sexta-feira, outubro 31, 2025

Um salão de baile com muito que se lhe diga

 

Muito se tem dito, e creio que está à vista, que Trump nunca foi bom na cabeça e que, agora, com a idade, o regime alimentar desadequado e uma vida de excessos, a demência está a fazer o seu caminho. E, no entanto, parece que ninguém se chega à frente para correr com ele. Ora, parece que a principal razão é que, aí, quem ascenderia à presidência seria J.D. Vance que, dizem, é verdadeiramente sinistro. Não o conheço assim tão bem mas a verdade é que, quando vejo alguns vídeos em que ele discursa, fico agoniada, visceralmente incomodada.

Está assim o país mais poderoso do mundo, entre um narcisista doentio, mentiroso, vingativo, corrupto, vigarista, ainda por cima agora já meio taralhouco, e um sujeito frio, ambicioso, prepotente, com uma agenda bem definida, ultra reaccionário, daquelas pessoas que coloca a interpretação mais limitada, deturpada e inquisitória da Bíblia acima da Constituição dos EUA, que, se puder, sem pestanejar, se tornará um ditador bem mais perigoso que o actual ditador-orange-clown.

Trump, de uma maneira ou de outra, acabará forçosamente mal, pois tão longe está a levar a corrupção, o desafio à lei e à ordem, tão longe está a levar o torpedeamento à democracia, tantos são os desvarios e tantos os indícios de que andou metido em alhadas das sérias que, de alguma forma, a coisa irá dar para o torto. Isto se não cair para o lado (há médicos que dizem que, para além do problema circulatório e da degeneração mental, também já terá tido um avc).

Além de tudo o que se passa na vida deste personagem, há o passado que o persegue e que, presumo, o deve atormentar até ao limite. E ele vê o que está a passar-se com o ex-Príncipe Andrew, igualmente amigo de Epstein: a pública descida aos infernos de que não consegue esconder-se (e ainda deve estar a ver-se apenas o princípio).  Para Trump, também não deve haver dia em que o tema não venha bater-lhe à porta, nem que seja para o relembrarem de que os ficheiros devem ser divulgados. Isto para não falar do processo movido por Michael Wolff a Melania, que vai fazer correr rios de tinta e que poderá ter consequências imprevistas.

O recente escândalo do Salão de Baile, que ele anuncia como um projecto régio, dourado, luxuoso, majestático, e que o levou a demolir parte do edifício da Casa Branca, é bem a metáfora do que move Trump, de como se move e do desrespeito que sente por tudo e todos.

Os fulanos do The Lincoln Project são incansáveis na denúncia dos desmandos do Trump. 

Quando se anuncia que o Salão de Baile vai chamar-se The Trump Ballroom, provavelmente, precedido de Big and Beautiful, eles aparecem a dizer que bom, bom é que se honre também o bom amigo Epstein, chamando-lhe o Epstein Ballroom, ou Trump and Epstein Ballroom

Epstein Ballroom

The Epstein files stay hidden, but the Epstein Ballroom will be a prominent display

------------------------------------------------

Desejo-vos uma feliz sexta-feira

quinta-feira, outubro 30, 2025

O que 85 anos de investigação apontam como a verdadeira chave para a felicidade

 

Continuo com severas limitações no computador e isso corta-me a disposição para escrever pois estou habituada a deixar que os dedos se aventurem à vontade sem que eu tenha que vigiá-los. Ora, agora, para conseguir usá-lo é uma ginástica e um esforço mental para os quais já estou destreinada. Para além das limitações que só com muita dificuldade consigo ultrapassar como, por exemplo, colocar acentos graves ou travar letras que ele desata a escrever sozinho e que me vejo aflita para controlar... Terei que levá-lo a uma loja, mas, caraças, custa-me deixar a minha caixinha dos segredos nas mãos sabe-se lá de quem. Não sei, não.

Por exemplo, estive a ver um vídeo com uma interessante entrevista a Brian Cox, um bacano por quem desenvolvi uma embirração de estimação só porque aquele cabelinho à f...-se e aquele sorrisinho que me parece um misto de falso maroto e de sonsinho abetalhado (abetalhado, de betinho apetatado) tendem a distrair-me do que ele diz. Mas ele sabe do que fala e sabe falar de forma clara e explícita, e isso eu tenho que receber.

Só que o tema da entrevista é, de facto, tão interessante e tem tanto que se lhe diga que me sinto inibida sabendo que vou estar a lutar com o teclado, a tentar encontrar atalhos ou correcções para os disparates que vejo aparecer no ecrã. 'Há vida depois da morte'', é um dos temas que ele aborda. Ora, posso eu chapar aqui um vídeo com temas tão do caraças e não dizer de minha justiça? Não posso, não é? Por isso, tenho que passar adiante.

Assim sendo, vou antes partilhar um vídeo, não tão complexo mas também imperdível, no qual o psiquiatra e professor em Harvard Robert Waldinger fala de um estudo que vem sendo conduzido há 85 anos sobre a felicidade. Não é coisa pouca. A felicidade é dos temas mais relevantes em qualquer sociedade, em qualquer extracto social, em qualquer faixa etária. Sermos felizes, verdadeiramente felizes, é o que todos queremos para nós e para aqueles a quem mais queremos. Contudo, não me parece que seja um objectivo a perseguir a qualquer custo, uma daquelas felicidades instagramáveis, enquadradas em cenários cinéfilos, em que as poses são estereotipadas e as conversas são vãs, conjugadas em torno de lugares comuns. Essa felicidade é efémera, artificial. Vejo mais a felicidade como o prazer de estar bem com as pequenas coisas, como a alegria simples de existir. Mas isto sou eu, leiga, leiga, a dizer.

O vídeo é longo mas é muito interessante. E também não tem que ser visto de penálti... E está legendado. E tem matéria interessante. Solidão, isolamento, partilha, convívio. E de quantos amigos chegados precisamos para sermos felizes? E a nossa experiência infantil tem impacto na nossa felicidade'

What 85 years of research says is the real key to happiness | Robert Waldinger

“Podemos aumentar as nossas hipóteses de sermos felizes construindo uma vida que inclua as condições que contribuem para a felicidade.”

E se o segredo para uma felicidade duradoura estivesse mesmo à frente dos nossos olhos? O psiquiatra de Harvard, Robert Waldinger, revela as conclusões do estudo mais longo do mundo sobre a vida adulta, com 85 anos de dados que desafiam as nossas suposições sobre o sucesso, a saúde e a realização pessoal.

Waldinger explica como as nossas relações e ligações — e não a nossa riqueza, fama ou sucesso — impactam diretamente a nossa mente, o nosso corpo e a nossa longevidade.

 

Dias felizes

quarta-feira, outubro 29, 2025

Olhemos para o Montenegro como para Frei Tomás


Explicação prévia

Esta tarde choveram cães e gatos, granizo e toda a espécie de actos de deus (como se diz em gíria jurídica). Isto incluiu uma trovoada violentíssim que colocou o cão a tremer, encostado a mim, e que deitou a eletricidade abaixo.

Tinha deixado o computador em cima de uma mesinha junto a uma porta/janela. Acabámos de almoçar antes que a casa viesse abaixo tamanha a carga de relâmpagos e trovões.

Quando regressei à sala, chovia copiosamente. Provavelmente as telhas entupidas com caruma. Não sei. Só sei que a água caía em cima do computador... Sequei e fiz o que podia (sem secador e sem poder usar qualquer coisa que o secasse, pois a luz custou a vir), agora parte do teclado não funciona. Na prática, não posso usar o computador.

Portanto estou a fazer isto no telemóvel, com as limitações que isso tem.

Explico também que o meu marido escreveu o texto abaixo nessa altura, ou seja sem ter visto o arranca-rabos que o execrável taberneiro desencadeou na AR e antes da votação. Quando vínhamos no carro ao fim do dia, ouvíamos a pouca vergonha que o cavernícola Ventura provocou. Ao ouvir as estúpidas bacoradas, disse que, à noite, acrescentaria uns pontos ao texto. Só que se meteu isto e aquilo e, entretanto, adormeceu. Portanto, o texto segue como ele o escreveu.

--------------------

Ontem o Luís, na AR, encheu-se de brios e explicou ao Ventura que a ditadura é corruptiva e geradora de corrupção, ao contrário do que acontece com a democracia. Esteve bem neste particular. Tenho para mim que só se atirou ao André porque sabe que a direção do PS é gente de palavra e, no seguimento da decisão que tomou, vai mesmo abster-se na votação do orçamento na generalidade. Precisasse o Luís do André para o orçamento passar e meteria a viola no saco para não o "chatear". Temos visto que o Luís só chateia mesmo o André quando não prevê grandes consequências do ato. 

A triste "cena"  da burka é elucidativa e vir dizer que aprova a lei por questões de segurança é ridículo. Será que alguém já viu mais do que uma pessoa com burka em Portugal? Um dos problemas do Luís é que, dizendo de vez em quando coisas acertadas sobre a democracia, a forma como entende a prática e a ética democráticas quando os seus atos estão a ser julgados está nos antípodas do que apregoa. Para ele, a democracia é porreira desde que, por exemplo, não implique o escrutínio dos  atos do PM Luís Montenegro. Para ele, a ditadura é um problemazito quando se trata de ser mais papista que o papa e trazer para a ordem do dia assuntos que são bandeiras do André numa tentativa de caçar votos aos apaniguados do taberneiro, independentemente dos assuntos serem mais relevantes em regimes autocraticos do que em democracias maduras. 

