terça-feira, agosto 14, 2012

As flores segundo Michel Houellebecq, Georgia O'Keeffe, Solve Sundsbo, Robert Mapplethorpe, Robert Buelteman, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade e Chavela Vargas


Para ouvir enquanto se lê - e para se ver a seguir (ou vice-versa)


Chavela Chaves - Flor de Azálea 

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Flor Azul - Pintura de Georgia O'Keeffe


As flores não passam de órgãos sexuais, de vaginas multicoloridas que adornam a superfície do mundo, entregues à lubricidade do mundo.



Fotografia de autor desconhecido


Os insectos e os homens, e também outros animais, parecem prosseguir objectivos, as suas deslocações são rápidas e orientadas, ao passo que as flores permanecem na luz, deslumbrantes e fixas.



Fotografia de Sølve Sundsbø


A beleza das flores é triste porque as flores são frágeis, e destinadas à morte, como tudo à face da terra, é claro, mas elas muitos particularmente.



Fotografia de Robert Mapplethorpe


A vontade de viver dos animais manifesta-se em transformações rápidas - uma humidificação do orifício, uma rigidez da haste, e mais tarde a emissão do líquido seminal.



Fotografia de Robert Mapplethorpe


A vontade de viver das flores manifesta-se na constituição de manchas de cor deslumbrantes, que cortam a banalidade esverdeada da paisagem natural.



Fotografia de Robert Buelteman


Sophia de Mello Breyner
Como uma flor vermelha




Fotografia de Sølve Sundsbø


                                           
                                                                   Tenho o nome de uma flor
                                                                   quando me chamas.
                                                                   Quando me tocas,
                                                                   nem eu sei
                                                                   se sou água, rapariga,
                                                                   ou algum pomar que atravessei






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Todo o texto escrito, em prosa, é da autoria de Michel Houellebecq e faz parte do livro 'O mapa e o território' traduzido por Pedro Tamen. O poema é de Eugénio de Andrade.

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Se ainda vos apetecer, muito gostaria de vos ter lá pelo meu Ginjal e Lisboa. A música é de Grieg numa inesperada interpretação e as minhas palavras voam em volta de um belo poema de José Bento.

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E já é terça feira. 
O que vos desejo é que seja um dia muito bom. E procurem a beleza. 

4 comentários:

Isabel disse...

A princípio estranhei, depois gostei.
Todo o post é bonito.
Gosto muito da Chavela Vargas e gostei do bailado.

Um beijinho e um bom dia.

jrd disse...

Olá,

Para não dizer que não falei de flores. Ainda que repetindo uma metáfora admirável de Roger Martin du Garde:

« Não sou como a abelha saqueadora que vai sugar uma flor e depois de outra. Sou como o negro escaravelho que se enclausura no seio de uma única rosa e vive nela até que ela feche as pétalas sobre ele e , abafado nesse aperto supremo, morre entre os braços da flor que elegeu».

Uma boa tarde para si

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Gosto de variar. Aquela do urso em bosque outonal era só para me divertir. Mas agora, em tempo de verão, apesar do dia hoje estar cinzento e tristonho, apetece-me estar dentro de água, a banhos, de molho, ao fresco, o que for nessa base. Por isso, ontem resolvi mudar para tons de tanque, daqueles em que nos dá vontade de mergulhar, azuis, verdes, amarelos, transparências.

Ontem, ao começar a ler aquele livro, vi aquela parte sobre as flores e isso deu-me vontade de escolher 'peças' de arte que invoquem ou retratem flores, desde músicas, a poemas, a pinturas ou fotografias., passando, claro, pela dita passagem do livro.

A Chavela Vargas, recentemente desaparecida, tinha uma voz apaixonada (aliás, de acordo com a sua própria vida) e gostei de encontrar aquela canção sobre flores cantada por ela.

Um beijinho, Isabel e muito obrigada pelas suas palavras!

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

O seu fantástico sentido de humor está em tudo, desde os seus posts (aquela sopa de massinhas por ordem alfabética é deliciosa, se me permite a ambiguidade), até à forma como começou o seu comentário 'para não dizer que não falei de flores'. Pôs-me logo a sorrir. Mas a metáfora que escolheu para 'cumprir' a tarefa é mesmo admirável. Não a conhecia nem sabia da vocação de Romeu do escaravelho mas vou registar. Gostei.

Obrigada e uma boa noite ou um bom dia consoante a hora a que me ler!