campo. Portanto, não apenas o cadeirão-relax estava um bocado pouco aproveitado como aquela salinha ficava um bocado atravancada. Resolvemos, pois, levá-lo para a a cidade.

Ninguém imagina o pesadelo que aquilo é. Pesadelo no sentido de pesar toneladas. O meu marido tentou ver se dava para separá-lo em partes para ser mais fácil de transportar mas não era decomponível. A custo, conseguimos enfiá-lo na carrinha que tínhamos na altura, que era larga e grande. Ainda não havia cão que ocupasse lugar no carro pelo que quase desmanchámos a carrinha e, a muito, muito custo, conseguimos lá enfiar o cadeirão.

O fim da picada para o tirar e para o levar para o prédio, para o elevador. Mas o pior foi o que se seguiu. Aconteceu um grande dissabor. O cadeirão, embora individual, é grande, largo. E não coube de maneira nenhuma. Pusemo-lo ao lado, de lado, em diagonal. Não cabia de maneira nenhuma no elevador.

Morávamos no último piso de um prédio alto. O meu marido e eu voltámos a tentar perceber se daria para desencaixar alguma coisa, não só para ver se o conseguíamos enfiar no elevador como para o conseguirmos manobrar. Não descobrimos.

De noite, estafados, e sem alternativa. Não íamos deixá-lo lá em baixo, no hall do prédio. Resolvemos levá-lo escada acima. 

Não há explicação. O meu marido na parte de cima, içando-o degrau a degrau, eu, em baixo, impedindo-o de caírem escada abaixo, ele e o cadeirão. No lugar em que a escada dá a volta, quase nos íamos abaixo, sem força. Tínhamos que levantá-lo, virá-lo, fazer a manobra. Por diversas vezes, julgámos que não íamos aguentar até lá acima.

Mas, não sei como, conseguimos. 

Ficou anos no escritório, junto à janela, costas viradas para a janela. Geralmente só eu me sentava ali, a ler, a luz entrando por trás, iluminando os livros.

Quando nos mudámos para esta casa, claro que contratámos uma empresa de mudanças. Todos brasileiros, eficientíssimos. 

Outra vez a mesma tourada. Os 'minino' não davam conta do bicho, não cabia no elevador, não se desmanchava, um pesadelo para levar escada abaixo. Mas, aí, eis que aconteceu o milagre: o chefe da brigada, um homem jovem, educadíssimo, eficientíssimo, decretou que tinha que se conseguir desmanchar. 'Tem qui dá', teimava ele. 'Força, m'irmão', diziam os cépticos minino. 

Em conjunto, viraram-no de patas para o ar. E aí ele foi buscar a sua mala de ferramentas e, em três tempos, tirou-lhe o pé e e engrenagem metálica. 

'Feito!'

E, num ápice, enfiaram-no no elevador.

Está agora lá em cima, junto ao janelão onde costumo sentar-me. Está de costas para a parede, quase paralelo em relação à janela. Esqueci-me de dizer que também é giratório. Por vezes, giro-o para ficar mais de frente para a janela e aí fica com as costas quase encostadas a uma estante.

Geralmente, assim que me sento, solto a patilha e ali fico reclinada.

Mas hoje aconteceu uma coisa extraordinária. Tinha levado uma caneca de chá (de urtiga) e, para a pousar e ficar-me à distância de braço sem ter que me soerguer, rodei-o mais para pôr a caneca em cima do radiador que está na parede, usualmente nas costas do cadeirão. Ou seja, desta vez, o cadeirão ficou sem nada por trás. 

Sentei-me, reclinei-me, e, não sei como, para me ajeitar melhor, fiz mais força para trás. E aí deu-se o milagre. As costas desceram até onde, em décadas, jamais tinham descido. A parte de baixo igualmente subiu. Ou seja, surpresa!, surpresa!, ficou todo na horizontal, uma verdadeira cama. 

