Dividida entre fazer o tapete ou falar do meu mundo, opto por voltar a entrar no meu heaven. Estou a rever o que já antes tinha visto, o documentário que mostra a paixão de Judi Dench por árvores. Uma coisa fascinante.
Cheguei no sábado já era noite. Tínhamos estado a passear à beira rio enquanto os miúdos estavam no Pavilhão do Conhecimento. Depois fomos lanchar com eles, demorámo-nos, conversámos, matei saudades e, de lá, seguimos para o campo.
Tinha estado a chover. Estava frio, uma noite de inverno.
Enquanto o meu marido andou a levar pedaços de madeira para a salamandra, andei a fotografar as laranjas lavadas pela chuva, as flores do vaso que está à porta despontando, um rosa viçoso no escuro da noite, um escuro iluminado por um intenso luar branco.
Depois, já ele tinha acabado, chamou-me, estava frio, não eram horas de andar ali na rua, às escuras. Não gosta de chegar de noite. E eu, lembrando-me, do bicho misterioso que por lá tinha andado, concordei que era melhor recolher-me.
Enquanto o meu marido andou a levar pedaços de madeira para a salamandra, andei a fotografar as laranjas lavadas pela chuva, as flores do vaso que está à porta despontando, um rosa viçoso no escuro da noite, um escuro iluminado por um intenso luar branco.
Depois, já ele tinha acabado, chamou-me, estava frio, não eram horas de andar ali na rua, às escuras. Não gosta de chegar de noite. E eu, lembrando-me, do bicho misterioso que por lá tinha andado, concordei que era melhor recolher-me.
Este domingo acordei tarde. Não há lugar no mundo onde durma tão bem. Parece que o meu corpo percebe que aqui, em dias assim, não tenho horários nem compromissos, estou por minha conta.
Quando estava a tomar o meu frutado pequeno almoço, chegou o meu marido. Madruga, ele. Anda pelos caminhos silenciosos da manhã, vê o levantar do dia, vê o orvalho, vê as cores lindas da natureza. Diz sempre que não sei o que perco. Não sei mas acho que sou capaz de adivinhar. Desta vez, como era bem tarde, depois do seu passeio, já tinha andado de volta das árvores com aquelas ferramentas que o meu filho lhe ofereceu pelo Natal e que o traz viciado. É ele que diz: esta coisa é viciante. Vinha com um serrote telescópico. pode serrar troncos que estão nas alturas.
Logo de seguida fui eu que fui passear. Devia dizer caminhar pois devia ter caminhado, andado apressadamente, compenetrada no acto de caminhar. Mas sou uma diletante. Parece que não consigo concentrar-me nos deveres quando tenho tentações a chamar por mim. E tudo aqui me tenta.
Um ninho aconchegado entre dois ramos. Há coisa mais bonita do que um ninho? Quanto trabalho ali está. Tão perfeito. Gostava de um dia conseguir ter tempo para ficar sentada num canto, imóvel, a observar estes pequenos seres que aqui habitam e que tanto se atarefam nas suas obrigações. Fazer uma casinha para porem os seus ovinhos, para nascerem os seus filhotinhos.
Continuo nas minhas observações vagarosas, atentas, à procura de mais casotinhas, de mais grutas, de novidades.
Não encontrei dois buracos na rocha, penso que já estão tapados pois a vegetação cresce vigorosamente. Até que descobri um. Intrigam-me. Um dia ainda arranjo uma câmara pequenina e enfio-a lá para dentro.
No outro dia os meninos levaram os troncos que resultaram do pinheiro grande que tombou e que eu tinha em volta da árvore que dá flores amarelas e de que agora não recordo o nome para junto do murinho verde. O ano passado já se tinha enchido de folhos vaporosos. Este ano está outra vez assim, engalanado, vistoso. O meu pinheiro reinventa-se, vivo, metamorfoseado.
Se calhar estas asas macias e quase douradas estão a querer decompor a madeira. Não faz mal. A transformação é, em si, uma forma de viver.
Mais à frente, umas coisinhas nunca antes vista. Ando mil vezes por aqui e mil vezes estas coisinhas por aqui devem ter estado e nunca antes tinha visto. Cega ao que desconheço, cega em relação ao que não procuro.
Agora como ando à espreita, baixo-me, aproximo-me, quase um gata vagarosa. Penso que sejam cogumelos. O que ainda resta deles. Quando digo que numa semana estáo lá, na semana seguinte desapareceram, se calhar se olhar melhor verei sempre isto. Mas nunca antes tinha visto. E isto encanta-me muito, esta permanente sucessão de surpresas. Esta terra é uma caixinha de surpresas. Uma arca do tesouro, de mil jóias, mil mil mil, muitas mil maravilhosas jóias.
Um ninho aconchegado entre dois ramos. Há coisa mais bonita do que um ninho? Quanto trabalho ali está. Tão perfeito. Gostava de um dia conseguir ter tempo para ficar sentada num canto, imóvel, a observar estes pequenos seres que aqui habitam e que tanto se atarefam nas suas obrigações. Fazer uma casinha para porem os seus ovinhos, para nascerem os seus filhotinhos.
Continuo nas minhas observações vagarosas, atentas, à procura de mais casotinhas, de mais grutas, de novidades.
Não encontrei dois buracos na rocha, penso que já estão tapados pois a vegetação cresce vigorosamente. Até que descobri um. Intrigam-me. Um dia ainda arranjo uma câmara pequenina e enfio-a lá para dentro.
