segunda-feira, março 31, 2025

A importância dos trabalhos manuais

 

Gostei de ver o vídeo que aqui partilho. Aliás, gosto sempre de ver os vídeos deste médico. Neste caso ele aborda um tema que, para mim, sempre foi caro: a importância dos trabalhos manuais. 

Aliás, não por acaso, o algoritmo do Instagram já me topou e passa a vida a mostrar-me cabeleireiros a fazer cortes de cabelo que me dão vontade de sair por aí a arranjar gente que me deixe cortar-lhe o cabelo, gente a fazer bolos ou cozinhados, gente a fazer pinturas, arranjos florais, dobragens, arranjos de móveis, até a dobrar roupa de forma a optimizar o espaço dentro de malas de viagem. Se antes me apareciam influencers a fazerem unboxing de livros (tenho aprendido algumas terminologias...) , coisa que me deixava possuída e cheia de vontade de os imitar fazendo vídeos malucos, ou a maquilharem-se ou a mostrarem outfits (e, justamente, este domingo fiz uma reel * -- ah, termozinhos mais fofos... -- a parodiar essa de me mostrar a realizar a minha rotina não de skincare mas de maquilhagem) agora já fez a agulha para actividades mais concretas. 

No vídeo abaixo, o médico não inclui a escrita como um hobby de trabalhos manuais mas eu acho que é. Posso até garantir que, por vezes, os meus dedos tomam as rédeas do processo e escrevem sem que a cabeça saiba o que eles estão para ali a sapatear no teclado. Escrever também me activa, também me concentra, também me desliga das maçadas de que o mundo está a deitar por fora.

De qualquer forma, de tudo o resto que ele fala, eu sinto um apelo grande para fazer. Por exemplo, ultimamente ando com vontade de fazer um poncho de crochet todo às cores, incluindo com fios com brilhantes coloridos. Danadinha. Danadinha para fazer uma piece of art.

Por vezes penso que um dia destes ainda vou ter que me render e voltar a organizar-me através de agenda, como quando trabalhava e tinha a agenda sempre enervantemente cheia, só que para fazer assim: das 15 às 16, crochet, das 16 às 17, tapete de arraiolos, das 17 às 18, pintar, das 18 às 19 caminhada, das 19 às 20 fazer o jantar, ver os mails, o blog, fazer os telefonemas à família, etc. A escrita, provavelmente, ficaria para o slot (ah... a falta de saudades que eu tenho de quando me andavam a perguntar qual o slot que eu tinha disponível) das 23 às 2 do dia seguinte. A manhã ficaria para a caminhada da manhã e para o ginásio três vezes por semana e, no intervalo, para algumas compras, lavagens de roupa, arrumações e afins.

É que, se não for assim, ou seja, se não começo a organizar-me, vou deixando mil coisas para trás. 

Mas, enfim, isto para dizer que mil vezes mais andar entretida com coisas concretas do que perder tempo a 'conhecer-me melhor', a reflectir sobre as coisas da vida, a olhar para ontem ou a pensar na morte da bezerra. Não quero com isto dizer que quem o faça seja mais infeliz que eu. Quero é dizer que esta forma de usar o tempo que a vida tem concedido a graça de colocar à minha disposição me traz bem estar, motivação, alegria. 

E, pelo que o Dr. Drauzio Varella diz, faz bem ao corpo e à alma. Portanto, assim seja. Valeu.

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* Se soubesse colocaria o link para a story acima referida, o vídeo que coloquei no instagram a mostrar como me maquilho. Mas não sei. Ainda não sei bem manusear aquilo. Para os posts ou feeds ou lá como se chama aquilo, sei como partilhar o link. Para a story não sei. Para se ver, carrega-se na fotografia do perfil. Mas creio que quando coloco uma story nova, a anterior vai à vida. Mas, pronto, se tiverem curiosidade vão até lá e experimentem. Quando enviei o vídeo para a minha filha ver protestou... Aliás, começou por me enviar uma mensagem a dizer medooooooo.... Os meus netos, a quem ela mostrou, também ficaram chocados. Ao telefone fartaram-se de protestar. Não compreendo a reacção. Eu gostei de fazer. E estou a fazer e já com ideias para fazer outros ainda mais sui generis. E o meu marido, quando lhe mostrei, riu-se. E, no fim, concluiu o que sempre conclui: 'Só te dá para coisas dessas, maluquices...'. Mas vi que estava divertido. 