Em tantos anos nunca me tinha apercebido disto. Pela primeira vez na sua vida, o cadeirão não tinha nada atrás que o impedisse de se reclinar ao máximo. Fiquei ali maravilhosamente, confortabilíssima. Não fiquei deitada, deitada, mas quase. Que coisa incrível!

Ora se isto acontece com um cadeirão, o que dizer de uma pessoa? Como, por vezes, não ficarmos surpreendidos com facetas que nem intuíramos em alguém? Quem nos diz que, mudando as circunstâncias, o comportamento não é diferente? Quem nos diz que, passados muitos anos, quando julgamos que o que há para saber já está mais do que sabido, não somos surpreendidos de todo?

Enfim. 

E é o que hoje tenho a dizer.

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Ah, não. 

Outra surpresa: um texto que não conhecia e que tem que se lhe diga. 

Um conselho que me parece indispensável -- em especial a quem ainda vai a tempo:

Don't Fall In Love With A Woman Who Reads, Martha Rivera Garrido

“Don’t fall in love with a woman who reads, a woman who feels too much, a woman who writes...

Don’t fall in love with an educated, magical, delusional, crazy woman. Don’t fall in love with a woman who thinks, who knows what she knows and also knows how to fly; a woman sure of herself.

Don’t fall in love with a woman who laughs or cries making love, knows how to turn her spirit into flesh; let alone one that loves poetry (these are the most dangerous), or spends half an hour contemplating a painting and isn't able to live without music.

Don’t fall in love with a woman who is interested in politics and is rebellious and feel a huge horror from injustice. One who does not like to watch television at all. Or a woman who is beautiful no matter the features of her face or her body.

Don’t fall in love with a woman who is intense, entertaining, lucid and irreverent. Don’t wish to fall in love with a woman like that. Because when you fall in love with a woman like that, whether she stays with you or not, whether she loves you or not, from a woman like that, you never come back.”

― Martha Rivera-Garrido

segunda-feira, março 17, 2025

O que pensa o Montenegro depois de, semanalmente, se ver demolido no 'Isto é gozar com quem trabalha'?
Não percebe que virou motivo de chacota nacional? Não percebe que está a enterrar o PSD? Não percebe que está a dar argumentos ao Chega? Não percebe que está a fazer mal à democracia e ao País?
Pergunto.

 

Numa situação destas, qualquer pessoa de bem, decente, com dois dedos de testa, apresentaria a demissão.

Não é o caso do pintas do Montenegro, sempre de sorrisinho pimpão: por aí anda como se não fosse nada com ele.

E a carneirada laranja acompanha-o, papagueando disparates atrás de disparates. Parece que não percebem o que está a acontecer.

Que impressão que isto me faz. 

Alô, alô, TVI! Até quando vão continuar a ter o espaço do Paulo Portas, supostamente um comentador isento, e que, mais uma vez, se manifesta como um cheerleader da AD.
E os Senhores da ERC vão aceitar esta situação? Um adepto fervoroso de um partido e de uma coligação eleitoral pode apresentar-se ao domingo, em canal aberto e em horário nobre, como se fosse um comentador independente?

 

Quando fala de política internacional, Paulo Portas até não está mal. Mas Paulo Portas tem aquele seu lado habilidoso, aquele lado de quem gosta de jogar com as palavras -- ele saiu do Independente mas o Independente não saiu dele --, gosta de lançar farpas contra quem não gosta (agora é o PS e o seu líder tal como antes era o Cavaco e os seus ministros), gosta de usar a verve para baralhar, escamotear, deturpar. E, claro, agora a favor do PSD/AD.

Já sabemos que ex-irrevogável Paulo Portas é maleável nas suas convicções. Aquilo que pensa e diz não é exactamente aqui que pensa e diz.

Tudo bem. Cada um é como cada qual e quem gostar que o compre.

