segunda-feira, julho 11, 2011

Tapetes de Arraiolos in heaven, La Boca que veio parar às minhas pinturas imaginadas e recordação dos meus avós

Dia de grandes limpezas in heaven.

Ao colocar o arejar um dos quartos, com um tapete a apanhar ar, lembrei-me que há já algum tempo que aqui não coloco nenhum dos tapetes de Arraiolos que tenho feito e, vai daí, tirei uma fotografia.

Tapete à janela

Este aqui em cima foi dos primeiros que fiz, um tapete de quarto. Segundo me disseram, o desenho é do pai da Arquitecta Helena Roseta que, ao que penso, foi um estudioso do Tapete de Arraiolos. O desenho é muito simples e faz um tapete despretensioso mas bonito.

Aproveito para vos mostrar um canto da parede da salinha, junto a este quarto, que eu acho muito agradável, especialmente por ser tão luminosa.


Para que a sala tivesse sempre luz, lembrámo-nos de fazer um rasgo de luz ao alto, com mosaicos de vidro. E então, de dentro, é assim como vêem, a vegetação do lado de fora vê-se através destes mosaicos de vidro e parece uma pintura abstracta que muda ao longo do ano. Agora a vinha virgem está verde mas, daqui por algum tempo, estará em fogo, e depois cairão as folhas e ficarão apenas os troncos e a imagem que temos, do lado de dentro, é sempre bela, em contra-luz, indefinida.

À esquerda, pode ver-se uma parte de uma tela grande que pintei com a torrente de cores do costume. Pretendia que fizesse lembrar varandas, portas, janelas, sobrepostas, casas justapostas, coloridas.

La Boca

Apenas depois vi fotografias do bairro La Boca, em Buenos Aires e fiquei maravilhada. Tantos quadros que pintei assim, com casas às cores, janelas, encostadas a varandas de outras casas, gradeamentos com vasos, tudo colorido - como se estivesse a sair da minha cabeça. E, afinal, depois descubro que há um bairro assim. Fiquei mesmo surpreendida e contente.

Nesta sala tenho ainda uma carpete que fiz, mas esta de desenho clássico, século XVII.

Carpete de modelo clássico

Em primeiro plano está um cadeirão de madeira, muito antigo, dizem os meus pais que terá, seguramente, muitas dezenas de anos. Era neste cadeirão que o meu avô se sentava a ler, a ouvir rádio ou a ver televisão. Atrás, havia uma janela com um grande parapeito no qual a minha avó tinha um vaso com uma grande avenca. Esta zona da sala estava sempre 'à média luz', a minha avó dizia que a avenca não se dava bem com muita luz. Todos os dias à tarde ela borrifava as folhas da grande avenca, que tinha ali lugar de destaque e tratamento especial.

Avenca

O cadeirão, apesar de muito antigo, tem uma ergonomia perfeita. Quando eu era pequena, gostava de me sentar ali, não apenas era o lugar do meu avô de quem eu tanto gostava, como me sentia bem ali, muito confortável, aninhada, com a luz escoada que vinha da janela quase fechada. Era ali, sentada ao colo do meu avô, quando era mesmo pequena ou, mais crescidinha, sentada ao pé dele, no braço do cadeirão, que mais me recordo, quando penso nas tardes em casa deles.


Quando o meu avô morreu e me foi dada a possibilidade de escolher o que queria das suas coisas, pedi logo este cadeirão. Pedi também o pequeno móvel sobre o qual, quando eu era pequena, estava um grande rádio e, por isso, pedi também o rádio, muito bonito, de madeira.

Nesse móvel pequeno, muito bonito, com umas portinhas de vidro e, de lado, umas pequenas prateleiras arredondadas, guardo agora também os belos copos de vidro que a minha avó tinha no aparador e que tanto estimava, sempre com enorme receio que nós os partíssemos. São copos uns de pé de alto, com desenhos, graciosamente pintados à mão, outros biselados; e há também um jarro elegante, que faz conjunto com os copos que têm desenhos feitos a bisel. Por isso, agora, tenho-os guardados nesse móvel, como relíquias, nunca os uso, não vá algum partir-se e a minha avó ficar triste.

2 comentários:

Lia disse...

Parabéns JM pelo novo visual... O azul é a minha cor predileta.

Continuo a vir aqui deliciar-me com este ""Jeito Manso"" de descrever as coisas simples, mas que são tão luminosas na nossa vida.
Desta vez, gostei muito dos seus tapetes Arraiolos e da sua pintura.
Parabéns!

Um Jeito Manso disse...

Olá, Lia, muito obrigada pelo seu incentivo.

Gosto de mexer nas cores e faço-o a propósito de tudo e de nada (até para fazer apresentações de power Point, que se querem sóbrias, me debato para não as encher de bullets à cores...)

Quanto aos tapetes de Arraiolos, que gosto imenso de fazer, agora andam um pouco relegados para 2º plano que o tempo não me chega para tudo (mas também agora, com este calor, é quase impensável estar com aquelas mantas nas pernas...)

Um abraço!