Na verdade, entre aquilo que o Luís diz e aquilo que o Luís faz há uma enorme diferença que, manifestamente, não abona a favor do Luís. É o Luís que temos. Não me parece que seja o Luís que merecemos. 

terça-feira, outubro 28, 2025

O que uma professora pode fazer pela vida de uma pessoa
(Professora ou professor, bem entendido)
Veja-se o caso de Rita Blanco

 

Já aqui devo ter contado como, quando falo com algum dos meus amigos, a conversa flui com naturalidade, como se nos falássemos diariamente, sem hiatos. As pessoas com quem sentia mais afinidades quando era miúda são ainda pessoas com quem me sinto em casa. Rimos das mesmas coisas, compreendemos as reacções umas das outras. 

Estou a escrever e a lembrar-me de uma amiga que andava sempre connosco. Éramos um grupo animado de rapazes e raparigas e ela talvez fosse a mais calada, parecia que pouco tinha a dizer. Era muito doce mas nunca lhe conheci uma iniciativa, uma sugestão de irmos aqui ou ali ou fazermos isto ou aquilo. Não sei se era timidez ou se era apenas assim, observadora passiva das maluquices que os outros diziam ou faziam.

Ao ouvir a Rita Blanco -- na conversa que abaixo partilho, com a Sofia Cerveira -- dizer que, quando era miúda era tímida, retímida, sempre calada, sempre a sofrer por achar que não encaixava ali, pensei nessa minha amiga. Será que sofria? Aqui há dias ela disse: 'Quando leio o que vocês escrevem [no grupo de whatsapp] fico com vontade de dizer alguma coisa. Mas não sei o quê... Depois passa a oportunidade... Por isso nunca digo nada'. Ou seja, continua igual. Fiquei com pena pois percebi que ela gostaria de participar, simplesmente continua a não ser capaz. 

Há quem seja espontaneamente extrovertido. Eu acho que sou assim. Não que seja muito palradora ou que seja 'a alegria da festa', não sou, mas exprimo facilmente a minha opinião, digo, sem pensar muito, o que penso. Mas há quem não seja assim. E pode não ser fácil para os próprios, se calhar gostariam de se exprimir com a mesma facilidade que observam nos outros.

Rita Blanco era assim. Diz que não se achava boa em nada. Mas, conta ela,  houve uma professora que a viu. E, diz ela, o facto dessa professora a 'ver' mudou a sua vida. 

Se hoje Rita Blanco é das nossas mais conceituadas atrizes, mulher inteira, mulher de opiniões, de causas, mulher que enche qualquer plateau, a essa professora, que viu com olhos de ver aquela menina que se escondia atrás do cabelo e que sofria por não se achar boa em nada nem capaz de nada, o deve.

Por vezes esquecemo-nos da importância que alguns professores têm em nós. Na minha vida não consigo identificar nenhum professor que tivesse sido decisivo na minha vida mas identifico muitos que foram marcantes. Por exemplo, recordo a maravilhosa Joana Meira que, creio que numa aula circum-escolar, quando estava bom tempo nos levava para o terreno ao lado do campo de futebol e, sentados na terra, líamos a poesia de Sebastião da Gama e livros como Platero e Eu ou o Velho e o Mar que transportavam a ternura, a leveza e a sabedoria de mundos longínquos através do poder das palavras. Nessa altura já eu lia muito, mas lia com sofreguidão, sem aquela pausa e silêncio que é necessário para que as ideias do escritor se instalem nas nossas cabeças. Querida Professora Joana Meira. A sua marca em mim perdura.

Quanto à minha condição de professora, creio que já o contei aqui mas vou voltar a contar. Uma vez, estava eu a andar perto da minha casa, cruzei-me com uma elegante mulher. Era inverno. Tinha um casaco comprido justo, encarnado, muito fashion, uns saltos altos, uma pasta na mão. Parou, cumprimentou-me pelo meu nome precedido por Stôra e identificou-se. Devo ter ficado com a boca aberta. Recuei uns anos. Tinha sido uma aluna muito problemática, com problemas de droga. Faltava, quase dormia nas aulas, dizia e fazia disparates. Fiz com ela o que fiz com outros. Quando não aparecia, pedia a algum dos colegas que a fossem buscar. Por vezes mal conseguia andar, dizia que não ia estar ali a fazer nada, que era escusado. Eu dizia-lhe: 'Não vou desistir de ti. Tenta manter-te acordada. Tenta prestar atenção'. Mas ela deixava cair a cabeça. Os outros riam-se. Eu dizia: 'Se eu vir alguém a rir dela, vai para a rua, com falta'. Era uma luta. Muitas vezes temi desistir. Uma vez, estando ela numa lástima, mandei-a ir ao quadro. Não queria. Dizia que não conseguia, que podia cair, que não sabia nada. Mantive: 'Vem ao quadro. E ai de quem se ria.' Os outros ficaram nervosos, temiam que ela caísse. Ajudei-a. Disse que se apoiasse no quadro. Fiz-lhe perguntas. Mal conseguia ouvir o que eu dizia, mal conseguia falar. Na prática, respondi por ela. Mandei-a fazer alguns exercícios muito simples. Esforçou-se. Fez uma parte, completei-os eu. Quando a mandei sentar, vi que ela estava contente, tinha superado aquela provação, tinha conseguido não cair, tinha conseguido que ninguém se risse.

Ao longo do ano fui-lhe pedindo encarecidamente que tentasse ter positivas. Com muita dificuldade, consegui que se aguentasse. À tangente, com muito boa vontade. Pedi aos colegas para a ajudarem. Nas reuniões de turma, bati-me para que ela não chumbasse. Se ficasse para trás, perderia os seus amigos, seria pior. Nessa altura eu devia ter apenas mais quatro anos que ela.

Nesse dia, muitos anos depois, em que nos encontrámos, disse-me: 'Sabe, Stôra? Sou economista. O que sou, a si o devo. Nunca me vou esquecer do que fez por mim'. Estava muito emocionada. E eu também fiquei. E ainda me emociono quando me lembro dela, adolescente magra, despenteada, desengonçada, cambaleante, e, depois, uma mulher bonita, bem vestida, bem arranjada, segura de si.

A vida da gente guarda segredos, dificuldades, momentos de viragem. 

Ninguém deve desistir de ninguém.

A entrevista da Rita Blanco é, toda ela, bastante interessante. Ela e a Sofia Cerveira parecem duas amigas à conversa. E nós, ouvindo-as, parece que estamos a juntar-nos à conversa. Mérito da entrevistada e da empática entrevistadora, certamente. 

Rita Blanco: É mais fácil viver a vida de outras pessoas
My Red Carpet… com Sofia Cerveira

___________________________

Desejo-vos um belo dia

segunda-feira, outubro 27, 2025

Pedro Paixão, o outro

 

Como vejo cada vez menos televisão deixei passar a entrevista a Pedro Paixão, feita, se bem percebi, a propósito do lançamento do seu último livro. Felizmente, o algoritmo do youtube, que, como se sabe, me topa à légua, agora serviu-ma de bandeja. 

Sempre gostei imenso de o ouvir. É daquelas pessoas que tem um grão daquela loucura que, quando vem com mansidão e com inteligência, se torna sedutora. 

Li vários dos seus livros, alguns com alguma perplexidade, outros com curiosidade, outros com admiração. Outros nem tanto -- mas isso não tem mal pois não é suposto que alguém agrade sempre a outra pessoa.

Pedro Paixão, pelos seus excessos e pela forma articulada e, ao mesmo tempo, despojada, é uma daquelas personagens contraditórias a que pessoas como eu acham piada. Pessoas mais recticulares, menos dadas a apreciar os desvios à norma, não acham graça nenhuma, dizem que 'o tipo é maluco' e viram-se para outro lado.

Desta vez, Pedro Paixão está diferente. Ele próprio o diz: mais sensato. De facto, achei-o outro. Mas, ainda, interessante. E ainda dado a excessos. 

Conta que, porque a mulher se ofereceu duas telas, uns pincéis e uns tubos de tinta, começou a pintar e já pintou para cima de 250 telas. Identifico-me muito com ele. Quando o meu filho me fez idêntica oferta aconteceu-me esse mesmo entusiasmo, uma loucura, ficava a pintar até às tantas da manhã, não conseguia parar de inventar formas, misturar cores, descobrir ousadias. Parei por já não ter onde guardar tantas, tantas, tantas telas. Tenho telas pintadas guardadas em todos os buracos que consegui descobrir. Tive que parar, claro. Mas só eu sei a vontade que volta e meia sinto, quase um formigueiro nas mãos.

Fiquei curiosa com o livro. Sendo o tema que é, um tema que nos rasga as entranhas, imagino que seja da pesada. Literalmente, até  -- tem mais de 800 páginas. Mas diz ele que são anotações que não precisam de ser lidas em sequência e, portanto, assim sendo, sinto-me desobrigada de ler como 'deve ser' podendo fazê-lo apenas salteadamente, e isso é bom pois cada vez mais sou praticante dessa forma de leitura. 

Nunca fui a Auschwitz nem nunca irei. E posso afirmá-lo com certeza absoluta. Não seria capaz. Nem nesta nem numa qualquer futura encarnação. Jamais. 

Houve uma altura em que lia muitos livros sobre o assunto e, de cada vez que os lia, ficava transtornadíssima. Depois deixei de conseguir ler. Há em mim uma parte que parece não ser capaz de assimilar a maldade extrema, a alienação doentia, a cegueira, a estupidez qualificada. O que se passou nesses anos é, para mim, algo que o meu entendimento não atinge. E essa falta de entendimento perturba-me. Como foi uma coisa assim possível? Como?! Como é possível haver pessoas tão doentiamente más que levaram a cabo tal desumanidade? Como é possível que tanta gente tenha pactuado? Como foi possível a tanta gente ignorar? Como foi possível a tanta gente viver depois do que aconteceu? Como não ficaram esmagadas pelo peso da consciência? Não encontro resposta para nenhuma destas perguntas. 