Só que, supostamente, a TVI está a comprar-lhe uma opinião isenta -- e não é isso que Paulo Portas está a entregar.

Por isso, daqui até às eleições o programa de Paulo Portas deveria ser suspenso.

E, se a TVI o não fizer, a ERC deveria recomendá-lo fortemente.

domingo, março 16, 2025

Mas ainda há esperança. Há sempre esperança.
A prova é o rebentinho que a figueira já nos mostra

 

Até chuva de granizo tivemos. Este tempo não nos dá tréguas. Chuva, chuva, chuva. Frio, frio, frio. 

A terra está coberta de musgo, as flores irrompem em toda a sua audácia, os campos mostram vigor. E as rochas estão lustrosas de tão lavadas que têm sido.

Estava a almoçar, uma chamada. 

Interrompi o almoço. 

As conversas costumam ser demoradas, vim cá para fora. Costumam ser notícias de conhecidos, pequenas intrigas, coisas divertidas. Mas desta vez a voz estava fechada. Depois de ouvir a conversa habitual, comentei: 'Está constipada? Está com uma voz...'. Ouvi, então, o que jamais poderia esperar: 'Não estou nada bem. Acho que estou com uma depressão.'. Fiquei quase sem saber o que dizer. Era a última pessoa a quem poderia esperar ouvir tal coisa. Pessoa mais prática, mais despachada, mais habituada a levar a vida com uma perna às costas, tudo sempre levado para a brincadeira. Só consegui pronunciar um 'Então...?'. 

E então veio a explicação: 'O meu filho está com um cancro.'. Fiquei para morrer. Um rapaz novo. Tem trabalhado fora, de vez em quando vem e depois vai. Agora está cá. Perdeu 40 kg. De homem jovem e forte passou, em pouco tempo, para uma pessoa que, diz ela, está quase irreconhecível. Magro, os olhos a saltarem do rosto, sem cabelo. Diz que não sabe como não caiu ao vê-lo, como não desatou a chorar. Aguentou-se para ele não a ver a ir-se abaixo. Mas, depois, ficou com a cabeça a rebentar, nem sabia onde tinha a cabeça. Diz que não consegue pensar em nada, não consegue saber o que fazer. Sentiu-se mal, foi ao hospital. Receitaram-lhe ansiolíticos e recomendaram que passe a ter acompanhamento psicológico. 

Tentei animar: 'Não operam? Pode ser que a operação resulte... A taxa de mortalidade já não é o que era, já há tratamentos eficazes.'. Quase sem voz disse-me que a médica explicou que não dá para operar, que é de um tipo que pode aparecer em todo o lado. Estava enervadíssima, não se explicou bem nem eu quis aprofundar. Dor maior. O sofrimentos dos filhos é muitas mil vezes mais esmagador que o nosso próprio sofrimento, é uma angústia, uma impotência. Quando se supõe que é um sofrimento sem esperança, pior, muitas mil vezes pior, uma dor infinita e trituradora.

Despedi-me, 'Força'. Ela disse: 'Bem preciso dela'. Depois, disse-lhe 'Um beijinho'. Com uma voz sumida, sumida, agradeceu.

Voltei a casa, o meu marido já tinha acabado de almoçar, já estava a ver televisão. Contei-lhe. Só disse: 'Coitada...'. Vi que estava consternado.

Acabei de almoçar, já sem vontade nenhuma.

Depois fui dar uma volta.

Reparei que na figueira começam a despontar as primeiras folhinhas. 

Pensei que a natureza é sábia. Mesmo quando a árvore parece morta, a vida reaparece.

Há sempre esperança. 

Tem que haver.


O Chicão cresceu! Tenho gostado de ouvir o Francisco Rodrigues dos Santos, ex-líder do CDS, nas noites da CNN.

 

Há uns anos era ainda muito verdinho, ainda pouco conseguia impor as suas ideias. Mas agora não, agora está mais maduro, tem as ideias mais arrumadas. E fala bem, tem verve, usa um vocabulário interessante.

