quarta-feira, julho 30, 2014

BES - neste dia 30, o dia de todos os medos, as contas do 1º semestre. O BES não era o BPN. O BES não era um caso de polícia. O GES não tinha contaminado o BES. Carlos Costa garantia que tinha blindado o BES. A troika fez testes de stress e o BES era um banco sólido. (A troika agora diz que quem tinha que auditar as práticas do BES era o Banco de Portugal - mas o BdP olhou para o BES como um míope, só uns vagos contornos). Agora vivem-se dias de susto, as surpresas sucedem-se, os problemas são mais velozes que as soluções. O Grupo desagrega-se à vista de todo o mundo. Aparentemente apenas algumas pessoas perceberam o que se estava a passar. Nicolau Santos e Pedro Santos Guerreiro fizeram mais pela transparência financeira do que todas as instituições oficiais juntas. Honra lhes seja feita.


No post abaixo já vos falei de lingerie, assunto importante para todas as mulheres que gostem de ser mulheres e, claro, para todos os homens que gostem de mulheres. Falo de um certo bustier que persegui por quase meia França e de uma linha própria para mulheres carnudas e, inclusivamente, para mulheres em fase pós-maternidade. Que a coisa venha pela mão de Dita, a Dama do Burlesco, apenas acrescenta um certo picante.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.


Lancemos Os Búzios, se faz favor - a ver se nos orientamos





Já que estou numa onda de assuntos picantes, volto ao assunto mais picante de que há memória na história financeira portuguesa das últimas décadas. Isto é uma coisa... São umas atrás de outras.

Quando há concursos de cantorias na televisão, fico sempre parva com a quantidade de gente que aparece a cantar bem. Como nunca dei para o dó de peito, aprecio ainda mais os que nasceram com esse dom. E, em Portugal, são aos molhos: resmas, paletes, desde crianças a velhos, todo o mundo canta bem. Fico a pensar: não deve haver outro País assim. Nisto somos os maiores.

Depois, também me espanto com a quantidade de gente que vai a concertos. A crise pode estar no auge que os concertos nunca desiludem os organizadores. Tudo carregadinho de gente, coliseus a rebentar pelas costuras, pavilhões, palcos ao ar livre, tudo cheiinho; e melhor: os artistas estrangeiros que cá vêm dizem que não há público como o português. Levam Portugal no coração e nunca mais tiram o país da rota dos seus concertos. Ou seja, lá está, mais um ponto forte: somos bons a ouvir música.

Ou seja: por um lado, muitos a dar música, e muitos mais ainda a deixarem-se ir na música.

Não sei quantos aldrabões, mas oh quantos, senhores, já tivemos na área financeira. A música que nos deram. Lá está: tem a ver com as facetas acima referidas.


Desde o Alves dos Reis, esse extraordinário burlão, até ao Oliveira e Costa do BPN e ao Rendeiro do BPP, passando pelos artistas do BCP, até agora a este verdadeiro festim do Grupo Espírito Santo... toda uma tropa fandanga que parece ter nascido com vocação para enganar o próximo. E a maioria - pobres otários, alegres e contentes - a ir na cantiga.


Do Ricardo Salgado que mandava e desmandava se dizia que tinha a coisa financeira no ADN, banqueiros por questões genéticas. A maior parte dos humanos tem grandes parecenças genéticas com os porcos mas o Ricardo Salgado não, qual porco, ele era diferente, tinha ouro e moedas a entrelaçarem-se nas cadeias de ácido ribonucleico.

Afinal, sabemos agora, não era bem a entrelaçar-se: era mais a ensarilhar-se.

Um ensarilhanço de todo o tamanho. O verdadeiro enfarilhanço. Milhões e milhões e milhões: uma teia impossível de desensarilhar.