É quase a mesma perplexidade que sinto quando vejo que há tanta gente que não se indigna -- mas com uma indignação profunda, inequívoca, aquela indignação que vem das entranhas -- com o que se passa nos países em que há guerra e em que alguém decide invadir um país ou matar a sua população, destruir as suas casas, as suas vidas, os seus sonhos, o seu futuro. Ou quando vejo que há quem encare o que se passa nos Estados Unidos com bonomia, como se fosse apenas uma palhaçada, parecendo ignorar os perigos.

Diz o Pedro Paixão que depois de ter visitado Auschwitz deixou de conseguir ler ficção. Compreendo-o muito bem. Perante situações extremas, a cabeça reformata-se.

Ele foi corajoso: visitou o lugar e durante anos investigou o assunto, nomeadamente o papel da Igreja Católica em todo o processo. Deve ter-se sentido arrepiado muitas vezes. Diz que deu o livro por encerrado quando se encontrou sem forças para mais. Imagino. Anos mergulhado no horror devem deixar qualquer um esgotado.

Correndo o risco de estar a partilhar imagens que V. já conhecem, pois poderão ter visto a entrevista no dia em que foi emitida no Now, coloco o vídeo na mesma, nem que seja para aqui ficar como um pro memoria pessoal.

Da minha pequena janela vejo o mundo -  Pedro Paixão no Guerra e Paz, no NOW

_____________________________________________________

Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Dias felizes. Saúde, alegria, ânimo.
Paz.

domingo, outubro 26, 2025

A arte de que se tem dúvidas.
A natureza de que não se pode ter dúvidas: é arte em estado puro.
E a história do bravo quase-lobo que vai avançar sobre a enigmática e poderosa FLOTUS, obrigando-a a falar sob juramento

 

Dia de visita às artes, no Drawing Room na SNBA, sempre com aquele misto de perplexidade e interesse. Por um lado, face a muitas obras expostas, aquela eterna dúvida: é isto arte? não é isto uma preguiçosa maneira de tentar ganhar a vida? É isto, ao menos, bonito? ou interessante? Por outro, face a outras peças, a curiosidade, o gosto de olhar, a vontade de perceber como foi feito, por vezes até uma certa vontade de possuir.

É certo que não haverá áreas em que a subjectividade mais impere do que na arte. Por isso, é território arriscado, este. Do que eu gosto há quem se ria. No que eu não gosto há quem invista muitos milhares. Por isso, a mim própria me obrigo a bater a bola bem baixinho.

E, além disso, em lugares assim não é apenas a arte que se pode olhar, é também a graça de observar a fauna que se move em torno das galerias, dos artistas, incluindo os próprios galeristas e pintores. Há qualquer coisa que os distingue, que os aproxima entre si. Eu não me aproximo. Não gosto de conversar sobre arte. Para mim, não há conversa possível. Gosto de ver, gosto de me chegar perto ou de ver de longe, mas pouco mais do que isso. De quem eu gostava de ouvir falar era a Paula Rêgo. Falava displicentemente do acaso subjacente, de como apareciam aqueles personagens ou adereços, quase por acaso. Uns tomates pintados ao pé da cama só porque sim, só porque aquele espaço estava vazio e uns tomates ali ficariam bem. Não tinha paciência para alimentar dissertações.

E se isso era assim quando os quadros dela tinham personagens, tinham acção ou intensidade, imagine-se qual o sentido de dissertar sobre pinturas em que aparecem três manchas e dois riscos. Ou na tela grande, cinco pequenos salpicos. Não estou a exagerar. Que se pode dizer sobre obras de 'arte' desse calibre? Falar sobre isso é da ordem da fantasia, mas uma fantasia que só pode fazer sentido na cabeça de uma mente sub-ocupada. Só me apetece dizer para irem dar banho ao cão.

Enfim. 

Tenho ainda a registar o facto já aqui trazido algumas vezes. Não sei qual a explicação mas sei que é um facto: todas as pessoas que conheço de as ver na televisão, quando as vejo ao vivo verifico que são minúsculas. Hoje mais um. Imaginava-o grande. Talvez por ser desenvolto e por na televisão se mostrar uma figura com uma certa presença, imaginava-o grande. Não senhor, pequenino. Nada contra, nada mesmo. Só o refiro porque não percebo o fenómeno: parece que a televisão faz as pessoas parecerem maiores.

Tirando isso, a natureza. A bela natureza. As cores que se mesclam, a luz que as folhas guardam dentro de si, os tons que evocam o pôr do sol, agora que os dias estão tristemente pequenos. 

Debaixo desta chuvinha mansa, os líquenes saem à cena, os musgos aparecem, a caruma, ensopada, fica macia. Os passarinhos cantam, cantam. Uma paz acolhedora.

Caminho enlevada, fotografo e faço vídeos com tudo, tudo me encanta. As cores exuberantes que agora despontam fazem esquecer a secura dos dias em que os grandes calores ressequiram a terra. Os verdes estão de volta.


Ando debruçada à procura dos primeiros cogumelos, mas ainda não apareceram. Anseio por eles. É sempre um deslumbramento, um espanto perante o milagre que é ver aquelas criaturas silenciosas a levantarem-se da terra.

Agora, enquanto escrevo, uma coruja pia na noite escura. Gosto do seu canto.  É solitária. E noctívaga como eu.
__________________________

Entretanto, estive a ouvir o Michael Wolff. Autor de vários livros sobre Trump para os quais recolheu testemunhos de meio mundo e se tornou confidente de muita gente, Michael Wolff gravou muitas horas de conversa com Epstein, durante as quais o tema era Trump, Melania Trump e etc. Sem receios, tem divulgado muitos dos segredos que Epstein lhe contou, revelou as fotografias que viu com Trump com miúdas pequenas em topless ao colo, etc.

Pois bem. Nas costumeiras manobras de silenciamento de quem diz coisas desconfortáveis de qualquer dos membros do casal Trump, desta vez foi Melania que processou Michael Wolff por difamação, avançando com um pedido de indemnização de um bilião de dólares. Fazem isso embora saibam que não ganham, fazem isso apenas para intimidar os processados, para os calar, e para que, numa de acabarem com a perseguição, os processados aceitem fazer um acordo no decurso do qual os Trumps sempre ganham qualquer coisa. E com isso vão ganhando, no total, mais uns milhões. A ganância e a falta de escrúpulos daquela gente não têm limites.

Só que, desta vez, o tiro lhes saiu pela culatra. Michael Wolff virou a mesa e avançou ele com um processo contra Melania, por tentativa de lhe restringirem a liberdade de expressão. Desta forma, em tribunal, os factos vão vir para a barra dos tribunais e se verá se há difamação, ou se apenas relato de ocorrências. Melania Trump irá depor sob juramento. Espera Michael Wolff que seja também uma oportunidade dos famosos ficheiros Epstein virem para a luz do dia. Tenciona chamar como testemunhas Donald Trump, a sinistra e pérfida Ghislaine Maxwell e Steve Bannon que também sabe mais do que Trump gostaria que ele soubesse. E tenciona fazer ouvir as gravações em que Epstein fala de Trump. Ou seja, tenciona trazer Epstein do mundo dos mortos para depor contra Donald e Melania Trump.

Vai ser bonito de se ver e muita tinta vai ainda correr, muita, muita. 

Ao que consta, Trump foi apanhado de surpresa com esta reviravolta e está possuído. E, quando está assim, mais peripécias e tentativas de distração vão acontecendo, sucedendo-se as ameaças, as vinganças, os disparates, os desmandos.

Partilho um vídeo em que o corajoso Michael Wolff conversa com a simpática Joanna Coles. Vale muito a pena ver. É certo que se passa lá longe. Mas, não nos esqueçamos: nesta nossa aldeia global, o 'lá longe' é à porta da nossa casa.

Wolff: What I’m Going to Ask Melania Under Oath | Inside Trump's Head

Michael Wolff junta-se a Joanna Coles para abordar o seu novo e surpreendente anúncio: um processo de mil milhões de dólares contra Melania Trump. Os dois dissecam a amizade bem documentada de Jeffrey Epstein com Donald Trump e ligam os pontos à demolição da Ala Leste de Trump, expondo a estratégia de destruição do presidente. Wolff e Coles desvendam também as cruzadas linha-dura de Stephen Miller, expondo a estranha psicologia que move um dos membros mais maníacos do círculo íntimo de Trump. À medida que as barreiras legais se fecham, persiste uma questão: quanto do caos de Trump é cálculo e quanto é pura compulsão?


