domingo, fevereiro 10, 2019

Do desprezo pela vida.
Da magia da vida.


Olho para a actuação da suposta enfermeira Ana Rita Cavaco (essa deslumbrada laranja passista que, como tem vindo a ser público, a têm levado a ser inquirida pela Judiciária por ser acusada de usar e abusar dos recursos da Ordem a seu bel-prazer e com pouco ou nenhum rigor)  como uma vergonha e um perigo.

Tenho falado disso e só descansarei quando as acções da criatura forem neutralizadas e quando os sindicatos que estão a ser manipulados por ela -- ou por mais não sei quem -- perceberem que estão a destruir a boa imagem que tínhamos dos enfermeiros. 

Tem razão Pacheco Pereira ao associar aos enfermeiros que enveredaram por este sinistro caminho de pôr em risco a vida dos doentes a mão de sangue que aparece no cartaz da Greve Cirúrgica.

Ou muito me engano ou esta Cavaco não vai acabar bem. Intuo que vai acabar por ter um triste fim. As notícias que estou a ver na TVI são o prenúncio do que aí pode estar para vir. 

É que, cá para mim, a procissão ainda vai no adro. Veremos se não haverá surpresas quando se conhecerem os financiadores anónimos da greve. O pior é que esta anti-enfermeira Cavaco está a arrastar a classe profissional nesta perigosa deriva que -- supostamente por ganância mas sabe-se lá por que mais -- a está a afastar do reconhecimento público.

Sinto asco ao ver as mensagens e ouvir os telefonemas dela e de um seu colaborador aparentemente a incentivar a greve, aparentemente a instruir os sindicatos. Sinto uma vergonha alheia quando ouço o que dizem ignorando completamente as sinistras consequências dos seus actos. Sinto um incómodo enorme ao ver como estes enfermeiros não sentem respeito ou compaixão pelos doentes.

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Mas se, por um lado, temos, neste nosso simpático rectângulo, uma classe profissional que não se importa nada de pôr em risco a vida das pessoas, por outro, abstraindo-nos deste período negro que atravessamos no país, podemos testemunhar os extraordinários avanços científicos que nos permitem assistir ao milagre do surgimento da vida.


O vídeo que aqui partilho convosco é emocionante, inexplicável, assombroso, uma daquelas improbabilidades mágicas para a qual teremos que convocar todas as divindades ou avanços científicos para perceber a maravilha do que nos é dado ver.


Vamos ver um pequena célula que se vai dividindo até que se forma um organismo. Neste caso vai nascer uma salamandra. Mas podia ser qualquer outro bichinho, até um humano.

O autor deste vídeo é Jan van IJken. O nome do filme é, em si, sugestivo: Becoming.

Becoming: From zygote to tadpole, in six stunning minutes




Viva a vida.

sábado, fevereiro 09, 2019

E outra adivinha: porque é que os enfermeiros não fazem greve quando trabalham nos hospitais privados?
Uma batatinha a quem adivinhar.





Já aqui o digo desde o início: estávamos habituados a respeitar a profissão dos enfermeiros. Víamo-los como gente digna, dedicada a bem servir a vida humana, gente em quem podíamos confiar. Os verbos estão no passado: infelizmente, não mais o poderemos fazer.

Ana Rita Cavaco, essa sinistra criatura -- presumo que numa de fuga para a frente (e ela saberá porquê e não vou ser eu a dizer que as denúncias sobre a forma como exerce o cargo podem ter a ver com isso) -- destruíu (e quase me apetece dizer que o fez de forma criminosa) essa boa imagem.

Os sindicatos -- que parecem subjugados às orientações da passista Cavaco, PSD encartada -- encabeçados por criaturas que parecem igualmente sinistras, têm feito o resto.


Estou chocada com a frieza dos enfermeiros que afirmam com frieza que, se for preciso, se não os deixarem fazer a sua sinistra greve às cirurgias, faltam ao trabalho. Pelos vistos podem dar 5 dias seguidos de faltas injustificadas ou 10 interpolados sem que nada lhes aconteça. E sabendo-se que ninguém se submete a cirurgias no Serviço Nacional de Saúde por desporto mas por necessidade de saúde, não consigo imaginar o que é estar doente, mal, sem qualidade de vida, com medo, e ter que ver a vida adiada, à espera que os enfermeiros continuem a brincar com a saúde e a vida dos portugueses, em especial dos que não têm posses para ir a hospitais privados. Estou chocada por saber que, por não terem respeitado sequer os serviços mínimos, foram adiadas cirurgias a neoplasias graves, a crianças, etc. Fico chocada. Aliás, creio que todos os portugueses com um mínimo de humanismo e decência estão igualmente chocados. O que esta gente está a fazer é simplesmente imperdoável.

Querem reformar-se antes do resto da população, querem aumentos de 400 euros, querem sabe-se lá o quê que vão acrescentendo à medida que lhes apetece. Querem privilégios que exigem sob chantagem sobre os mais indefesos. É imperdoável. E, face a este imoral comportamento, será só a legitimidade que está em causa? Parece-me bem que não. 


Quando está a vida das pessoas em jogo, actuar desta forma tão fria, gananciosa e sinistra (repetirei mil vezes a palavra sinistra, se necessário for), parece-me coisa criminosa. Ilegal. 

E há aquela surpreendente verba que recolheram através de crowd funding, já acima de 780 mil euros, e através da qual os grevistas recebem um dinheiro que ainda não percebi se é limpinho de impostos. E há aquele mistério sobre quem são os generosos beneméritos que se prestam a financiar estes actos de malvadez. 

É que uma greve é um movimento reinvindicativo contra a entidade patronal. Ora esta greve é exclusivamente contra doentes que necessitam de ser operados, gente que fica a sofrer, que se arrisca a morrer. Que movimento é este?


E, depois, tenho aquela dúvida de fundo já antes aqui formulada: os enfermeiros no sector privado ganham melhor do que no SNS? os enfermeiros nos hospitais privados têm uma carreira mais promissora? os enfermeiros nos hospitais privados têm melhores condições de trabalho? os enfermeiros nos hospitais privados não têm razões de queixa ou reivindicações?

Poderia dar já uma resposta que tornaria esta greve ainda mais intrigante. E revoltante. 