As trocas de ideias com Pedro Costa (PS) são sempre bem dispostas, educadas, elegantes.

Ouço-os de gosto. A política pode ser um exercício civilizado.

sábado, março 15, 2025

Alguém consegue explicar porque é que ao grande Rangel deu a pica no day after?
Ao Rangel e, pelos vistos, ao Montenegro e, provavelmente, a todo o ex-Governo

 

Depois de a malta do Governo andar a baldar-se a reuniões europeias da maior relevância -- como as realizadas recentemente sobre o rearmamento da Europa ou sobre a guerra da Ucrânia (fosse para Montenegro ir jogar golf com o amigo Violas ou por outras razões lá deles) --, eis que, depois o mesmo ir abaixo, o Rangel resolveu armar-se em não sei o quê e apresentar-se em Kiev. Nem sei o que me faz lembrar. Vê-lo por ali a fazer não se sabe bem o quê só me constrange. É como se um noivo, depois de a noiva o ter rejeitado no dia do casamento, a seguir, todo lampeiro, se apresentasse para ir gozar a lua de mel. Figuras tristes.

É como a malta do Governo ter frequentado um curso sobre Transparência no dia a seguir ao governo ter caído por não merecer a confiança do Parlamento (por, justamente, o Montenegro ser tudo menos transparente ou confiável).

Falta de noção. Cenas muito macacas.

E, que nem de propósito, depois de eu, ontem, a propósito das dúvidas que, há uns meses, se levantaram sobre benefícios fiscais potencialmente indevidos por parte do Montenegro (quando fez aquela sua casa à beira da praia, com seis andares, seis casas de banho, elevador interior), ter referido a falta de transparência dele quando, num daqueles números em que é exímio, se tinha apresentado com um dossier cheio de papéis, hoje leio que, na realidade, não forneceu as facturas à PJ... Um artista. 

Muito transparente, de facto.

E li e ouvi também que a Câmara de Lisboa travou vistoria às obras nas casas de Montenegro em Lisboa, aparentemente feitas sem licenciamento (quando são obras que mexem com a estrutura do edifício ao abrir um buraco na placa de divisão entre pisos). Tudo situações muito transparentes...

[Não costumo ser cusca mas ainda hoje, ao ouvir comentar que ele deve ter uma grande fortuna para ter feito aquela casa exorbitante em Espinho e pouco depois ter comprado a pronto dois apartamentos no centro de Lisboa, fiquei curiosa sobre a sua declaração patrimonial]

O que é bizarro é vê-lo por aí, todo pimpão, com aquele sorrisinho cínico, como se os portugueses todos não olhassem para ele como o chico-esperto, o flausino, o habilidoso.

O trumpismo é uma virose que atravessa fronteiras e que contagia as pessoas mais vulneráveis, mais permeáveis à falta de vergonha.

sexta-feira, março 14, 2025

Sobre o beco ético

 

Marcelo não queria eleições, claro. Vai acabar coroado de dissoluções e de ingovernabilidades. Mas não pensou nisso quando dissolveu a Assembleia quando havia uma maioria absoluta. Tivesse ele aceitado Centeno como Primeiro-Ministro e não estaríamos onde estamos.

Mas, enfim, leite derramado.

Também achou uma burrice sem tamanho (burrice ou cavalice, como se queira chamar) o Mentenegro ter avançado com a Moção de Confiança. Mas não foi ele que andou com o Mentenegro ao colo até o pôr lá? Claro que depois percebeu que tinha feito mal, que o Luís não é flor que se cheire. Mas tarde demais.

Agora, na comunicação ao País, tentou alertar o País para que se o Parlamento tinha mostrado que não confiava no Primeiro-Ministro, não era colocando o Luís outra vez na berlinda que o problema ficaria resolvido. Como muito bem disse, quando se perde a confiança e quando o que paira é uma dúvida ética, nada a fazer. A mácula está e estará lá.

