terça-feira, agosto 06, 2024

Memória de belos e gostosos slows nas festas de garagem de um amigo.
[E, a despropósito, uma arte diferente]

 

Enquanto as televisões se enchem de entendidos a delinear estratégias para resolver a putativa guerra Irão - Israel, eu distraio-me tentando descobrir outras coisas que me interessem. A esta hora já não me dá para ler livros, só para escrever ou para cirandar pelos vídeos ou pelas gordas dos onlines.

Há bocado, ao ver uma mensagem, num grupo de amigos, de um deles, o que tinha a melhor casa e que generosamente a disponibilizava para as famosas festas em sua casa, pensei como curiosamente continua a mesma pessoa, low profile, reservadíssimo, mas, ao mesmo tempo, surpreendente com a sua cultura, em especial, cultura musical mas, também, uma visão humanista e invulgar sobre o mundo.

Ele sempre foi muito alto. Desde miúdo que é igual. Baixava-se um bocado, parece que se encurvava um bocado para não ficar muito mais alto que os outros. Tinha óculos que parece que lhe punham os olhos maiores e que lhe davam um ar ainda mais tímido. Nas aulas nunca se destacou. Também nunca se portou mal. Nunca se meteu em sarilhos. Quase nos esquecíamos dele de tão boa pessoa que ele era.

As festas eram na garagem que ficava vazia para nós. Ao fundo havia mesas onde a trupe da luz e do som instalava aparelhagem sonora e luzes que piscavam. Estávamos por nossa conta. Havia um belo jardim mas ninguém queria saber do jardim para nada. Queríamos era estar na garagem, de preferência à meia luz.

Muitos slows ali dancei, muito mel ali se destilou. Namorei que me fartei naquelas festas.

À hora do lanche, abria-se a porta que fazia a ligação da garagem à casa e avançávamos. 

A casa era fantástica, grande, muito bem decorada. A escada, interior, era invulgarmente larga e no patamar intermédio, entre os dois lances, junto a uma grande janela, havia um piano. 

Aí, havia sempre alguém que ia tocar, no piano, as músicas mais conhecidas da altura. Nos últimos anos, apareceu um 'artista' e aí as pianadas eram mais a sério. Muito bom.

Na sala de jantar havia uma mesa enorme cheia de comida. Coisas boas com fartura.

Tento lembrar-me da mãe mas a ideia que tenho é vaga, mistura-se com a imagem da mãe de um outro que tinha mais ou menos a mesma maneira de ser e que tinha pais que já não me pareciam novos, o pai era o Notário da cidade e a mãe era uma senhora que se arranjava muito bem, distinta, sempre muito bem vestida e penteada. Lembro-me, sim, que a mãe deste da garagem (o outro também fazia belas festas mas não tínhamos instalações tão independentes) era discreta, simpática, mal se dava por ela (a do outro também).

Curiosamente casou com a irmã do meu namorado da altura. Ele era um maluco de primeira. A irmã era o contrário mas não se espantava, não se escandalizava nem se indignava com as doideiras do irmão. Era como se aceitasse que era normal que, volta e meia, a família tivesse  chatices com o irmão. Casou com o colega do irmão, o colega melhor comportado. Deve ser um casal tranquilo. Pelo menos assim parece. Na altura, ela parecia uma rapariga crescida quando nós éramos uns catraios. Agora parecemos todos da mesma idade.

Sei que se interessam por arte e não me admirava nada que, se eu lhes mostrasse este vídeo, também achassem piada.

Tanya Marcuse: Artist

“I try to kind of have both of those things visible at once…in a single piece there’s some kind of sense of the duality and unity between growth and decay.”

When you venture into nature, you probably find yourself thinking about how naturally beautiful the environment looks. Artists strive to capture that beauty, and Tanya Marcuse does this by foraging and recreating natural scenes in her photography. 


Dias felizes!

3 comentários:

aamgvieira disse...

Devia ler "Página Negra Blogspot" de Manuel da Fonseca ex morador da Vila Alice 69/76...Luanda

Um Jeito Manso disse...

Olá.
Costumo ler, sim senhor. Porque recomenda? Para alé, claro, de ser muito bem escrito, há algum aspecto em particular de que se tenha lembrado...? Fiquei curiosa.
Obrigada.
Abraço.

aamgvieira disse...

Por filmes que eu também vi, italianos dos anos 60,neo realistas e pela bela Luanda onde vivi desde 1951 a 1959...a jdade é tramada......