segunda-feira, fevereiro 02, 2015

A ver se a Grécia presta atenção à douta opinião dos gravatinhas tugas para não se espalhar... [Parece que não há cão nem gato nem Duarte Marques ou Marques Mendes que não anteveja tragédias gregas à espreita atrás de cada acto de Tsipras ou do Varoufakis e que não aconselhe ou critique os seus excessos ou a sua inexperiência. Não era melhor estarem calados? Não percebem que ninguém lhes presta atenção?]


Confesso que pouca televisão tenho visto e poucos jornais tenho lido. 

O fim de semana passou a correr, tão preenchido foi - no sábado, a tarde foi dedicada à terceira idade e a noite ao marisco e este domingo foi à família toda, todos reunidos para a alegria do costume (de tarde, depois de um almoço de cozido e à vinda, enregelados, de um curto passeio, e ansiando pelo retemperador chá das cinco, passámos num chinês para comprar disfarces de carnaval para os miúdos e acabaram por vir também umas longas cabeleiras louras, umas encaracoladas costas abaixo e outras lisas, longas e quase platinadas, que fizeram a delícia das mulheres da casa; e só não vos mostro as nossas fotografias para não ficarem preocupados com a sanidade mental do sector feminino da minha família). 

Por isso, é apenas de relance que me vou apercebendo da saloice por parte dos tuga-espertos da coligação e respectivos papagaios de serviço. 

Ontem dei-me conta que o jota-rapaz das vírgulas tresmalhadas, um tal que não diz coisa com coisa e que nem a pouca coisa que diz se aproveita nem no estilo nem na substância, ia escrever (ou já escreveu) uma carta para o governo grego.

Pelo Natal há cá uma iniciativa dos CTT dirigida às crianças, que as incentiva a escrever uma carta ao Pai Natal. Pois este pobre, por algum retardamento, ainda está nessa, vai escrever uma carta para a Grécia, certamente a ver se recebe algum presente de volta. Até dá dó.

Não sei se naquela cabeça vazia passa a ideia peregrina de alguém vai abrir a carta e levá-lo a sério. Uma anedota. Um coitado a quem a comunicação social deveria ter feito a caridade de não divulgar tal palermice.

Li também que o catraio Mendes no sábado, na missa semanal na SIC, deu os seus palpites convencido que a sua influência chega até à Grécia; e este domingo à noite ouvi, durante um bocado, o datado Marcelo, pondo sempre a opinião na boca de outros para depois sentenciar uma inutilidade do alto da sua cátedra. 


Até dá vontade de rir, tamanho é o desfasamento temporal.

E agora dei um rápido giro (desculpem a expressão mas é que ainda estou sob o efeito da cabeleira loura costas abaixo) e a coisa esteve fraca. 

Dei com uns quantos e umas quantas a rodarem a bolsinha no trottoir, tudo tecendo considerações sobre os excessos de Varoufakis e sobre a aproximação de Tsipras à Rússia e rebéubéu pardais ao ninho. 

Pois eu só tenho uma coisa a dizer sobre esta rajada de novidade que se desencadeou na Grécia e ameaça sair da periferia para vir por aí fora: por enquanto para já, há aqui uma situação de base zero. Tudo novo. E o que é novo não deve ser visto com lentes velhas e relhas.

Ou seja, o que eu vejo é uma coisa a nascer do nada e que acho que deve ser vista com atenção, tentando perceber o que se está a passar e como poderemos fazer com que resulte. Pior do que estava não pode ser. Portanto, o benefício da dúvida, pelo menos, deverão merecer.

Parece-me gente inteligente, determinada, com uma generosidade grande e uma vontade genuína de fazer bem ao seu País. 

E, portanto, parecendo-me ver isto, calo-me e desejo que tenham sorte.

Pasmo quando vejo alguns artolas e anhucas portugueses, que não sabem fazer uma conta e para quem a matemática é uma ciência oculta, a sentenciarem que não há dinheiro para as medidas que o governo grego começou por tomar. Como se eles, pobres matematico-excluídos, percebessem de macro-economia ou de sistemas complexos. Ora, por outro lado, quer o ministro das finanças quer o primeiro-ministro são pessoas informadas, com formação de base na área dos números, gente com provas dadas. Qualquer deles não precisa que os nossos servis gravatinhas, calcinhas e catatuas lhes dêem explicações de aritmética.

Também acho que à frente da Comissão, do Parlamento e do BCE estão pessoas que não têm muito a ver com as lesmas da era Durão que quase deixaram implodir a Europa sem serem capazes de reagir, de calças na mão, sempre prontos a porem-se de gatas logo que a bardajona Merkel lhes lembrava que ali só ela falava grosso. 


