segunda-feira, agosto 13, 2012

1. Aula prática: Como se lavam Tapetes de Arraiolos? 2. Limpezas e arrumações com imagens da minha casa e das minhas pinturas 3. Excursão dentro de uma gruta e o imprevisto desenlace


Música, por favor


Prokofiev - Pedro e o Lobo


Dia atarefado todo o dia de hoje e, à noite, apeteceu-me acompanhar o fantástico mega concerto pop que foi o encerramento dos Jogos Olímpicos. Só a seguir estive a responder aos comentários o que, escrevendo eu como escrevo quando escrevo de gosto, faz com que só agora, perto das 2 da manhã, esteja aqui a começar o post de hoje.

Por isso, vou tentar ser rápida.

É raro o dia em que não haja pelo menos uma entrada aqui no UJM através da pesquisa 'Como se lavam tapetes de arraiolos?'. Já uma vez expliquei que há quem os lave na banheira e que diga que não é difícil, que se vai lavando e enrolando, mas eu, já que tenho essa possibilidade, lavo-os no chão, na rua, à porta de casa, in heaven, de mangueira e vassoura.

Como por esta altura do Verão é coisa que costumo fazer, desta vez documentei o acto para que o processo fique, aqui, mais explícito.



Estes dois tapetões estão junto a dois sofás na salinha da televisão.
Foram feitos à mão livre, sem desenho, inspirados no meu gosto por Mark Rothko
e seguem todo o preceito do ponto de Arraiolos


Primeiro passo o chão à mangueirada para não ser pior a emenda que o soneto, ou seja, para que não haja terra que, com a água, se transforme em lama. Depois do chão limpo, ponho os tapetes (ou as carpetes) no chão e molho-os bem. A seguir despejo detergente em pó de lavar à mão por cima e volto a pôr alguma água, para o dissolver. Depois, com uma vassoura rija, esfrego bem. Ando, descalça, em cima deles como se estivesse a varrer com força. Deixo ficar ali uns minutos a actuar e depois é só mangueirar para cima, água abundante, para tirar bem a espuma. 

E ficam ali ao sol a secar. Quando secam estão como novos, limpinhos, direitinhos, esticadinhos.

Adiante.

Voltei às arrumações e hoje mostro-vos aqui uma mesa de cabeceira do quarto do meu filho e a secretária do quarto da minha filha (tudo in heaven) .



Mesa de cabeceira do quarto do meu filho: peças de barro, um castiçal e uma galinha
 (que lá pus à revelia dele...)
Por trás, dado que ele sempre foi muito engagé,um quadro pintado por mim e
que era alusivo à desgraça humanitária em Darfur



Tampo da secretária (agora muito pouco usada) do quarto da minha filha:
castiçais, agendas, caixinhas e mais não sei o quê e, claro, um galo que também lá  pus
Por trás, quadro também pintado por mim com uma cidade e uma bailarina
a dançar em cima dos prédios (a minha filha sempre gostou muito de dançar) e,
 não me perguntem porquê, um galo (acho que eu gostava que houvesse um galo
a cantar no cimo do meu prédio, quando estou na cidade)


A seguir às lavagens e limpezas, parti, então, finalmente, à aventura. 

A mim juntou-se um ser bizarro que vocês podem achar que é uma espécie de porco estranho, com uns olhos salientes e um focinho façanhudo. Mas não, é um ser cauteloso que, dado conhecer as minhas intenções, resolveu pôr uma máscara.



(De facto, parte do tronco da minha figueira, na parte em que lhe foram serrados uns ramos)


A seguir desafiei outro ser bizarro, um bicho estranho, de boca aberta, que resolveu levar o filho, quase igual a ele, às cavalitas, e lá foram os dois.



(De facto uma das maravilhosas pedras saídas de dentro da terra.
Esta foi das que me deu muito gosto lavar, tirar a terra de dentro de cada buraco
- com um ferro comprido e com mangueira - descobrir a forma à medida que a terra ia saindo)


Depois, um outro ser juntou-se-nos. É Ariadne. Esta é medrosa, sempre a hesitar e a querer esconder-se de cada vez que eu me mexo. Faz-me andar ali, silenciosa, à sua volta, tentando que não se esgueire de vez.



Penso que é uma lagartixa com um rabo compridíssimo
 e e com uma bela cor ocre alaranjada nas patas de trás e na cauda


Assim, esta trupe, eu e estes seres que me acompanham quando saio nas minhas incursões in heaven, lá fomos. 



Gruta que faz as delícias do meu menininho mais crescido
e sobre a qual lhe invento muitas histórias, geralmente metendo coelhinhos


Há grutas por aqui. De lá, costumo ver sair coelhos. Umas são pequenas, outras grandes. 

Entrámos então por esta gruta adentro, eu, o ser bizarro com a máscara (ouviu dizer que íamos para uma gruta e apetrechou-se), o outro com o filho às cavalitas e Ariadne com as suas patas cor de laranja e cauda imensa.