00:00 - Introduction
01:55 - Why Wolff Announced Melania Countersuit Beside The American Flag
04:21 - Wolff's Legal Action Against Melania Is An Anti-Slapp Suit
07:25 - First Time In History First Lady Has Sued A Member Of The Press
10:20 - Trump White House Demolition An Unscrupulous NYC Real Estate Strategy
16:43 - What Wolff Will Seek From Melania And Donald During Legal Discovery
19:23 - How Will Melania And Donald Perform During Depositions?
20:21 - Ghislaine Maxwell's Deposition Will Be Crucial In Melania Trial
21:04 - Wolff To Share Jeffrey Epstein's Comments About Trump During Melania Trial
24:30 - Inside Trump's Head Live Event Nov. 5, Buy Tickets At MCNY.org
25:30 - Why Trump Calls Stephen Miller "Weird Stephen"
28:48 - Stephen Miller Driven My Maniacal Anti-Immigrant Ideology
30:57 - Trump Has Used Stephen Miller As Cudgel
32:35 - Stephen Miller Gets Pleasure From Violent ICE Raids
34:40 - Trump Attempting To Undo Large Progressive Cultural Movements
35:54 - Stephen Miller's Lack Of Opportunities After Jan. 6th
39:08 - Trump Is Confused By Stephen Miller
41:10 - Viewer Questions Asked And Answered

________________________________________________

Desejo-vos um feliz dia de domingo

sábado, outubro 25, 2025

Psicologia das pessoas que não publicam as suas fotos nas redes sociais

 

Não faço selfies, não tenho interesse em mostrar-me, nenhum, não me mostro com as minhas toilettes, não me mostro com a comida que vou comer, não me mostro com paisagens em fundo nem com o que quer que seja atrás, ao lado, em cima ou à frente. No mundo inteiro, tão cheio de coisas fantásticas, a última coisa que me interessa é desviar a atenção dessas coisas para me colocar a mim em primeiro plano.

E nem é só isso, é também porque não faço gosto em que vejam que estou feliz, que estou sorridente, que estou pensativa, sonhadora, brincalhona, bem ou mal conservada, bem ou mal amanhada. 

Sou o que sou e a mim basta-me o que sinto e como me vejo. Claro que também me interessa a opinião dos meus, mas interessa-me sobretudo numa perspectiva construtiva, ou seja, gosto que me sugiram dicas sobre como fico melhor. Mas se me disserem que, com este tempo, não faz sentido ainda andar de calções, estou-me nas tintas pois, se me sentir bem assim, é assim que vou andar. 

Mas também não faço disso um filme, não me vitimizo por me achar uma incompreendida (até porque não acho), nem me faço de heroína por achar que não cedo a modas (até porque não acho me heroína nem por isso nem por coisa alguma), nem me mostro nem assim nem assado pois a chuva é linda, as árvores, quando chove, são lindas, a urze é linda, a terra molhada é linda e cheirosa e tudo é uma maravilha -- e eu sou coisa nenhuma, sou irrelevante, uma poeira insignificante que é o que é, independentemente de acharem bem ou mal, gostarem ou não gostarem.

Dito isto, nada contra quem se acha o centro do mundo e se coloca no meio de todas as fotografias. É o que é, e são tantas as pessoas que o fazem que tenho que aceitar que é o novo normal -- o mar é lindo mas lá está o emplastro em primeiro plano, o jardim é uma graça mas lá está o emplastro a tapar parte da sua beleza. Por todo o lado. Mas, enfim, nada contra os emplastros. Se as pessoas sentem essa necessidade, lá terão as suas razões. 

Aliás, enquanto vou passeando à beira mar -- as águas revoltas, bravias, o céu lindíssimo --, o que mais vejo é gente de costas para o mar a fotografar-se com ele em fundo. Devo ser a única pessoa que se limita a fotografar o mar.

No entanto, não escondo que, de quando em quando, me ocorre que deve haver qualquer coisa em mim que me leva a não seguir essa tendência, a não ter qualquer interesse em partilhar a minha imagem. 

Pois bem, não sei porquê, hoje o algoritmo do youtube apareceu-me com o vídeo que aqui partilho. Gostei. Sim senhor, então é isso. Very well.

Vejam porque é interessante. E se V que me lê, meu Caro Leitor ou Leitora, é mais do tipo selfie, selfie, selfie, então veja o vídeo em reverso pois o que aqui se diz para os que não se mostram pode ser entendido ao contrário para os que se mostram. 

Psychology of People Who Don't Post their Photos on Social Media

Porque é que algumas pessoas nunca publicam fotografias online — nenhuma selfie, nenhuma atualização, nenhum vestígio da sua vida pessoal?

Num mundo que premeia a visibilidade, o silêncio delas sobressai.

A psicologia diz que este comportamento revela algo mais profundo — sobre confiança, limites e inteligência emocional.

Estas pessoas podem não ansiar por atenção, mas compreendem algo que a maioria de nós ignora sobre a natureza humana e o mundo digital.

Neste vídeo, descobrirá a verdadeira psicologia por detrás das pessoas que preferem a privacidade à popularidade — e porque é que isso pode ser um sinal de força, e não de insegurança.

Esta perceção vai além das redes sociais. Trata-se de autoconsciência, identidade e de quão profundamente as nossas mentes se adaptam à exposição constante.


---------------------------------------------

Desejo-vos um belo sábado
Be happy

sexta-feira, outubro 24, 2025

Um fantástico Salão de Baile, uma acentuada demência ou uma paranoia tresloucada...? Ou...?

 

Têm-me dito que estou demasiado interessada em Trump, quase como se houvesse o risco de o interesse virar obsessão. Não creio que haja esse risco mas é verdade que o exagero dos dislates, a sua acelerada trajectória na direcção de uma parede, a loucura patente que está, sem oposição, a corroer dramaticamente a democracia, tudo isso me intriga e me dá vontade de antever qual o momento em que a coisa vai ter um fim dramático. Porque me parece inevitável que o fim seja estonteante, dramático.

Já aqui o referi, fazendo-me eco do que tanta gente advoga: em simultâneo com o narcisismo exacerbado, parece óbvio que há uma excessiva ausência de filtros, uma alarvidade que ultrapassa o razoável. Talvez esteja, de facto, demente. E a forma abstrusa como se deixa influenciar, a volatilidade das intenções, o protesto do seu ímpeto vingativo, tudo junto, torna-se um cocktail perigoso demais pois, não nos esqueçamos, está ao comando do país mais poderoso do mundo. E nem falo dos códigos nucleares.

A sua porta-voz confirmou que o Salão de Baile para 999 pessoas e que, segundo ele, tem tido óptimas reviews, é a sua grande prioridade. Com o governo paralisado, com consequências tão pesadas para tanta gente, com tantos e tão graves problemas, a sua prioridade é o Salão de Baile. Vai para as reuniões com plantas, com desenhos. Tal como agora quer mandar construir uma réplica do Arco do Triunfo. Tudo delirante. Depois de ter garantido que não ia mexer no edifício para construir o Salão de Baile, é com espanto e horror que as pessoas percebem que afinal está a demolir a ala esquerda da asa Branca.

Contudo hoje ouvi uma coisa que me deixou um pouco de pé atrás sobre se é só demência e ostentação ou se é também paranoia -- ou se há alguma racionalidade, inconfessa, a justificar tudo isto. Nos tempos de Hitler, em 1936, também foi construído um Salão de Baile. Só que, por baixo, estava o verdadeiro objectivo: um bunker. Sucede que, justamente, por debaixo da ala que agora está a ser destruída existe o Presidential Emergency Operations Center (PEOC). Ora acontece que não deve ser tão grande nem tão moderno nem tão 'anti-nuclear' como Trump deseja. Por isso, será que isto do grande e opulento Salão de Baile, que bate muito certo com a demente ostentação de Trump, não é ao mesmo tempo o pretexto para reformular e reconstruir um novo, huge, fantastic, bigger then anyother nuclear bunker?

Enfim. O que for soará.

Seja como for, partilho o mais recente vídeo em que o psiquiatra Dr. John Gartner conversa com Joanna Coles sobre a deterioração evidente da mente de Trump -- e como é preocupante que aparentemente ninguém se preocupe a ponto de tomar sérias providências. Mais depressa as pessoas gozam com as derivas tresloucadas do que ficam apreensivas com a sua demência que já estão a levá-lo para actos a todos os títulos preocupantes para os Estados Unidos e para o mundo.

É muito interessante. 

Trump's Cognitive Collapse is Clear: Psychologist | The Daily Beast Podcast

O Dr. John Gartner junta-se a Joanna Coles, da Beast, para avaliar o desfasamento mental de Donald Trump. O psicólogo clínico e antigo professor da Johns Hopkins, que alertou precocemente para o "narcisismo maligno" de Trump, afirma agora que o presidente demonstra sinais claros de declínio cognitivo, comparando a sua confusão e grandiosidade a ditadores nas suas fases finais. Coles pressiona Gartner sobre se a demência de Trump o torna mais perigoso ou simplesmente mais delirante, e o que isso significa para o resto do segundo mandato de Trump e mais além. Estarão os Estados Unidos a ser liderados por um homem que está a perder o contacto com a realidade ou Trump ainda é suficientemente astuto para esconder os seus sintomas crescentes?

00:00 - Introdução
02:56 - Explicando o Narcisismo Maligno de Donald Trump
04:09 - Comparar as Ações de Trump com o Alarmismo de Hitler?
10h10 - Porque é que as derivas erráticas de Trump são, na verdade, um sintoma de declínio cognitivo
13h11 - A grandiosidade de Trump é uma componente de uma perturbação de personalidade
15h19 - O vídeo da IA ​​de Trump, "No Kings Poop", é um sinal do sadismo de Trump
16h29 - Trump confundir Irão e Índia é sinal de declínio cognitivo
19h00 - Como as pessoas que rodeiam Trump tentam lidar com o seu declínio cognitivo
20h37 - A incapacidade de Trump para se calar revela o seu distúrbio de pensamento
23h09 - Trump deu sinais de AVC durante a cerimónia de 11 de setembro
27h13 - Porque é que diagnosticar a saúde mental de Trump é urgentemente necessário
32h26 - Como o declínio cognitivo de Biden difere do de Trump
36h30 - O discurso militar de Trump mostra como o seu pensamento é desordenado
39h48 - A comunicação social generalista precisa de cobrir os problemas cognitivos de Trump


Desejo-vos uma boa sexta-feira

quinta-feira, outubro 23, 2025

Serão os homens uns trogloditas? Uma ameaça para as mulheres?