As notícias sucedem-se, todos os dias um jornal traz uma notícia nova e a conclusão vai sempre desembocar no beco ético a que Marcelo se referiu: Mentenegro é o típico videirinho, pequeno chico-esperto, daqueles que pensa que sabe como fazer para passar por entre os pingos da chuva, que sabe como usar as meias palavras  para que, quando vierem dizer que mentiu, ele  dizer que os outros é que não perceberam bem. 

Vai acabar mal, claro que vai. E não estou a rogar praga nem a fazer futurologia. Estou apenas a ser racional. Trabalhei parte da minha vida em modelos, frequentemente modelos previsionais, modelos que tinham por base estatísticas e probabilidades. Quando a informação chega até mim, mentalmente estabeleço correlações, vejo padrões, analiso desvios... percebo onde é que a coisa vai dar.

Um indício é coisa pouca. Da mesma forma que com dois pontos se traça uma recta, dois indícios já são qualquer coisa, já desenham uma linha de pensamento ou de actuação. E se com três pontos já se traça um plano, com três indícios o esquema começa a perceber-se. A partir de quatro pontos passamos para outras dimensões e o mesmo se passa com quatro ou mais indícios.

E depois há outra coisa: o que é verdadeiro, explica-se facilmente. Quando há mil explicações e quase todas, para parecerem muitas, já não são senão palha, a gente começa a perceber que alguma coisa está a querer ser ocultada. Se eu quiser mostrar as obras que fiz na minha casa, dou uma explicação clara e concreta. Se eu quiser ocultar, apareço com um dossier enorme cheio de papéis que, obviamente, numa conferência de imprensa vai ler. Só uma auditoria experiente, capacitada para perceber de construção e de contabilidade e de legislação consegue entender. Da mesma forma, se eu quiser explicar o que faz uma empresa minha, chego lá e explico: fazemos isto e aquilo, temos x clientes que são estes e estes, o que fazemos para cada um é isto e aquilo, facturamos tanto e tanto, a nossa estrutura de custos é esta, as contas de exploração e o balanço são estes. Tudo simples e clarinho. Mas, se eu quiser lançar a confusão, vou dizer que tenho um terreno com não sei quantos metros quadrados, com duas oliveiras e mais outro que se situa em Rabal e que tem isto e aquilo. E se eu quiser falar da minha idoneidade e da minha moral, vou para a frente das câmaras e sozinha, sem uma corte atrás, explico tudo direitinho, não vou dizer que montei uma empresa com uma estrutura, quando toda a gente sabe que uma empresa que faz consultoria jurídica não se monta com uma educadora de infância e dois filhos adolescentes, mesmo que um deles tenha jeito para a informática. E se eu fizer obras em casa, furando a placa, para transformar dois andares num duplex, não vou dizer que fiz o que tinha que ser feito, quando afinal parece que disse que eram obras interiores que não careciam de licença e não disse que ia mexer na estrutura do edifício. E falam os jornais também nas contas dos dinheiros que não batem certo e depois ninguém percebe ao certo se há para ali dinheiro não declarado ou o quê.

E se eu quisesse que não subsistissem dúvidas, pedia à Autoridade Tributária (ou porventura, também a outro qualquer organismo) que auditasse as contas da empresa. Pois se Mentenegro diz que nunca tirou de lá dinheiro nenhum, seria interessante que se comprovasse que não é de lá que sai o pagamento da água, da luz, das comunicações, dos combustíveis, da limpeza da casa, dos restaurantes, de viagens, um 'ordenado' da mulher, se calhar também um 'ordenado' para um ou para os dois filhos, quiçá uma 'renda' da casa, e sabe-se lá que mais. Se eu não tivesse nada a esconder, teria imediatamente fornecido a contas descriminadas da empresa.