Mas fico-me por aqui. Os jornalistas que divulguem. Já começaram a fazê-lo mas ainda de forma muito incompleta. Escavem. Encontrem enfermeiros que trabalham simultaneamente nos dois sectores. Investiguem as condições num e noutro. E, quando digo as condições, digo as condições todas: condições de trabalho, ordenados, subsídios, garantias. Tudo. Percebam porque armam este escarcéu num lado e nem piam noutro. Investiguem. E os políticos acordem, façam o trabalho de casa.

É que só isso, arrisco eu a dizer, bastaria para desmascarar rapidamente esta sinistra ofensiva contra o SNS e contra o Governo -- e, infelizmente, contra os doentes.


E mais uma dúvida, que, também, já antes aqui formulei: não será caso para a rapaziada do Ministério Público avançar? Li que a ASAE já está em cima dos 'donativos' -- mas é pouco. 

Quase a terminar: até há uns dias, andava incomodada com o silêncio de Marcelo sobre esta escabrosa situação. Honra lhe seja feita: já falou e falou bem. Mais: já deixou claro que há instrumentos jurídicos para se actuar. Actue-se, pois. Rapidamente.

E, para acabar, um apelo à consciência dos enfermeiros: reflictam. Querem ser vistos como uma classe de gente irresponsável, desumana, um bando de anjos da morte? É que, se não querem, dêem um passo atrás, acabem com esta actuação sinistra, peçam desculpa aos portugueses e, em particular, aos doentes.

A sua honra profissional está maculada, muito maculada, mas mais vale parar já do que persistir e vir a carregar com uma série de crimes às costas.


Soluções das adivinhas de ontem.
E uma nova: o que é que um escorrega diz ao outro?
[Com exercícios tibetanos para aprender a descontrair]



Com os parabéns aos acertadores -- atribuindo o segundo lugar ao Francisco (e não o 1º porque não respondeu a uma e aqui quer-se rigor) e o terceiro com menção honrosa à JV (que só acertou em duas mas acrescentou graça às respostas) aqui ficam as soluções. 


Faço notar que a minha filha diz que eu achar um piadão a isto é preocupante, diz mesmo que acha que é uma ganda nóia. Mas eu também acho graça a isto que ela diz. Portanto, nada a fazer pelo que, assim sendo, passo às soluções:


1. Porque é que colocaram uma cama elástica no Polo Norte?
Para o urso polar [pular]

2. Porque é que o panado se divorciou?
Porque a mulher não servia panada [para nada]

3. Porque é que a água foi presa?
Porque matou a sede

4. Como é que as freiras secam a roupa?
Convento [com vento]

5. Como se chama a um utensílio que se perdeu?
Foice [foi-se]

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E espero que, sem googlarem (que isso não vale!), saibam o que é que um escorrega diz ao outro.

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E vá, para não ficarem stressados, a refilar que um post destes não está com nada, sugiro que aprendam a descontrair com os monges tibetanos, reproduzindo estes exercícios em casa.

Força aí.



E até já.

sexta-feira, fevereiro 08, 2019

Adivinhas:
1. Porque é que colocaram uma cama elástica no Polo Norte?
2. Porque é que o panado se divorciou?
3. Porque é que a água foi presa?
4. Como é que as freiras secam a roupa?
5. Como se chama a um utensílio que se perdeu?


Recebi da minha filha, por sms, as adivinhas que aqui partilho convosco. Quando vinha no carro liguei-lhe e atendeu o menino mais crescido. Tinha uma adivinha para me contar. Fartei-me de rir. E, para que vejam o estado em que está a minha memória recente, já me esqueci. Só me lembro que era sobre uma Maria que caíu do balouço, e porquê? Porque não tinha braços. Só que isso era o intróito para o resto da piada e é disso que não me lembro. A sorte é que as da minha filha estão por escrito senão também já eram.

O meu marido quando assiste aos meus constantes despistanços com coisas deste género -- parece que incapaz de fixar ou entender-me com estas pequenas coisas do dia-a-dia -- diz que se calhar só tenho cabeça para coisas complicadas ou altos problemas do trabalho. Já o meu sogro uma vez em que eu não atinava com uma qualquer banalidade do carro e incapaz de perceber as explicações técnicas que me davam, disse: tão inteligente para as coisas difíceis e com esta dificuldade para as coisas simples.

E é capaz de ser verdade: ver-me por minha conta, sem alguém que me guie por entre sítios banais, a ter que tomar decisões de nada sobre temas da treta, é qualquer coisa que me enche de insegurança. Por exemplo: ir sozinha apanhar um avião. Detesto. Tenho medo de não dar com a porta de embarque, tenho medo de apanhar o avião errado. Tudo coisas improváveis ou impossíveis mas, na hora, confesso, pinta esse medo. Pior: sozinha a fazer escala num aeroporto dos grandes, Bruxelas, por exemplo. Vontade de ir fazer compras, receio de me distrair e não dar pelas horas, depois de não dar com a porta, depois, já no destino, medo de não aparecer a mala e de não saber, ali, o que fazer para tratar do seu resgate. 

Está certo que isto pode não ser do mais banal que há mas foi o exemplo que me ocorreu. Mas aconteceu-me uma coisa também terrível quando fui sozinha ao ikea. Não havia lugar no parque de estacionamento do costume, fui pô-lo no parque em frente. No regresso, já tinha anoitecido, não dava com o carro. Corri tudo e não o encontrava. Fiquei desnorteada, incapaz de saber o que fazer. Ali, naquele fim de mundo, apeada, sem perceber como poderiam ter-me roubado o carro dum lugar daqueles. Então fiz o de sempre: liguei ao meu marido, assarapantada. Já corri tudo, ando aqui às voltas e nem sombra do carro. Faço o quê? E o meu marido: E tens a certeza que foi aí que o deixaste? Quando ia afirmar, peremptória, que sim, vacilei: 'Acho que sim... Acho que só há este sítio...' E ele: 'Não, isso tem andares. Pensa lá bem. Vê lá por onde é que entraste.'. Vacilei de novo. Olhei para a entrada e percebi que não estava no mesmo piso por onde tinha entrado. Procurei as escadas. Fui para o outro piso. Procurei. Lá estava ele. Como sempre, senti-me a mais esparvoada das criaturas.

Mas pronto, isto para dizer que tinha mais uma adivinha mas que me esqueci. Mas as que tenho já são em bom número e são boas.