A gruta avança em direcção ao interior da terra, há caminhos e labirintos, e, às tantas, quase não se vê a luz. À medida que se avança, o ar começa a ficar fresco, húmido. Mais à frente ouve-se a água a pingar. Percebo, então, que já devo ir sozinha. Algures os meus amigos ficaram perdidos nos escuros labirintos. Penso que talvez Ariadne tenha trazido o seu fio para que todos possamos depois descobrir a saída, ou, pelo menos eles, já que eu vou em busca do minotauro. 

Sozinha, avanço. Está muito escuro, muito fresco, muito silencioso. São caminhos assim os que nos conduzem até ao interior da terra, até ao interior de nós próprios. Gosto de percorrer estes caminhos. Não sei onde vão dar, não sei o que vou encontrar, não sei se estou sozinha, não sei se corro riscos. Avanço. Avanço sempre. Talvez este estreito e silencioso caminho vá ter ao centro do planeta, o local mais silencioso e triste do mundo, ou talvez vá ter ao outro lado do mundo, onde o clima e as gentes e os costumes são outros. Avanço.

Depois tudo começa a ficar mais escuro, o ar rarefeito, ouço um som que me assusta, uma respiração ou uma fala ou um lamento ou um riso, não sei se é a terra a respirar ou a queixar-se, ou se é algum ser que vive sem ar e sem luz, algures nos perdidos labirintos do fim do mundo.

Acho que perco a consciência.

Quando volto a acordar, sinto-me agasalhada, abraçada, aconchegada. Cheira-me a terra fértil, a cama de folhas caídas e encarnadas. Sinto-me bem aqui. Já não é o Verão quente do qual parti. Aqui cheira-me a Outono, há um friozinho bom no ar, aquela aragem expectante e feliz de Outono, de início de tempo de aulas, amigos novos, um prenúncio de chuvas. E eu estou quentinha, confortável, num colo macio e bom.

Abro os olhos e estou num bosque com belas cores de Outono, envolta em peles brancas e macias, ao colo de um grande urso. Olho-o. Tem uns olhos bons, amigos, muito meigos, e segura-me ao colo. Tão protector. Que bom. Fecho os olhos, tranquila, confiante. E começo, então, a sentir-me embalada.

**

(Amanhã voltarei ao Verão mas, por hoje, estou muito bem aqui, conforme podem ver na fotografia que ilustra o Um Jeito Manso, lá em cima)

**

Quanto a vocês, Caros leitores, o que espero é que tenham uma bela semana a começar já por esta segunda feira. 
Estejam nos braços de um enorme Teddy Bear ou em quaisquer outros ou em nenhuns, divirtam-se que eu tentarei fazer o mesmo, está bem?

10 comentários:

Isabel disse...

Adorei o post.
É muito bom ter assim espaço para lavar as carpetes e tapetes. De vez em quando vou também lavar uma muito grande, que tenho, à quintinha do meu irmão (não é de arraiolos). Mas aos poucos fui comprando o máximo possível, coisas que posso meter na máquina. É mais prático para quem mora num andar.

Adorei os seus quadros. São lindíssimos. São pintados a quê? Óleo? São os dois muito bonitos.
Também achei aquela "escultura" (a pedra) fantástica. Tirou-a assim da terra? E tem que altura mais ou menos? Parece grande. É uma criatura vinda do mar, que acabou por se perder na terra...

...E o texto não poderia terminar de forma mais imaginativa...

Gostei imenso!
(Ah! E os galitos...são giros! Ainda não fui buscar a minha colecção ao sotão...)

Um beijinho e continuação de boas férias.

jrd disse...

A receita é aplicável a tapetes de Arraiolos "made in china", daqueles que se vendem na feira de Carcavelos?
Que pergunta mais idiota... Mas sabe, assim que vi a lagartixa, fiquei perturbado, porque não suporto répteis, mesmo em simples fotografias.
Apesar do calor preferiria um ursinho de peluche, dos mais de vinte que existem cá em casa para nos fazer lembrar outros tempos.
Bom fim de tarde

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Tem razão: quando não se dispõe de um sítio onde se possa resolver o assunto à vassourada e mangueirada, mais vale facilitar.

Os meus quadros são pintados a acrílico. Por vezes junto uma massa de modelar para dar algum volume ou textura. Gosto muito de paredes velhas, muros mil vezes pintados e repintados e tento reproduzir isso em pintura e, por vezes, para riscar ou dar a ideia de erosão, junto essa pasta à tinta.

Ou por vezes posso juntar pó brilhante, purpurinas. Mas, regra geral uso tintas acrílicas pois têm uma boa secagem.

Mas pinto sem qualquer preocupação ou formação, Faço, simplesmente, o que me apetece. É das coisas que me dá uma maior sensação de liberdade, especialmente quando pinto telas de grandes dimensões. Acho que deve ser a mesma sensação que as crianças sentem quando têm uma parede (ou uma grande tela) e tintas e pincéis ou lápis de cor.