Por isso, acho que a atitude sensata é esperar para ver e apoiar, no que for possível.

Quanto à história da dívida (o PSD já fez saber que não quer nem saber da Conferência sobre a Dívida), desde o início da crise que acho que o ataque que houve às dívidas soberanas e ao disparo das taxas de juro para valores estratosféricos deveria ter tido, desde o início, uma reacção forte e concertada. Se todos os que estavam a sofrer o ataque se tivessem unido - em vez de, quais virgens, se porem aos gritos em cima da cadeira, ai, ai, um rato! e ai, ai, que não temos nada a ver com a Grécia! - a esta hora não estávamos onde estamos, uma dívida muito superior ao que era, a economia arrasada, um desemprego absurdo, uma demografia de lástima, a sociedade desmotivada e apática.

Mas não. 

Passos Coelho não percebeu na altura, não percebeu durante e ainda não percebeu. Será banido da História sem ter percebido nada do que se passou. 

Só espero é que saia rapidamente de cena porque me envergonha. Tudo o que ele diz e a falta de maneiras com que o diz envergonha-me. 

É ele e o Cavaco. Estão bem um para o outro: para mal dos nossos pecados, são, sob todos os pontos de vista, uns zeros à esquerda. Não, corrijo: são um sinal negativo. Subtraem valor ao País. Uma lástima.

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Isto do novo Governo Grego que dá os seus primeiros passos tentando fazer um caminho novo faz-me lembrar o cachorrinho que tenta voltar para casa. E eu só espero que a Europa se una para os ajudar e não para os devorar. O vídeo abaixo mostra isso. E é uma ternura.

2015 Budweiser Super Bowl Commercial “Lost Dog”




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As imagens usadas para enfeitar o texto mostram obras de Paula Rego, a fantástica pintora e mulher Paula Rego que eu tanto admiro. 

A propósito: a revista Connaissance des Arts (734 - Fevrier 2015) tem um suplemento dedicado à Arte em Portugal, onde (por ocasião do seu 80º aniversário) se inclui justa referência à obra de Paula Rego. Dedica ainda generosas páginas à maravilhosa Azulejaria Portuguesa e a muito mais (como, por exemplo, a Helena Almeida de quem não sou grande fã - mas isso não interessa). E eu agradeço ao Leitor que tão generosamente mo fez chegar.


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2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do seu Post. Excelente e subscrevo. Objectivo e “right to the point”! Além de, como é habitual em si, muito bem escrito e ainda melhor exposto, com uma clareza que nos cativa. Quanto aos dois “analistas”, o Mendes e o “Cello”, aquilo são dois vómitos. Estou a divertir-me imenso com a atitude grega e a forma como decorrem os encontros com a rapaziada da Europa. O “Dwertyauxzvitçomnrkkhhqqnvmjgft”, julgo que é assim que se pronuncia o nome da criatura holandesa que ali foi a Atenas tentar amedrontar os helénicos, sem sucesso, saiu dali que nem basbaque. Julgava o finório que metia medo e punha a malta grega de joelhos, mas enganou-se. Quanto a Varoufakis, o tipo tem pinta, sabe ao que vai, sabe defender os interesses do seu governo e do seu povo e depois, com a sua forma de vestir, aquilo torna-se até divertido. É um tipo bem preparado, informal (até mantém o Blogue pessoal dele, que é interessante) e que, com o apoio do seu PM, o jovem Tsipras, que, também ele irá iniciar uma ronda europeia, acabarão por resolver a situação grega, naturalmente com algum sacrifício. Mas, estou em crer, sacrifícios que a médio e longo prazo irão beneficiar a maioria desfavorecida, ao contrário do que o seu antecessor se propunha, a exemplo destes estroinas que aqui temos, que corroem o país e respectivas economia, tecido social e industrial/comercial. As posições políticas de alguns arautos deste governo, expressas quer verbal, quer por escrito, são lamentáveis. Este governo faz-me lembrar um grupo de crentes muçulmanos, de joelhos a orar, mas enquanto naqueles é a sua religião que assim o exige e é de respeitar, no caso do actual governo, é a vassalagem, a servidão a Ângela Merkel, aos mercados, ao FMI, à Comissão, etc, que os leva a ajoelhar e apontar o cu para o azul estrelado. Até Maio, muita coisa irá suceder. Embora nisto de negociações tenha sempre de haver algumas cedências, não creio que no essencial o Siryza vá claudicar, com prejuízo de quem o elegeu com tanta esperança.
P.Rufino


Rosa Pinto disse...

Muito bem. Post e comentário.
Parabéns aos gregos pela lufada de ar fresco.

Boa noite.