 

Nunca gosto muito de falar em cima do acontecimento. Não sou repórter. Prefiro falar em abstrato, sobre situações genéricas, indefinidas. 

Além disso, neste caso, estivam presentes pessoas conhecidas. Não quero ser indelicada ou inconveniente.

Em geral, posso até dizer que até gostei de lá estar. Gosto sempre de estar em lugares. Aproveito sempre nem que seja numa perspectiva de observação. Aquilo ali era bem uma amostra de uma certa sociedade. Não direi jet set, até porque estas pessoas não gostam de pertencer a esse género tão mal afamado. Direi antes bcbg (bon hic bon genre). A beautiful people da linha (Estoril-Cascais) ou os agro-betos (os que gostam de se afastar para o campo). As mulheres são globalmente iguais entre si. Fisicamente e na maneira de vestir. Os homens igualmente iguais entre si, identicamente no aspecto e no trajar. As vozes também iguais.

Tenho a certeza que eu não sou igual e que a minha voz é o oposto (quem me acompanha no Instagram, sabe bem que não tenho voz grossa nem o meu registo é histriónico). Mas não que faça para ser diferente: simplesmente, não conseguiria, mesmo que quisesse, ser assim. E não que tenha algo contra estas pessoas. Não. Simplesmente, quando num grupo assim, sinto-me totalmente a ovelha que não encaixa naquele rebanho.

Mas não vou entrar em questões objectivas. Mais depressa, daqui por uns tempos, repescarei alguns episódios desirmanados como o da jovem companheira de um conhecido actor que se descalçou e se sentou sobre as pernas cruzadas ou o incrível bronze de uma comentadora da nossa televisão. Mas mais tarde, agora não.

Hoje quero apenas trazer aqui o meu desconforto sobre o que lá foi dito. Não referirei alguns aspetos mais pitorescos -- realmente insólitos e divertidos --, mas, sobretudo, o tema que foi lançado: no fundo o da guerra dos sexos.

Referiram as oradoras, em especial a principal, que, desde pequenas, as mulheres são ensinadas a tomar cautelas com os homens pois são animal predador. Ia dizer que, segundo ela, são também animal insensível mas a tese dela é que não são insensíveis de todo pois há um tema ao qual são bastantes sensíveis: ao sexo. Segundo ela, salvo disfunções eréteis, estão sempre prontos para o sexo. Mais: diz ela que são relativamente indiferentes a outros atributos (nem ligam muito à beleza ou ao companheirismo ou ao que for) desde que se lhes proporcione a possibilidade de ter sexo.

E toda a dissertação, até a do senhor que também falou, andaram à volta disto: os homens são violentos, os homens fazem coisas que molestam as mulheres, e, por outro lado, as mulheres aprendem desde sempre a sujeitar-se à vontade dos homens, ou, se vão na rua, a temer os homens. E, mesmo em casa, a ter cuidado com o olhar do pai.

E depois afirmava ela que mulher que diga que não tenha tido estas experiências é porque não é mulher, é porque não tem vivido.

Portanto, tendo ouvido dizer isto, fiquei a pensar que, de acordo com esta afirmação dita com tamanha assertividade, não sou mulher. Ou, então, não tenho vivido.

Ora, posso estar enganada mas tenho-me em conta de ser mulher, muito mulher, e ter tido até aqui e ainda ter uma vida bem vivida.

E, no entanto, o meu testemunho é o oposto. Nunca, nunca, em tempo algum, senti qualquer olhar estranho por parte do meu pai, dos meus tios, do meu avô. Nunca, nunca, nenhum colega ou chefe se afoitou a ser inconveniente comigo. Nunca, nunca, nenhum amigo se aproximou ou se insinuou ou tentou o que quer que seja de impróprio comigo.

Poder-se-ia dizer: pudera, feia como uma bruxa, antipática como um animal do mato, como poderia ser diferente? Mas sei que não sou nem tão feia nem tão antipática assim. 

Talvez tenha tido sorte. Mas se todos os homens fossem as bestas quadradas, os trogloditas de que ali se falou, alguns já me teriam calhado na rifa. E não. Nunca.

Mais: constatei ao longo de toda a minha vida que mais 'atiradiças' são as mulheres, mais ousadas, mais destemidas ao darem um passo em frente sem saberem se são bem sucedidas.

Claro que há homens estúpidos, tarados, doentes, atrasados, perturbados e, nesse caso, dado terem fisicamente mais força do que as mulheres, podem ser perigosos. Mas não são todos. São uma minoria.

Os homens, na sua maioria, são boas pessoas, sabem estar, sabem viver civilizadamente, conseguem ter relacionamentos saudáveis. E merecem respeito e carinho. São pessoas de corpo inteiro. Pelo menos, é este o meu testemunho.

quarta-feira, outubro 22, 2025

Gaza, não tarda uma terra banhada a leite e mel

 

Não sei se a Palestina é uma abstração, um sonho, uma ilusão ou um eterno devir. Talvez uma ficção, talvez cenário de cruzadas, de quimeras. Talvez um local mítico, realmente nunca existente, provavelmente nunca materializado. 

A história da Palestina é tudo e nada, uma promessa, uma desilusão, um objectivo, um malogro, uma miragem - há uma língua, há uma história, há uma cultura. Mas não há moeda, não há economia auto-suficiente, não há controlo de fronteiras.

Se Gaza, que era governada pelo Hamas (antagónica em relação à Autoridade Palestina) é o que é e está como está, já a Cisjordânia também não passa de um acto falhado. Embora parcialmente administrada pela Autoridade Palestina, na prática é Israel que controla as fronteiras, o espaço aéreo e a maior parte do território, isto já para não falar das colónias israelitas que a polvilham.

Sempre me fez muita confusão que a dita Palestina vivesse de caridade, de ajuda humanitária. Ora não há país, organização ou grupo que subsista no tempo se não for minimamente autossuficiente. Ao pactuar com esta situação, todos (todos) os que ajudaram foram cúmplices de uma situação frágil, vulnerável, condenada ao insucesso.

Gaza, terra que tem sido de ninguém, é uma faixa de terra à beira-mar, apetecível para quem está nos negócios do real state, para quem gere fundos, para quem tem muito dinheiro para investir e para lavar. Não o têm escondido ou disfarçado: aquela terra tem muito potencial, dizem-no à boca cheia, à cara podre. Mas, para isso, primeiro tem que ser limpa. Não é com subtilezas que o anunciam, é abertamente. Quem gere fundos e se movimenta no mundo dos business plan e dos private equity não tem tempo a perder com meias palavras, quer é saber de coisas concretas: como, quando, com quem. Além disso, adequar projectos a infraestruturas existentes é uma maçada, uma perda de tempo, uma perda de dinheiro. O melhor mesmo é ser greenfield. Começar do zero. Portanto, limpeza geral. Prego a fundo nas demolições. O mais rápido é à bomba? Pois que o seja. 

Zero ideologia, excepto a ideologia do máximo proveito e o resto que se dane.

Isto em relação à nesga à beira-mar plantada, a Riviera há tanto adiada. Quanto à Cisjordânia, ali mais acima, vai continuar a ser um viveiro de revoltados, de humilhados. E viveiro também de mão de obra barata, quando fizer falta. E, enquanto o tempo passa, vai sendo progressivamente esvaziada. Tudo bem, para já está bem como está, dirão.

Talvez tudo isto pudesse ser de outra maneira. Talvez. Em abstracto. Primeiro haveria que pacificar toda aquela zona. Um plano para a paz na região passará forçosamente por esclarecer quem é dono do quê, quem manda em quem, quais as fronteiras e quem assegura a autonomia do território A e do território B. Ora ninguém está a tratar disto. Organizar a Palestina (leia-se: o território de Gaza mais o território da Cisjordânia) é caldinho para o qual ninguém parece estar preparado. Ou motivado. Não sei sequer se é possível. Diria que não. Os próprios não têm condições para isso -- pelo menos, do que se conhece, parece-me que não --, e os de fora não têm interesse nisso.

Portanto, dizer o quê...? Exigir o quê? A quem?

-----     -----    -----     -----     -----    -----

Até há pouco tempo nada sabia de Candace Owens. Era Maga radical, influencer pro Trump, espaventosa, truculenta e provocadora. Mas, ultimamente, vem-se desviando. Tem-se demarcado do apoio dos Estados Unidos a Israel, tem criticado, e muito, o sinistro Bibi, tem levantado muitas dúvidas sobre o envolvimento de Israel em acontecimentos obscuros. E, por isso, agora tem estado sob fogo cerrado. E, no entanto, o grande arquitecto do plano para Gaza, o plano de reconstrução, o genro de Trump, Jared Kushner, nunca escondeu quais os seus propósitos.

É com espanto que leio agora que está a ser discutido o conflito de interesses em forma de gente que é Jared Kushner. Mas só agora o descobriram? Ele nunca escondeu o que pretende...

Este vídeo foca alguns destes aspectos. Permite a legendagem em língua portuguesa.

Candace Owens Gets It Right On Gaza AGAIN

Jared Kushner, Peter Thiel and Larry Ellison are linked to plans In Gaza that will certainly make them even richer. Cenk Uygur and Ana Kasparian discuss on The Young Turks. 

