sábado, maio 31, 2014

As casas em que já vivi. 'Oh as casas as casas as casas, mudas testemunhas da vida'


Este é o meu terceiro post desta noite. Apesar de perdida de sono, apesar de um dia inteiro de reuniões faladas em inglês, coisa que me deixa um bocado de cabeça feita em água, estou com vontade de escrever. Deve ser a minha forma de espairecer ao fim de uma semana cansativa.

Comecei aqui com um déjà vu, mais uns quantos chumbos do Constitucional a mais umas quantas normas inscritas no Orçamento. Temos um Governo que, desde o início, age à margem da lei: marimbar-se para a Constituição é uma das suas imagens de marca.
Enquanto escrevo isto, estou a ver Passos Coelho na televisão, rodeado de seguranças, autênticos gorilas, empurrando o repórter que o questiona sobre o assunto dos chumbos. Bonito. Não o mordeu como eu temia mas pôs os seguranças a empurrar o jornalista. Cada vez melhor. 
A seguir aluei-me, fui para o jardim, peguei em flores, centrei-me numa certa Rose de Granville, desfilei, deitei as mãos à poesia de António Ramos Rosa como quem mergulha as mãos na terra. Na terra de um jardim proibido, diga-se.

Mas isto é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.

Vou falar das casas onde já vivi. Lembrei-me de escrever isto ao ter nas mãos o terceiro número da revista Granta que, justamente, é dedicado à CASA. Para ilustrar o texto, vou colocar umas fotografias que tirei agora aqui à minha volta. Uma das fotografias mostra umas páginas da Granta (explico porque não tem a ver com a minha casa). A última fotografia foi tirada in heaven faz uma semana.



Marambaia - para nos acompanhar, por favor




A primeira casa de que me lembro foi a casa para a qual os meus pais foram viver quando se casaram. Era uma pequena moradia de rés do chão, tenho ideia que era geminada.

Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade

Ruy Belo

Era pintada de branco, talvez caiada. Por dentro era também branca. Mas lembro-me de a minha mãe remodelar a casa de banho e escolher pintá-la de um verde água muito claro e ela gostar muito e eu também. Tenho ideia que para ela aquilo foi uma coisas especial e isso contagiou-me. Ainda hoje recordo a alegria de termos uma casa de banho muito bonita, de um verde claro muito bonito. Eu brincava muito na rua. Perto da minha casa viviam duas gémeas que eram um ano mais velhas que eu e que tinham um irmão ainda mais velho. Eu adorava brincar com elas. Tinham um gato e vestiam o gato. Elas e o irmão brincavam muito com o gato mas, à distância, aquilo de que me lembro mais me parece que devia ser uma tortura para o pobre do gato. Andavam sempre com ele ao colo como se fosse uma boneca.

Eu era mesmo muito pequena, devia ter menos de quatro anos porque nem andava na escola infantil, ficava numa das minhas avós. A minha mãe, quando vinha das aulas, ia lá buscar-me e íamos as duas a pé até a um cruzamento onde o meu pai nos esperava de bicicleta, ia e vinha para a empresa de bicicleta. Caso a minha mãe achasse que o meu pai estava atrasado, fazia com o tacão do sapato uma cruz na areia do passeio e íamos andando. Por vezes, ele apanhava-nos. De longe já vinha a assobiar, jovial. Depois descia da bicicleta e vinha a andar ao nosso lado, levando a bicicleta de lado. Quando vejo as fotografias dos meus pais nessa altura, fico muito admirada. Têm um aspecto muito moderno. Jovens, bonitos, roupas actuais. Há uma fotografia que tenho na mesa de cabeceira em que estão ambos num estilo muito casual, de boné desportivo com uma pala comprida, grandes óculos escuros. Poderia ser uma fotografia de moda actual. 

Segue umas crianças,

acompanha, viva,
a sua alegria.