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Já vos contei daquela vez que fomos ver o Baryshnikov ao CCB e tenho ideia que estavamos num camarote, eu, a minha filha, uma amiga, provavelmente também a filha dela. Não me lembro se também a cunhada dela e, se calhar, também a minha. Não me recordo bem de toda a gente que tinha ido nesse dia, não me lembro senão dos barulhos que, de repente, a barriga dessa minha amiga começou a fazer. Ela, em surdina, atrapalhada, só dizia: 'Mas já viram isto...?' e eu só me lembro de ter uma vontade danada de rir. Lá em baixo, Mikhail voava, elegante, gracioso, pássaro alado -- e nós perdidas de riso, com a barriga dela às voltas. Acontece.


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As pinturas são de Alois Wachsman

Quanto às adivinhas não sou eu que vou dedurar. Quem quiser que adivinhe que eu estou que não posso. Só adormeço enquanto escrevo e, ao contrário do que tinha pensado, vou ter que madrugar porque os afazeres prévios são tantos que, se não me levanto quando o galo canta, já se me ensarilha toda a jornada. 

quinta-feira, fevereiro 07, 2019

Antídoto para as vertigens. E não só.


Bem. Vou já avisando: não sei se é antídoto se é intensificador. Mas já lá vou. Antes, uns ligeiros preliminares.



Quando tenho reuniões em dose cavalar ou maçadas ou dias longos demais, chego aqui ao sofá e ponho-me a ver coisas para rir. Aliás, para ser mais precisa, não foi de imediato: antes ainda tentei informar-me; mas as notícias são de tal calibre que votei vencida. Desisti e passei para o que me faz rir.

Tenho isto de me rir. Ainda hoje estava numa reunião a ouvir uma criatura com quem, decididamente, não vou à bola. Estava a dizer coisas que deveriam arreliar-me e, que, há tempos atrás, fariam com que me saltasse fortemente a tampa. Pois hoje foi o oposto: dei comigo a gozar o pratinho, a rir de gosto. O sujeito até se enervou: 'Não ria!'. Mas não pude evitar. Aquilo pareceu-me quase hilariante. E agora, enquanto escrevo, ainda me dá vontade de rir: a cara dele, desconcertado, quase a atirar um olho para cada lado.

Hoje foi de tudo. Até um songamonga parece que tirou o dia para me afeliar: entrou-me no gabinete com uma conversa de coitado, a apelar ao sentimentalismo, todo vítima. E armado em parvo, com reivindicações de não querer fazer isto e aquilo à conta daquela coitadice. Noutras alturas, tentaria convencê-lo, acharia que era minha obrigação dar-lhe a volta. Agora desceu em mim aquele pragmatismo que já veio foi tarde. Não quer fazer, não faça. E logo instruí os outros que não forcem, que se ele não quiser, deixem. Os outros perplexos. E eu a pensar: deve estar a querer dinheiro para se pôr a milhas e não vou ser eu a estragar-lhe os planos.

Mas depois não tive com quem comentar. Apetecia-me imitá-lo, imitar-me a mim, desconstruir a cena. Apetecia-me ouvir palpites, gozações, talvez até conselhos. E nada: não tive palco nem espectadores. Uma frustração.

Faltam-me parceiros para a risota, é isso. Falta de gente divertida. Há agora uma excessiva concentração de gente preocupada com a vida, revoltada com o mundo, injustiçada face a incertos, focada nos seus próprios objectivos e nas suas próprias razões. Gente auto-centrada é gente chata. Só sabem falar de trabalho, falar a sério e deles próprios. Um desinteresse. Não há espaço para oxigénio ou para flores. muito menos para gargalhadas francas.

O que sinto falta dos tempos em que a minha secretária me vinha contar como tinha o seu domingo a bordo do barcalhão do namorado de uma amiga, por acaso a secretária de um colega meu, justamente o dito namorado. Dizia-me ela: 'Tudo nu. Nem queira saber. Não fazia ideia. Ela convidou-me, insistiu. Fui. Mas não me avisou. Tive que me despir também. Não me deu jeito nenhum. Não imagina, o senhor director a falar comigo ali de pila ao léu. Eu a tratá-lo por Sô Tôr e ele ali, felpudo, tomates e pila à vista. Passei o dia inteiro a esforçar-me para não me apanharem a olhar para as pilas. Nunca mais vou. Eu com as mamas meio penduradas e a ver que alguém ainda vinha oferecer-se para as levantar. Não imagina o que foi aquilo. Champanhe e marisco, champanhe e fruta. Já tudo ria, minha gente, tudo jogado pelos cantos, na maior pouca vergonha' -- e eu, curiosa, a fazer perguntas e ela, uma pândega, a contar os pormenores e, às tantas, as duas já perdidas de riso, eu a chorar de tanto rir com o picante e o amalucado das situações que ela, uma verdadeira comediante, relatava.  

Ou os que achavam que um outro era um leva e traz e, à socapa, o tratavam por concièrge. À frente dele, por ser todo poderoso, todos a fingirem que o respeitavam e, por trás, 'viste a concièrge?'. E depois ele, quando estava só comigo: 'São uns gozões... mas a ver se se metem comigo... ah metem metem... Respeitinho é bom e eu gosto. Eles sabem com quem é que podem meter, está bem, está...'. E eu a conter o riso. Por fim já era a Claudette. 'Sabes onde anda a Claudette?'. E, por fim, já era: 'Ela passou por aqui? Viste-a?' e eu já sabia que era dele que estavam a falar. O meu marido, sabendo disso, passou a  tratá-lo por 'a tua amiga'. E contavam anedotas brejeiras que, depois, quando ele estava presente, davam lugar a toda a espécie de trocadilhos e sub-entendidos que me deixavam à beira de desatar a rir à gargalhada.

Mas, enfim, na volta é assim que o mundo vai evoluir: cada vez mais chato, mais perigoso, mais desengraçado, sem espaço para brincadeiras, para galhofas. Um mundo afogado em sensaborias, depressões, problemas que não se aguentam de chatos que são.


Mas, pronto, o que queria dizer é que, à falta de coisas interessantes, me desloquei para os vídeos da risota. E o google, sabendo que ando nesta disposição, avança logo com algumas sugestões infalíveis. Charlie Chaplin à cabeça. Ponho-me aqui a ver e a rir (e o tapete, no chão, abandonado). Como os mails: abandonados. Não dá. O meu tempo deveria ser objecto de estudo pois não deve estar sujeito às leis da relatividade. Não estica, não se encolhe, nada. Regra geral, gasta-se. Passa.

