terça-feira, dezembro 27, 2016

Os robots sexuais estão para breve
(até porque os cálculos necessários para o sexo são pura matemática)
- e este é um mundo com que as Anas Avoilas, Mários Nogueiras e Arménios Carlos desta vida, distraídos como são, nem sonham
[e, quem diz este mundo, diz quase todos os outros]




Há notícias que deveriam ser lidas com pasmo. E, contudo, passam despercebidas. 

As notícias que calhou eu ver nesta segunda feira andaram à volta das trocas de presentes de natal -- reportagens em directo de alguns centros comerciais, clientes a explicarem que as trocas eram devidas a trocas de números ou a não terem gostado do que receberam, empregadas de lojas a explicar que se espera grande afluência aos saldos -- ou aos aumentos previsíveis de alguns bens ou serviços agora no início do ano. Tudo dito e redito em tom empolado como se de grandes notícias se tratasse. Acresceu a repetição ad nauseam de aspectos da vida e da carreira de George Michael. Depois algumas incursões a motivos bélicos ou aeronáuticos, tudo condimentado com sangue e lágrimas -- e pouco mais. 

Tirando isso, debates. Evitei-os, claro. Já não consigo. Atingi o ponto de saturação. Se vejo um Adolfo, um Ângelo, uma Mortágua ou um outro desses, imediatamente mudo de canal. Não acrescentam nada. Só poluem o éter com argumentos estafados, que cansam a paciência de quem os anda a ouvir desde que as televisões inventaram isto de que os portugueses gostam de ver encher chouriços.


Bem podem decorrer congressos sobre investigações relevantes para a vida das pessoas, bem podem ocorrer desenvolvimentos cruciais a nível científico, bem podem acontecer mil coisas relevantes para o progresso e para o conhecimento... que as televisões e os jornais não estão nem aí.

O mundo pode estar no limiar de um caminho que levará a civilização a um outro mundo, desconhecido, e nós, alienados humanos, conduzidos por medias estupidificantes, também nem aí.

Que os transportes estejam um dia destes entregues a máquinas que se conduzem sozinhas, dispensando milhares e milhares de trabalhadores, ou que as plataformas informáticas de todos os tipos estejam a atentar rapidamente contra sectores tradicionais (Booking et al. versus agências de viagens, Airbnb versus hotéis, Uber versus taxis, etc, etc) ou que as fotografias que tiramos com o telemóvel estejam, sem o sabermos, na nuvem, indicando data, hora e local onde foram feitas, ou que todos os nossos passos sejam rastreáveis de várias maneiras, ou que o nosso correio electrónico seja 'varrido' por robots para que diversas empresas saibam junto de quem anunciar os seus produtos --- nada disto nos faz tocar campainhas.


Os sindicatos, cheios de gente que não se esforça por perceber o mundo, continuam agarrados a temas imediatos sem acautelarem minimamente os interesses dos trabalhadores num futuro próximo.

Os meios académicos que, presumo, estejam mais do que despertos para esta realidade que já aí está, continuam fechados sobre si próprios sem saberem como comunicar com a sociedade (ou sem meios para o poderem fazer).

E a comunicação social, cheia de caniches permanentemente a correrem atrás da própria cauda, não se dá conta que o mundo sobre o qual focam as câmaras é o mundo velho do consumismo barato, das modas inúteis, do pensamento gasto.


E vêm todos estes meus desabafos a propósito da notícia de que teve lugar, agora em Dezembro, em Londres, o Segundo Congresso Internacional sobre o Amor e o Sexo com Robots (SECOND INTERNATIONAL CONGRESS ON LOVE AND SEX WITH ROBOTS -- 19-20 DECEMBER 2016 -- GOLDSMITHS, UNIVERSITY OF LONDON, UK). Não foi uma daquelas feiras disparatadas com Cicciolinas a metro e dildos animados. Não. Foi organizado por uma universidade e contou com apresentações a cargo de diversos investigadores e os tópicos incidiram sobre:


Robot Emotions, Humanoid Robots, Clone Robots, Entertainment Robots, Robot Personalities, Teledildonics, Intelligent Electronic Sex Hardware, Gender Approaches, Affective Approaches, Psychological Approaches, Sociological Approaches, Roboethics, Philosophical Approaches


Não estamos a falar de futurismo já que uma das mais conhecidas fábricas de 'bonecas do amor' anuncia que, já em 2017, vai ter à venda robots sexuais com aparência humana. Não as vulgares bonecas insufladas ou bonecas humanizadas do tipo Real Dolls mas bonecas 'inteligentes'. As vantagens que referem dos parceiros robots sobre parceiros humanos são inúmeras desde o não adoecerem, não haver conflitos, ciúmes ou vinganças, poderem ser 'customizadas' à vontade do freguês (mais interventiva ou mais passiva, mais doce ou mais atrevida). E há robots homens e mulheres embora se espere (porque será...?) que a de humanóides femininos seja superor.