António Osório

Depois, os meus avós ofereceram um terreno aos filhos. Fizeram aí uma moradia. Os meus pais ainda aí vivem e foi aí que cresci e vivi até me casar. É uma casa com uma vista espectacular. De um lado a serra, do outro o mar. Depois, com a construção, o mar ficou escondido mas a serra ainda lá está à vista. Eu levantava-me e ia logo espreitar a serra.

Para o meu quarto dessa casa, a minha mãe mandou construir uma mobília a partir de uma revista. Era uma mobília baixa, de madeira clara, com espaço para escrever, com espaço para os livros, com muito espaço para os brinquedos.

Na parte da frente da casa há um jardim com rosas. Agora só tem rosas mas antes teve também cristas de galo, zínias, amores-perfeitos, brincos-de-princesa. O que eu adorava ver crescer as flores, ver as cores, a macieza das pétalas, o perfume.

Na parte de trás há o quintal com laranjeiras, videiras e um limoeiro. Agora tem relva a cobrir a terra e tem também flores mas, até certa altura, tinha uma horta. Tínhamos sempre tomates que cheiravam maravilhosamente. Eu gostava de os apanhar pois soltava-se um perfume irresistível quando se desprendiam do caule. Tínhamos também feijão verde, que o meu pai armava para treparem junto a umas canas que cruzava e enterrava na terra. E havia alfaces, cenouras, salsa, hortelã. Houve também uma altura em que lá tiveram uma pequena capoeira. Mas aquilo não era bem para eles. Ao princípio, o meu pai até engendrou um dispositivo para as galinhas terem sempre milho e água, especialmente quando íamos de férias. Mas era preciso andar sempre a limpar a capoeira e, sobretudo, depois, havia a cena de as matar e a coisa, ou pelo trabalho ou pela violência, não sei, acabou por não durar muito. A capoeira virou casinha de arrumação para as ferramentas e para as coisas do quintal (pás, ancinhos, mangueiras).

Sempre tive muitos amigos, rapazes e raparigas, e geralmente sempre me senti mais atraída por gente mal comportada. Brincava imenso com eles, na rua, por onde calhava. Um dos grandes amigos da altura já foi ministro e agora é deputado. Na altura já era bem comportado e, por isso, eu preferia o irmão que era mais maluco.

in GRANTA Nº3


Mais tarde mudámos o meu quarto, para uma mobília convencional. Nem sei porque foi. Ainda é a mobília que está no quarto. Agora dorme lá a minha mãe porque a cama do quarto dos meus pais foi substituída por uma cama articulada, daquelas eléctricas que sobem e descem, que se reclinam e que levantam ora a parte da cabeça ora a dos pés, ou ambas. Os miúdos acham um piadão à cama do meu pai.

Quando me casei, andávamos à procura de casa e não gostávamos de nada. Depois de viver numa casa com uma vista ampla, não conseguia ver-me enfiada numa casa sem graça, com vista para outras casas. Até que um dia nos falaram num apartamento num 15º andar, apenas quarto e sala, uma sala enorme, e cozinha e casa de banho. Para alugar. Fomos ver. Nem queria acreditar. Via a margem sul de ponta a ponta e o Tejo e Lisboa toda, uma vista assombrosa. Decidimos logo. 

Quer o quarto, quer a sala tinham janela envidraçada até abaixo com passagem para uma varanda. Eu levantava-me e ia logo ver o rio, ver o casario de Lisboa. Estivesse sol ou chuva, trovoada ou nevoeiro, a vista era sempre de cortar a respiração.

A minha filha ainda viveu lá até ao ano e meio.

Mas, com uma criança pequena, não apenas não havia quarto para ela como eu tinha pavor daquelas varandas. Um 15º andar é mesmo muito alto.

Tudo quanto está aqui, quer a
casa aí ao lado, quer esta parte
[a biblioteca], tudo isto está
construído com livros, não tem
tijolos, não tem nada disso

José Saramago, Blimunda

Por isso, mudámo-nos, desta vez para uma casa que comprámos, um andar espaçoso, cinco assoalhadas, boas varandas. A vista não era a mesma coisa, nem pensar, mas era ao lado de um jardim, numa zona central, perto de tudo. Algum tempo depois nasceu o meu filho e o colégio onde os pusemos também era quase ao lado.

