segunda-feira, julho 31, 2017

Não sei se a praia este domingo esteve parecida com esta que aqui mostro.
Não pus lá o pés: andei à carumba


Não sei como terá estado a praia por cá. A minha praia hoje foi outra. Resolvemos fazer uma leve tentativa de domar a natureza que, pelas nossas bandas, se afirma com uma pujança desenfreada.
O meu vizinho da ponta da rua há tempos falava da carumba que os pinheiros deitam. Na altura, pensei que era mais uma das dele. Achei graça e passei a dizer carumba por graça. Afinal, agora fui ao Priberam e, para meu espanto, existe mesmo a palavra. Tanto se pode dizer caruma como carumba. Pensei cá para com os meus inexistentes botões: toma e embrulha para não andares a gozar, pensando que o vizinho inventa palavras...
Bem. Dizia eu que. 

Eu, que até gosto de caminhar sobre chão atapetado por ela, achei que devia apanhá-la, pelo menos à volta de casa. Uma tarefa sem fim. Apanhei carrinhos e carrinhos e, enquanto andava naquela fona, ia pensando que estava era bem escarumbada porque nem que todos os dias fizesse uma hora a varrer não haveria de me ver livre dela. 

A ver é se amanhã não estou completamente desasada porque varri que me fartei, a pá é pesada e porque virar um carrinho cheio para o despejar não é pêra mole -- e porque não faço ginásio nem sou camponesa que se preze e, portanto, os meus músculos e articulações não estão ginasticados para empreitadas tão violentas. 

Além do mais, depois também resolvi serrar pernadas de pinheiro que estavam mais baixas e os ramos eram grossos e pimba-pimba-pimba, serrote para cá, serrote para lá,  e é preciso muita força de braços para dar conta do recado. De lenhadora apenas tenho a ambição de ser -- de resto, tenho que reconhecer, falta-me arcaboiço. É que me falta mesmo.

Enquanto isso, o meu marido dedicava-se a trabalho mais duro. Vestiu umas calças velhas 
(digo isto pois, quando fui ajudá-lo, correu comigo dizendo, e cito, 'as silvas picam que se fartam e só uma pessoa passada da cabeça é que aparecia aqui assim' -- nb: obviamente eu estava de fato de banho já que, com o calor que estava, outra toilette não me seria suportável) 
e foi lá para baixo ver se dava conta de um silvado que já tinha subido pela barreira, silvas que parecem lianas grossas e com metros de comprido. Ele corta e puxa, puxa com toda a força que as malvadas enleiam-se umas nas outras, enleiam-se na ameixeira e na figueira, e elas parece que não acabam. No fim, tinha um monte de silvas e mato que destruiu e enrolou. 

E ainda veio ajudar-me a acabar a última e mais grossa pernada do pinheiro que eu já estava com pouco rendimento. Depois, tirou-lhes os ramos fininhos e levou-os para o buraco onde se põe o mato cortado, e os ramos grossos ficaram cá em cima para os cortar para uma próxima e servirem de lenha para o inverno.

Só almoçámos lá para as duas e tal, depois de um belo banho. A seguir ao almoço, como seria expectável, deixámo-nos dormir.

Depois ainda apanhei umas ramadas de eucalipto e de alecrim para levar à minha mãe -- um ramo tão cheiroso, um perfume a campo e a ar limpo que dava gosto. E que, ao recebê-lo, a deixou toda contente.


Agora que já passa das onze da noite, já fizémos as nossas visitas familiares, já fiz uma máquina de roupa, já fiz sopa e adiantei comida, já fiz arrumações e já passei um brilhozinho nas unhas.

E, portanto, agora que terminei a jornada, posso dar-me ao luxo de estar na preguiçota, folheando onlines, vagueando pelo mundo.

E, nesta flanação, fui dar com uma imagem inenarrável. Olha-se e não se acredita. O que leva as pessoas a enfiarem-se numa praia como a que aqui se vê, encostadas umas às outras, na maior promiscuidade? E tudo de bóia. Para que será a bóia? Até dá a ideia de terem pé, e nadar também não conseguem... De loucos. Uma coisa assim parece-me um pesadelo. Como é que é possível?

Chinese tourists swim in the lake called the ‘Dead Sea of China’ in the resort of Suining.
(The Guardian)

Caneco. Muitas mil vezes andar a apanhar carumba ou a serrar pernadas de árvores em dia de calor do que entrar numa água que mais deve parecer uma canja carregada de miúdos -- pescoços, asas e patas a boiarem everywhere (senão mesmo cabeças com bicos e tudo...) --, com gente encostada por todos os lados. O mundo, em alguns dos seus pedaços, pode ser um lugar verdadeiramente atrofiante. Foge.

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E uma bela a semana a todos, a começar já por esta segunda-feira.

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