domingo, dezembro 13, 2015

Mistérios de amor





Sometimes a wind blows and you and I float in love and kiss forever in a darkness and the mysteries of love come clear and dance in light, in you, in me, and show that we are love


Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da
tarde.
Aves pernaltas, os bicos
mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.

.....

As fotografias foram feitas este sábado, in heaven.
Estava sol e o campo cheirava a lareiras ao longe e a caruma amortecida. Apanhei ramos de louro e de alecrim que me são muito úteis nos cozinhados. Apanhei também algumas laranjas. À minha passagem, apesar de eu caminhar como se caminhasse sobre nuvens, levantaram-se grandes pássaros de dentro das árvores e dos arbustos. Já não há vestígios dos cogumelos. Os pinheiros estão a deitar corpo que dá gosto. O pinheiro grande tem o tronco cada vez mais grosso, olho-o impressionada. As bagas das piracantas parecem pequenas bolas de carne madura. Depois, aninhei-me no sofá, o sol a bater em mim, estava a ler a biografia de Kafka e deixei-me dormir mas não foi que a vida dele fosse chata, eu é que estava com o sono atrasado. Quando acordei pus-me a pensar nas coisas boas da vida e, desde então, não tenho pensado noutra coisa.
(Na fotografia do meio, o que parece uma carpete ao sol é mesmo uma carpete ao sol.)

O poema é 'Amor no éter' de Adélia Prado

Antony & The Johnsons interpretam Mysteries of love

...

1 comentário:

Olinda Melo disse...


Não poderia recolher-me sem dar uma espreitadela a este
post. Cores maravilhosas essas do seu "in heaven", um
lugar encantado. Surpreendo-me sempre com esse manancial
policromático. E a sua perícia em captar essas imagens
é notável.
Vou indo, senão terei de tomar o pequeno-almoço consigo.

Bj
Olinda