À medida que a caixa se vai abrindo, vão saindo as minhocas. É que nem é preciso cavar para as minhocas aparecerem. Nem é preciso dar tiros para os melros caírem. Eles caem mortos aos pés de Vítor Bento e de todos quantos, em poucos dias, conseguem ver mais do que KPMG, BdP, Troika e toda essa turminha de totós que por aí andou, ao longo de anos, a brincar aos ceguinhos.


Vamos ver se todos esses pequenos papagaios que por aí andaram pelas televisões a dizer que o Governador do Banco de Portugal era de Olhão, uma regulação de detrás da orelha, as águas entre o GES e o BES todas muita bem separadinhas, e, que ideia!, que o BES não tinha nadica a ver com o BPN, e que qual caso de polícia, qual carapuça!... não vão ter que voltar a dar o dito por não dito? Coisa que, de resto, artistas como são, farão com a lampeirice do costume.



Uma vez mais, tiro o chapéu a Pedro Santos Guerreiro e a Nicolau Santos (e, vá lá, concedo: se calhar também devo fazê-lo em relação ao João Vieira Pereira) que, persistentemente, foram puxando as pontas e percebendo o enleio que para ali estava e que, corajosamente, se chegaram à frente e mostraram ao País a armadilha letal que estava a ser estendida aos pés de Portugal.


E a armadilha era, de facto, terrível.



O BES financiou a actividade corrente de vários grupos empresariais na condição de estes contraírem outros créditos para aplicarem em dívida e acções do Grupo Espírito Santo. Em causa estarão algumas centenas de milhões.




Salgado e Morais Pires implicados em "engenharia financeira" no BES


Empréstimos de clientes do BES ao GES através da Eurofin estão sob suspeita - e por detrás do aumento dos prejuízos do primeiro semestre. Indícios criminais serão reportados. Salgado, Morais Pires e também a diretora Isabel Almeida podem ter de dar explicações.


Quadros superiores do BES terão montado um esquema para financiar o Grupo Espírito Santo com dinheiro de clientes do BES, apurou o Expresso. Em causa está a direção financeira do banco, que operava sob responsabilidade direta de Amílcar Morais Pires. 


A Eurofin, uma "holding" na Suíça, está no centro das atenções. O caso, que poderá ter implicações criminais, é a razão do aumento dos prejuízos no primeiro semestre do banco.




Prejuízo do BES pode chegar aos três mil milhões


O escândalo avoluma-se. Reguladores descobrem mais dívida de clientes do BES ao GES e forçam provisões. O prejuízo semestral galopa para um valor próximo dos três mil milhões. Almofadas financeiras já não bastam. Aumento de capital é inevitável.

O BES vai fechar o primeiro semestre com o maior prejuízo de sempre de um banco em Portugal. Será 15 vezes maior do que as estimativas dos analistas: perto de três mil milhões de euros, sabe o Expresso. Tudo porque os reguladores e os auditores acabam de descobrir mais esqueletos nos armários: há mais dívida de clientes do BES ao GES do que se supunha, através de esquemas de engenharia financeira que se desconheciam. 


Caso pode ter mais consequências criminais.




Upss... Indícios criminais...? Mas então o que é que a gente fina tem a ver com o rebotalho? Pensava que nada.

Não me digam agora que a gestão dos Espíritos escondia afinal práticas pouco abonatórias...? Sério...? Juram...?

Mas o excelentíssimo Carlos Costa não tinha assegurado que Ricardo Salgado estava carregadinho de idoneidade? Então se ele até tinha pago alguns dos milhões que antes tinha escondido, como desconfiar que ele não era gente séria?

Bem. Se também não se lembrava ou não sabia nada de offshores da altura em que era responsável pela área internacional do BCP, como poderíamos querer que Carlos Costa agora percebesse tudo o que via? Além do mais, coitado, se o homem tem algumas limitações na visão, que mal tem isso? Querem lá ver que vamos agora exigir que os reguladores tenham todos visão apurada e que sejam todos uns Einsteins, não? Ora, era só mesmo o que faltava.

