terça-feira, dezembro 02, 2014

Sócrates é ou não culpado de corrupção, branqueamento de capitais e fuga ao fisco? Passei o dia a ler jornais e revistas e, face a tudo o que li, não detectei indícios de coisa nenhuma. Mas não sou fundamentalista nem devota de nenhum santo muito menos de Sócrates. O que o meu horóscopo diz explica o que me vai na mente


Como não tinha conseguido ler jornais ou revistas e, como esta semana estou em casa, passei o dia a ler o Expresso de fio a pavio, a Visão, a Sábado.

Da minha base de formação académica retenho ainda que apenas se podem construir deduções a partir de premissas se as premissas forem comprovadamente verdadeiras. Enquanto isso não acontecer, não vale a pena continuar.

  • De tudo o que li, apenas constato que Sócrates viveu em Paris em andares que eram propriedade de uma empresa do amigo que trabalha na área da imobiliária. Os juízes suspeitam que a história esteja mal contada mas, do que vi, os factos são que as casas são do outro e que Sócrates era inquilino ou hóspede. 
Entretanto, soube que Sócrates escreveu uma carta à RTP confirmando que a casa de Paris é do amigo, não dele. 

  • Também vi que a mãe herdou vasto património de um pai riquíssimo que deixou fortuna aos seus três filhos e que, recentemente, vendeu três andares à empresa do amigo do filho. O produto da venda deu ao filho. 
  • Li também o que já sabia mas que me voltou a impressionar. A mãe de Sócrates teve 3 filhos. Dois deles morreram de doença, a rapariga há mais de 20 anos e o mais velho há três anos, e o que está vivo, José Sócrates, está preso. Quem geria o património da senhora era o filho mais velho que morreu. É daqueles casos em que se pode dizer com propriedade que o dinheiro não traz felicidade e imagino o desalento e tristeza da senhora. 

Não vi mais qualquer informação concreta para além disto. Pediram informação a bancos na Suiça para poderem validar as suposições mas ainda não a receberam, pelo que ainda não confirmaram as suposições. De resto, os jornalistas sabem o que ele comeu ao pequeno almoço, almoço e jantar desde que está detido mas não me parece que isso venha ao caso.


Li também que há mais de 1 ano que Sócrates era escutado em permanência, chamadas privadas, tudo, uma devassa assustadora. 

Um dos filmes mais extraordinários que vi e que mais me tocou foi A Vida dos Outros, um filme que relatava o trabalho de um agente da Stasi a quem, a dada altura, foi atribuída a missão escutar tudo o que se passava na casa de um homem da cultura. Não havendo nada contra esse homem, a ideia era que alguma coisa havia de haver e que, portanto, mais valia passar a vigiá-lo. Instalaram escutas em casa e, a partir daí, o agente ouvia tudo, sabia toda a sua vida, uma coisa alarmante. Conseguiu corromper a mulher com quem esse escritor vivia, conseguiu que ela o traisse. Uma abjecção moral terrível, Depois houve um volte-face e o filme passou de arrepiante a tocante. Recomendo muito.

Depois de ter visto este filme, nunca mais me poderei esquecer do que é ter a vida devassada por agentes que fazem das escutas o seu modo de vida, que querem justificar o que fazem, que precisam de um motivo para mostrar serviço. E a devassa por que uma pessoa passa, tendo todas as suas conversas ouvidas, interpretadas, comentadas. 

Só em casos muito extremos tal devia acontecer, nunca como uma forma normal de investigação.


A VIDA DOS OUTROS


VENCEDOR DO OSCAR 2007 DE MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Realização de Florian Henckel von Donnersmarck, artistas principais: Ulrich Muehe, Sebastian Koch



Mas isto sou eu a pensar.

Tive aulas de Lógica, sempre foi matéria que me apaixonou. Detectar erros de raciocínio, falsas premissas, falsas deduções sempre foi um desafio que encarava (e encaro) com entusiasmo.