CHAPTERS:

0.00 Candace Owens Shreds Jared Kushner
1.00 TYT Explains The REAL Plan For Gaza
7.20 The Bad Guys Are In Charge
11.15 Why Israel's Press Is Better Than Ours
14.00 Bezalel Smotrich Says The Quiet Part Out Loud


Desejo-vos um dia feliz

terça-feira, outubro 21, 2025

Crianças de ninguém

 

Não vou escrever muito pois este é daqueles assuntos em que as palavras se me extinguem. Nem é uma questão de não conseguir conceber, é mesmo mais que isso, é uma repulsa profunda, uma revolta que vem do mais íntimo de mim. Pensar que alguém se aproveita da inocência e da incapacidade de defesa de uma criança para a molestar sexualmente deixa-me transtornada.

Giuffre (then Virginia Roberts) around the time she met Epstein and Maxwell.
Photograph: courtesy of Virginia Roberts Giuffre

E nisto não há gradações pois sou incapaz de pensar que é ainda mais grave se forem pessoas que violam crianças institucionalizadas, totalmente indefesas, ou, pior ainda, se as violações forem perpetradas por gente ligada à igreja, ou se pior ainda é se for um pai a fazê-lo a um filho ou filha. É tudo igualmente mau de mais, tudo desnaturado, tudo demasiado insuportável. Não consigo sequer pensar no trauma que isso deve causar numa criança, na vergonha, no asco, no medo que ficam inscritos no seu corpo. E depois sabe-se que quando os crimes de abuso ocorrem, é sempre pedido às crianças que guardem segredo, e é pedido sob ameaça, por vezes velada ou sob chantagem. As crianças tantas vezes a sentirem-se cúmplices, talvez até culpadas.

Não consigo sequer pensar o que é crescer com uma mancha destas dentro de si. Compreendo que quem é vítima de abusos o esconda, tente esquecer, não queira que ninguém saiba. Expor o assunto deve ser quase como se a sua intimidade voltasse a ser devassada. Não consigo imaginar. Deve ser horrível.

Se há matéria em que as minhas entranhas se reviram é esta. Dou por mim a pensar que deveria conseguir sentir alguma compaixão pelas almas perdidas, perturbadas, que o praticam, que deveria tentar entender a sua história, se calhar também uma história de abandono e abusos. Mas não consigo, é mais forte que eu. Só penso que pessoas assim, abusadoras, violadoras, têm que estar enjauladas, longe de crianças, impedidas de voltarem a praticar os mesmos actos.

Li há dias, no Guardian, um excerto do livro póstumo de Virginia Roberts Giuffre, Nobody’s Girl: A Memoir of Surviving Abuse and Fighting for Justice, no qual ela relata como foi parar às mãos dos dois predadores sexuais, Epstein e Maxwell, qual deles o mais sórdido e depravado, qual deles o mais perverso e com vida mais estranha, mais sombria. 

Li e fiquei incomodada. Tudo acontecia com a naturalidade de quem se comporta como se tudo pudesse e tudo lhe fosse permitido. Usavam e abusavam, traficavam, cediam, emprestavam. Entre sorrisos, entre promessas, entre gentilezas. Eles dois, a dupla Epstein e Maxwell, o Príncipe André e os bilionários a quem ela se refere por números. Tinha 16, depois 17 anos. Não tinha seis ou sete. Já não teria a inocência da primeira infância. Tinha, isso sim, os sonhos de uma jovem e sonhadora adolescente. E nessa idade, por muito que já se tenha passado -- e Virginia já tinha sido abusada em criança -- ainda se acredita que uma vida melhor pode estar pela frente. Desde que obedeça.

Na sequência da publicação desse excerto e por tudo o que tem estado a vir a lume, o canalha real já abdicou dos títulos. Mas, não sei porquê, não é detido para interrogatório. E, dadas as provas e os testemunhos, porque não é julgado e condenado. Velhaco. Ele e a mulherzinha dele, ambos nas mãos de Epstein, ambos a receberem favores e milhões dele. A troco de quê? A Justiça britânica não deveria averiguar?

Virginia, entretanto, como vários dos envolvidos neste escândalo, também já cá não está. Mais um suicídio nesta teia. Para ela, a sua caminhada de denúncia acabou.

Mas para tantas vítimas desta rede de pedofilia que alimentava o vício ou a luxúria animalesca de tantos 'ricos e poderosos' o pesadelo ainda não acabou. Os chamados ficheiros Epstein continuam a não ser divulgados.

Mas se lá o escândalo atingiu contornos hollywoodescos, já o que se passa na casa de tantas crianças ou em instituições em Portugal e por todo o mundo é igualmente sinistro, atormentador. 

Partilho o vídeo em que a psicóloga Gabriela Salazar fala de uma menina de 11 anos, violada pelo pai, que não percebia de que é que era culpada para ter que sair de casa e afastar-se dos seus amigos. Tudo doloroso de mais.

Por isso, considero que talvez quanto mais se falar destes fenómenos horrendos mais algumas vítimas ganhem coragem para denunciar os algozes que as molestam.

_______________________________________________________________________

“Do Outro Lado.” A menina que era vítima mas achava que era culpada

A primeira paciente de Gabriela Salazar, ainda durante o estágio, foi uma criança de onze anos vítima de abusos sexuais. Este caso acabou por definir o rumo da carreira da psicóloga.


Desejo-vos uma feliz terça-feira

segunda-feira, outubro 20, 2025

85...? Ou 58?

 

Comecei este blog há 15 anos. Talvez haja leitores actuais que me acompanhem desde então. Ou, se não do início, pelo menos há uns quantos anos. Talvez já me conheçam razoavelmente.

Quando penso nas diferenças entre o que sou hoje e o que era há 15 anos o que me ocorre são os saltos altos. Pode parecer a maior das futilidades -- e, não garanto que não seja -- mas é o que me ocorre. Todos os dias da semana de saltos bem altos. Atrás dos saltos vinha tudo o resto. Ainda este domingo a minha filha esteve a vestir algumas dessas peças de roupa e, em relação a algumas, espantava-se: 'Cabias aqui dentro?'. Cabia. E quando se cabe facilmente em peças de roupa de que se gosta, tudo o resto parece que fica mais fácil. E brincos. Não saía de casa sem brincos. E tudo condizia: dos sapatos, ao vestuário, da lingerie aos adereços, da maquilhagem ao perfume. Todos os dias me ocorria um conjunto total. Nunca repetia nada. Saía de casa a sentir-me uma mulher nova -- todos os dias. Tinha uma energia que a mim própria me custa a compreender. De manhã à noite eu estava sempre no máximo. Sem comprimidos (que nunca tomei) e com uns dois ou três cafés por dia, se tanto. Era uma coisa minha. E chegava a casa e depois da janta e da lida da casa, ia pela noite adentro a pintar, a escrever, a fazer o que me desse na veneta. Dormia pouco e era como se a falta de sono não me afectasse. 

Agora estou bem diferente. Geralmente uso ténis (aka sapatilhas) e farto-me de caminhar. E, afinal, os meus pés não me agradeceram. Como tenho pé de bailarina, com o arco pronunciadíssimo, de sapatos altos é que estava bem. Agora uso umas palmilhas personalizadas e parece que a coisa resulta. Mas uso também vestuário mais prático, pouco uso brincos, anéis, colares. Nunca mais usei relógio nem aliança. Uso frequentemente cabelo apanhado (e dantes usava-o quase sempre solto). E já não tenho a mesma energia que parecia inesgotável.

Atribuo ao covid pois foi depois de ter covid que passei a ter mais sono e a precisar de descansar por mais tempo- Mas também pode ser a idade. 

No entanto, não me sinto idosa. Hoje a minha neta, que está a estudar a demografia em geografia, que a partir dos 65 se é idoso. Sou, portanto, idosa. Mas não me sinto. Não consigo ter aquela mentalidade de velha nem tenho paciência para conversas de velhos. Pelo contrário gosto é de conversar ou com gente mais nova ou, se da minha idade, com os mais irreverentes, os que se conservam com aquela doideira saudável que sempre lhes conheci. Se encontro um grupo da minha idade, como quem não quer a coisa afasto-me dos chatos, dos saudosistas, dos que falam do 'tempo deles', dos que dizem mal de tudo, e vou para o pé de quem se ri, de quem se diverte com as pequenas coisas.

Claro que já estou naquela idade em que tenho que aceitar que o corpo pode começar a vacilar. Ainda há tempos apanhámos um susto com um que, como um outro amigo, médico, disse, 'esteve do outro lado'. Fico sempre abalada: pessoa activa, conhecedora dos quês e porquês do corpo quando envelhece, aliás especialista nessa área, supostamente saudável, e, de um momento para o outro, vai-se, ultrapassa a fronteira. Felizmente, foi ressuscitado, regressou. Mas não ficou o mesmo, teve que fazer recuperação. A vida pregou-lhe uma rasteira e oh que rasteira.

Claro que fico um pouco perturbada com isto. 

A semana passada uma pessoa que me é próxima contou-me que o pai, agora, ultimamente, de vez em quando, tem umas coisas, uns esquecimentos, umas baralhações. Também fiquei incomodada. É certo que o pai já tem noventa e que, nos últimos meses, passou por uma cirurgia e por uma perda mas estava tão bem há tão pouco tempo. Enquanto ouvia a descrição desses momentos pensei: 'Se calhar também não é mau que a pessoa, quando perde o familiar querido com quem viveu a vida inteira, quando deixa de ser capaz de ficar autonomamente na sua casa, quando perde a vitalidade, perca também a noção das coisas, se calhar sofre menos, se calhar avança mais despreocupadamente para o desenlace final'.