As vezes que eu já cabeceei enquanto escrevo estas tristes linhas. Uma soneira. Ainda quero ir ver que filmes bons há aí, se é que os há, que ando com vontade de ir ao cinema, e ainda queria fazer mais umas fiadas no tapete.


Estou a precisar de férias. Há que séculos que as não tenho. Enfim. Dado que acredito piamente naquilo da teoria da relatividade, vou relativizar o meu sono e vou passar para o turno da bordadagem. O tapetinho me aguarda.

Pronto, já estava a divagar. O que queria mesmo era partilhar convosco o vídeo que me fez até gritar, aflita de vertigens. Não sei se isto me cura, se me agudiza. Mas é uma graça.


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As pinturas são de Josef Šíma e são acompanhadas pela Natalie Merchant com Kind and Generous

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Be happy, minha gente.

quarta-feira, fevereiro 06, 2019

Muito para além da estatística





Não sei se na estatística das nove mulheres assassinadas desde o início do ano (e ainda estamos no início) já consta a menina de dois anos e a sua avó. Se calhar, não. Se calhar agora já são onze. Não sei a que se deve este número. Os sociólogos ou os psicólogos sociais devem conseguir explicar.

Ouvi hoje que, a seguir ao período de natal, a violência se acentua pois, muitas vezes, o período festivo força encontros indesejados ou, pelo contrário, faz sentir sofridas ausências, reprime sentimentos ou aguça ressentimentos.


Mas, situações sazonais à parte, parece haver muito ódio recalcado, muito desenquadramento, muita banalização do mal. As telenovelas portuguesas em horário nobre estão cheias de gente de pistola em punho, gente a agredir-se, a vigarizar-se, a vingar-se, filhos roubados, mentiras. Os filmes com maiores audiências estão cheios de perseguições, tareias, assassinatos, armas, armas de toda a espécie. 

E depois há a pressão das redes sociais, o faz de conta, os amigos, os comentários permanentes, os likes, a exposição como forma de vida. E a raiva contida por debaixo da capa dos sorrisos e das selfies. Lê-se de vidas de 'esquemas' ou fantasias, ilusões, farsas. Ou vidas de 'seguranças' ou ex-seguranças, homens que tomam suplementos, que cultivam o físico, que são contratados para vigiarem o crime. Gente que vive nas margens da violência. Gente cujo corpo mal consegue suster as ondas de agressividade que parecem nascer do mais íntimo de si.

E depois é isto. O mal latente, comezinho, banal. A sociedade vai aceitando a violência gratuita, a pressão inaceitável e prepotente. Por exemplo: a greve dos enfermeiros, suspendendo cirurgias, podendo colocar em risco a vida das pessoas -- sendo que os doentes, indefesos, são as únicas vítimas -- é outro sinal da virulência que grassa nesta sociedade. Choca-me a tolerância com que se aceita que uma classe profissional atente contra a saúde pública da população, em especial da mais desfavorecida. É que estranhamente os enfermeiros não fazem greve nos hospitais privados quando razões de queixa também não lhes devem lá faltar. Tudo obscuro. Violento, incompreensível, inaceitável. Sementes de maldade que vão sendo espalhadas na sociedade.
Por cada mulher que morre vítima de violência doméstica, muitas outras continuam a sofrer sem coragem para denunciar a situação, com medo das consequências se ousar falar, com medo de represálias sobre os filhos. Medo, vergonha. Omissão. Até que um dia a coisa transborda. O dia em que o controlo falta. Onde vale tudo. Onde acontece o passo fatal.


Podia ser amor. Talvez tenha começado por ser amor. E o amor assume muitas formas e nem sempre tudo é bom no amor. Mas, por vezes, tudo se confunde: o real, o virtual, o social, o fatal. E depois há o momento em que o amor deixa de ser amor e passa a ser obsessão, pulsão, possessão.

E depois, por vezes, o sofrimento anónimo, silencioso e continuado, torna-se um número público.


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[As pinturas pertencem à colecção A Fortnight of Tears, um trabalho de Tracey Emin]. 

terça-feira, fevereiro 05, 2019

Charlot forever


Nunca percebi como é que os médicos fazem bancos e, no dia seguinte, estão frescos. Dizem-me: na maior parte dos dias dá para uma soneca, ali pela madrugada a coisa amaina, a gente encosta-se, tá-se bem. Pois, não sei. Eu daqui a nada estou acordada vai para umas vinte e quatro horas e estou longe de estar fresca. Claro que já podia estar na caminha mas o corpo é bicho de hábitos. O meu, habituado que está a ir já a dormir para a cama, se vai mais cedo e ainda acordado, fica às voltas e a coisa resulta sempre mal.

Já contei que o dia foi longo, cheio de coisas sérias, na companhia de gente que consegue ser muito séria (embora às vezes eu consiga rir-me com eles), e com viagens longas e frios e canseiras. E amanhã vai ser outra vez longo -- embora não preveja maçadorias de maior e, inclusivamente, anteveja um final à maneira. 

Em tempos tinha colegas que me faziam rir imenso, outros que viviam tórridas paixões à vista desarmada de toda a gente e conversávamos sobre tudo e era uma equipa levada da breca, muito bem disposta, muito unida. Havia um substracto humano cheio de layers e texturas que davam uma graça especial aos dias. Não era preciso porem-nos com animadores para fazermos team building. Agora há muita seriedade, muita gente que se leva demasiado a sério. E a mim cansam-me muito as pessoas muito auto-centradas e que se acham a referência, o modelo perfeito, o padrão. 

Em dias de imersão no mundo dos homens de negócios, em que sou um deles, chego a esta hora e só me apetece rir. Não me falem em planeamentos, em ebitdas, em business plans ou em funfuns e gaitinhas senão chego ao fim do dia e ponho-me à procura do charlot ou de bean ou de outros pândegos. 

Não tendo, por ora, mais adivinhas ou trocadilhos e estando eu própria pelada de ideias peludas -- que é como quem diz, descabelada de ideias cabeludas (vide comentário no post abaixo) -- nada mais me resta senão pedir ao meu querido Charlie Chaplin que aqui venha fazer-me umas coceguinhas mentais para eu me desatar a rir.





