sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Depois de um dia do caneco, constato que a Clara Ferreira Alves continua no Eixo do Mal. Pior: igual a si própria.
Há mistérios que jamais terão explicação.

 


Mais uma vez enganei-me. Na quarta-feira à noite disse ao meu marido que pensava que ia ter uma quinta-feira tranquila. 

Qual quê? Quando a gente acha que está a salvo deve ficar calada. Falar atrai.

Conto.

Cedo apareceu-me o cão ao lado da cama, danadinho para lhe saltar para cima e o meu marido a chamá-lo a ver se ele não consumava o acto.

Ainda estava a refazer-me, avaliando se ainda faria sentido voltar a adormecer, toca-me o telefone. 

Uma dúvida sobre um tema complicado. Ainda à fresquinha (pijamas e camisas de dormir não são comigo) levantei-me e, para estar longe do urso peludo (não fosse pôr-se em pé para me fazer festas e arranhar-me de alto a baixo), fui enregelar para o escritório do lado. Telefonema longo. Problema complexo envolto em mil dúvidas.

Antevi logo que a coisa tinha tudo para ficar complicada. Como estas coisas do capeta nunca vêm sozinhas, juntaram-se vários factores e o meu marido, também cheio de telefonemas e afazeres e tendo que sair antes da hora de almoço, sugeriu que fossemos fazer uma rápida caminhada não fosse não haver outra oportunidade no resto do dia. 

Lá fomos. Mal pus o pé fora de casa, outro telefonema, um que queria reunião urgente. Tentei descartar-me, disse que não era tema apenas meu. Sabendo da agenda superlotada do outro, pensei que aquela reunião urgente seria agendada para o dia de são nunca. Comentei: 'Acho que desta já me livrei'.

Errado. Mais uma vez falei quando devia era ter ficado calada. Atrai, é o que digo. É que o dia estava fadado a ser um dia não -- passado um bocado, nova chamada: era esse mesmo a saber que raio de reunião era aquela. Uma estupidez de uma reunião, disse eu. Vontade de a ter: bola. Mas, sopesados os prós e os contras, acabámos por aceitar fazer a reunião na parte da tarde. Lembrei-me do outro, a confortar-me, anos antes: todos temos uma cruz para carregar.

Resumindo: nem dei pela caminhada.

Em casa, também mal tive tempo para comer uma mísera sopa, um mísero ovo e uma simples salada. Mais telefonemas, mais mails. Depois a reunião. Uma coisa enervante. Calma, maria-odete, pensei cá para mim a cada cinco minutos. 

A seguir, quando a xaropada acabou e me dirigia à cozinha para comer uns cajus e uns arandos, pensando que já não poderia aparecer mais nada para me chatear a cabeça, outra pessoa a ligar, se eu podia participar numa reunião. Não gritei por um triz. Caraças. Depois mais telefonemas. E mais essa reunião descabelada. E mails e apresentações para ver.

Quando chegou o meu marido estava eu ao telefone, irritada. Disse-me: 'Não tinhas dito que ias ter um dia tranquilo...?'. Pois. Limitei-me a encolher os ombros pois estava ao telefone . 

Há bocado sentei-me aqui e, enquanto ele adormecia no sofá e o cão dormia a sono solto no chão, adormeci também.

Acordei agora com ambos a irem para a cama (cada um para a sua, bem entendido). 

Enquanto tentava perceber quanto tempo tinha dormido, ouvi na televisão uma ave esganiçada, veias do pescoço salientes, ar sobredotado. Era a dita. Insurgia-se contra os portugueses que não sabem fazer nada, que não atinam, que já vem do tempo do Eça, que nunca foram capazes de fazer porcaria nenhuma. Notoriamente, a iluminada criatura, deve achar que não faz parte do grupo dos indigentes mentais dos portugueses. Será que acha que é chinesa? 

Tentei concentrar-me, numa de benefício da dúvida. Com muita paciência e tolerância, a modos que deixa cá ver se não sou eu que estou com os dois pés atrás, esforcei-me por lhe prestar atenção. Mas -- lamento -- não. Nada do que a senhora diz se aproveita. Mistura ironia, sarcasmo, desprezo, arrogância. Mas como tudo tem por base um zero absoluto, tudo aquilo resulta numa chachada.

Aliás, tudo o que se diz em volta daquela mesa é um exercício de parvoíce, de gabarolice, de pretenso humor. Não se aprende nada. Não se aproveita nada. Não sei qual a justificação para aquilo.

Se eu fosse responsável pela programação da SUC despedia-os a todos. Mas a que mais rapidamente ia de patins era esta insuportável criatura, que não diz uma que seja fundamentada. Ouve uma aqui, outra ali e vai para ali armar-se em letrada, em superior.

Não há pachorra. 

Nem sei porque é que isto ainda dá na SIC N. Vou fazer zapping ou espreitar a HBO e a Netflix. Puxa. Depois de um dia como o de hoje era o que me faltava era ainda ter que estar a aturar esta gente. Livra.

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Para ver se o post não é uma treta pegada, descobri estas fotografias no Guardian. Fazem parte de LensCulture Art photography awards 2022. Vêm acompanhadas pelos U2 com Stay (Faraway, So Close!)

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Desejo-vos uma boa sexta-feira

Confiança. Esperança.  Saúde. Alegria. Vida nova. 

4 comentários:

Plúvio disse...

"CFA, a mulher do brinco"

Um Jeito Manso disse...

Olá Mestre Plúvio,

Que bela compilação ali tem... Um dia bem que pode publicar um livro: O livro do baldinho da água fria. Para despejar em cima da cabeça dos palermas encartados.

Quando à bela resenha sobre a moça do brinco, acho que bem poderia ser a base de entendimento para a formação de um clube: CFA - Clube de embirradores

Imagino o que se diverte a compilar todo aquele material... Deve estar sempre com um sorriso de orelha a orelha...

Um belo sábado paar si, Mestre.

Lúcio Ferro disse...

Escrevo só para dizer que achei absolutamente deliciosa a compilação do Plúvio. Bom fim de semana UJM, stay frosty. :)

Plúvio disse...

Muito obrigado.