Apareceu-me aqui no youtibe este vídeo que aqui partilho em que uma bela mulher de 85 anos fala da sua vida. Muito bem arranjada, bonita, sempre com um sorriso. Está divorciada há dois anos e ainda está a procura de ter outro amor. Diz que não se sente com 85. Talvez 58 anos. Ouvindo-a a falar, dir-se-ia que sim, mentalidade de 58. 

Se o corpo aguenta, ou melhor, se vai aguentando, é bom que a curiosidade se mantenha, que a capacidade de encantamento se mantenha. Para mim esses são os verdadeiros segredos para uma vida feliz: gostar de aprender, ter vontade de descobrir o que não se sabe, gostar do que se tem, gostar de tudo, da família, das flores, dos passarinhos, de estar aqui a escrever, de cozinhar, de ver o pessoal todo a gostar do que levo para a mesa, gostar de ver como gostam uns dos outros, gostar de os ver, de os ouvir, gostar de ler, gostar de passear, gostar de ver o mar, de ver o céu, de varrer, de regar, de conversar, de namorar, de ver um homem bonito (ou uma mulher -- conforme os gostos) ou, se não for bonito, de observar um homem interessante (ou mulher, lá está), de brincar e fazer festinhas ao cão, de ir à janela ver a chuvinha boa. E por aí fora, infinitas coisas boas que me fazem feliz. Infinitas. Poderia estar aqui a noite inteira a enumerá-las.

Perguntar a uma mulher de 85 anos sobre os seus maiores arrependimentos na vida

Perguntei a uma senhora de 85 anos sobre os seus maiores arrependimentos na vida. Beatrix Ost é uma escritora e estilista de renome mundial. Imigrou da Alemanha para os EUA após a Segunda Guerra Mundial, e a sua viagem de mais de 60 anos levou-a a aprender algumas lições de vida incrivelmente instigantes. Acho que vai tirar muito proveito desta história.

_____________________________________________

Post scriptum

Avançar com o nome de António José Seguro, assim como quem não quer a coisa, a titulo de exemplo, foi uma das várias argoladas de Pedro Nuno Santos. Falava e depois é que pensava. Provavelmente nem lhe ocorreu que ao Tozé aquilo ia soar a convite. Mas ocorreu. E, claro, criou um problemão a muita gente.

À data de hoje, não há nenhum candidato que me faça cair para o seu lado, sem dúvidas. A política está uma tal xaropada que parece que só atrai pessoal das segundas ou terceiras ou quartas linhas. No meio do que se oferece, talvez esteja mais ou menos inclinada para um deles, mas ainda com tantas dúvidas que nem me atrevo a pronunciar-me mais que isto.

____________________________________________________

Desejo-vos uma boa semana a começar já esta segunda-feira

domingo, outubro 19, 2025

Chega -- ou como a comunicação social portuguesa deu um megafone ao populismo
-- Uma reportagem da Al Jazeera --

 

Há aquilo da atracção pelo abismo. Penso que isso é o que está na base da vertigem: mais do que o receio de escorregar e cair é o receio de não resistir à atracção pela queda. Quando tenho pesadelos, é frequente passar por situações em que vou num sítio alto, escarpado, numa estrada estreitinha em que de um lado é o abismo e parecer-me que, dê lá por onde der, a queda será inevitável. É uma sensação horrível. Lembro-me de ser pequena e de descer por uma escada muito estreita, esculpida na rocha, para irmos para uma praia que apenas tinha esse acesso. Os meus pais gostavam de ter a praia só para eles e, de facto, estando lá em baixo, era maravilhoso, parte do paraíso parecia feita só para nós: lagoinhas nos buracos das rochas, limos, algas, lapas, mexilhões, pequenos caranguejos, aquele odor a maresia, tudo do outro mundo. O sol rodava e podíamos procurar a sombra, havia sempre um rochedo que nos dava o desejado abrigo. Mas, quando se aproximava a hora de subir, já eu ficava outra vez nervosa. Sabia que quando chegasse a meio da escada e olhasse para baixo, sentiria um formigueiro na planta dos pés, aquele desamparo, aquela antevisão de que os meus pés poderiam soltar-se, de que eu iria voar sem apelo nem agravo até onde o abismo me sugasse. Nunca aconteceu mas esse medo nunca me abandonou.

Essa mesma atracção pelo abismo parece ter a comunicação social portuguesa. É impossível que os responsáveis da informação dos diferentes canais não saibam que ao promoverem o Ventura da forma como o fazem de há vários anos para cá estão a levá-lo ao colo até ao poleiro a partir do qual ele pode fazer estragos. Sabem que estão a levar o país até àquela zona de sombra onde todos os perigos estão à espreita. E, no entanto, não resistem à tentação de lhe dar todo o palco que ele quer.

Há mérito nele, não o nego: consegue arranjar sempre motivos para ter coisas para dizer. Ou é candidato disto ou daquilo, ou quer lançar o repto ou quer responder ao repto, ou quer criticar ou quer ameaçar ou quer defender-se. Quer sempre qualquer coisa. E sempre que ele o quer, e ele quer sempre, há uma câmara e um microfone ao seu dispor. Um dia inventou um chilique e as televisões foram atrás da ambulância, outro dia diz que vai ao Entroncamento e uma jornalista enfia-se no carro com ele e outros vão em carros que filmam o seu carro. Haja o que houver, aí está ele a ocupar tempo da antena, a invectivar, a insultar, a vitimizar-se. Tudo anedotas, tudo absurdos. Interesse jornalístico de tudo isto: zero. E, no entanto, porque sabem que ele, qual concorrente histriónico do BB, dá canal, não o largam. Mais do que defender a democracia e honrar a liberdade, o que os canais querem (todos os canais!) é aumentar audiências. Custe isso o que custar.

O vídeo abaixo mostra uma peça da Al Jazeera English sobre o assunto, e ali está tudo: o percurso do Ventura, desde o tempo em que comentaca crimes e futebóis até aos dias de hoje em que parece o emplastro das televisões, sempre presente. Só que não está calado, está a poluir o espaço público e a atrair os ignorantes, os incultos, os broncos, os ressabiados, os tontos, a gente má, os saudosistas dos tempos do breu, os invejosos, os criminosos, os tarados. E porque toda essa gente gosta de ser ver representada por um da mesma laia e é isso que as televisões mostram, aí está ele, cada vez mais perto de fazer estrago a sério.

Chega: How Portugal's media gave populism a megaphone | The Listening Post

O partido de extrema-direita português, Chega, já esteve à margem da política nacional, mas agora faz parte do mainstream.

O líder do partido, André Ventura, tornou-se uma das figuras políticas mais reconhecidas do país. A sua ascensão foi impulsionada pela sua experiência na televisão e pela sua persona mediática cuidadosamente elaborada. O antigo comentador de futebol tornou-se um showman político.

E ele foi amplificado pelos grandes meios de comunicação do país, que procuram audiência em vez de responsabilização.

Colaboradores:

  • Miguel Carvalho - Jornalista
  • Inês Narciso - Investigadora de Desinformação, Iscte-Iul
  • Anabela Neves - Jornalista, CNN Portugal

 

Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, outubro 18, 2025

Ataques de pânico

 

Já aqui trouxe várias vezes o tema das questões mentais. Sou muito sensível a isso. Aliás, recordo que, quando acabei o liceu, uma das minhas primeiras opções era a Psiquiatria. Pu-la de lado pois tirar primeiro medicina e ver-me confrontada com a presença mortos nas aulas de Anatomia era-me insuportável. Depois virei-me para Psicologia e ainda me lembro de andar com a minha mãe a procurar informação. Creio que fomos ao ISPA. Sem internet e sem informação facilmente consultável, tudo era complicado. Não conseguimos obter a certeza de que o curso era uma licenciatura e que os psicólogos poderiam exercer de forma certificada. Mas, sei-o agora, a informação que obtivemos não deve ter sido a mais correcta pois o que não falta são psicólogos mais ou menos da minha idade. desisti e fui para outra área completamente diferente. Mas o gosto por compreender o outro e de ajudar quem precisa na medida das minhas possibilidades manteve-se.

E gosto de compreender o que se esconde sob as aparências e gosto de compreender os mecanismos físicos que fazem com que tantas vezes reacções psicológicas sejam percepcionadas como reacções físicas. E são mesmo físicas. Só que o que as desencadeia não é muitas vezes uma doença 'física' mas uma reacção emocional inoportuna, descontrolada.

Felizmente tenho sido bafejada pela sorte e, até hoje, nunca me aconteceu que a ansiedade passasse das marcas e desencadeassem em mim reacções que não conseguisse controlar. Profissionalmente lidei com assiduidade com situações de stress, tive frequentemente de me expor, apresentando opiniões divergentes da linha mais corrente, tive que enfrentar quem queria impor a sua vontade contra a minha. Acontece que, nesses momentos, uma calma que até enervava os outros parecia tomar conta de mim. Pessoalmente, em particular com os problemas de saúde dos meus pais, quer com o lento e doloroso declínio do meu pai quer com a situação complexa da minha mãe que encobriu um segredo enquanto se deixava consumir pelo medo que não assumia, não têm conta os momentos de tremenda ansiedade que se ia progressivamente instalando dentro de mim, tendo inclusivamente pensado que era quase impossível que uma depressão não me colhesse. Mas, não sei como, o meu corpo sempre se conseguiu aguentar. Sorte, apenas. 