Gostava da casa mas faltava-lhe a vista. Quando já não tínhamos onde pôr os livros, tivemos o pretexto para mudarmos de novo. Talvez há uns quinze anos descobri, por mero acaso, esta casa onde agora vivo. É um piso alto numa zona alta da cidade e é bem maior que a outra. A vista é outra vez espectacular, o rio a banhar-me as janelas. E há sítio para os milhares de livros.

Os meus filhos já cá não vivem mas os quartos deles estão como quando eles cá viviam. E fiz bem em manter os quartos pois não faltou muito até voltarem a ter ocupação e já não chegam. Quando se juntam cá a dormir, e não são todos ao mesmo tempo, já têm que se espalhar também pelos sofás-camas.

Gosto imenso desta minha casa. Está repleta de livros e de objectos de toda a espécie. O meu marido sempre teve o sonho de morar num loft, amplo e quase vazio. Não tem essa sorte porque eu ocupo todos os espaços. A casa é ampla e tento preservar espaço central livre mas, ainda assim, não há canto que não tenha uma coisa qualquer. Para os miúdos é o que a minha filha diz: um parque de diversões. E eu fico feliz. Esta é uma casa onde é bom estar e eu fico contente por sentir que a casa acolhe com hospitalidade e afecto os que aqui estão.

Como sou uma privilegiada, tenho uma segunda casa, uma casa no campo, in heaven. É também num sítio alto e tenho vista ampla e, de novo, tenho uma serra a zelar por mim. Temos esta casa no campo, a que eu pomposamente baptizei como quinta, há uns vinte anos e é para lá que fugimos sempre que podemos. Quando andávamos à procura, o meu marido tinha estabelecido uma regra: devia ser perto da primeira, no máximo a uma hora de distância. Em boa hora nos cingimos a essa regra. Num instante nos deslocamos entre uma e outra. 

Quando para lá fomos, os meus filhos eram miúdos, adoravam. Andavam de bicicleta, brincavam, levavam os amigos, brincavam com a nossa cadela querida. Depois, adolescentes, passaram a achar uma seca. Por fim, íamos apenas os dois e eles ficavam cá, na cidade. Eu tentava controlar a situação por telefone, ligavam do fixo quando chegavam a casa mas eu nunca estava descansada. Apanhei uns valentes sustos com o meu filho que se atrasava ou que se esquecia de ligar ou que estava em discotecas e não ouvia as minhas chamadas. Geralmente depois ficava furioso, 'bolas, mãe, doze chamadas!'. Muitas vezes, quando a minha filha já tinha ela saído de casa e ele ficava sozinho e não me ligava nem atendia o telefone, já eu estava a convencer o meu marido para, a meio da noite, ir ver se o descobríamos, quando ele ligava, cheio de sono. 

Agora voltaram a adorar estar na quinta, in heaven. E para os pimentinhas é um admirável mundo novo, caminhos, recantos, caruma, pinhas, bolotas, flores, figos, pedras, pássaros, tocas de coelho, espaço para jogarem à bola, abrigos feitos por todos, para a chuva ou para a sombra. 

E assim é o mundo que eu habito. Não sei se voltarei a mudar de casa. Não sinto necessidade disso e gosto muito delas mas sabe-se lá o que a vida nos reserva. 

Não guardo saudade das casas que deixei para trás. Não sou muito de guardar saudades. Gosto sempre mais do que estou a viver do que do que vivi. Aqui sinto-me bem, as minhas casas gostam de mim tal como eu gosto delas e acolhem com amor aqueles que eu amo - e isso é o mais importante.


O que por palavras nos está oculto
no silêncio crepita
na intimidade

José Tolentino Mendonça





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A primeira canção, Marambaia, é interpretada por Maria Bethânia e Omara Portuondo; a segunda, Luar do Sertão, é interpretada apenas por Maria Bethania.