E mostraria também, com o consentimento dos clientes, qual o trabalho efectivamente prestado. Seria interessante saber que trabalho é que a Solverde e demais clientes (como a gasolineira que pagou 230.000 € quando tem 12.000€ de lucro e, pelas contas do ano seguinte, parece que não beneficiou nada de tal trabalho) contratam para ser feito pela Inês Patrícia. Seria interessante não numa de voyeurismo mas, sim, para esclarecer tão bizarro mistério. 

Há um acumular de dúvidas que mancham a credibilidade de Mentenegro. Vota-se em alguém em quem se confia. 

Um político a sério, perante estas dúvidas, demitir-se-ia e tentaria provar, fora de cargos de poder, que é inocente e impoluto. Não arrastaria o governo, o partido e o País.

A dimensão de um homem (ou de uma mulher) vê-se, sobretudo, na forma como enfrenta os desafios: se é com verticalidade, de peito feito, com grandeza.

Mentenegro escondendo-se atrás da mulher e dos filhos, depois atrás do Governo, a seguir atrás do PSD, mostra ser um pequeno homem, alguém que não deveria estar na política.

O outro, que é gozado por todo o lado, roubava malas no aeroporto. depois continuou a dizer-se inocente e a manter-se no Parlamento. Este, a ser verdade tudo o que tem sido noticiado e não desmentido, joga num tabuleiro diferente, porventura mais rentável e um pouco, apenas um pouco, mais sofisticado. 

Só espero que a campanha que vai ser feita, em que mentem, mentem descaradamente, se gabam do que herdaram do Governo do PS (do excedente orçamental e dos projectos e trabalhos em curso, muitos dos quais interrompidos com a interrupção do Governo socialista), em que se vitimizam, seja desmascarada. Julgo que o mais eficaz será através do humor, através de memes que circulem nas redes sociais, que estejam nas ruas. 

 A política deve ser deixada para quem a executa com grandeza, com verdade, com honestidade, com verticalidade, com carácter. E não é o caso desta gente do actual PSD. 

quinta-feira, março 13, 2025

Fui ao ginásio e dei no duro, fui a uma bela Biblioteca, vi uma exposição de pintura, passeei à beira mar, fotografei garças e barcos, apanhei chuva, apeteceu-me lanchar mas contive-me, cheguei a casa já tarde mas ainda fui fazer sopa.
E agora vou imaginar que sou eu que estou aqui a dançar o tango e, para que não pensem que me esqueci do tema do momento, transcrevo um texto imperdível de Rui Bebiano no seu magnífico 'A Terceira Noite'

 

E, antes disso, ainda acrescento que já peso menos dois quilos e picos, ou seja, já estou na média para a minha idade e altura, mas que a balança inteligente e sobredotada (comunica-me os resultados por telemóvel, faz gráficos e diz-me em que ponto da escala me situo em relação a cada indicador) diz que ainda tenho alguma gordura corporal a mais. Não é muito, creio que uns 4 ou 5% a mais (tenho o telemóvel a carregar noutro sítio, não me apetece levantar-me para ir ver o valor certo), mas não quero. Só que ver-me livre dela não está a ser pêra doce. O ChatGPT diz que tenho que fazer mais exercício ou consumir menos calorias. La Palice não diria melhor. Só que é uma dor de alma não poder comer o queijinho pelo qual me pelo, tenho que me limitar a um esquálido quadradinho de chocolate preto sem pingo de açúcar. E a fruta, que eu se fosse eu comeria às carradas, agora está mesmo limitada a 3 míseras peças por dia. 

E o pior é que sei que, mesmo quando estiver no ponto, para assim me manter, terei que me manter assim, à míngua. Ora eu sou tudo menos vocacionada para me forçar a provações.

Enfim.

Bora mas é tangar.

No es por ti - Grupo Corpo (Lecuona)


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E agora é mal empregado colocar aqui um texto tão objectivo, tão exacto, como o que vou tomar a liberdade de transcrever na íntegra. Mas as coisas são o que são. O autor é Rui Bebiano, de que já antes aqui fiz referência, e escreve no blog A Terceira Noite que eu sigo religiosamente.

