Mais uma vez enganei-me. Na quarta-feira à noite disse ao meu marido que pensava que ia ter uma quinta-feira tranquila.
Qual quê? Quando a gente acha que está a salvo deve ficar calada. Falar atrai.
Conto.
Ainda estava a refazer-me, avaliando se ainda faria sentido voltar a adormecer, toca-me o telefone.
Uma dúvida sobre um tema complicado. Ainda à fresquinha (pijamas e camisas de dormir não são comigo) levantei-me e, para estar longe do urso peludo (não fosse pôr-se em pé para me fazer festas e arranhar-me de alto a baixo), fui enregelar para o escritório do lado. Telefonema longo. Problema complexo envolto em mil dúvidas.
Antevi logo que a coisa tinha tudo para ficar complicada. Como estas coisas do capeta nunca vêm sozinhas, juntaram-se vários factores e o meu marido, também cheio de telefonemas e afazeres e tendo que sair antes da hora de almoço, sugeriu que fossemos fazer uma rápida caminhada não fosse não haver outra oportunidade no resto do dia.
Errado. Mais uma vez falei quando devia era ter ficado calada. Atrai, é o que digo. É que o dia estava fadado a ser um dia não -- passado um bocado, nova chamada: era esse mesmo a saber que raio de reunião era aquela. Uma estupidez de uma reunião, disse eu. Vontade de a ter: bola. Mas, sopesados os prós e os contras, acabámos por aceitar fazer a reunião na parte da tarde. Lembrei-me do outro, a confortar-me, anos antes: todos temos uma cruz para carregar.
Resumindo: nem dei pela caminhada.
A seguir, quando a xaropada acabou e me dirigia à cozinha para comer uns cajus e uns arandos, pensando que já não poderia aparecer mais nada para me chatear a cabeça, outra pessoa a ligar, se eu podia participar numa reunião. Não gritei por um triz. Caraças. Depois mais telefonemas. E mais essa reunião descabelada. E mails e apresentações para ver.
Quando chegou o meu marido estava eu ao telefone, irritada. Disse-me: 'Não tinhas dito que ias ter um dia tranquilo...?'. Pois. Limitei-me a encolher os ombros pois estava ao telefone .
Há bocado sentei-me aqui e, enquanto ele adormecia no sofá e o cão dormia a sono solto no chão, adormeci também.
Acordei agora com ambos a irem para a cama (cada um para a sua, bem entendido).
Tentei concentrar-me, numa de benefício da dúvida. Com muita paciência e tolerância, a modos que deixa cá ver se não sou eu que estou com os dois pés atrás, esforcei-me por lhe prestar atenção. Mas -- lamento -- não. Nada do que a senhora diz se aproveita. Mistura ironia, sarcasmo, desprezo, arrogância. Mas como tudo tem por base um zero absoluto, tudo aquilo resulta numa chachada.
Aliás, tudo o que se diz em volta daquela mesa é um exercício de parvoíce, de gabarolice, de pretenso humor. Não se aprende nada. Não se aproveita nada. Não sei qual a justificação para aquilo.
Se eu fosse responsável pela programação da SUC despedia-os a todos. Mas a que mais rapidamente ia de patins era esta insuportável criatura, que não diz uma que seja fundamentada. Ouve uma aqui, outra ali e vai para ali armar-se em letrada, em superior.
Não há pachorra.
Nem sei porque é que isto ainda dá na SIC N. Vou fazer zapping ou espreitar a HBO e a Netflix. Puxa. Depois de um dia como o de hoje era o que me faltava era ainda ter que estar a aturar esta gente. Livra.
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Para ver se o post não é uma treta pegada, descobri estas fotografias no Guardian. Fazem parte de LensCulture Art photography awards 2022. Vêm acompanhadas pelos U2 com Stay (Faraway, So Close!)
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Desejo-vos uma boa sexta-feira
Confiança. Esperança. Saúde. Alegria. Vida nova.
4 comentários:
"CFA, a mulher do brinco"
Olá Mestre Plúvio,
Que bela compilação ali tem... Um dia bem que pode publicar um livro: O livro do baldinho da água fria. Para despejar em cima da cabeça dos palermas encartados.
Quando à bela resenha sobre a moça do brinco, acho que bem poderia ser a base de entendimento para a formação de um clube: CFA - Clube de embirradores
Imagino o que se diverte a compilar todo aquele material... Deve estar sempre com um sorriso de orelha a orelha...
Um belo sábado paar si, Mestre.
Escrevo só para dizer que achei absolutamente deliciosa a compilação do Plúvio. Bom fim de semana UJM, stay frosty. :)
Muito obrigado.
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