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Relembro: se continuarem por aí abaixo, encontrarão mais umas quantas coisas de que talvez gostem.  Passa das duas da manhã, mal me tenho de olhos abertos pelo que não vou rever. Deve estar uma coisa jeitosa, tudo com letras a mais ou a menos e a pontuação uma desgraça. Relevem, está bem?

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo fim de semana!


9 comentários:

bob marley disse...

por mim vivia num quarto de hotel 5 estrelas, se tivesse hipóteses

como não levo nada quando partir, para mim os bens podem ser todos em aluguer, sem opção de aquisição

A Matéria dos Livros disse...

Belas casas, bela casa, cheia de livros, bonecas, cores e alegria (nota-se).

Um abraço.

Anónimo disse...

Alerta vermelho, alerta vermelho! Seguro avisa: "Habituem-se. Porque isto mudou."

Cara UJM,

Vinha cheia de boas intenções escrever sobre as casas em que vivi e a forma como a história da minha vida pode ser contada através das mudâncias de residência por que já passei. Isto um dia depois de ter tido uma das grandes derrotas da minha vida, daquelas como quando o Ronaldo via o Messi ganhar a Bola de Ouro, apesar de todo o seu esforço, treino e dedicação. Nada melhor do que falar de coisas light, quando nos acontece uma dessas, mas vi o Seguro agora na tv e não resisti.

No outro dia dizia, UJM, que tinha pena do Seguro. E eu disse-lhe que não tinha nenhuma, porque ele era um medíocre fraco e falso. Mas agora digo-lhe outra coisa, diferente: é um homem perigoso. Pior do que o Passos. Sim, pior. O Passos é uma maria-que-queria-ser-vedeta, incompetente e sem ideias, que não governa nada, porque não sabe de nada e, por isso, deixa que governem por ele (o FMI, a Merkel, o Vitor Gaspar, etc.). O Seguro sabe mais. Em toda a sua mediocridade, Seguro construiu uma posição forte no aparelho do partido, com os seus sorrisinhos forçados e guarda muito espaço para o ódio e o revanchismo. A forma como anunciou esta ideia das primárias abertas, o ódio com que disse aquela frase "habituem-se porque isto mudou", deixa muito a temer. Tenho sempre achado que o Seguro não prestava, mas seria melhor que o Coelho, porque sempre saberia um pouco mais, sempre teria alguma escola ideológica menos disparatada e seria mais ponderado. Apesar dos sorrisinhos forçados, via-o como uma ovelhinha frouxa, que não seria capaz de fazer grandes coisas, mas não faria grande mal. Mas agora vejo que é perigoso. O Costa é capaz de não dar conta dele, não sei. Oxalá consiga.

JV

Anónimo disse...

