domingo, dezembro 13, 2015

Natal: mixed feelings e etc.





Chega esta altura do ano e eu começo com vontade de procrastinar. A família é grande e mesmo que se convencione não dar muita coisa, a verdade é que é muita gente.

Para fazer compras, em cada lugar onde entro, está calor, há muita gente, se vou comprar roupa não há os números que quero ou as cores de que gosto, se vou comprar livros não encontro os que quero, se vou à procura de um empregado não os vejo ou tenho que me pôr na fila à espera da minha vez para fazer a pergunta, há muita gente nas caixas, se quero embalagens ou papel para embrulhar terei que ir para outro balcão, se me toca o telemóvel não o encontro dentro da carteira, no fim estou carregada, esbaforida, saturada - tudo uma canseira. 

Para além do mais, agora, para além de comprar os presentes que eu vou dar, tenho também que comprar os que a minha mãe vai dar porque ela diz que já não tem paciência para andar de loja em loja nem lhe apetece andar com carregos. Percebo-a, oh se a percebo.

O chão da sala da lareira já está cheio de sacos, os meus e os dela, e ainda faltam vários. E agora não sei quando vou ter tempo ou pachorra para os separar, os embrulhar, os organizar por destinatário, os esconder. Se este domingo vierem cá para casa, vai ser o caos pois terei que dar sumiço a tudo ao calhas nem sei para onde. 

Acresce que o meu marido me faz recomendações a toda a hora: que eu deveria arrumar não sei o quê, que eu deveria ir já fazendo não sei o quê e que é melhor começar já a comprar alguns ingredientes para o jantar não vá depois não haver - e eu penso em tudo o que tenho que fazer ou o que devia fazer e é tanta coisa que só me apetece não fazer nada. Ou, então, meter dois ou três dias de férias para me ocupar de tanta coisa, ou, melhor ainda, aproveitar esses dias de férias e fugir para espanha. 

Gosto desta altura do ano, que não se pense que não, e gosto quando tenho luzinhas a piscar em volta da lareira, na árvore de natal, em volta do big espelho que está por cima do aparador na sala de jantar, e a mesa de natal, toda aberta, posta para muita gente, e velas acesas, e toda a gente sorridente e os miúdos todos felizes, e a alegria deles a verem os brinquedos, e todo aquele ambiente de festa. Gosto. Gosto mesmo.

Mas esta coisa de ter que comprar os presentes é que me maça, cansa-me esta labuta.

Depois tento colocar-me em perspectiva e acho que estou a exagerar.
Um conhecido meu tem oito irmãos, todos têm filhos, em média três cada um, e os irmãos mais velhos já têm netos. Pelo Natal juntam-se todos em casa da mãe. E eu, quando ouço isto, solidarizo-me mentalmente com a pobre senhora - o que será ter tamanha carga de gente em casa e todos tão próximos, tanto filho, tanto neto e bisneto? Como é que se gere uma coisa destas? Sentam-se onde? No chão? Pergunto e ele diz que não, que corre bem, dividem-se por idades, os miúdos comem numa mesa grande que montam não sei onde, os adolescentes juntam-se e comem como num acampamento numa outra divisão, os mais velhos fazem nem sei como. Imagino a barafunda que é naquela casa. Ele diz que não. Conheço um outro, família igualmente numerosa: diz que a única solução neste momento é alugarem uma sala de hotel - que é mais impessoal mas que já não cabem todos numa casa normal. 
Por isso, quando penso nisto, acho que estou a armar-me em dondoca delicodoce porque eu, com um número tão comportável de pessoas próximas, para que estou para aqui a vitimizar-me?
Acho que, se calhar a diferença é que nestes casos, muitas das mulheres não trabalham e têm, ainda por cima, empregadas a tempo inteiro, enquanto eu pouco tempo livre tenho.

Seja como for, vendo bem, isto meu não é problema, o que é é excesso de frescura. Tanta gente que não tem família, que não tem trabalho, que não tem dinheiro - essas pessoas, sim, têm razão para se sentirem tristes nesta altura do ano. Ou os que estão doentes, com medo, ou os que perderam pessoas queridas há pouco tempo. Nestas alturas, as ausências pesam mais, as inseguranças e as fragilidades são mais agudas.

Por isso, o que é isto meu comparado com o que sentem essas pessoas? Mais valia é que eu estivesse calada. Se eu, ao menos, soubesse como confortar as pessoas que gostavam de sentir o calor, a alegria, o afecto que se respira nestas reuniões familiares em que há crianças e uma vivacidade contagiante. Mas não sei, acho que não sei - nem sei se é possível.