Os investigadores falam em que, face aos avanços fantásticos nos domínios da inteligência artificial e da interacção computador/humanos é de esperar que a ciência caminhe cada vez mais no sentido de incorporar nos sistemas que alimentam os robots humanóides mecanismos que simulem ou reproduzam emoções. Assim, dizem, é razoável esperar que, dentro de duas ou três décadas, se esteja a regulamentar o casamento entre humanos e robots ou a falar em 4º género para enquadrar os 'seres' assim construídos.

Uma das inovações que deu que falar foi o que parece ser uma tontice: o Kissenger, um dispositivo que permite simular a sensação do beijo e que tem, para já, como público alvo os que mantêm relacionamentos à distância. Cada um dos membros do casal encosta o dispositivo à boca e beija-o. Os seus movimentos são transmitidos para o parceiro e o mesmo se passa com ele, ou seja, supostamente os lábios do dispositivo reproduzem o que o outro está a fazer. Visto em filme parece um disparate. Contudo, para quem não pode beijar-se de outra forma, pode parecer uma alternativa válida. Para cada descoberta há sempre uma razão que parece válida. A questão é que, daí, é fácil passar para a subversão das intenções. Por exemplo, o Kissenger existe também na versão humano/robot em que uma pessoa pode simular um beijo com alguém do mundo virtual, um mero personagem de ficção ou, mesmo, com um robot.


Portanto... É isto: os homens a fazerem máquinas para os substituirem em todas as vertentes da vida (desde a profissional à afectiva). Um mundo desregulado em que talvez alguns humanos consigam sobreviver. Alguns. Talvez.

É ver os vídeos abaixo: este é o estranho futuro próximo

NB: Contêm imagens chocantes




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4 comentários:

bea disse...

É verdade que os sindicalistas e a maioria das pessoas pensa apenas para o que é próximo, vê a árvore. Mas será que a robótica é o futuro de tudo?! Se acontecer, os homens desumanizam. Que qualquer mulher ou homem, com seus cansaços e esgares, recusas e consentimentos, irritações e doçuras, ultrapassa largamente essa bonecagem. De uma pessoa podemos ser íntimos sem palavras, de um boneco nem com elas.
Mas admito que haja casos específicos, necessidades talvez estranhas, solidões extravagantes e grandes demais.

Corvo Negro disse...

Cara UJM, é um facto que a maioria das pessoas (eu incluído) não atribui grande importância a “estas modernices” e se preocupa mais com o imediatismo que com o futuro. É compreensível e é humano. Não sendo nós maioritariamente sumidades em nenhuma ciência (isso é coisa para os visionários de elevado QI e para os que não têm preocupações de como sobrevir na próxima década) vivemos e convivemos com a dura realidade do dia a dia para a qual temos que encontrar sentido e lógica de vida de humanos que somos. A vida que conhecemos, com a sua dureza e rudeza, com os seus múltiplos sentimentos expressos ou apenas interiorizados, e sobretudo com a imperiosa necessidade de encontrar e ganhar a energia de que diariamente precisamos para sobreviver (a simples ligação à tomada elétrica ainda não dá para humanos) conduz-nos à condição de seres frágeis, facilmente perecíveis e altamente dependentes dos nossos atos e atitudes para sobrevivermos.

E é nesta questão última da sobrevivência que reside, no meu modesto entender, a “rejeição” natural, pelo comum dos humanos, por um futuro de robots, construído por robots, e comandado por robots que toca até o reino da fantasia. É que por cada modelo de robot que já se construiu, e que se continuará a construir, são e serão milhares de humanos que caem no desemprego, na fome, na luta pela tal da sobrevivência e nessa luta os robôs não vão levar a melhor. A não ser que….. por cada robot que se construa, os Estados encontrem uma forma engenhosa de cobrar um “fee”, uma taxa ou um imposto sobre a produção robótica que permita alimentar os humanos sem produzirem.
Lamento desta vez não estar de acordo consigo.
Desejo-lhe Boas Festas - CN

Anónimo disse...

