quarta-feira, julho 20, 2022

No reino das tretas

 


Devo dizer que sou, naturalmente, poupada. Só perco a cabeça com livros (mas estou muito melhor) ou a oferecer presentes para os descendentes. De resto, desde que me conheço que sou poupada.

Já o era antes de se verificar que, a bem do planeta, deveríamos sê-lo no que respeita, por exemplo, a bens descartáveis.

Sempre me fez muita impressão usar pratos, copos e talheres de plástico que, uma vez usados, iam para o lixo. Achava um desperdício absurdo. Mesmo antes de saber que o plástico, se não for reciclado, levará anos a poluir o ambiente, já eu fazia de tudo para evitar usar e deitar fora coisas de plástico.

Também me faz impressão deixar luzes acesas quando não fazem falta. Acho um desperdício. Por vezes irrito o meu marido tal como antes irritava os meus filhos. 

Acho que só se deve usar o que é preciso. Gastar recursos e dinheiro para nada a troco de quê? Só por desfastio...?

Nas empresas sempre fui minimalista, muitas vezes sendo confundida com frequentar uma onda diferente, estar desalinhada, ser do contra. Num ambiente em que é habitual gastar rios de dinheiro em coisas que me parecem de interesse mais que duvidoso, sempre me mantive fiel aos meus princípios: gastar apenas o necessário e, ainda assim, ter a certeza que é mesmo necessário.

Acompanhei campanhas externas e internas que demonstravam que éramos verdes mesmo quando ainda estávamos longe de sê-lo, páginas de sites e de intranets, campanhas e iniciativas de toda a espécie e feitio. Depois a sustentabilidade. Consultores e mais consultores, kpi's de todos os sabores e paladares, ODS's e mais reuniões e workshops, flyers, mudanças nos sites, mini-sites, slogans, assinaturas. E, calma, eu acredito na sustentabilidade e acho que os ODS são bem apanhados. Mas acredito se forem autênticos, se toda a gente estiver virado para o mesmo lado e todos trabalharem no mesmo comprimento de onda. Senão, é para inglês ver. Rios de dinheiro gastos para fazer de conta.

Agora, a conversa evoluiu. Mas evoluiu, uma vez mais, pour épater les bourgeois. Mais projectos, mais consultoria, mais estratégias de comunicação, mais campanhas de imagem, mais gastação de tempo e de dinheiro. Net zero. Zero emissões. Pureza absoluta, a virgindade ambiental como grande lema de vida. O mundo ideal. 

Era bom e eu gostaria muito. Políticas todas muito racionais, tudo muito bem articulado, tudo muito regulado, tudo muito transparente. Toda a gente muito consciente do que isso implica: formação, educação, novos hábitos, uma aculturação muito bem orquestrada, grandes investimentos nomeadamente em infraestuturas adaptadas e eficientemente localizadas. Gostaria mesmo.

E seria possível. Mas, para ser possível, teria que ser levado muito a sério, concertadamente muito a sério. E isso, levar as coisas mesmo a sério, é o diabo.

Para que algo de eficaz acontecesse teríamos que ter apenas gente idónea a falar e a trabalhar sobre o assunto: não pode ser coisa para debates entre ignorantes e gente exibida, entre engraçados e mentecaptos ambiciosos ou para programas de televisão com Carmos Afonsos, Joanas Amarais Dias, turmas descartáveis como as do Irritações, gente como Ricardos Araújos Pereiras ou Joões Miguéis Tavares, para jovens aspirantes a comentadores ou a quejandos. Temas sérios não são para ser transformados em lérias, em piadolas, em trocadilhos, em estados de alma reprocessados, em chistes, em sound bites, em armas de arremesso. 

Caso contrário, as temperaturas vão continuar a subir, os incêndios vão continuar a lavras nos nossos campos ressequidos, os fenómenos climatéricos extremos vão continuar a acontecer, a água vai continuar a escassear. Não é brincadeira, isto, não.


We Debunk the Latest Corporate Climate Lie | NYT Opinion

Finally, corporations are jumping into action on climate change — or at least that’s what they’d like us to believe. Many of the world’s biggest and most polluting companies have recently promised to curb their carbon output, by reaching net-zero emissions in the next few decades. These sweeping pledges conjure a world where we can have it all: economic growth and global trade — without the global warming that usually comes with that. While saving the planet demands an approach more ambitious than incremental change, these corporate fantasies of the future just don’t stand up to scrutiny. In a new @nytopinon video, we expose three major flaws in net-zero pledges that make them a dangerous distraction from the crisis at hand.


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“Experience” - Ludovico Einaudi, The Beacon Theatre, New York, 06.28.2022

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Um bom dia
Saúde. Harmonia. Paz.

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