Música, por favor
Salute to Bach: - Oscar Peterson : Piano; NHOP : Double bass; Martin Drew : Drums
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Tive a casa cheia até tarde e só agora, ainda mais tarde e a más horas volto aqui. Passa da 1 da manhã, não estou na melhor forma física e seria inteligente ir-me deitar. Mas gosto sempre de aqui deixar qualquer pequeno apontamento - uma palavrinha, um sonzinho, uma imagem - para quem gosta de me visitar (com este calor, não podendo oferecer-vos uma bebida fresca, uns crepes recheados de gelado, ou uma outra qualquer petite chose, tem que ser isto...).
Estive agora a ver o noticiário: confirma-se a enorme adesão à greve dos médicos perante a compreensão da população, vejo depois a greve de professores em que alguns dizem que vivem numa situação precária há anos e anos e que agora temem ir para o desemprego, ouço que o homem que fez o parecer que deu o Relvas como quase licenciado agora se demitiu, constato que nem Relvas tem a hombridade de pintar a cara de preto e sair de fininho do Governo, nem Passos Coelho tem o acto de higiene de correr com ele, vejo que em Espanha (aqui tão perto de nós) as ruas estão a ferro e fogo, vejo, vejo, vejo... e pergunto-me em que momento é que a Europa se enganou no caminho e, em vez de seguir em frente, se enfiou neste beco sem saída.
Como é possível que esteja tudo tão mal em todo o lado? Que os lugares de poder estejam tomados por gente tão irremediavelmente medíocre? Em que momento os mais capazes se retiraram e deixaram o campo livre a esta gente desabilitada que anda a estragar o que tanta gente capaz levou tanto tempo a construir?
Como é possível que esteja tudo tão mal em todo o lado? Que os lugares de poder estejam tomados por gente tão irremediavelmente medíocre? Em que momento os mais capazes se retiraram e deixaram o campo livre a esta gente desabilitada que anda a estragar o que tanta gente capaz levou tanto tempo a construir?
É deprimente isto.
Por isso, não me apetece a esta hora dissertar sobre temas que me deixam tão indisposta.
Antes da casa de encher, estive, como de costume, atendendo telefonemas, respondendo a mails, preguiçando e, claro, de máquina em acção, como se estivesse a fazer reportagem num campo pejado de acção.
Claro que corro o risco de vos maçar pois que interesse pode ter andar a mostrar-vos o que tenho aqui à minha volta? Mas olhem, não me dá, neste momento, para mais nada e como eu gosto de ver livros e imagens de livros na casa das pessoas, faço de conta que vocês também acharão alguma piada...
Continuemos pois, com a vossa desculpa, em visita guiada pelos livros que me rodeiam aqui nesta sala.
Ana Luísa Amaral, Ana Marques Gastão, Nuno Júdice, Rui Caeiro, João Paulo Cotrim, António Ramos Rosa, José Alexandre Caldas Ribeiro, Revistas várias de poesia, etc |
Estes são os que estão na mesinha de apoio que está junto à mesa onde costumava escrever. Por isso, tem essencialmente livros de poesia. Poderão ver alguns que têm aparecido referidos no meu Ginjal. Tenho o hábito de, volta e meia, pegar num livro ao acaso, abrir ao acaso e ler um poema. Geralmente é assim que os selecciono para aquele meu outro blogue. A Poesia é, para mim, arte maior, a decantação e a síntese perfeitas. Preciso de me confrontar com a limpidez das palavras para me manter atenta à verdade íntima das coisas.
Depois, andando a custo e encostada, tentei apanhar o reflexo do rio na minha estante às ondas.
Contudo, na fotografia o efeito do reflexo da imagem azul perde-se. Em vez de se ver o rio que, de facto, se vê, na fotografia aparece como um reflexo de luz.
Aproveito para vos falar desta estante. Ao pé da minha casa anterior havia uma loja de móveis que essencialmente fornecia mobiliário para embaixadas. Tratava-se, claro, de mobiliário clássico. Tinha uma grande garagem por baixo que servia de armazém. Uma das vezes que lá fui, fiquei fascinada. Vi uma estante todas às ondas, incluindo o vidro, às curvas. Na altura achei que era extravagante demais para o meu gosto, que era cara e que era grande demais para o sítio que eu tinha livre. Tem dois metros e setenta de comprimento o que nem é muito mas era demais para o espaço que eu, na altura, tinha livre.
Mas a estante não me saía da cabeça e, então, lá readaptámos o espaço, lá cedemos à tentação. Entretanto já mudámos de casa e eu tinha pavor que algum vidro se partisse porque já não se arranja quem faça vidros curvos, com raio à medida, como estes. Mas a estante resistiu a cá está, linda, agora reflectindo o rio (que, lamentavelmente , não consegui captar nas fotografias).
Mas é uma estante um pouco frágil e tento não a sobrecarregar demais. Uma vez uma das prateleiras começou a abaular e eu receei que desmoronasse e que os livros, ao cairem, partissem o vidro. Por isso, agora ponho sempre uns deitados por cima dos outros na prateleira debaixo para ajudar a suster aquela prateleira tendencialmente periclitante.