Tenho que ensaiar estes passos para os usar em contexto profissional. 
Ia cá ser uma surpresinha para quem assim me visse.

Com os parabéns à JV pelo trocadilho do ano:
se um pato gostar de patos, mas não de patas, poderá ser um pato antipática?,
aqui fica, à laia de presente, um homem que dança bem que se farta.


Tinha avisado: alvorei. Ainda era madrugada quando desarvorei. Foi, pois, ainda de noite, parte da viagem. Ninguém merece. Tive um dia do esbeleleu. Estou incapaz de pegar num gato pelo rabo -- coisa a que, mesmo que estivesse transbordante de energia, não me arriscaria. E, como moral da história, apenas consigo concluir que é uma pena não haver feriados tão cedo.

Mas, às tantas, no meio de coisas sérias, arranjei maneira de espreitar -- e, juro, não consegui deixar de rir de gosto com a pergunta da erudita JV: 
Será um pato que sofre de antipatia?? Já que se está a tornar expert em adivinhas e coisas do género, pedia-lhe então que me elucidasse quanto à seguinte questão, que me está a dar a volta à cabeça: se um pato gostar de patos, mas não de patas, poderá ser um pato antipática? 
Claro que logo, logo, tive que fechar o semblante e fazer de conta que tinha acabado de ler um mail muito importante mas, por dentro, tenho andado divertida com esta do pato bicha, antipática.

E agora, com muita pena por não conseguir contrapor um outro  trocadilho, limito-me a perguntar à JV: a menina dança?

É que, se dança, tem aqui um par à altura.


Thanks, JV, pelo bom humor que enxertou no meu dia.

segunda-feira, fevereiro 04, 2019

Sem rede


Já contei muitas vezes: padeço de vertigens. Ter vertigens não é opção, acontece -- queira-se ou não. É como uma orientação sexual. Por mais que queira não consigo deixar de ser hetero. Nem de ter vertigens. Só de pensar já as sinto a assomarem-me à sola dos pés, a darem-me aquela sensação de que corro sérios riscos de me despenhar.

Estava a podar árvores e a serrar troncos e ramos, atirando lá para baixo as ramagens que o meu marido haverá de queimar num dia em que não chova, não faça vento nem demasiado calor. E, de cada vez que me aproximava da barreira, pensava que bastava um tropeção ou um pé mal colocado para lá ir cair abaixo. Por vezes, ao atirar um ramo, em vez de ir para lá abaixo, ficava preso à beira do precipício. Bem que eu tentava debruçar-me para o soltar. Mas qual quê? Incapaz. Sempre com a sensação de que, mais um passo, e voava sem asas. 

Pois bem. Numa destas coisas que não se explicam, resolvi ir espreitar as novidades ao National Geographic. Logo que vi, pensei: caraças, para que é que vim?

É que não é apenas corajoso. É mais do que isso: é de loucos. Parece-me, até, suicida. Imagino a aflição dos pais. A aflição da namorada vêmo-la nós. Coitada. Coitados os que t~em um doido destes na família. Mas, bolas, ao mesmo tempo que valentia, que superação...!

Não é a primeira vez que aqui trago Alex Honnold. Era mais miúdo e já subia às alturas. Agora vêmo-lo mais adulto, a subir mais alto, mas ainda com aquela assombrosa leveza e força. Sem rede. Sem plano B.

Não sei que pulsão é esta que leva alguém a pôr a vontade de arriscar acima da vontade de viver mas não temos que saber as motivações alheias para admirar alguém. 

Partilho convosco.

Free Solo - Trailer | National Geographic


From award-winning documentary filmmaker E. Chai Vasarhelyi and world-renowned photographer and mountaineer Jimmy Chin, comes FREE SOLO, a stunning, intimate and unflinching portrait of free soloist climber Alex Honnold, as he prepares to achieve his lifelong dream: climbing the face of the world’s most famous rock... the 3,200ft El Capitan in Yosemite National Park… without a rope.
(Apertem os cintos...)



Também bastante interessante. A palavra a quem registou a concretização do sonho. E da loucura.

How They Filmed the First El Capitan Climb With No Ropes in "Free Solo" | Vanity Fair


Elizabeth Chai Vasarhelyi and Jimmy Chin, the directors of the documentary “Free Solo,” discuss how they captured rock climber Alex Honnold’s free solo climb (without any ropes, harnesses or protective equipment) of Yosemite’s El Capitan in June 2017. The film crew was challenged to record his incredible achievement without affecting Honnold’s climb.

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E atenção: ainda não recebi palpites para a adivinha dos patos que não gostam de outros patos.

E bons sonhos, sem pesadelos, sem inexplicáveis alpinismos, sem formigueiros nos pés.

Só altos voos, só planagens felizes.

domingo, fevereiro 03, 2019

E como se chama a um pato que não gosta de outros patos?
[E como ninguém arriscou, dou eu a resposta: um tomate roxo é um tomate a suster a respiração]


Serrei tanto, podei tanto, fiz voar lá para baixo tanto tronco e ramo que, se esta segunda-feira me conseguir mexer, será milagre. Às tantas já estava tão cheia de calor que despi a camisola e fiquei apenas com o top de alcinhas. O que me valeu foi que o meu marido andava noutra empreitada e não me viu; senão teria dito o que sempre me diz quando me vê assim: que pareço de leste. E hoje ainda mais o terei parecido, a atirar bem mais do que um simples martelo.

Só no fim, quando me viu, é que se aborreceu, diz que estarei cheia de arranhões, que não aprendo. Nos braços e costas ainda não dei por eles. Agora nas mãos é que é uma desgraça. Não encontrei as luvas. Ele diz que estão lá, no sítio do costume. Não vi mas, se calhar, não me esforcei. Não gosto de trabalhar de luvas.

Não interessa.

Chegámos de noite mas ainda fui comer um gelado. Tinha gasto tantas calorias que achei que me poderia desforrar: duas bolas, frutos vermelhos e gianduja. Ele não quis, estava mal disposto com o resultado do jogo. Além disso, tenho ideia que acha que comer gelado numa noite gelada é coisa de gente maluca. Na volta é mas não quero saber. Parte do prazer de ser domingo é o gelado bom que como ao fim do dia. Nem sempre posso mas como fomos aos meus pais no sábado de manhã, no domingo pudemos vir direitos a casa. 

