quarta-feira, setembro 14, 2016

O triste fim do pouco europeu José Manuel Barroso, aquele que esqueceu o Durão no dia em que se marimbou para Portugal


Ora então muito bem, vamos lá. Não é que me apeteça mas acho que tem que ser.

Tento manter-me afastada da política nacional, em especial da que é alavancada por uma comunicação social que dá dó, mas nem sempre consigo. 

Passos Coelho arrasta a sua indigência intelectual por eventos sem qualquer interesse e lá vai a comunicação social atrás a pôr-lhe um microfone debaixo da boca sem que ninguém pareça incomodado por ele o usar como um babete para o qual pode bolsar insanidades à vontade. Anuncia diabos, resgates, buracos e, apesar de nunca acertar, ele continua a agourar como uma bruxa burra e decadente. 

A deslumbrada Cristas põe um chapéu de palha na cabeça e diz meia dúzia de bacoradas e aí estão as televisões e jornais a fazer manchetes.

Os spin doctors do PSD, CDS e sabe-se lá de quem mais (a quem até parece anedota chamar spin doctors dada a infantilidade do que fazem) vertem isco para a rede e é ver os media a morder o anzol, debatendo temas inventados como se fossem verdadeiros. 

Pelo meio acontecem fait divers que mostram a fraca qualidade das elites deste pobre País e dos quais já aqui falei:

  • o Lima, o ultrajado ex-assessor presidencial, por mesquinha vingança, desbronca-se e revela os podres do dono, dono esse que foi ministro, primeiro-ministro e presidente da república do País (as minúsculas não são lapso) e ficamos ainda mais ao corrente do que já sabíamos de quase certeza absoluta. O dono e a voz do dono não eram, afinal, pessoas sãs de cabeça (para além de terem um conceito enviesado do que é a ética. E não só).

  • o super-juíz Carlos Alexandre, auto-denominado  Saloio de Mação, com vocação para diácono e que, certamente, gostaria muito de ouvir confissões (tal como deve atingir picos de auto-satisfação ao ouvir, em casa, as escutas), numa curiosa entrevista evidenciou a sua índole e deixou os portugueses atónitos e preocupados por ver a mente pequenina, tortuosa e perigosa que ajuíza sobre grande parte dos grandes processos do País.

E ficou a saber-se que o cherne Barroso, essa outra fraca e esponjosa figura  -- que, por motivos que ainda se hão-de um dia perceber, conseguiu alcandorar-se a um cargo de relevo na União Europeia, empenhando-se, enquanto lá esteve em deteriorar a imagem europeia -- se deixou arregimentar pela Goldman Sachs, essa máquina-sombra de poder-paralelo que influencia, mina e subverte, a seu bel-prazer, os regimes em vigor, seja onde for.


Alguns de nós ficámos chocados -- pois não tinha sido a Goldman Sachs a, por exemplo, ajudar a mascarar as contas gregas para enganar justamente a Comissão Europeia?

Mas logo o PSD veio dizer que tinha sido bom, que a contratação era prestigiante. Tal como tinha sido prestigiante a sua deputada, ex-ministra, ir trabalhar para uma gestora de fundos do calibre da Arrows. Provavelmente como tinha sido prestigiante o ex-doutor Relvas agora ser banqueiro. E tal como Dias Loureiro era tão prestigiado que tinha assento no Conselho de Estado. São critérios. Durão Barroso deve, pois, ter sentido as costas quentinhas pelo apoio que os seus correlegionários lhe prestaram. Se é que ele quer saber desta gentinha para alguma coisa.

O que talvez Durão Barroso não estivesse à espera era da onda de indignação geral que se vem espalhando pela Europa. Mais: de manifestações de indignação agora passou-se a humilhação, pura e dura.

Os europeus
-- que viram, durante o consulado Barroso, a erosão da liderança, a agonia da independência económica e finaceira face aos fundos abutres e, em geral, face aos sacrossantos mercados e o definhamento da importância estratégica da Europa, olham agora para este pequeno sabujo que, em tempos, se prestou a ser a concierge dos que quiseram a guerra do Iraque e que, na primeira oportunidade se apressou a vender os seus contactos ao expoente máximo dos 'mercados' -- 
não estão dispostos a deixar passar em claro esta sua última manifestação de desprezo pela ética e pela honorabilidade.