Um Post diferente e cativante. Também já vivemos em diversas casas, até assentarmos nesta, entre o mar e a serra. No meu caso, sempre procurei fugir da cidade, sobretudo Lisboa, que em minha opinião ficou, para o meu gosto, demasiado grande e populosa. Embora por razões de trabalho não possa deixar de a evitar. Seria incapaz hoje de lá voltar a viver. Embora goste da cidade, sobretudo a sua zona mais antiga e histórica.
Também não guardo muitas saudades das casas onde antes vivemos.
Mas, já tenho imensas saudades dos tempos em que passava férias quer na casa que meus pais tinham numa praia do Norte, quer da dos avós no Douro, quer na dos avós da Beira-Alta, quer até daquela que tínhamos no Porto, antes de meus pais terem vindo viver para Lisboa.
Faço uma diferença enorme entre as casas onde vivi com minha mulher e filhos, o que me importa hoje é esta onde vivo e as outras do meu passado de infância e adolescência. Destas ficou-me uma saudade imensa! Vá lá que se conservaram duas, onde ainda vamos com alguma regularidade. E ali recupero forças para aqui voltar, sempre que de lá venho. Tive a sorte de ter tido uma juventude feliz, com uns familiares, avós, tios, primos extraordinários. Daí as saudades desses tempos.
Sabe, sempre que lá vou, não deixo de passar no cemitério onde meus avós se encontram sepultados e ali deixar-lhes umas palavras dessa tal profunda saudade que ainda tenho desses tempos.
Quanto a casas, sempre preferi viver em casas grandes. Já sucedia com meus pais, talvez por sermos vários irmãos, com as casas dos avós e depois, quando a nossa vida foi melhorando, optei por casas com largos espaços interior e exterior, visto sempre me ter desagradado viver em andares. Hoje temos uma casa grande, que já foi partilhada com os filhos, mas, tal como aqui diz, os quartos deles continuam como se eles lá dormissem e sempre que aqui vêm visitar-nos reocupam-nos e volta a encher-se. E temos amigos que nos visitam e aqui dormem.
Não sei porquê, cada pessoa é diferente, mas sou incapaz de viver em espaços pequenos, ou num andar numa cidade. Enfim, até a crise um dia me atingir de forma demolidora, como a tantos, infelizmente, sei lá!
Um dos meus planos, como lhe disse anteriormente, é deixar tudo isto e mudar-me, uma vez mais, mas nesse caso de vez, para o interior, comprando uma das casas de meus avós e ali ficar até morrer, longe desta “civilização” onde tenho vivido há uns anos a esta parte. Um plano que vai criando raízes, aos poucos. Não me vejo a ficar por aqui, próximo da tal “civilização”, até aos 80, 90 anos. Longe disso!
P.Rufino


Um Jeito Manso disse...

Olá Bob,

Tenho uns amigos que têm mesmo muitas posses, casas de família e casas adquiridas por eles, casas enormes, óptimas. Pois agora meteram na cabeça desfazer-se de tudo e irem viver para um apartamento minúsculo ali para o Chiado ou coisa assim. Dizem que estão fartos de tanta chatice com tanta casa e de tanta trabalheira para manter aquilo tudo.

É o que diz. Não levamos nada.

Mas eu ainda tenho aquela coisa de deixar as coisas para os descendentes.

Mas percebo muito bem as pessoas que não querem ter nada. Apenas viver.

Um Jeito Manso disse...

Olá Leitora de A Matéria dos Livros,

Obrigada. É verdade. Os espaços que habito têm cor, alegria, vida.

Aquela boneca era da minha filha e, tal como tantas coisas dela e do meu filho, agora saem à cena. Estão nos quartos deles e os miúdos vão lá buscar os brinquedos e depois acabam por ir ficando espalhados por todo o lado. E eu já nem dou por isso. Ontem, quando fotografei, é que reparei, depois pensei que devia ir arrumar a boneca no quarto. Mas depois pensei, 'mas porquê?, que mal faz estar aqui?'

Já estive a ler o que escreveu também sobre a sua casa a propósito do nº 3 da Granta. Gostei de ler.

Um abraço, Leitora!

Um Jeito Manso disse...

Olá JV,

É verdade, dou-lhe razão. Aliás, acabei de escrever um texto em que até a referi e em que digo exactamente isto: o tipo não é flor que se cheire. Faço ideia as manobras de bastidores, as jogadas, as artimanhas que por ali se devem andar a engendrar. O PS do Seguro não é, definitivamente, o PS de que o País precisa.

Um abraço, JV.

PS: Sabe uma coisa? Quando a leio não vejo em si uma miúda mas alguém com uma cabeça muito estruturada, uma cabeça adulta. Ou será que está a estudar na Universidade Sénior...?

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Gostei muito de ler o que escreveu. Inclua memórias das suas casas de infância nos contos que anda a escrever... Inclua recordações dos seus avós. E um dia faça um blogue e publique essas memórias, essas histórias. Ia ser bom de ler.

