terça-feira, agosto 23, 2022

Um coração que não sei se é real se é fake. Mandos e desmandos duma geração Z. E uma fera punk e muito fofa


Naturalmente que a excursão do coração do outro até ao Brasil me deixa beige. Para começar, não sei se alguém tem a certeza que aquela miudeza ali já com ar cozido e recozido já esteve mesmo dentro de um qualquer longínquo Pedro desta vida. Quem garante que aquilo não é fake, por exemplo coração de porco...? Não dizem que coração de suíno é tão bom quanto o de nós outros? Quem garante que não pegaram num e o puseram em calda, se calhar feito pickles para ficar mais descorado? Sim, quem garante?

Não digo que não haja por aí, algures, nalguma arca frigorífica ou nalgum cofre com recheio mal cheiroso, algum deslavado coração que seja mesmo o do outro mas eu, se fosse o guardião da real miudeza, não ia arriscar levá-la para perto do Bolsonaro e outros que tais. Vai que o Bolsonoro resolve mandar rezar missa cantada para o defunto coração? Vai que, numa dessas ou num nalgum daqueles comícios manhosos, o dito Jair deixa cair o frasco e a coisa se esparrama pelo chão. Vai que vai a passar um cão, pega a esbodegada coisa e abala a correr com ela na boca? Vai que nunca mais ninguém põe os olhos em cima do cão?

Não é que se perdesse alguma coisa mas isto há gente para tudo, gente com cismas, gente que gosta de guardar tesourinhos deprimentes. O que digo é que eu, se fosse a eles, mandava um coração fake quiçá enfeitado com uma coroazinha imperial, blink blink, para dar mais graça

E, por falar em haver gente para tudo, hoje, não sei a que propósito, veio aquilo do LGBTQ. Ninguém sabia o que era o Q. Indo-se ver, concluiu-se que isso já era. A coisa já vai num comboiozinho mais composto. LGTBQIA2S+. Nenhum de nós ali sabia a que correspondia tudo aquilo. Viu-se no google mas, nem assim, a coisa ficou clara. A realidade vai evoluindo e o nosso conhecimento dela vai ficando para trás. 

Para ilustrar este novo mundo, o mais velho exemplificou com algumas coisas bizarras, descrevendo comportamentos típicos de pessoas da sua idade. O meu marido disse: 'Este mundo está perdido, já bateu no fundo'. O puto concordou, disse que é a Geração Z, uma geração deveras marada.

E ele diz isso sem saber dos que fazem fila na rua para verem aquela miudeza já fora de validade, sem saber dos ildefonsos deste mundo, dos ideologomaníacos, das estátuas de pés de barro, dos malucos que aqui me deixam comentários ofensivos que atiro para o lixo, das beatas que não sabem a quantas andam e de todos os estúpidos que por aí pululam. Um mundo perdido.

Quanto ao resto não sei bem o que dizer. Tenho andado campestre, longe das mundanidades que por aí vejo comentadas. Nos intervalos trabalho. E vou pensando no que fazer: pinto as unhas de carmim? Ou deixo-me disso? Nem um pingo de verniz? Campesina de cabo a raso? E quanto aos olhos? Mantenho-os smoky? Sem rímel, sem nada que se veja? Tento o reverse eye liner?

Pois não sei. As minhas dúvidas são deveras existenciais. Consomem a minha energia, fico sem ânimo para me ocupar dos Mithás desta vida. 

Tirando isso, o que sobra é aquilo dos cães chorarem lágrimas de verdade. Dizem que é quando reencontram os donos que mais acontece. Acredito. Coisas mais fofas, mais amigas. 

Ora vejam o urso mais feroz aqui, derretido, nas mãos do mais crescido que se divertiu a pôr-lhe a melena à punk. Fofos.

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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Uma vida longa e feliz. Paz.

2 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

Porque haveria o coração de ser fake? Aparece cada dúvida! Houve todo um procedimento meticuloso e documentado de retirada do coração ao D. Pedro, foi mandado fazer um vaso de cristal e mais um sarcófago (ou lá como aquilo se chama), abriu-se um buraco na parede da capela-mor da igreja da Lapa para pôr aquilo tudo lá dentro, renova-se o formol de onze em onze anos (ou lá quantos são), etc., e no fim vêm dizer que se calhar o coração é fake...

Uma vez, em Munique, entrei numa igreja do centro histórico da cidade, em cuja cripta fica o panteão da Casa Real da Baviera. Lá em baixo, numa prateleira encostada a uma parede, vi um vaso de cristal mostrando uma coisa informe e acastanhada, que era identificado (em alemão) como sendo O CORAÇÃO DA RAINHA MARIA II DE PORTUGAL. «Pois claro, pensei eu, ela era casada com um alemão, D. Fernando de Saxe-Coburgo, o "Rei-Artista", e doou o coração à Baviera, assim como o pai dela tinha doado o seu ao Porto». São coisas próprias do séc XIX, o século do Romantismo.

Um Jeito Manso disse...

Olá Fernando,

O que eu digo (na brincadeira) é que se fosse eu não mandava o coração real para perto do Bolsonaro, mandava um fake, um de porco ou assim...

E até acava graça que se descobrisse que a dita relíquia que tanto sururu tem causado não tem nada a ver com o real coração do Pedrocas.

Um abraço, Fernando!