Enfim. Cada um faz o que pode. Um dia faria obras mais apuradas.

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Adiante. 

A importância de ter hobbies e fazer trabalhos manuais

Hoje, a tecnologia resolve tanta coisa para a gente que esquecemos de usar a mente. Com isso, o cérebro deixa de ser estimulado, o que pode levar ao declínio cognitivo.

As atividades manuais são ótimas não só para exercitar a mente, mas também para reduzir o estresse, aumentar a sensação de bem-estar e ajudar na prevenção de doenças neurodegenerativas.

Neste vídeo, Drauzio fala sobre a importância dessas atividades.


Um cão cantor que acompanha na perfeição Naomi Watts e Jimmy Fallon

 

A ver se consigo ver este filme. Acho que o cão é um espanto e já tinha ouvido o Bill Murray a dizer maravilhas dele. De vez em quando há filmes que têm como grande protagonista um cão e geralmente ficam mais para a história do que os humanos que com ele contracenam.

E, de qualquer forma, é bom que se dê destaque a animais que são inteligentes, sensíveis e amigos. Pode ser que assim vá caindo em desuso a estupidez de considerá-los seres inferiores.

Naomi Watts Invites Jimmy to Perform a Song with Her 150lb Great Dane Co-star Bing

domingo, março 30, 2025

Montenegro & Hugo Soares, Unlimited
Farinha do mesmo saco...? Os outros que paguem impostos...?
-- A palavra ao meu marido --


Agora veio a saber-se que há uma investigação do MP (curiosamente, provavelmente, a única investigação que até agora se manteve em segredo de justiça) sobre as atividades da sociedade de advogados do Montenegro, incluindo um parecer assinado pelo Luís sobre a maior obra pública da CM de Espinho quando presidida pelo um militante do PSD agora a ser julgado por várias acusações. O Montenegro terá assinado pelo menos um parecer que contraria a opinião dos técnicos da Câmara e favorece a empresa que fez a obra para a Câmara de Espinho e que, por sinal, forneceu o betão para a sua luxuosa casa de 6 andares em Espinho. Há coincidências do caraças. 

Pelo que a Comunicação Social tem vindo a desvendar, no percurso do Montenegro existem demasiadas "coincidências do caraças". Aparentemente, são tantas que ele não consegue explicá-las. Não consegue ou não pode... 

Os que ainda não perceberam como atua o Montenegro e ainda o apoiam deveriam reflectir nisso..

Entretanto, soube-se ontem que o Hugo Soares, que é um verdadeiro grunho que chama nomes a tudo e a todos na AR revelando uma enorme falta de educação, também tem uma empresa imobiliária e de consultoria na qual é o único empregado, que faz negócios assaz interessantes/proveitosos com a venda de imóveis, um deles curiosamente envolvendo a família do gasolineiro que faz adjudicações "curiosas" ao Montenegro e cuja nora trabalha para a Spinunviva. Também aqui seria relevante que fosse feita uma auditoria à contabilidade desta 'empresa' para verificar se não será mais uma empresa que serve para pagar muito menos impostos e onde estão contabilizados despesas pessoais do Hugo e família. 

Soube-se também que o homem recebe uma avença mensal de 14.000 Euros (o Montenegro parece que no total recebia 15.000). Como é possível? Das duas uma: ou não faz nada como líder parlamentar do PSD e só trabalha "por fora" para conseguir ganhar os 14.000 ou não faz nada na "empresa pessoal" e recebe este dinheiro vá lá imaginar-se porquê e para quê.

Não esqueçamos que o Hugo Soares teve a lata de se dirigir aos deputados do Chega exortando-os, com uma veemência bastante vocal, a dizerem quantos detinham empresas imobiliárias.

Montenegro e Hugo, a hipocrisia e a mentira têm limites. Não vale tudo e ser político implica um comportamento que não têm. São trumpistas em toda a linha: negam verdades evidentes, acham que  a melhor defesa é o ataque e marimbam-se para os outros.