Portanto, pensando melhor, quando agora tiver que me entregar à maçadora tarefa de organizar os presentes que tenho ali distribuídos por sacos que estão espalhados no chão da sala, em vez de me apetecer fugir, a ver se me lembro que devo é sentir-me agradecida - e que, para tanta, tanta gente, todos os males fossem estes.

Ou seja, vou mas é ter pensamentos menos incomodados a propósito deste lado consumista associado ao natal, e vou mas é pensar em músicas, bailados, festejos e coisas boas.



“Rejoice, exult” – John Neumeier coreografa Christmas Oratorio de Bach
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E, caso queiram ver como está tão suavemente colorido o meu heaven, onde se está sempre tão bem, onde tudo parece tão perfeito, tão longe de tudo o que é artificial, queiram, por favor, descer até ao post já aqui a seguir.
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6 comentários:

Maria disse...

é por isso que nesta altura do campeonato já tenho tudo comprado ;)
GG

Olinda Melo disse...


Procrastinar. Sim, acho que seria o melhor nesta altura do ano.
Além da maçada das filas, de não encontrar o que se quer, etc. é
tudo muito caro. Depois do Natal e do Ano Novo temos a frustração
de verificar que fica tudo pelo menos a metade do preço. Mas, fazer
o quê? É assim que as coisas funcionam. É quase uma fatalidade.
A nossa sociedade de consumo não permite que seja de outra forma.
Criou-se esta estrutura mental de tal forma que já não conseguimos
desapegar-nos disto. Confesso que eu também adoro esta quadra.
A agitação, as cores, as luzes, a casa cheia de gente, os presentes,
os cheiros, enfim tudo. Então, é aguentar.
Desejo que o seu pai esteja já em casa, já recuperado para poder
festejar o Natal em família.
Bem, UJM, a noite já vai alta. Estou à espera de notícias da minha
filha que foi ao hospital com o namorado, que comeu qualquer coisa
estragada num restaurante. Vamos lá ver se não terá de ficar internado.

Bj
Olinda

Pôr do Sol disse...

...e tambem há aquelas familias que já foram numerosas e já só recordam essa agitação.
Agora a doença, o comudismo, o desmembrar constante, instala a solidão e o desejo constante de ibernação em épocas que o calendário determina alegres.
Pelas crianças, porque é forçoso criar-lhes o sentimento de familia e união, faz-se esforços hérculeos para mergulhar em multidões e decorações.
O consumismo,esse sim, faz a Festa.

Anónimo disse...

Mas o seu marido não a ajuda, UJM? Só dá "recomendações"??

Um Jeito Manso disse...

A todos,

A ver se consigo responder a cada comentário mas só mais logo o conseguirei. Ao anónimo/a que pergunta pelos contributos do meu marido, se conseguir, responderei através de um post autónomo pois a verdade tem que ser dita...

Obrigada e, em princípio, até já.

Um Jeito Manso disse...


Já passa da uma e meia da manhã, alonguei-me com o post em que falo do meu marido e agora já tenho que me ir deitar porque amanhã tenho que me levantar muito cedo. Mas, num instante, só para dizer à Olinda: o meu pai já está em casa, aquele ali é um resistente. esteve tão mal, tão mal, e agora já está bem melhor. Contudo, está fraco, tem pouco apetite. No sábado dizia-me que estava melhor mas que o sistema nervoso é que estava todo alterado. toma tanto comprimido que aquilo já o deixa ainda mais perturbado. mas se não tomar ainda é pior. Mas agora parece que está tudo controlado. É um equilíbrio frágil e sabemos bem que os riscos são mais do que muitos. Mas, enfim, enquanto o pai vai e vem, folgam as costas.

E à Pôr do Sol, sei bem do que fala mas a vida vai-se recompondo, a realidade vai-se ajeitando às novas circunstâncias e nem vale a pena a gente pensar no que já foi ou podia ter sido... O que temos é que tentar que vá indo sempre o melhor possível, tentando levar na 'desportiva', esperar que melhores tempos venham e ir indo em frente, na boa, sorrindo. Até pelos mais pequenos, é de fazer das tripas coração e tentar aproveitar a alegria deles. E para a frente é que é caminho. (A ver se arranjo tempo para lhe escrever um mail)

E à GG agradeço os links que me enviou e que vou encaminhar para algumas pessoas que sei que vão apreciar e aproveitar. As coisas que descobre...! Obrigada!

E um abraço a todos!