E depois foi a azáfama dos domingos à noite: arrumar roupas, fazer uma máquina de roupa, fazer sopa, arrumar a valise e escolher a toilette porque a abalada é pela madrugada e não haverá um segundo a perder, fazer pagamentos, etc.

É, pois, bem tarde e ainda tenho coisas para fazer mas, aqui num little break, deixem que vos pergunte aquela dos patos que não gostam de outros patos. Só posso dizer que, depois de se saber a resposta, é mais uma daquelas que parece óbvia.

Depois a ver se ainda cá volto para vos mostrar uma coisa e para responder a comentários. Os mails terão que esperar porque, quando a manta do tempo é curta, ou os pés ou os mails ou os comentários têm que ficar de fora.

Com o Richard Gere o Arnaud du Tilh da Rede do Mr. X fica ainda mais interessante


Há uns anos vi o filme e, claro, sendo eu devota de Richard Gere desde os tempos do saudoso Gigolo, até ao Breathless, passando pelo Oficial e Cavalheiro, gostei bastante. Tinha, além do mais, Jodie Foster como a mulher estranhamente iludida, tinha uma história muito interessante com fundo verídico e tinha paixão, drama e estranheza.

A propósito de embustes, ilusões e coisas não muito fáceis de explicar, andou Mr. X a contar, em fascículos, a história de Arnaud. Chamou-lhe a Rede e deixo o link para o epílogo. E eu, lendo-a, tive vontade de rever imagens de Sommersby, ainda com pena do exagero do desfecho. Naquela altura, a malta era de extremos e gostava deles. De cada vez que havia enforcamento era uma festa. 
Sendo eu, por princípio e em regra, muito contrária a penas exageradas que retiram partes da vida a pessoas que talvez conseguissem regenerar-se se a pena fosse mais razoável, não posso deixar de sentir alguma inquietação por uma pessoa como a que a Conceição Lino reportou na reportagem da SIC -- pessoa essa que manipulou e condicionou a vida de várias outras -- continuar a exercer a sua profissão de professora do ensino básico. Perante uma situação destas, que mereceu uma condenação (light) em tribunal, não deveria aquela criatura ser sujeita a testes psicológicos para se verificar se tem  a estabilidade emocional e a estrutura mental adequadas ao exercício da sua função? Afinal, um professor do ensino básico ajuda a estruturar a personalidade das crianças à sua guarda na escola e nem imagino que danos lhes poderá causar se tiver comportamentos desviantes, manipuladores, estranhos.
 Mas, enfim, let's look at the trailer. 

Sommersby com Richard Gere e Jodie Foster



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E queiram continuar a  descer para as adivinhas, nomeadamente para a que ainda está em aberto: a do tomate roxo (que vem à mistura com a CGD, os enfermeiros, o PCP, a Elizabeth Holmes e etc).

E o que é um tomate roxo?
[E isto para não me alongar com a auditoria à CGD, com aquelas denúncias de cenas que se passam nas autarquias PCP, com a baderna que para ali vai na Venezuela, com a extraordinária Elizabeth Holmes, com a criminosa greve dos enfermeiros ou, mesmo, com as minhas andanças nocturnas in heaven, preferindo, com a vossa licença, deleitar-me com Jane Goodall]
-- E sim, um ponto verde no canto da sala é uma ervilha de castigo --




Claro que, na volta, eu devia era falar dos créditos e das imparidades da Cixa Geral de Depósitos. Mas, para falar disso, porque não falar tambem das do BPN, do BES, do Banif, do BCP, etc? Que disso, upa, upa, há por todo o lado e, de uma forma ou de outra, todos temos tido que lá meter dinheiro. E não que com isso esteja eu a querer branqear a coisa. Zero. Não. Mas há os créditos dados a ver se se salva uma fábrica, uma actividade que conjunturalmente está a passar um mau bocado e há os dados por vã ambição, ganância, mania das grandezas. Quem, ignorantemente, ponha tudo no mesmo saco vai por mau caminho. A avaliação técnica de um crédito tem mil e uma vertentes e não é num comentário apressado que se pode tecer opinião. 

Por isso, passo adiante.


Também podia falar da avalancha de notícias sobre os compadrios nas autarquias geridas pelo PCP. Não atiro pedras e não porque ache que o PCP não tem telhados de vidro mas porque prefiro ter a certeza da veracidade de tudo o que está a aparecer. É que há tal coincidência nas pedradas que a coisa parece orquestrada e eu de orquestrações prefiro as musicais. A ter havido abuso de confiança, uso e abuso de recursos autárquicos para fins partidários, dolo na gestão de dinheiros públicos ou infracção de regras claro que acharei mal e que defenderei que não estejam, como ninguém pode estar, acima da leia. Mas, até que para mim esteja claro o que se está a passar e se há fundamento nas denúncias, manter-me-ei expectante e de bico calado.

Sobre a Venezuela é diferente: não quero cá saber do nome que os próprios dão às coisas como se o nome fosse rótulo que garante imunitade. República bolivariana o escambau. Um atraso de vida é o que é. Há populistas, parvalhões e abusadores para todos os gostos e este Maduro é um deles. Que a Venezuela está entregue à bicharada é inegável e o PCP mostra que tem um cordel agarrado ao pé e às ideias quando não é capaz de se desdogmatizar para apreciar as coisas como elas são. Não faço ideia de qual é a do tal de Guaidó pelo que, às cegas e sem o conhecer, custa-me defendê-lo. Nem sei como ficará a Venezuela depois de correrem com aquele parvalhão, prepotente e atraso de vida que é o Maduro mas sei que alguma coisa tem que ser feita. Um país daqueles não pode estar naquela penúria, naquela regressão, naquela indigência a todos os níveis. Mas falta-me competência -- e disposição -- para me pôr para aqui agora a dissertar sobre tema tão sério.

E digo-vos uma coisa: não fora este meu mau hábito de apenas me dedicar ao blog quando a noite vai alta e a minha energia escasseia, aquilo de que eu falaria mesmo seria de Elizabeth Holmes, 35 anos, aquela a quem se augurou ser a próxima Steve Jobs, ex-CEO de uma brutalmente valiosa empresa. E se emprego o qualificativo brutalmente é porque tudo aquilo era uma fraude. Mais um caso em que o mundo ilustrou a célebre doença da cegueira injustificável. Uma história fantástica a que prestaremos atenção quando o filme que já está por aí a rebentar com Jennifer Lawrence aparecer. Agora que é apenas uma história real, não queremos saber. E, no entanto, apesar de não conhecer Elizabeth, juraria que consigo adivinhar como é que aqui se chegou. E adivinho não porque detenha dotes divinatórios mas porque já vi uma história assim. E é tudo tão inacreditável e a cegueira colectiva tão difícil de compreender que não me espanto ao ver como a fantástica e valiosa empresa Theranos se despenhou tão facilmente.