Como diria a minha avó "é o fim do mundo em cuecas"

ahahahahah

beijos

GG

P. disse...

A esses nomes que mencionou, alguns que até nem gosta de ouvir, porque não acrescentar outros, como, por exemplo, essa figura sindical, uma espécie de enfeite de Natal, para ornamentar a árvore dos governos laranja, azul, ou rosa, como é o caso de Carlos Silva, da UGT (como já sucedia com o seu antecessor), ou ainda António Saraiva, da CIP, a quem nunca ouvi qualquer preocupação relativa à precariedade laboral praticada por inúmeras empresas portuguesas (e estrangeiras até), sobretudo as maiores e mesmo de conceituados escritórios de advogados e de consultadoria, que contratam a prazo limitado, com salários baixos, a recibos verdes, mas obrigando esses trabalhadores, que por definição legal são “trabalhadores independentes”, mas acabam por ser obrigados a cumprir horários, na maioria das vezes acima das 8 horas diárias (tenho exemplos desses casos na família), que ou aceitam ou vão para a rua, sem direito a férias, que lhes são concedidas a título de favor, ou então é-lhes concedido o mês de férias, não pago, após o que se faz novo contrato de trabalho. E poderíamos ir por aí fora, como, por exemplo, JM Júdice, que do alto da sua “cândura”, vem ontem propor, perante uma seráfica Judite de Sousa, a aparar-lhe a conversa fiada, uma outra formula, surreal, que teria de assentar na boa vontade dos outros patrões, das maiores empresas, para, magnanimamente, aceitarem os 600 euros de salário mínimo nas suas empresas, chegando ao ponto de referir que achava que no seu escritório se pagava mais do que o salário mínimo, mas que iria conferir, já que não tinha a certeza, uma vez lá regressado, no dia seguinte. E poderíamos dar muitos outros exemplos. Deixo-lhe, “a título de curiosidade”, alguns números, no que respeita ao flagelo, actual, da tal precariedade laboral (números de um estudo sociológico sobre o assunto): cerca de 1 milhão de desempregados, ou seja, que na prática estão sem emprego, ou a receber o subsídio, ou tendo deixado de o receber, por já não terem direito a ele, ou porque ainda não conseguiram o primeiro emprego; cerca de 700 mil a recibos verdes, ou melhor, falsos recibos verdes, pois na prática não estão como trabalhadores independentes, pois são obrigados a cumprir horários fixos, que ultrapassam em muitos casos as horas legais de obrigatoriedade de prestar trabalhos (sabe que alguns dos mais conhecidos escritórios de advogados procedem desta forma?); e ainda cerca de 300 mil com trabalhos parciais, apenas algumas horas e mal pagas, para além daqueles/as que se têm de sujeitar a”cursos de formação”, que mais não são, na maioria dos casos, do que artifícios, truques, para disfarçar o desemprego em que essas pessoas se encontram, a ganhar entre 50 e 84 euros mensais (um amigo nosso teve de passar por essa humilhação), a par do subsídio de desemprego. E este subsídio, em muitos casos também, não reflecte o salário pago pelas empresas, que embora seja, por vezes, superior, não é declarado ao estado, para efeitos fiscais e de segurança social, praticando-se uma fraude e um crime punido por lei. São inúmeras as situações que conheço, deste tipo. Para já nem falar, noutros casos, ao nível das grandes empresas, muitas dessas a pagarem mal aos seus funcionários cá para baixo, mas a untarem generosamente as mãos dos seus gestores, que utilizam outros subterfúgios para não declararem os seus verdadeiros salários e colocarem parte deles em paraísos fiscais. Gestores esses que acabam por ser os responsáveis pela política de precariedade nessas suas empresas, que despedem sem um pingo de preocupação social, etc. E que nunca sofrem as agruras do desemprego, andando num placa giratória, de empresa para empresa, sempre de rabo super bem pago. É esta gente, UJM, que deve merecer o nosso desprezo e que se desligue o botão das TVs, de cada vez que palram umas tretas para empatar burguês. Bom Ano, com saúde e paz!
P.Rufino