Mas trabalhei com um jovem alegre, talentoso, muito competente, reconhecido por todos, acarinhado por todos, que um dia me confessou que de vez em quando tinha tremendos ataques de pânico. Contava que apareciam do nada, muitas vezes quando até considerava que estava calmo, muitas vezes à noite, em casa. Como morava sozinho, tão aflito ficava, tão convencido ficava que estava em risco de vida mas, ao mesmo tempo, também sabendo que já antes tinha estado no hospital e que lhe tinham dito que eram ataques de pânico, saía de casa e ia para dentro do carro que estava estacionado na rua. Pensava que ali mais facilmente pediria ajuda se estivesse mesmo a morrer. Quando ele me contou, fiquei admiradíssima. Nunca tinha percebido que ele fosse uma pessoa ansiosa. 'Disfarço bem', disse-me ele. Quanto tentei perceber o que lhe provocava a ansiedade a ponto de ter ataques de pânico, disse-me: 'Tudo'. E, no entanto, parecia sempre bem disposto. 

Ou seja, as pessoas desenvolvem mecanismos para se protegerem. Ou melhor, para esconderem dos outros. E esses mecanismos nem sempre são os melhores. Quando lhe perguntei porque não se tratava disse-me que não tinha tempo, que eu sabia bem como era a sua agenda, o seu ritmo de trabalho, o seu dia a dia. Não aceitei pois se tinha tempo para ir ao ginásio ou ao dentista também podia conseguir tempo para se tratar. Desvalorizou: 'Vou conseguindo controlar. Isto passa.'. Ainda insisti mas percebi que já estava era arrependido de me ter falado nisto.

Recorrer a tratamento psicoterapêutico ainda é um passo que muitas pessoas não conseguem dar. E, no entanto, como poderia ser mais leve a sua vida, se o conseguissem.

Partilho um vídeo em que um psiquiatra fala de um doente seu e, em paralelo, fala de problema idêntico pelo qual passou. Penso que alertar para a necessidade de levar a sério e tratar devidamente as questões de saúde mental nunca será demais.

O doente que superou os ataques de pânico | Do Outro Lado

Ao acompanhar um jovem com ataques de pânico, o psiquiatra João Perestrelo recordou-se da sua própria luta, na juventude, e da coragem necessária para enfrentar a ansiedade


Desejo-vos um bom sábado

sexta-feira, outubro 17, 2025

Momentos bizarros no mundo da parvalheira, numa cerimónia que era esperada há mais de 3.000 anos

 

Vamo-nos habituando. Agora, quando uma dada pessoa é apanhada a fazer parvoíces, já ninguém se choca ou critica: normaliza-se, diz-se que é a pessoa a ser a pessoa que é. Como se isso justificasse tudo ou desculpasse alguma coisa. Aliás, no que aqui me traz, a pessoa em causa, cândida na transparência com que se confessa ao mundo, até já fez saber que poderia sair à rua e dar um tiro num tipo qualquer que nada de mal lhe aconteceria.

E se já fez das suas... Tantas, tantas, que já não têm conto. E todas más de mais para serem verdade. Até conseguiu enterrar uma ex-mulher num dos seus vários campos de golf para, com o assim adquirido estatuto de cemitério, o campo de golf pagar muito menos impostos. Não há limites para ele. E há a impressão de que o que se sabe é ainda uma pálida ideia do que um dia se haverá de saber. 

Agora engendrou (à pressa -- a ver se ainda ia a tempo de lhe darem o nobel da paz) o acordo de reconstrução de Gaza -- a que deu o nome de acordo de paz -- e, para a fotografia, qual rei, para sentir que meio mundo lhe presta vassalagem, sem aviso prévio mandou que voassem dos seus países para estarem ali a ouvir as suas parvoíces, presidentes e primeiros-ministros de vários países. E ali estavam eles a prestar-se a destratos, a alarveiradas, a bocas foleiras, a tontices sem qualquer nexo. Em vez de o mandarem dar uma grande curva, não senhor, ali estão a compactuar com as anormalidades que ao narcisista-demente lhe ocorrer levar a cabo. Uma coisa triste de ver.

[Não obstante, tal como ontem referi, acho que é importante que a destruição brutal que Israel estava a levar a cabo tenha sido suspensa, acho importante que se abram corredores humanitários e que, mutuamente, se devolvam prisioneiros. As minhas reservas têm a ver com a sustentabilidade disso e com a indefinição política que pode levar a que isto, que é bom, não dure muito tempo]

Daqui por uns anos, quando os historiadores quiserem analisar este período terão que recorrer ao humor louco, ao estilo João César das Neves, ou à densidade das instituições psiquiátricas, ao estilo Voando sobre um ninho de cucos, para conseguirem retratar minimamente o período que atravessamos, que não sei se é das trevas, se é dos entrevados morais e mentais.

Há numerosos vídeos dos diferentes momentos, todos entre o hilariante, o patético, o grotesco, o aparvalhado, o aviltante. Escolhi este aqui como poderia ter escolhido vários outros. Aqui fica pro memória numa altura em que Trump agora já diz que, se for preciso, vai para lá caçar os do Hamas e matá-los um a um. Faria se não houvesse o tão celebrado acordo de paz...

Awkward Moments You Missed From Trump's Gaza Summit


Desejo-vos uma feliz sexta-feira

quinta-feira, outubro 16, 2025

Fazer graça com qualquer coisa

 

Tenho um amigo que está sempre a enviar-nos piadas, vídeos engraçados, anedotas de toda a espécie. Toda a gente o acha o maior dos pândegos. Ao vivo, sempre que a ocasião se proporciona, sai-se com uma. Na maior parte das vezes, rio-me não da piada em si mas do despropósito, da inconveniência, da inoportunidade. Vejo que ele fica contente quando nos vê a rir e não acredito que se aperceba de que é que nos estamos a rir. Mas estou a falar no plural e devia falar só em mim pois eu sei porque é que rio mas não sei porque o fazem os outros. Se calhar, riem-se da piada em si.

Acresce que aquela sua falta de sentido de oportunidade vale para tudo, para o humor ou para o drama. Há tempos, num jantar, a mesa cheia, eu de um lado da mesa e ele lá ao fundo, chama-me para me perguntar se me lembro de fulano de tal. Digo-lhe que sim, claro. Então, inopinadamente começa a falar-me dele, do seu feitio que foi ficando cada vez mais difícil, que volta e meia tinha coisas que deixavam os outros de cara à banda, tal o excesso, coisa à beira da histeria. Numa dessas vezes, ao ver-se no meio daquelas reacções furibundas, ocorreu perguntar-lhe se já alguém o tinha mandado fazer um tac à cabeça. O outro, muito espantado com o despropósito da pergunta, até esfriou o assomo em que estava. E ele, ali mesmo, lho prescreveu. Pois, imagina tu, contou-me ele lá da ponta da mesa -- uns estupefactos com a conversa, outros nem se apercebendo e continuando na deles -- que tinha mesmo um tumor. Eu de boca aberta, nem sei se pelo diagnóstico se pelo despropósito daquilo. Indiferente à minha reacção e à dos que estavam a prestar atenção, continuou descrevendo a localização do tumor, inoperável, estás a ver, ali não dá para mexer, e o que aquilo era, oh pá, um tamanho..., continuou ele. Eu sem saber se era suposto manifestar o meu desgosto pela pouca sorte da localização do tumor do outro nosso amigo, se o meu espanto por aquilo estar a vir à conversa, ali, naquele momento, a meio de um jantar, sem vir a propósito de nada. Mas ele continuou com a minúcia de quem ficou também transtornado com a pouca sorte do amigo: e espalhado, espalhado. E continuou com pormenores mais precisos. E acrescentou: nem sei porque me lembrei de lhe perguntar aquilo do tac, mas lembrei-me, estás a ver? Quase parecia arrependido de ter tido aquela ideia que, até a ele, lhe parecia quase peregrina. Só consegui abrir a boca para dizer: pois, coitado, eu sabia que ele tinha morrido mas não sabia desses pormenores... E fiquei aflita sem saber como continuar. Não ia continuar no mesmo registo, mantendo aquela interrupção dramática no meio de um jantar que decorria leve, divertido, todos bem dispostos. Mas, ao mesmo tempo, depois daquele drama, ia chutar para canto e desviar para um tema levezinho e sorridente? Fiquei naquele impasse até que alguém resolveu a coisa por mim, puxando um tema que não tinha nada a ver e fazendo de conta que aquela conversa não tinha tido lugar. Ele próprio pareceu agradecido por ter sido desviado do tema escuro em que nos tinha mergulhado. Mas, pouco tempo depois, já estava outra vez a dizer piadolas, algumas mais próprias de um adolescente com as hormonas aos saltos do que um homem feito e com a descendência espalhada pelo mundo.

Isto tem a ver com a maneira de ser de cada um. 

A convidada do Bial, Tata Werneck, que já conhecia vagamente de uma novela e a quem tinha achado piada, parece ser dessas pessoas que tanto entra num registo pesado, cheia de medos, carregando traumas e fobias, como, logo de seguida, passa para um registo divertido. Talvez não seja inoportuna ou inconveniente como o meu amigo mas também ainda é jovem, não se sabe como será quando tiver a idade do meu amigo e tiver passado aquilo por que ele já passou.

E o que eu vejo é que o Bial se ri a bom rir com o que ela diz. E eu gostei de ver e ouvir.

Pedro Bial entrevista Tata Werneck | Conversa com Bial

No Conversa com Bial, Pedro Bial recebe a atriz, apresentadora e humorista Tata Werneck para uma entrevista divertida, emocionante e cheia de boas histórias. Tata fala sobre carreira, maternidade, vida pessoal e os desafios de equilibrar humor e emoção em sua trajetória


Desejo-vos um dia feliz