Mas não falo de Elizabeth, hoje não me apetece -- até para não fazer associações a coisas de que nem é bom falar.

E há a criminosa greve dita cirúrgica dos enfermeiros mas acho-a tão aviltante para quem trabalha na área da saúde que, só de pensar nisso, sinto vergonha alheia. Só espero que a justiça arranje maneira de pôr um ponto final na actuação degradante daquela gente que deveríamos respeitar mas que, com o que andam a fazer, só nos fazem sentir repulsa e medo de algum dia virmos a ser vítimas de gente tão perigosa. Passo adiante para não me sentir agoniada.

E, portanto, estando numa de passar ao largo de tudo o que é assunto, poderia limitar-me a contar como andámos até ser noite enfiados no meio das árvores a podá-las, a desramá-las, a dar fim a pés bastardos. Podia contar como os nossos olhos se vão habituando à visão nocturna, como, depois de pensarmos que não vamos conseguir ver nada e que o melhor é ir para casa, nos vai sabendo bem perceber que afinal nos orientamos, como o que sobra de luz  -- e que não sei se era algum vislumbre de luar, se uma réstea de luminosidade de alguma estrela longínqua ou de quê -- é suficiente para ali continuarmos a serrar, a cortar. Ou poderia, ainda, limitar-me a contar como o ar foi ficando cada vez mais frio, como há sons que esperam pela noite para aparecer. E o cheiro das árvores e da terra acentuado pela frialdade nocturna, como é bom.


Mas nem para isso me está a dar para falar. Enquanto escrevo, estou a ver e ouvir Jane Goodall, uma maravilhosa jovem de 84 anos que ama a natureza, que é indomável e que sorri enquanto fala.


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E, assim sendo, volto a perguntar: o que é um tomate roxo?

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[As imagens mostram a exposição Until de Nick Cave]

E o que é um ponto verde no canto de uma sala?
[E sim, o tubarão diz à tubaroa: tu_baralhas-me]


Bem podem vir dizer-me que estas adivinhas têm barbas. Que é como quem diz: são velhas, são do tempo em que as galinhas tinham dentes. Só que, não tenho culpa, eu não sou desse tempo, não conheci. Sou deste tempo. Jovem. Pelo menos, de cabeça. Nem me ensinaram na escola. Nem foi coisa que me tivesse sido transmitida pela tradição oral. Acresce que não sou boa de anedotas ou adivinhas. Não registo. Até admito que sejam tão universais como 'branco é, galinha o pôs' ou 'qual é a coisa, qual é ela que entra em casa e se põe à janela'. Pode ser. Pode até ser prova de desmiolice ou ignorância aguda. Pois que seja. Que hei-de eu fazer?

Por isso, por via das dúvidas, agora que a menininha me contou a dos patos e a das omeletas de chocolate e que as meninas mais crescidas não quiseram ficar-se atrás e contaram outras, registo-as aqui para ficarem pro memória.

Mas como sou mesmo despassarada, confesso, ontem à noite só registei a dos tubarões. Mas a minha filha já me relembrou outras duas. Uma é esta, a do ponto verde. Desatei-me a rir. Ela até se admirou. Mas é isto. Que hei-de eu fazer se estas coisas me fazem rir? É isto e a perspectiva de uma nêspera em cima da cama -- uma nêspera estava na cama, deitada, muito calada, a ver o que acontecia. Dá-me vontade de rir e, claro, apesar de não me auto-ver como uma velha, não me faria rogada a, zás, comê-la.

E, agora, por nêspera. Há um quadro, agora não me lembro de qual (este aqui ao lado é outro), com um macaco vestido. Tínhamos ido ver uma exposição e o meu filho, que teria uns quatro ou cinco anos, olhou e disse: 'Olha! Uma nêspera.' Ficámos muito admirados. 'Uma nêspera? Onde é que está a nêspera?' e ele apontou para o macaco e disse, com toda a naturalidade: 'Ali'. Eu e a minha filha rebentámos a rir. A partir daí, quando víamos um macaco dizíamos que era uma nêspera. E é a coisas malucas assim que eu não resisto: farto-me de rir.

Mas, portanto, voltando à cold cow: 
O que vem, então, a ser um ponto verde no canto de uma sala?
E uma sugestão a quem achar que este meu pobre ponto verde também tem umas longas, brancas e provectas barbas, sugiro que faça o favor de deixar na caixinha dos comentários algumas adivinhas novinhas em folha. Agradecida.

sábado, fevereiro 02, 2019

E o que é que o tubarão diz à tubaroa?


Eu não digo. Têm que ser vocês a adivinhar. Pronto.


Vá, sou boazinha. Ajudo. Uma ajudinha. Uma dicazinha: 
O tubarão diz à tubaroa: tu b....


PS: Tive a casa cheia, cheiinha. Toda a gente gostou do buffet. Pizzas de forno de lenha entregues em casa (salmão, manjericão, frango, chèvre e noz, presunto e alcachofras, espinhafres e bacon), caixas de sushi levantadas no restaurante, camarão comprado já cozido, e, feito por mim: rosbife, bifinhos de porco grelhados, arroz de forno. Uvas sem grainha. Tarte de framboesas. Areias. Gomas variadas cobertas de chocolate. Toda a gente comeu que se fartou que é o que eu gosto de ver. E cantou-se. Até o bebé já canta. Brilha, brilha, céu, brilha, brilha, céu. Acho que foi a tia que lhe ensinou a da estrelinha. Penso porque também a ouvi a cantar. A menos que estivesse simplesmente a acompanhar o sobrinho.

E as meninas grandes não quiseram ficar atrás da menininha linda e puseram-se também a contar adivinhas. Como sou cabeça de alho chocho, só fixei a do tubarão. Só que hoje não facilito, hoje não dou a resposta.