Eu também guardo boas recordações das casas dos meus avós. Já aqui falei várias vezes delas. Tenho aqui comigo o cadeirão no qual o meu avô se sentava junto a uma janela em cujo parapeito estava uma viçosa avenca. E tenho o pequeno armário de portas de vidro em cima do qual havia um rádio grande, com a parte da frente numa espécie de tecido, rádio esse que também aqui tenho (estou in heaven). E tenho no quarto um lavatório de ferro com bacia de louça que era de outra avó. E tenho copos de vidro de cor que eu achava lindos. Tantas coisas. Recordo o lugar dessas coisas, recordo o uso que os meus avós lhes davam. Quis guardar isso perto de mim.

Não é que eu tenha saudades dessas casas, tenho é boas e doces memórias do que lá vivi.

Eu não consigo fazer planos a longo prazo. Prefiro que a vida me vá levando por onde quiser. Não sei como vou viver quando me reformar. Não sei se me acomodarei a ser uma reformada ou se partirei para outra. Ideias não me faltam. Mas sei lá se estarei em forma, se terei outras solicitações. Não sei. O tempo o dirá. Se conseguirei ter tempo para ler como gostaria, ou se me porei a escrever ou a fotografar ou a filmar. Ou se invento alguma. Não sei.

Mas não quererei ir para longe dos meus filhos. Gosto muito de estar junto deles e dos meus pimentinhas queridos que vão crescendo e a cujo crescimento, enquanto puder, acompanharei de perto. Sou intrinsecamente uma mãe e uma avó galinha (um bocado atípica mas enfim...)





Anónimo disse...

Engraçado, mas creio que o rádio antigo que pai comprou há muitos anos, ainda vivíamos no porto, era parecido com esse. Está hoje na casa da Beira-Alta. Um dia destes quando lá voltar vou ver se me lembro da marca para aqui lhe dizer.
Quanto a planos futuros, eu faço-os, embora sem a obrigatoriedade de ter de os cumprir à risca. Mas, no meu caso eu parto do seguinte princípio - onde não quero continuar a viver e onde quero viver o resto dos meus dias. O que é que eu gosto mais - e menos? E, nesse sentido, decido. Em nenhuma circunstãncia quero chegar a uma situação em que um dia diga, "mas afinal sou infeliz aqui por não me ter decidido em devido tempo em mudar. Para lhe dar um exemplo, meu pai, já numa avançada idade quis mudar-se para o Norte, ou Beira, de vez. Minha mãe preferia Lisboa, ou, quando muito, alternando, embora mais tempo por aqui. Até que, aos 80 e coisas meu pai decidiu bater o pé e ir lá para cima, já chegava de fazer a vontade sempre a minha mãe. E para lá foram, recentemente. Ora eu não passarei por isso. Até porque sou de ideias muito claras sobre o que gosto e não quero. Daí esta minha opção futura, que vou já mentalmente elaborando. Tenho planos para tudo, casa, ocupação, tudo. Enfim, de algum modo, isto também nos ajuda a distrair desta vida. Mas, quero, definitivamente, regressar aquilo que chamaria as minhas origens. O Norte, a Beira, etc. E não mais regressar aqui, a não ser muito ocasionalmente. Quanto aos filhos, aquilo que me preocupa é o seu bem-estar, por cá ou por lá por fora. Embora os prefira cá. Tenho sorte de eles, um dia, querem fazer um percurso para onde planeio viver, porque gostam muito daquilo.
Quanto a móveis e tudo o que preenche uma casa, acho que somos parecidos. Gostamos, eu e minha mulher, do que fomos adquirindo ao longo de uma vida, até do que nos foi dado e gostamos de preencher os epaços da nossa casa com tudo isso. Estas coisa fazem parte das nossas vivências. Uns amigos ricos que conhecemos, de cada vez que se mudam, entre Lisboa, Cascais, Londres, NY, etc, vendem a casa e recheio, tudo! E depois voltam a adquirir tudo de novo! Seria incapaz! Aquilo ofende-me. Nós e os objectos somos um todo, cada um com a sua história. Uma história comum, tantas vezes até com sentimentos.
Tenha uma boa e tranquila noite!
P.Rufino