Evidentemente, devem ser corridos. Espero que os eleitores tenham a perspicácia necessária para não se deixarem levar e verem como é de facto a conduta destes tipos.

sábado, março 29, 2025

Outra confissão: ando a consumir canábis

 

Com o sol, o caracol põe os pauzinhos ao sol. E eu, que não tenho pauzinhos (pelo menos que saiba), faço outra coisa: tiro a roupa. Fui buscar o fato de banho, o chapéu de palha e dois livros. E acomodei-me na espreguiçadeira. E pensei: a felicidade pode ser isto.

Os livros são 'Os níveis da vida' de Julian Barnes, um escritor muito do meu agrado e 'Conversas com escritores' de Isabel Lucas. Interessantes. Fotografei-os e alimentei o feed do Instagram (entre outros feeds e outras stories que produzi... Ah o maravilhoso mundo do Insta, tudo tão instantâneo, tão easy...)

Não obstante o interesse dos livros, por momentos deixei descair o chapéu para cobrir parte da cara e deixei que o sono me tomasse nos braços. Estou em crer que coisa na base da rapidinha. Mas soube-me lindamente. Depois retomei a leitura, e com mais gosto.

Ao meu lado, o cão, também feliz. Depois de chuva e frio e vento, eis que a benfazeja primavera nos visita e nos puxa para fora de casa.

Devo ainda acrescentar uma outra informação. Agora que tenho Instagram, informo-me e desinformo-me a uma velocidade estonteante, quase como se ingerisse bebidas alcoólicas sob a forma de shots, naturalmente bebidos de penalti. E uma das coisas que me aparece recorrentemente é como é bom o óleo de rosa mosqueta. Já antes tinha sabido disso em vídeos brasileiros. Como no outro dia fui ao supermercado, fui à procura. E encontrei. Ao lado, vi outros óleos, entre os quais o de canábis. Apesar de desconhecer as respectivas virtudes, resolvi trazer também. Pensei: deve acalmar a pele. Não que andasse com a pele enervada... mas aumentar a calma é bom, até para a pele -- pensei.

E, claro está, mal chegou a altura de aplicar um creme no rosto, misturei-lhe umas quantas gotas de óleo de canábis e lá vai disto. Não gostei especialmente do cheiro. Mas, misturado com o creme, deixou de se sentir.

E no dia seguinte voltei a pôr. E gostei. Mas, às tantas, pensei: 'Mas será que aquilo se pode misturar com um creme qualquer? E será que não se destina a outro fim que não o que lhe estou a dar? E será que a dose é à balda?'. Ocorreu-me: imagine-se que é para pôr diluído em qualquer coisa num ambientador... Então resolvi ir investigar no ChatGPT.

Começou por me dizer que não contém THC (a substância psicoativa da maconha). Fiquei um bocado espantada. É que não me tinha ocorrido que pudesse ter. Havia de ter graça pôr aquilo na cara e ficar in the sky with diamonds. Mas não. Tranquilo. E afinal é coisa mesmo com virtudes.

✅ Hidratação intensa, sem deixar a pele oleosa.

✅ Rico em antioxidantes (vitamina E, ômega 3 e 6), ajudando a combater rugas e flacidez.

✅ Estimula a produção de colágeno, melhorando a firmeza da pele.

✅ Ação anti-inflamatória, ideal para peles sensíveis ou com rosácea.

✅ Equilibra a oleosidade da pele, ótimo para quem tem tendência a acne mesmo na maturidade.

Claro que recomenda que se aplique antes no pulso para testar eventuais alergias. Nunca o faço pelo que desta vez ainda menos pois já andava a aplicá-lo, sem quaisquer complicações. E estava a aplicar correctamente. Ainda não vi efeitos nenhuns mas, na volta, é como em tudo o que se refere à beleza: o que interessa é o interior.

Mas, portanto, agora já não posso dizer que nunca tive qualquer contacto com o canábis. Nesse particular, perdi a virgindade.

Isto já para não falar do que inalo -- e não é pouco -- quando passeio na Costa, em especial ao fim do dia, em especial ao fim de semana, em especial em frente de algumas esplanadas. Não há maresia que lhe faça frente, tanta a concentração...

Mas, pronto, é isto. Viva a primavera. E vai mudar a hora que é outra mais-valia. Portanto, vendo bem, viva mas é a vida.

Estou escandalizada com mais esta: Hugo Soares também tem uma empresa 'familiar' e o que a reportagem da TVI revelou deixa-me muito incomodada

 

Como é possível que alguém consiga confiar na dupla Montenegro & Hugo Soares? Fico chocada com o que parecem esquemas, com os números, com as relações. Isto é o PSD no seu pior. Uma coisa que fede.