Gostei imenso do que disse daquela pedra, de ser uma criatura do mar que se perdeu na terra. Acho essa ideia maravilhosa. Deve ter talvez uns 70 cm de altura. Era assim quando foi tirada terra mas não se via logo pois estava toda envolta em terra, com os buracos preenchidos por terra. Limpá-la, ir descobrindo a forma, deixá-la assim é, para mim, uma coisa muito agradável de fazer. Depois ponho-as assim, presas ao chão com cimento, como se fossem esculturas. E não são?

Quanto aos galos, como vê, há-os por todo o lado...

Um beijinho, Isabel e não se preocupe com a falta de vista. Há óculos bem giros, que tornam bem sexy quem os usa...

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Não me fale, o meu Caro, em tapetes de Arraiolos made in China... Quem sabe os dias, meses, que se leva a fazer um tapete (já para não falar no custo das lãs), não consegue perceber como conseguem eles cá colocar tapetes àquele preço... E estão bem feitos e são de boa qualidade, são é de modelos simples de fazer. Mas não dá para acreditar. Só por amor à arte é que uma pessoa continua a fazê-los, sabendo que a concorrência é imbatível.

Mas no que se refere à colorida lagartixa, releve o facto de ela ser um réptil... Faça de conta que é apenas um bicharoco simpático do campo e que nem é roedor nem voa. Eu também não gosto dos ditos mas destas, tão pacíficas, ali ao sol, e muito assustadiças, coitadas.

Eu por cá, ursinhos e peluches em geral, só para aí uma meia dúzia mas bonecas são mais que as mães, e malas e malinhas, e coisas de paint ball, bicicletas, raquetes, etc, etc, ainda cá há também muito. Não as quiseram levar e eu não consegui desfazer-me de tudo isso. Mas não durou muito a que algumas coisas já estejam a ter, de novo, utilidade.

Boa noite ou bom dia, conforme a hora a que leia isto.

Isabel disse...

70cm...imaginava-a maior. Dá essa impressão. Mas é bonita. Para mim é uma escultura. A UJM teve "olho" para ver isso. Qualquer pessoa a deixaria passar...

Já leu o post? Foi por ler o seu texto e depois o da Matéria dos Livros, que me lembrei daquele que tinha escrito há dias.
É aborrecido ir perdendo capacidades, com a idade. Porque é disso que se trata: envelhecimento! Mas pronto...

Isabel disse...

Por ler o seu texto de ontem...

Um Jeito Manso disse...

Isabel,

Comigo, com a visão a idade traz-me uma coisa engraçada. Sou míope, ou seja, vejo mal ao longe. Desde a adolescência que isso apareceu. Ao princípio usava lentes de contacto mas depois, quando dei aulas, por causa do pó do giz, começaram a causar-me mau estar. Como sou vaidosa, nunca estive para usar óculos e, por isso, habituei-me a ver mal. Apenas no cinema e para conduzir uso óculos (e neste caso são óculos escuros, de dia, o que disfarça).

Para ver melhor ao longe, fecho um bocado os olhos (dizem que o célebre olhar sexy de Marilyn e outras resulta disso, de verem mal).

Mas, com a idade, que faz com que se veja pior ao perto, comigo dá-se o contrário. Vejo cada vez melhor ao longe. A sério. Comprovado. Umas dioptrias de treta.

No entanto, ao perto, que dantes via lindamente, agora, naquelas muito pequeninas, já tenho que me esforçar um pouco mas uma coisa ainda pouca.

Ou seja, nem tudo o que vem com a idade é mau...

Um beijinho, Isabel!

Olinda Melo disse...


Aqui estou eu, cara UJM.

Quem procura sempre alcança ou quem espera sempre alcança? what ever...

Agora já faço parte dos leitores que procuram saber como se lavam tapetes de arraiolos. Assim como faz, no chão, à mangueirada parece bastante fácil. Tem aí espaço para o fazer...

Assim como no seu blog há esta procura sobre tapetes de arraiolos, no meu é sobre xailes, xailes da fadista, disto e daquilo, onde se compram, como se fazem, etc.

Acompanhei-a, embora bastante atrasada, nesse seu passeio, na companhia desses seres que aí 'in heaven' fazem parte duma paisagem muito aproximada ao maravilhoso.

Bjs

Olinda

Olinda Melo disse...


aliás: whatever

:))

Um Jeito Manso disse...

Olá Olinda,

Comecei por tentar lavar na banheira como a senhora que me vende as lãs e faz as franjas me ensinou. Também não é complicado, cai-se desenrolando e lavando com o chuveiro mas é escovado à mão e acaba por ser mais cansativo e menos prático. Como tenho esta facilidade de fazer assim, na rua, com vassoura e mangueira, é prático e ficam uma maravilha, lavadinhos, secos ao sol.

Quanto às grutas e aos seres mágicos que habitam lá dentro (isto é, dentro de mim), dão para fazermos grandes festas - e dão para eu inventar montes de histórias que deliciam as crianças, especialmente o mais crescido, porque os outros ainda não captam bem o espírito da coisa.

Um beijinho, Olinda!