Do mais alto ao mais humilde funcionário de Bruxelas, todos tiram o tapete da respeitabilidade a Barroso, mostrando desprezá-lo como a um qualquer vulgar promíscuo.


Não apenas afirmam retirar-lhe privilégios de tratamento como ameaçam retirar-lhe a faustosa reforma, e pedem-lhe que preste contas, que mostre o contrato, que se vergue -- mas que se vergue mesmo, que rasteje. E ele, habituado a vergar-se, aí está de novo. Agora escreve cartas, justifica-se, quase pede que não o castiguem. Humilham-no e ele, por dinheiro e porque gosta, sempre gostou, de estar perto de quem ele acha que tem poder, deixa-se humilhar, humilha-se por conta própria.

Em condições normais, um sujeito que foi o Presidente da Comissão Europeia seria tratado com honrarias e justa deferência. No caso de Durão Barroso é o contrário: é tratado como um vulgar vendido.


NB: Faço mal se deixar no ar a ideia de que todas as elites portuguesas são pífias. Não. Há gente honrada, muito capaz, leal ao País, com valores sérios, justos, bons. Há. O drama é a sua escassez.

A mentalidade mesquinha de parte da população portuguesa, da parte que vive da inveja soez e da má língua inconsequente, tem contribuído para afastar gente competente e para impedir que gente capaz se sujeite a ultrajes sistemáticos. Por isso, na política e nos cargos relevantes de governo da coisa pública acabam por ficar os bichos rastejantes, sem coluna vertebral, sem intelecto, sem moral, sem vergonha na cara.

Tenho pena.

E tenho para mim que só a educação mas uma educação a sério, uma educação para o conhecimento e para a modernidade, pode afastar o sarro que cobre a maneira de ser de parte da população portuguesa, aquela parte que gosta do ranço do juíz Carlos Alexandre, que ainda se revê na degradação que é hoje o PSD ou o CDS, aquela parte que consome acriticamente tudo o que a comunicação social vende, sejam aleivosias do Láparo, sejam mentiras, insinuações, transferências de futebol, crimes, violações ou divórcios de figuras públicas.


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Excepto as fotografias que circulam por aí, as outras imagens que usei provêm, como é bom de ver do saudoso blog We Have Kaos in the Garden

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E caso queiram saber qual a explicação para a generalizada onda de indignação que a situação de Durão Barroso está a provocar na comissão Europeia e arredores, queiram, por favor, ir ao encontro do inteligente Paulo Rangel.


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E, caso queiram lavar os olhos, desçam, por favor, até ao post já abaixo.


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7 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

Tente procurar imagens no blog Roi Ossos. Pode ser que encontre o que deseja.

bea disse...

Espero que arranquem as penas todas ao pavão.

Anónimo disse...

Talvez não saibam, por isso vos conto (se sabem desculpem a redundância!), Quando Barroso chegou à Comissão Europeia, a primeira coisa que fez foi "exigir" que mudassem a porta do gabinete; a razão ? Porque não queria de modo algum entrar pela mesma porta que o anterior presidente (Romano Prodi)...
Parece anedota... mas não é: Mudaram-lhe a porta !!

Anónimo disse...

Gostei de ir ver o Blogue "Roi Ossos", que não conhecia.
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Olá Fernando, boa noite,

Não conhecia e já me diverti a vê-lo. Contudo apresenta uma dificuldade. Penso que não põe etiquetas pois se quiser pesquisar alguma 'figurinha deprimente' em particular não vou lá dar directamente. Mas é um manancial a explorar.

Obrigada!

Um Jeito Manso disse...

Olá bea,

Nem sei se aquilo lá é um pavão. Mais um peru enxundioso. Mas sim, que o façam perder aquela basófia.

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo (da porta),

Essa história que conta é inacreditável. Que grande parvoíce. Mas seria porquê? Por alguma superstição ou por se achar mais importante que o outro? seja o que for, revela bem o calibre do parvalhão.

Gracias por nos contar essa anedota. Se souber mais, conte... Ok?