sexta-feira, junho 03, 2016

Um extraordinário arco temporal de mais de 5.000 anos que nos traz da adaga do túmulo de Tutankamon, que é de ferro extraterrestre, até aos tempos de hoje com robots a reproduzirem-se


O meu dia começou antes do sol raiar. Como sempre, espreitei o rio. O céu dava mostras de se querer dourar à aproximação do sol nascendo das águas.


Depois foram centenas de quilómetros, reunião, almoço de trabalho (e benza-o deus, que belo repasto -- e eu a ouvir dizer, pelo caminho, que o único remédio para perder peso é fechar a boca: está bem, está), depois, à tarde, mais centenas de quilómetros. Cheguei, deitei-no no sofá e trigo limpo, farinha amparo. Tiro e queda. Ia ouvindo os mails a chegarem, eu a rezar a  todos os santinhos que não fosse nada de especial que não era capaz de abrir os olhos para os ver, e naquela dormência ali ainda fiquei uma meia hora. Depois, já para o tardote, fui dar a minha little caminhada, a seguir ainda espreitei os mails pessoais e, agora que já jantei e já arrumei umas coisas, aqui estou. 

Sem saber de notícias, estive a dar um giro pelos onlines. Claro que não quero saber das despedidas do Portas do Parlamento (despedidas de quê, se mal lá pôs os pés?) nem de outras frioleiras. Quero saber, sim, de um outro assunto mas esse é daqueles que me derruba e que, pela minha impotência, me deixa sem ânimo para aqui voltar a falar dele. Por isso, parti em busca de alguma coisa diferente. E encontrei. Chamou-me a atenção a coincidência entre duas notícias surpreendentes, cada uma por seu motivo. E, lendo-as, penso que, se calhar, convencidos de que somos umas sumidades, que damos passos de gigantes, não passamos, afinal, de seres pouco dotados que não fazem senão dar little baby steps. Entre um objecto magnífico feito há mais de 5.000 anos e o que parecem ser uns brinquedos que se fazem sozinhos parecem não ter decorrido milénios.

E, no entanto, que autofágico mundo poderemos estar, levianamente, a construir.

No DN leio o seguinte:

A descoberta do túmulo de Tutankamon, em 1922, abriu uma nova era no estudo do Antigo Egito, mas passado quase um século, o túmulo do rapaz-faraó continua a ser fonte de surpresas para os cientistas. 


Desta vez, a novidade é esta: o ferro da lâmina de uma das adagas encontradas junto da múmia é extraterrestre. Mais de 3300 anos antes de Cristo, os construtores do túmulo usaram o material de um meteorito para homenagear o seu faraó morto, presenteando-o com um requintado objeto fúnebre que, literalmente, veio do espaço.


Encontrada em 1925, três anos depois da descoberta do próprio túmulo, a adaga, cujo punho está finamente decorado e recoberto a ouro, com um cristal incrustado, e que se encontra hoje depositada no Museu Egípcio do Cairo, chamou de imediato a atenção dos arqueólogos.

Por um lado, o ferro era muito raramente usado no Antigo Egito. Por outro, o seu aspeto era estranhamente homogéneo, e não havia sinal de ferrugem, como se seria de esperar num objeto de ferro que tinha estado mais de cinco milénios no túmulo, junto da múmia do faraó.

Durante décadas, especulou-se sobre a natureza do metal, colocando-se a certa altura a hipótese da sua origem espacial. Ela foi agora, justamente, confirmada no estudo publicado na revista científica Meteoritics & Planetary Science pela equipa coordenada por Daniela Cornelli, do Politécnico de Milão.



No Daily Mail leio uma notícia que está nos antípodas (e vai mesmo em inglês porque estou mais para lá do que para cá):

Now robots can have KIDS: Researchers create machines that 'mate' over wifi to create a 3D printed baby - and experts say they could be used to colonise Mars
On the right, the two parent robots can be seen near their 'baby,'
which is pictured left
  • The 'Robot Baby Project' mimics sexual reproduction to let robots 'evolve'
  • Parent robots can send their genomes through the Wi-Fi network to mate
  • A mechanism creates genome for offspring, randomly combining features
  • Eventually, they say, robots will 'develop their bodies through evolution'
Todo o artigo merece ser lido. Não é que não seja tema recorrente na investigação e até na literatura, (este dos robots se humanizarem, se reproduzirem, ganharem um poder que os humanos um dia deixem de ser capazes de controlar) mas a conjugação de tecnologias começa a convergir num sentido que pode levar a civilização por um caminho perigoso e, por absurdo e em extremo, levar a que o arco temporal habitado pelos humanos se interrompa.

Transcrevo apenas mais um excerto:

HOW ROBOTS 'REPRODUCE' 
  • Robots are put into an arena where they live, work, and reproduce.
  • The researchers motivate them to move toward a red light, where they can communicate and even mate.
  • Once they've evaluated each other and decide to reproduce, the robots send their genomes through the Wi-Fi network. 
  • A sexual reproduction mechanism then creates the genome for the offspring, randomly combining the features from the parents, including software (the brain) and hardware.
  • The code is then sent to a 3D printer to create the new parts. 
  • Through this process, the researchers say robots can autonomously 'develop their bodies through evolution,' making for successive generations that have more advanced physical and behavioural capabilities.


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 Lá em cima de Gabriel Fauré, Après un Reve, Cello and Piano

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1 comentário:

P. disse...

Parece que terão igualmente encontrado, algures perto de Jerusalém, o rascunho da Bíblia! Escrito em Aramaico, ao que parece. Embora faltando algumas páginas, quiçá de particular relevância (onde se referiria, supões-se, verdadeira idade de Maria – o que muito ajudaria a desfazer a dúvida se ela era da mesma idade que o Filho, ou mesmo mais nova, tendo em conta a forma como muitos grandes artistas a celebraram nas suas obras), os arqueólogos não desanimaram e prosseguem a investigação. É que, ao que tudo indica, o texto do papiro/rascunho em causa foi redigido com recurso a uma pena de um pássaro desconhecido na fauna da Antiguidade. Assim sendo, de onde veio o bicho? E como? Os cientistas já excluíram ter vindo de um meteorito, visto o pássaro não se poder alimentar ali, nem, sobretudo, pôr ovos, por falta de condições meteorológicas.
Agora mais a sério: o artigo é interessante. A ver no que vai dar!
Boa noite!
P.Rufino