Mas, enfim, há sempre uma possibilidade: a de que não tenhamos em nossa posse todos os elementos de análise. Pode vir a surgir a prova que completa o puzzle. Há que estar receptivo a voltar a equacionar as teorias face a novos elementos que surjam. Mas, enquanto não existam novas informações, deveremos manter-nos fiéis à pureza da lógica.

Esta é a minha maneira de pensar.

No meio da ociosidade que foi esta segunda feira, sem encontrar nada de novo em tanta página que li, às tantas lembrei-me de espreitar o meu horóscopo. Transcrevo a parte que importa:


Astrologist Jennifer Angel on your daily outlook: December 1, 2014

In a perfect world, you would have every piece of information laid out in front of you to make an informed decision. Unfortunately this is not always possible, and sometimes, you have no other option than to just trust your instincts, and lucky for you, ruled by Moon, this is not a difficult task. Your intuition is stronger than you probably realize, and it can set you on the right path if you tune in and listen, especially as a full Moon approaches at the end of this week, which makes you even more astute.

Acho que já aqui o disse algumas vezes: sou muito intuitiva e fio-me imenso na minha intuição. Em tempos, trabalhei com um empresário que era fino como um rato, frio como uma lâmina, implacável. Pois bem, volta e meia, quando tinha dúvidas chamava-me, contava-me o que se passava e depois perguntava 'O que lhe diz a sua intuição?'.

Uma vez, num processo muito mediatizado, ele queria avançar com um processo crime contra um conhecido figurão da nossa praça, um que viria a ser ministro. Eu disse que não, que achava que era coisa para tribunal administrativo e nada mais. Seguiu o meu conselho. Não que eu não tivesse vontade de avançar para outros terrenos mas a minha intuição dizia-me que não ia conseguir nada, apenas desgaste emocional e desgaste financeiro.

Trabalhei com um outro, um com feitio miudinho, que ouvia a minha opinião mas dizia que não podia dar-me ouvidos se eu apenas tinha a minha intuição a justificar os meus intentos.

Eu própria achava que se calhar a minha intuição era coisa pouco credível, coisa a caminho dos dotes devinatórios. Até que, num curso de psicologia comportamental, o professor explicou que a intuição é um atalho da inteligência, é a forma de o raciocínio se processar sem ter que percorrer toda a cadeia dedutiva, bastando-lhe a correcta interpretação de marcadores. Aí passei a respeitar a minha intuição.

E é assim que, por um lado mantendo-me fiel às boas práticas da Lógica e, por outro, dando crédito à minha intuição, vou levando a minha vida. Não posso dizer que me tenha dado mal embora já, pelo menos uma vez, me tenha deixado guiar pela emoção e, dado haver crianças envolvidas, deixei que o meu lado racional tivesse sido submerso. Penso que cometi uma injustiça para com uma pessoa perante quem já me desculpei mas essa injustiça continua a pesar na minha consciência. Isso passou-se aqui, neste blogue, a propósito do caso Casa Pia e recebi uma vez um mail sentido de alguém a quem eu indirectamente me tinha referido como podendo ser culpado. Essa pessoa leu o que escrevi e foi tamanho o sofrimento que li nas palavras que me dirigiu por mail que ainda hoje não me perdoo.

Se é horrível deixar escapar um culpado, mil vezes pior é culpar um inocente. 


Por isso, sem preconceitos, vou esperar para ver o que dá isto do Sócrates. Ou seja, não alinharei em julgamentos antecipados, isso não.

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As imagens que usei não têm a ver com nada. Apenas gostei de ver a forma amorosa como Tim Flach fotografa animais. Há uma série de fotografias a que ele chamou More than Human e talvez seja assim de facto, haver mais humanidade nos animais do que em muita gente mas, enfim, isto não são horas para retirar a moral às histórias.

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1 comentário:

Anónimo disse...

https://www.facebook.com/hashtag/lifestory

um abraço

GG