terça-feira, janeiro 22, 2019

Não lhe vi um pingo de sangue. E, se não é branca, então que seja azul.




Tenho ideia que ouvi dizer que a lua está vermelha, tingida de sangue. Olho-a e vejo-a branca. O céu espraia-se em branco derramado sobre o rio. Estive à janela a ver a via láctea espelhada no tejo. O céu translúcido. Nem um pingo de sangue. Se calhar ouvi mal. Acontece-me estar a ouvir música na rádio enquanto atravesso a cidade e ir no meu comprimento de onda, pensando palavras, se calhar imaginando outras. 

Por vezes, quando chego ao meu destino, tento lembrar-me do que ouvi e do que pensei e, geralmente, nunca me lembro de nada. Acho que as palavras e a música que ouço se esvaem de mim e que as palavras que se vão juntando dentro de mim também se evadem, sem deixar rasto.

Olhei a lua durante parte do percurso: aqueles pontos brilhantes que se unem através de segmentos muito finos, uma geometria elegante -- tudo quase branco. Nem róseo, muito menos sanguíneo. Finíssimos desenhos em branco na face visível da lua. Sou muito ignorante mas sei que sou pelo que pensei que já deveria ter ido tentar saber o que há do lado de lá, no lado oculto, no lado B, mas não sou só ignorante, sou desinteressada do que me parece escuro e meio triste. Prefiro outros fragmentos e colagens. Poeiras lunares numa paisagem desolada, escura e fria, não é a minha praia. Xodós, lamentos, cantos, poemas destilados, bilhetinhos de amor -- isso sim, eu gosto, espero sempre por mais. Escritos por todos os apaixonados ou apenas por um, tanto me dá. 

Mas, enfim, não sei da lua senão que é branca, doce, e que ilumina com leite e mel os corações enamorados e que chama pelos amantes. Coisas assim, poéticas, sem utilidade outra que não a de fazer a gente sentir a alma mais humana, mais frágil, mais abraçada.

--------------------------------

Portanto, para concluir, posso é dizer que, se a lua não é branca, encarnada também não é. Fotografei-a de longe e de perto e confirmei: não lhe corre sangue nas veias nem a face visível está ruborizada. White ou quase white. Blanche. Mas dizer que está de um branco lunar não apenas é redundante como pode não ser correcto. Ponho-a, então, azul e trago aqui a outra blue moon. E chamo pela vossa companhia. Fiquemos aqui a contemplar as águas do rio, a ouvir os acordes cheios de noite.

E posso ainda acrescentar um outro pequeno despropósito: já converti em acto o presente da massagem que recebi pelo Natal. Entrei num lugar de luz verde, de vegetação tranquila e verde, de água a correr numa fonte, de música de aragem a dançar entre bambus, harpa, piano, sons muito límpidos.

No gabinete quase não havia luz, apenas uma luz muito levemente coada sobre o leito. E umas velas, perfumadas, num canto. E fui mandada despir-me toda. Toda? Toda, e fios, brincos, anéis. Recebi uma tanguinha de papel e deitei-me. E ao longo de uma hora, umas mãos cobertas de óleo foram percorrendo todo o meu corpo, ora com suavidade, ora com intensidade. Não sei se a música foi cambiando. Estive de olhos fechados e sem ouvir nada, sem dizer nada, entregue apenas à sensação boa de umas mãos percorrendo o meu corpo. Quando acabou, deixei-me ficar. Tinham-me avisado: não se levante logo. Por isso, fiquei. Noutro comprimento de onda, descontraidíssima. Saí de lá a flutuar.

E agora vou outra vez pôr-me à janela a contemplar a blue moon sobre o rio.

-----------------------------------------------------------------------

Aquí te amo. 
En los oscuros pinos se desenreda el viento. 
Fosforece la luna sobre las aguas errantes. 
Andan días iguales persiguiéndose.
(...)
Pero la noche llega y comienza a cantarme. 
La luna hace girar su rodaje de sueño. 


----------------------------

3 comentários:

Anónimo disse...

Oh my dear Lady,
Mais um pedacito e este post ficava NSFW 😊
Então e as mãozinhas eram de dedos magros e longos de pianista, ou nem por isso?
(Nem me atrevo a perguntar se eram male or female hands...).
Adiante, foi bom e recomenda-se, não é verdade?
E o poema do Neruda, que maravilha... fiquei com vontade de rever o filme.
Quanto à Lua, hoje fui à varanda às 06h (sim, estava muito frio!) e vi-a, grande e bela, com um halo em tons de salmão claro, com nuvens a correr, mesmo a correr, defronte dela. Sublime!
E ali fiquei, feita tonta, a assistir ao espectáculo (a enregelar mas de alma quente) até clarear.
Há malucos/as para tudo, to say the least.

Dia Feliz!
🌲L

Um Jeito Manso disse...

Olá Ms Tree Lover

Pois não sei se as mãos eram grandes ou pequenas. Sei apenas que eram muito eficientes. Por isso, e temendo que ache a minha resposta NSFW, dir-lhe-ei apenas que é um outro caso em que o size doesn't matter.

Quanto à lua às 6 da manhã, pena que quando, daqui por uns dias, me levantar antes disso, já ela não esteja grandona e lindona para eu ter o prazer de a ver de madrugada. Vejo-agora um pouco antes dessa hora que também é bom.

E boas espreitadelas pelas matinais janelas!

Anónimo disse...

Ah eu estava a brincar, comparado com alguns que às vezes aqui põe, este é mesmo para todas as idades 😄
Essa do size doesn't matter, maybe you're right, maybe you're wrong, sei lá...
Mais l'important c'est l'amour (pense je de quoi) 😏
Quanto à Lua Cheia, todos os meses há uma, às vezes duas (a tal Blue) e é sempre belíssima de ver...

Have a glorious day!
🌲 & 🌔 Lover