Adiante.

E agora?


Pois bem. Quem investiu no aumento de capital do BES, está a arder. Cerca de 60% do que lá meteram já foi ao ar. Muitas fortunas aplicadas nas empresas do Grupo esfumaram-se. Muito dinheiro levou sumiço. Muitas empresas vão abanar. E só não me alongo mais porque já aqui o fiz várias vezes.


Mas, uma vez limpa a casa (tanto quanto é possível em meia dúzia de dias...), descobertas as carecas, assumidas as trapaças e os embustes, o BES deitará mãos à obra, arranjará forma de reforçar o capital, mudará de mãos (se calhar também de nome, como tem vindo a ser referido) e... a vida continua.


Para esclarecer todas as dúvidas, o Jornal de Negócios, preparou um esclarecedor conjunto de perguntas e respostas que recomendo a quem quiser perceber melhor as implicações do que está a acontecer. Serviço público.

Os resultados negativos esperados no BES no primeiro semestre são motivo de alarme? Os contribuintes podem ser chamados a apoiar o banco? Os novos desenvolvimentos trazem dúvidas para os depósitos dos clientes do BES? Os clientes de retalho do BES que investiram em papel comercial do GES podem estar tranquilos? Porque é que a queda das acções pode ser um problema? Etc.


Tudo respondidinho, e bem, no Jornal de Negócios, em mais um belo trabalho de uma das mulheres de quem se tem falado a propósito do best seller do momento, o Último Banqueiro: Maria João Gago.

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E mais não digo porque já passa das 2 da manhã e amanhã a alvorada é cedo e quero ver se ainda consigo dormir qualquer coisinha.

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A música é Os Búzios na voz de Ana Moura.

Os graffitis são do meu muito amado Banksy. O cartaz da senhora que já admite nada lhe restar para comer senão os ricos, não sei por onde desfilou.

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Nota: No outro dia, escrevi uma letra mal e a palavra transformou-se num erro grosseiro. Não estou livre de que isso me volte a acontecer. Aliás, é mais do que provável que isso aconteça aos pontapés. Estou a escrever quase a dormir e já não consigo rever o que escrevi. Caso detectem erros, por favor, não se acanhem, corrijam-me, está bem?


E, se me permitem, relembro: se quiserem descansar a vista ou apimentar um pouco a vossa vida, avancem, por favor, até ao post seguinte.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira. 
Saúde, sorte e sonhos bons é o meu desejo para hoje.


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4 comentários:

FIRME disse...

Espero que as virgens do C D S ,COM O nuno melro á frente,tenham a língua pronta para esquartejar,os afinal,coniventes com esta sacanagem...! Vamos lá esperar! O pior é se por tanto comerem á pressa(coelhos,cavacos) ,não estejam todos gágos!!!

FIRME disse...

O meu espelho(consciência),bem me disse há uns comentários atrás;NÃO confies nesta tralha! Agora digo eu,depois de ler a sua análise que facilmente,desmonta as tramas que nos quiseram impingir estes três anos.! Vão todos ao espelho,antes de confiar nesta tralha !!! E CONFIEM NELE!(è a vossa consciência,a melhor conselheira. Papagaios de tretas antigas? não ouçam!!!

Unknown disse...

Apenas um à parte: Acções mesmo com ou sem acordo ortográfico, no contexto do ensaio expositivo, escreve-se sem o c antes do ç pois trata-se de capital acionista de uma sociedade e por tal, neste caso, nunca exitiu um c antes do ç. Este é um dos casos em que os puristas da ortografia antiga apresentam como exemplo para não se utilizar o novo acordo ortográfico.

FIRME disse...

Á parte o acordo ortográfico q. eu sigo,peço: .- Espero que a sua brilhante mente,ordene aos seus dedos...para jamais desistirem( é uma ordem)!!! A acontecer,a bicharada,usurpava este espaço,como hienas!!! Obrigado!