É bom que se investigue mais a fundo pois isto é o que corrói a democracia e a confiança dos cidadãos nos políticos.

Existir

 

sexta-feira, março 28, 2025

Sobre lavagens, limpezas, podas. É isto uma etrusca...?

 

Nesta sala em que estou, chamada sala da televisão -- pois é aqui que está a televisão maior e em que geralmente nos juntamos para a ver --, tenho uma sofá muito grande (por acaso, sofá cama), que é de pele azul escura, e tenho um outro, também grande, em cor de pérola. Ora, nem eu queria aqui ver um sofá escuro, como o outro, que é de um tecido sensível e muito claro, ficaria rapidamente sujo se fosse usado tout court todos os dias. E já nem falo no que acontece quando se juntam a ver futeboladas, os rapazes com o entusiasmo põem-lhe os pés em cima ou, à revelia, levam comida e vão petiscando durante os jogos. Portanto, resolvi cobri-los com cobertas de algodão branco. Fica a sala clarinha e facilmente se lavam as cobertas. Só que, de facto, o algodão de que são feitas as cobertas é espesso e, não tendo eu máquina de secar, se as lavo em tempo de chuva, é um caso sério para as secar.

Portanto, com estes dias de solinho, tem sido um fartote de máquinas de roupa. Tinha, claro, o banal como a roupa de cama e as toalhas da casa de banho, tinha a toalha de mesa gigante usada no fim de semana, que é também espessa, e, depois, mais estas cobertas (só posso lavar uma coberta por máquina, tal a dimensão e espessura), e mais as toalhas que usamos no ginásio mais as calças e tshirts e demais roupa. E fiz outra só com tapetes, os da casa de banho e os de pano que tenho junto às portas da rua para que o cãobeludo, nestes dias de chuva, não patinhe a casa toda nem traga lama para dentro de casa. Assim, não é que saiba limpar os pés quando entra, mas, pelo menos, passa por eles e a maior fica neles. Portanto, fiz várias máquinas de roupa de seguida. Uma alegria ter a roupa cheirosa a secar ao sol. E secou tudo que foi uma beleza.a

E hoje estava para lavar as forras das almofadas e algumas das almofadas mas já não consegui pois não esteve calor nenhum e esteve meio nublado. E parece que para a semana volta o tempo incerto pelo que este meu ímpeto lavadeiro tem que abrandar. É que, a seguir, quero que vão as carpetes. É outra coisa que gosto imenso de fazer. Estendo-as em piso plano ou inclinado, molho-as com mangueira, coloco detergente, depois 'esfrego-as' com vassoura rija. O bom e o bonito é tirar-lhes, depois, todo o detergente, deitam espuma que se fartam. Com a mangueira e a vassoura vou lavando, lavando. Tenho que estar descalça, claro. Mas preciso de sol forte para depois as carpetes me secarem senão ficam a cheirar a lã molhada, malcheirosa. Secando rapidamente ficam não apenas limpinhas como cheirosas. 

Tenho dúvida quanto aos cortinados mais espessos que são forrados e 'enformados'. Temo lavá-los eu, e na lavandaria também disseram que não assumiam a responsabilidade. Por isso, têm sido apenas aspirados, sacudidos, postos ao sol. Mas qualquer dia tenho mesmo que levá-los ao banho. O que lavo regularmente são os brancos finos como o desta sala, outro que tenho a separar a despensa da cozinha, e os das duas janelas do meu quarto, um dos quais de renda belga. Estes lavam-se que é uma maravilha, nem precisam de se passar a ferro.

Também tenho duas colchas de renda para lavar mas essas têm que ser levadas à lavandaria pois são um peso bruto e mais ainda quando estão molhadas. Claro que aí há as secadoras mas não quero tratar já disso pois, quando chove e não quer que o limpemos com uma toalha, o nosso cão maluco corre e vai esfregar-se e rebolar em cima da cama do quarto do fundo ou no sofá do primeiro andar que tem uma colcha de renda a servir de coberta. Por isso, enquanto ainda estiver de aguaceiros, não vale a pena.