12 de Março de 2025

De forma simplificada, são dois os motivos principais que levaram à rejeição da moção de confiança e à próxima saída de Luís Montenegro do cargo de primeiro-ministro. O primeiro, mais invocado, tem a ver com práticas profissionais que colidem com o dever de exclusividade de quem detém cargos de responsabilidade no governo, por motivos acrescidos quem dele seja a figura principal. O segundo motivo, menos mencionado apesar de também importantíssimo, prende-se com o facto de a empresa envolvida, a Spinumviva, ser apenas familiar, não tendo sequer sede própria e corpos gerentes, dedicando-se basicamente ao tráfico de influências realizado sob a capa de «aconselhamento» em negócios privados.

Nada disto deveria ter acontecido, e, a ser revelado como foi, deveria ter conduzido de imediato à apresentação da demissão do cargo que LM ocupa. Todavia, não só tal não foi feito, como depois da triste novela pública vivida ao longo destes dias, o mesmo LM declarou pretender apresentar-se de novo a eleições e afirmou nada ter feito que «qualquer português não fizesse». Se assim acontecer, o PSD irá arrastar o país para uma situação de impunidade legal e ética premiada. Sabemos que em países como os Estados Unidos da América de Trump isto está a tornar-se trivial, mas, caramba, nós ainda vivemos no democrático país de Abril. Por isso de modo algum pode acontecer.

Nem mais. É isso mesmo. 

Ângelo Correia e Montenegro

 

Liguei a televisão e estava o Ângelo Correia, na SIC Notícias, a dar um tareão do Montenegro, mas um senhor tareão. 

Às tantas, interromperam para transmitirem o Mentenegro a falar, em directo para todas as televisões, creio que no Conselho Nacional. 

Quando se virou para a frente e disse que ia falar para os portugueses e para as portuguesas, fiz zapping. Foge...

Mas, quando chegar a casa, Mentenegro faria bem em ouvir a intervenção de Ângelo Correia. Talvez perceba melhor o que pensam os portugueses.

quarta-feira, março 12, 2025

O Mentenegro queria uma Comissão de Inquérito nini.
Ahahahahahahahaha

 

Quando a minha filha era pequenina, talvez ano e picos ou dois, quando uma coisa era pequena e nós, naquela forma que os adultos têm de usar diminutivos quando falam com crianças, dizíamos que a coisa era pequenina, ela reduzia a palavra e dizia que era nini. Uma vez, estava a chuviscar, uma chuvinha miudinha daquela de que se diz que é molha-tolos, e ela disse que estava uma 'chuva nini'.

Hoje, ao ver as cenas patéticas, ridículas, na verdade até absurdas, por parte do PSD a tentar, por todos os meios, impedir o escrutínio e propondo, em vez de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, uma conversinha de pé de orelha entre o Montenegro e o Pedro Nuno Santos ou uma Comissãozinha a jacto, de 15 dias, só me apeteceu dizer que vá brincar às CPIs ninis lá para a terra dele.

Haja paciência.

Ou melhor. Já não há paciência.

Montenegro já era.

Alô, alô Hugo Soares! Diz que 'o povo percebeu tudo'. Ah percebeu, percebeu... oh se percebeu... Percebeu que o Montenegro meteu o PSD no bolso e, com isso, arrastou a Assembleia e o País para uma crise

 

Continuem nesta senda e vão ver o que os 'Portugueses' -- com que tanto enchem a boca -- pensam. Já que não têm cabeça para perceber por vocês, esperem pelas eleições.

PSD: tudo patético. Agora o que me fez confusão foi o silêncio do Rangel

 

Não vi tudo, longe disso, mas, do que vi, estranhei não aparecerem nomes com algum peso a sair a terreiro a defender o Mentenegro.