Mas tenho todos os recantos aproveitados com móveis para guardar livros.
Esta é uma pequena estante onde guardo biografias, autobiografias ou crónicas, Não apanhei na fotografia a parte debaixo, pelo que pode dar a ideia que assenta directamente no chão mas não, tem por baixo uma gavetinha e a base do móvel. Agora está um bocado desfalcada porque no outro dia andava à procura de umas coisas, retirei de lá uns quantos livros e ainda não voltaram ao seu devido lugar. Em cima, apesar de aqui não se ver, tem um barco de madeira antigo, paixão do meu marido, em tempos homem do mar. Esta estante é como eu gosto delas, de linhas muito simples. Não tem portas de vidro, ao contrário da maioria das minhas estantes mas, como é pequena, limpa-se bem.
Bom, e acho que, por hoje, já chega de estantes. Para acabar, mostro-vos apenas um dos quadros que aqui tenho. Quando escolhemos pintura não vamos pelos nomes, nem pelas modas, nem pela lógica de investimento. Guiamo-nos simplesmente pelo nosso gosto. Uma vez, estávamos a passar na Plaza Mayor em Madrid e vimos um pintor de rua, um homem ainda jovem com 'pinta' de pintor, tímido, ou seja, não era daqueles que fazem pintura a metro para vender aos turistas e o fazem com espalhafato. Tinha os seus trabalhos metidos em pastas, não à vista. Pedi para me mostrar. Fiquei encantada. Gosto de pintura abstracta. Esta parecia-me uma parede gasta, pinturas sobrepostas, restos de vida. Comprámos.
Chegados cá, mandei fazer a moldura e aqui está a obra. Eu acho-a linda. Não foi cara, não foi adquirida em nenhuma galeria nem me lembro agora do nome do autor mas, para mim, o valor das coisas é aquele que nós lhes damos, não os que constam dos catálogos.
E pronto, já chega, não vos maço mais. A ver se amanhã estou mais inspirada e se começo mais cedo...
E, se ainda vos apetecer, muito gostaria de vos receber também lá no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras desiludem-se em volta de uma pequena poesia de Sophia. O cântico que se poderá, por lá, ouvir é ainda Salieri.
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E, se ainda vos apetecer, muito gostaria de vos receber também lá no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras desiludem-se em volta de uma pequena poesia de Sophia. O cântico que se poderá, por lá, ouvir é ainda Salieri.
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Chegados a sexta feira, desejo-vos um dia muito bem vivido. Divirtam-se, está bem?
6 comentários:
Olá jeitinho,
Espero que esteja em franca recuperação.
Vi o comentário da Erinha e acho que ela tem razão, se não se sente com coragem para um romance, que tal um livro de contos? Vá lá coragem, que eu sinto que não lhe falta, não se deixe vencer pela preguiça porque não é mulher para isso.
Contos, o que acha?
Beijinho Ana
Gostei muito deste seu post.
Gosto de ver os livros das outras pessoas e as estantes. Hoje não consegui descortinar nenhum livro igual aos meus, porque não consegui ler.
O quadro é muito bonito.
Desejo-lhe a continuação das melhoras
Um beijinho e boa sexta-feira
Um belo espaço, esse que habita! Bom gosto. E adorei a forma como “trata” os livros, ou seja, de quem os lê, os acarinha e os estima. Não a estou a ver, por isso, a vir um trocá-los por um IPAD (não sei se é assim que se diz). Eu também não. Gostei do quadro que comprou em Madrid. Interessante (devia ter feito menção no Post anterior) que também pinte! Uma mulher multifacetada. Parabéns. Ainda voltando aos livros, apoio a sugestão de outras leitoras deste Blogue, que deveria, um dia, dedicar-se, mesmo que parcialmente, à escrita. Pense nisso!
Quanto à Política, concordo consigo. A qualidade de quem nos vem governando tem vindo a baixar de forma alarmante! Esta gente, muitos provenientes das tais Jotas (que outro dia Constança Cunha e Sá criticava e bem) e vindos sabe-se lá de onde, não tem escrúpulos, não tem princípios, nem valores, são aldrabões, vigaristas, corruptos, reaccionários da pior espécie (o que é diferente de um bom conservador – Adriano Moreira é um bom exemplo destes últimos, respeito-o, embora possa divergir em muitos aspectos dele) e, ultimamente, prestam-se a um dos piores males da nossa Sociedade: o tráfico de influências (que o Prof Paulo Morais denunciava recentemente, na TV, de forma muito corajosa). A este propósito, veja-se, a título de exemplo, a influência, nefasta, que os grandes escritórios e sociedades de advogados têm na Política: Parlamento, Governo, etc. No actual governo vemos Assunção Cristas (uma fraquíssima Ministra e sem idade para o exercício, em minha opinião, pois alguns anos em cima traziam-lhe a experiência de vida que lhe ensinaria o que não se aprende sem ela), do CDS de Portas, que vem da sociedade de advogados Morais Leitão e Galvão Teles. O mesmo Morais Leitão que é Sec. Est. no MNE de Portas, que absorveu a AICEP (por onde passam todos os contactos com...o mundo empresarial). Já Miguel Relvas (a quem o PM ficou a dever o favor da sala da tal Universidade onde “cursou” Relvas, para campanha para a sua eleição como dirigente do PSD) mantém amizade com Morais Sarmento, sócio de José Miguel Júdice, e advogado do tal homem (de mão do tal Relvas) das Secretas. E que dizer de António Vitorino (PS) e Paulo Rangel (PSD), que pertencem ao mesmo escritório de advogados, quando fingem degladiar-se nos ecrãs das TVs, quando, no final, regressam juntos ao mesmo escritório? A promiscuidade que vai hoje nos meandros da Política atingiu uma dimensão tal, ao nível do tráfico de influências, corrupção, e até ilegadidades, que está a minar por completo os alicerces do Estado de Direito. Um dia ainda acontece como a tristemente célebre Ponte de Entre-os-Rios. E nesse dia, o que irá suceder-nos?