No outro dia os meninos levaram os troncos que resultaram do pinheiro grande que tombou e que eu tinha em volta da árvore que dá flores amarelas e de que agora não recordo o nome para junto do murinho verde. O ano passado já se tinha enchido de folhos vaporosos. Este ano está outra vez assim, engalanado, vistoso. O meu pinheiro reinventa-se, vivo, metamorfoseado.
Se calhar estas asas macias e quase douradas estão a querer decompor a madeira. Não faz mal. A transformação é, em si, uma forma de viver.
Mais à frente, umas coisinhas nunca antes vista. Ando mil vezes por aqui e mil vezes estas coisinhas por aqui devem ter estado e nunca antes tinha visto. Cega ao que desconheço, cega em relação ao que não procuro.
Agora como ando à espreita, baixo-me, aproximo-me, quase um gata vagarosa. Penso que sejam cogumelos. O que ainda resta deles. Quando digo que numa semana estáo lá, na semana seguinte desapareceram, se calhar se olhar melhor verei sempre isto. Mas nunca antes tinha visto. E isto encanta-me muito, esta permanente sucessão de surpresas. Esta terra é uma caixinha de surpresas. Uma arca do tesouro, de mil jóias, mil mil mil, muitas mil maravilhosas jóias.
E depois, mais à frente, uma borboleta dourada pousada entre a caruma. Aproximei-me. Talvez não uma borboleta, talvez uma folha caída, uma sobrevivente do outono.
Mas não. Um belo cogumelo alado, pequeno, ali isolado, tão frágil, tão bonito, um pé fininho, tão desprotegido. Mas talvez aqui tudo se proteja entre si. Que sei eu do que aqui se passa?
Entretanto, outra novidade. À saída gruta grande, pegadas fundas. Deve fazer força nas patas para subir. E agora estão por todo o lado, até cá em cima, até no largo da capela. No musgo fofo, muito visíveis. Pegas grandes, fundas. A terra revolvida. Procura raízes, procura o quê?
De que tamanho é, onde vive? De noite está na gruta? Vive sozinho? Como foi lá para dentro?
Hoje reparei como uma reentrância de uma rocha havia água, ainda bastante água. Se calhar é ali que bebe água. Não assustará os coelhinhos? Os gatinhos? Só andará por ali de noite?
Tantas pegadas intrigam-me.
Entretanto, o alecrim, o rosmaninho, o alfazema estão a despontar. As florzinhas cheirosas e perfeitas começam a aparecer. Adoro-as como outros adoram santos, anjos, deuses. Adoro-as porque são simples, pacíficas, belas. incrivelmente perfeitas na sua inexplicável espontaneidade. Adoro-as porque me sinto feliz quando estou perto, quando as olho, quando as cheiro, quando as toco.
Tenho vontade de as apanhar para as ter comigo durante a semana, quando não há natureza perto de mim, apenas a memória de quando por aqui ando. Mas não. Deixo-as ficar, intactas, intactas na sua inocência.
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A todos quantos por aqui me acompanham desejo uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Be happy.
6 comentários:
Hi Heavenly Lady,
Ainda por aqui ando "netando" e deparei-me com este heavenly post.
Ontem esteve um dia gelado e com chuva, mas hoje abriu o sol, embora com algum vento (bom para arejar as ideias).
Eu nunca tinha visto esse doc da Judi Dench e achei fascinante (viu para que servem os cogumelos?).
Às vezes, quando me lembro, espreito a programação do dia e vejo o que há de interessante, a nível de filmes ou docs, na rtp-2 e na rtp-Memória.
Ainda bem que fiz isso no Sábado.
Essa foto do ninho está uma maravilha.
Agora por aqui já se vêem imensos ninhos de cegonhas. Gosto muito de as ver sobrevoar a minha casota, e também algumas aves de rapina que não consigo identificar.
Semana Feliz!
Be happy too!
🌲L
Um dia tem que ir com seu JC (em bom) ver o sunrise: é do melhor que há, acredite.🌞
Que belo passeio, de encher a alma que é uma coisa tão boa que a natureza nos faz.
~CC~
É tudo uma beleza, por aí!
Beijinhos e uma boa semana:))
Olá Ms Tree Lover,
O meu J é madrugador, gosta de ver o sol nascer, gosta de ver os bosques em azul, as serras orvalhadas, essas coisas. Eu sou noctívaga, gosto é de luar, das sombras e dos silêncios da noite. Nada a fazer. E está bem assim.
Ver ninhos de cegonhas e o voo das grandes aves de rapina também é bonito.
Um dia feliz para si!
Olá ~CC~
A natureza é sempre uma maravilha. Mas a natureza que eu ajudei a nascer é, para mim, ainda mais. Olho as árvores grandes e lembro-me dos cuidados que tive para que não vergassem ao vento quando eram pequeninas, para que não secassem nos verões de canícula, para que não tombassem numa terra demasiado molhada quando chovia muito. Eu dizia, armada em filósofa: sabedoria é plantar árvores à sombra da qual nunca me sentarei. E afinal fui abençoada: cresceram depressa e posso sentar-me à sua sombra.
Um abraço, ~CC~
Olá Isabel,
E é mesmo... E o javali, pelos vistos, também anda a gostar pois vejo pegadas dele por todo o lado. Só estou para ver...
Beijinhos, Isabel.
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