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E depois de se irem, andámos a limpar e a arrumar e depois, mal chegámos aos nossos sofás, adormecemos. Um dia mais do que muito preenchido e muito bom. Não tenho nunca de que me queixar, apenas tenho a agradecer. Gosto tanto de ter a casa assim a transbordar, gente feliz, brincalhona, descontraída.

E o que vale é que estamos a entrar no fim de semana. Tão bom. Um dos meninos estava a brincar, todo feliz da vida, a atirar o beyblade (penso que se chama assim a um brinquedo que parece um pião) e, às tantas, disse: 'quem me dera que já fosse segunda-feira'. As meninas crescidas que o ouviram protestaram logo e eu também, 'vira essa boca para lá!', mas ele manteve-se na dele. Fico contente. Revela que gosta da escola. Parece não ligar patavina ao que aprende nas aulas, dá ideia que não há lá nada para aprender, é super desprendido, adora é o desporto, é enérgico,  mas, até ver e um pouco para surpresa geral, tem sempre muito boas notas a tudo.

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Bem. Vou indo.

Bom fim-de-semana.

sexta-feira, fevereiro 01, 2019

A tal da rede que era Sofia que era Cláudia e que morreu e por quem Nuno se apaixonou -- e que afinal ressuscitou porque era outra.
E a Clara do Mal. E o Bercow do Bxt.
E duas adivinhas para rematar.




O dia, como ontem avisei, foi mais repleto que um ovo. Mas não foi ovinho de codorniz ou ovito da franganita. Não senhor. Foi um big ovo. Ovo de avestruz. Talvez até de dinossauro. De dinossaura new age. E mais que ser big, foi intenso. O chamado ovo intenso.


No fim, alguém me veio perguntar como tinham corrido as coisas. Não quis dar conversa. Encolhi os ombros e disse que achava que sim. Disse-me ele: Está nas suas mãos.

Não lhe disse mas pensei que nunca tanto na minha vida como hoje tinha sentido que, de facto, está nas minhas mãos. Totalmente nas minhas mãos. Uma sensação um bocado estranha. Não posso contar com mais ninguém do que comigo nas decisões, nas orientações. No fim haverá decisão colegial mas sobre o caminho que eu, de minha lavra, tiver traçado. Mas sei lá eu qual o melhor caminho? Posso até saber qual o melhor caminho em geral, mas sei lá qual o melhor caminho para mim? Não sei pensar quando faço parte da equação. Só sei ir em frente, desbravando, fazendo o caminho, sem saber se tenho pernas e braços para a empreitada. 

Seja como for, a verdade é que acho que o carro foi posto em marcha e agora para a frente é que é caminho. 


Mas como parece que na minha vida nada é em pequena dose, ao mesmo tempo aparece-me mais um caminho, um segundo, num outro contexto, num outro lugar, e pedem-me que o desbrave. E dizem-me: damos-lhe os melhores para a ajudarem na caminhada. E eu sinto-me pequena face à dimensão do que me pedem por um lado e do que, por outro, eu quero fazer.

E talvez porque seja muita intensidade e muito ovo, uma verdadeira omeleta de cenas, a verdade é que hoje, pouco depois de aqui estar, adormeci.

Esta sexta-feira é outro dia especial mas por outras razões e vai começar cedo e, palpita-me, vai ser outro dia dos bem preenchidos. Aqui no meio das sonecas, vou tentando organizar a logística do dia mas porque, enquanto acordo e adormeço, tenho a Clara Ferreira Alves, catastrofista e superior, a falar alto demais -- o que perturba o meu fim do dia -- não estou a conseguir concluir se devo ir ao supermercado à abertura e depois vir a casa depositar os víveres ou se devo tentar vir mais cedo à tarde. E agora que escrevo isto reparo que o Eixo do Mal fez um step in e ocupou o espaço da Quadratura do Círculo que se desbaldou para a TVI e que vai ter o ubíquo Marcelo a abrilhantar a vernissage. Na próxima, para equilibrar, tê-lo-emos ao colo dos paineleiros do Mal.  Baralhar e dar de novo.

O vídeo que mostraram no fim do Eixo a ilustrar a cavalice dos juízes que julgam os casos de violação suspeitando da conduta das vítimas é que vi com atenção e foi bom. De resto, tenho para mim que não perdi grande coisa. Para ser bom, tinham que dar banho à Clara a ver se ela larga aquela peneirice aguda que a torna intragável. E isto ela, porque os outros não me assistem.


Antes de começar a escrever isto, e nos intervalos de cair morta de sono, tinha estado a ver mais uma exorbitante e extraordinária intervenção de Bercow, o meu Speaker preferido. Fala bem, ele. No meio do histrionismo e da graça, ele fala bem, frases inteligentes e boas de ouvir. Aqueles ingleses estão marados, perdidos da cabeça, autênticos bifes a andarem à volta do rabo. Aquele parlamento é um carnaval gerido por um Bercow que dá um baile de dar gosto.

Quando aqui me sentei, pus a box para trás para ver aquela maluqueira da Rede no final do noticiário das oito na SIC, aquela cena doida de uma varrida que se desmultiplicou em perfis falsos, enredando meio mundo em histórias inventadas. No fim, viu-se o vulto da criatura a falar com a Conceição Lino: quarenta e tal anos, divorciada, com filhos, professora do ensino básico. Era, então, a tal que se fazia de Sofia (e de irmã e mãe de Sofia e de amiga e de sei lá quem mais) -- Sofia essa que, afinal, era Cláudia que não sabia de nada do que se passava. A dita criatura gastava centenas de euros em telefonemas para simular que era várias, telefones distintos, fingindo vozes diferentes. Coisa assustadora. Gente doida dá com os outros em doidos. Nem sei o que pensar de uma coisa destas. O que move gente assim? O prazer de enganar os outros? São doentes a precisar de internamento?

Pelos vistos o juíz resolveu a coisa condenando-a a indemnizar os queixosos numas centenas de euros.


E agora vou dar três pontos no arraiolos antes de cair de vez para ver se consigo ir para a cama a pé.

E, na despedida, duas adivinhas que a minha menininha mais linda me contou no outro dia:
1. O que é que um pato diz a outro pato?
2. Como é que se faz uma omeleta de chocolate?
E, antes de ir, mais um cheirinho de Bercow, o actor principal da comédia que dá pelo nome de Brexit



[Respostas: 1 - Estamos empatados   2 - Com ovos da Páscoa]

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E, ufffff, thanks god it's friday.

Be happy.