Por exemplo, o Rangélico, sempre tão frenético, esteve tão caladinho porquê?

Todos aterrados com a linda proeza que o Mentenegro armou, é certo. Mas ele, sempre tão palrador, não conseguiu soltar um pio...?

terça-feira, março 11, 2025

Foi pena a Sandra Felgueiras não ter perguntado ao Montenegro quanto é que a mulher e os filhos recebem como 'ordenado' da Spinumviva e quais as despesas que estão a ser imputadas à empresa? Eletricidade, água, comunicações da casa? Limpeza da casa? Combustível dos carros da família? Etc, etc, etc. Por acaso, estou curiosa.

 

Eu sei que Montenegro já confessou que fez o mesmo que qualquer português. Mas está certamente a referir-se, como Vital Moreira também o diz, aos profissionais liberais que criam empresas para pagar menos ou nenhuns impostos e, em cima disso, ainda reaverem o IVA das facturas que contabilizam na empresa.

Mas Montenegro, como Primeiro Ministro, pode comparar-se a quem usa esse estratagema para pagar menos impostos? 

Não deveria ser eticamente imaculado? A ser verdade que na Spinumviva eram (ou são) parqueadas todas as despesas da família contabilisticamente elegíveis, até porque a 'sede' da empresa era a sua própria casa e o contacto da empresa era o seu próprio telemóvel, qual a sua motivação para apelar ao bom cumprimento fiscal?

(Não admira que queiram é aliviar o IRC... Ah pois...)

Já agora, Senhores Jornalistas: não querem fazer uma investigação e ver quantos médicos do SNS (e do privado, já agora) são facturados, como tarefeiros, através de empresas que, no fundo, são apenas uma extensão de si próprios, a extensão que lhes permite que o rendimento seja da empresa que, atafulhada de despesas pessoais, acaba por não dar lucro e, portanto, não paga IRC, e eles, como funcionários da empresa. recebem ordenado baixinho que mal paga IRS (e é se pagar)? Claro que esses habilidosos também podem meter como gerentes a mulher e os filhos, e todos ganham um ordenadozeco que, como é baixo, não paga IRS, mas que, sendo limpo -- e tudo somado -- já é coisa que se vê.

Mas, voltando aos médicos, com o valor absurdo que esta ministra ofereceu aos 'tarefeiros', não será que muitos estão a 'sair' do SNS para lá estarem a trabalhar na mesma mas como tarefeiros, ganhando em dois carrinhos, não apenas através do valor que o SNS lhes paga à hora como através do benefício fiscal que obtêm através das suas empresas?

E, já agora, Senhores Jornalistas: não seria de investigar se mais dirigentes da área da Saúde, especialmente os nomeados pela Ministra Ana Paula Martins, não estarão a acumular o ordenado de dirigentes com umas horinhas feitas como tarefeiros? Acreditam que foi só o Gandra d'Almeida? 

E, de qualquer maneira, não são apenas os médicos a praticar, creio que em larga escala, esta habilidade. Diria eu que também advogados, consultores, etc -- todos os que conseguem fazer isso conseguindo assim quase não pagar impostos.

Quando é que alguém se interessa a sério sobre a maria barbuda que é, na verdade, a nossa política fiscal?

Quando é que alguém simplifica e baixa globalmente o IRS para que espertezas saloias destas deixem de fazer sentido? 

E quando é que a inspecção fiscal cai em cima destes esquemas....?

Mas... como...? Se, na volta, se calhar, o próprio Primeiro Ministro pratica esta habilidade... Eu não sei se pratica, se não pratica, mas penso que é um tema que a CPI deveria analisar com cuidado. É que, a bem da higiene pública e da sanidade democrática, não deveriam subsistir dúvidas.

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E sobre o RGPD e o trabalho que, segundo diz o Montenegro, a Spinumviva presta, poderão descer até ao post que se segue.