E vou almoçar!
P.Rufino
PS: quantos Pareceres e Diplomas já foram solicitados por este Governo e seus Ministérios aos tais Escritóruios de Advogados e quanto já custou ao Estado? É matéria para outro dia.
Olá Ana!
Não é que seja preguiça... acho que é o meu organismo que não está habituado a agir com esta largueza de tempo que agora tenho. De dia sou para as coisas concretas, trabalho de empresa ou, ao fim de semana ou nas férias, em casa, limpezas. Só à noite é que costumo ter tempo e a cabeça livre para me entregar à escrita ou a trabalhos ligados à criação. Se pinto, também só me dá para pintar à noite. E agora que tenho o dia livre não consigo fazer nada de jeito, nem ler, nem escrever. Além disso, mesmo que remotamente vou trabalhando a partir de casa, telefonando, com mails, etc.
E depois isto dos contos, quando a ideia vem, parece que quase vivo dentro deles, a história constrói-se sozinha, sem eu pensar nela. Mas a ideia tem que vir sozinha. Se me puser a pensar, não me ocorre nada.
Pode parecer estúpido isto tudo mas é a verdade. Hoje peguei no computador com vontade de escrever qualquer coisa que me mobilizasse mas tenho calor, esta posição em que estou a escrever, computador no colo, a deitar calor, também não me liberta a cabeça. Já escrevi o meu texto diário no Ginjal mas isso são textos curtos que nascem dos poemas. Agora um conto, uma historieta, parece que não vai acontecer.
E toda a gente que me liga ou visita diz para eu aproveitar, para ler, para pôr o sono em dia, etc. E eu só me apetece é sair, passear.
Enfim, vamos ver. Mas muito obrigada pelo incentivo. Isso 'pica-me' e isso é importante.
Um beijinho, Ana.
Olá Isabel,
Não dá para ver os livros? As fotografias saíram um bocado escuras porque se pusesse flash reflectia no vidro. Mas eu acho que, mesmo assim, dá para ler algumas lombadas.
Gosto muito de estantes para livros e tenho várias feitas à medida, desenhadas por mim, para se adaptarem aos espaços. Mas isso era antes de haver IKEA... agora sou fã das estantes IKEA, baratas, versáteis (tenho uma costela comercial, não sei se está a ver... pena é que no IKEA não me pagam comissões pela minha publicidade...)
Um beijinho Isabel e obrigada pelos votos de boas melhoras (hoje estou quase imóvel porque ontem me 'estiquei' um pouco e fiquei feita num 8; por isso, esta porcaria do repouso na recuperação tem mesmo que ser levado à risca...)
Olá P. Rufino,
Não, iPad para substituir os livros, não. Posso usar para ver fotografias, ver a internet, ler as notícias, ok. Mas para substituir os livros está fora de questão. Tenho que os ter à vista, à mão, poder folhear, apreciar a edição, a impressão, o grafismo, tudo. Aqui há semanas recebi pelo correio um livro enviado pelo autor antes de ir para o circuito comercial. Abri o livro e cheirava ainda a tinta, a coisa fresca. Nem imagina o meu entusiasmo, cheirava-o, sentia-o, uma coisa mesmo avant la lettre, ainda virginal (digamos assim).
Por isso, as estantes são para mim muito importantes pois são a casa que arranjo para os meus livros. E gosto de pôr ao pé dos livros objectos que me são queridos.
Quanto à baixa política que nos cerca, às teias de interesses, os escritórios de advogados, os consultores, as distritais partidárias, centros de poder onde estas coisas se cozinham com pouca transparência.
Quem é que podia pôr cobro a isto, regulamentar, auditar? O Governo ou a AR. Mas como se é quase tudo gente fraquíssima que vem desses 'círculos' ou que, quando sair da política, para lá quer ir.
Penso que só há uma maneira. É irmos cada vez mais mostrando a nossa indignação, falando publicamente, mostrando como estes personagens medíocres estão desacreditados junto da população.
Bom, para finalizar: concordo com o que diz e agradeço que aqui partilhe as suas tão desassombradas opiniões.
Muito obrigada e um bom dia para si, P.Rufino!
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