Sou amiga de longa data de uma escultora. Durante muito tempo apenas soube dela através de notícias. Mas era ela pequena e já eu percebia nela aquele toque para as artes. Lembro-me de, no liceu, nos primeiros anos, termos que fazer um desenho com guache. Eu e quase todos fizemos desenhos infantis, básicos. Ela não, fez um desenho de bailarinas. A pintura tinha movimento, tinha cor, tinha leveza e graça. As bailarinas estavam em pontas, debruçavam-se, saltavam, e tinham saias de tule, transparentes, e tudo ali dançava. Nesse dia fiquei estupefacta. Pinturas assim só conhecia de quadros nas paredes. Jamais pensaria possível que uma de nós pegasse em pincéis e tintas e, na maior das naturalidades, fizesse uma coisa assim.
Desde aí nunca mais parei de me espantar com a facilidade dela em inventar peças, em dar-lhes vida. Não se tornou pintora mas, sim, escultora.
Ainda recentemente concebeu uma peça absolutamente fora da caixa, inesperada. Apesar de muito elogiada, foi humildade que percebi na sua voz e na sua expressão quando me perguntou: 'Gostaste?'
Há algum tempo ouvi uma outra escultora dizer que há peças que requerem muita força, que pode ser um trabalho muito pesado, que já as evitava pois já não tinha a energia e a resistência que tinha antes. E, de facto, compreendo.
Uma vez enviei uma carta com sugestões à pessoa que ocupava a presidência do município em que, na altura, vivia. Uma delas é que abrisse concursos junto de artistas como escultores ou ceramistas ou graffiteiros para que inundassem a cidade de arte de rua. Achava eu que a cidade deveria transformar-se na cidade das artes, artes ao dispor de todos. Achava eu, e acho, que isso valorizaria de forma duradoura a cidade e que traria alterações estratégicas pois atrairia um turismo de qualidade que, por sua vez, garantiria audiência para outras demonstrações artísticas (festivais de música e de dança, festivais literários ou de cinema ou de fotografia). Enfim, dissertei sobre as potencialidades virtuosas que essa transformação traria à cidade.
Claro que isso tem custos. A arte custa dinheiro. Os artistas não apenas gastam dinheiro nos materiais como muitas vezes têm que contratar ajudantes, têm que arrendar espaços onde possam trabalhar e, claro, têm que viver.
Contudo, agora aparecem os robots, aparece a impressão 3D, e, a montante, o software em que se definem os modelos que estão na origem do que vai ser feito. E, nesse caso, claro que as obras aparecem feitas muito mais depressa. Desde logo, os robots trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana. Claro que, por detrás, há o trabalho humano de programação. Só que, uma vez construído o software que instruirá o robot, este pode fazer essa e milhões de outras iguais. Claro que aí será do interesse do artista destruir o software após a realização da peça para evitar cópias. Só que isso não é bem assim. Quem concebe os modelos matemáticos e quem programa os equipamentos não será o artista pelo que há sempre várias mãos a mexer no software. E, por segurança, haverá cópias. Portanto, o escultor pode acreditar que o software foi destruído e, na realidade, haver ainda uma ou mais cópias. E pode até o próprio artista se predispôr a fazer não um exemplar mas uma série deles.
Seja como for, como em tudo, há lados fantásticos e aspectos preocupantes.
Contudo, quero aqui deixar um apontamento: o mais recente colar, que acho lindo, é composto de peças impressas numa impressora 3D. São peças de uma cor profunda, com um toque macio, maravilhoso, e têm um movimento incrível. Tenho uma amiga, que pertence a uma família ligada às artes e à moda, que faz colares artesanais, bonitos. Quando viu este meu ficou muito impressionada pela sua invulgaridade e beleza.
Robots sculpt marble in Italy, sparking worries about future of art form | 60 Minutes
A fleet of marble-sculpting robots is carving out the future of the art world. It’s a move some artists see as cheating, but others are embracing the change.
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