Também andei com o meu marido a podar as roseiras trepadeiras que estão em volta da árvore maior. Aquilo já estava para ali um arbusto farto. Quando está florido é uma beleza e um perfume do mais inocente e maravilhoso que há. Aquelas rosinhas cor de rosa clarinho têm um perfume que faz recordar a primeira-comunhão e a infância. Mas é a tal coisa de não haver bela sem senão: espinhos e mais espinhos. E, para se conseguir chegar à árvore, para a desbastar, havia que desbastar primeiro os pés de roseira pois não apenas tinham volume a mais como picam por todo o lado. Também desbastámos um pouco a buganvília. E andei a arrancar ervas grandes que nasceram e se desenvolveram à grande tal a profusão de água das chuvas. Depois o meu marido andou com a máquina a cortar a relva. E também ficou um cheirinho bom a relva cortada.

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Bem, hoje estou para temas domésticos. Não faz sentido estar para aqui a escrever isto, pois não...? O que é que isto interessa a alguém...?

Por isso, para sair deste registo (só me faltou dizer que amanhã quero dar banho ao cão, o que não é uma metáfora nem uma gracinha, é mesmo literal), vou antes transcrever um pequeno excerto de 'Etrusca', um livrinho pequeno, que, há muito, muito tempo, aqui escrevi em capítulos, como um folhetim, uma das histórias que muito me divertiu escrever. 

E devo dizer que gosto desta capa, acho que me saiu bem. Custou mas, à enésima versão, quando já desesperava, lá me agradou... Mas, claro, é discutível, haverá quem ache uma pepineira. E eu respeitarei.

Enfim.

Aparentemente ínvios são os caminhos da sedução. As etruscas sabiam bem disso. Eu também.

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(...)

Quando cheguei, já lá estava. Sisudo.

‘Sim, patrão’, apresentei-me ‘já cá estou.’

Não estava para sentidos de humor, foi direito ao assunto. ‘O que tens andado a fazer é estúpido, irracional, descabido. A que propósito andas tu a chapar na internet assuntos que são pessoais e que não te dizem respeito? O que ganhas tu com isso? E achas que percebes tudo o que vês ou que podes fazer juízos de valor baseando-te apenas em metade dos factos?’.

Tinha os punhos fechados em cima da mesa, furioso. E olhava-me nos olhos, como se, com o olhar, me quisesse punir, talvez até agredir.

Nestas ocasiões fico invulgarmente calma. Disse-lhe: ‘Respira fundo. Acalma-te. Olha para fora. Quando estiveres na plena posse das tuas capacidades, recomeça. Mas devagarinho que eu não gosto de ver gente stressada à minha frente.'

Não ligou nenhuma e continuou, desorientado: 'Aí andas, a fazer conjecturas, a falar com a minha mulher, com o amiguinho, até com a advogada, e depois vais para o computador e desatas a escrever tudo. Se te ligo, lá vejo no dia seguinte tudo escarrapachado na internet - e eu gostava de perceber que brincadeira é esta.'

'Oh senhores, mas eu não estou farta de dizer que é ficção? Tudo ficção. Qual daqueles protagonista és tu? Eu, ao olhar agora para ti, diria que és a bicha, uma bicha toda agitada, à beira de um chilique.', brinquei.

'Mau!', continuou ele no mesmo registo 'assim não vamos a lado nenhum!'.

'Não vamos a lado nenhum? Mas onde é que tu queres ir, que eu ainda não percebi...?', sorrindo eu.

'Achas que tenho um caso com a advogada, achas que não estou a dar a mão à minha mulher, achas que sou um neo liberal arrogante. Achas isso tudo, não é? Achas que me atirei à advogada, que ela não quis nada comigo, que eu fiquei em lágrimas. Achas isso tudo, não é?! E se fosse?', e quase espumava.

'Olha, baixa o tom de voz. Não é por mim, é por ti que não há quem não te conheça, já estão a olhar para nós.'.

Então levantou-se, pagou e, seco, disse-me, 'Vamos lá para fora'.

E eu refilando: 'Logo hoje? Há tanto tempo sem chover e logo hoje, que está de chuva, é que queres ir passear...?'

Saímos. Foi buscar o chapéu de chuva ao carro.

E, então, num anoitecer chuvoso, frio, passeámos à beira rio enquanto ele falou tudo o que quis que eu soubesse.

(...) 

in Etrusca, Vera Mulanver, Amazon 

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A todos uma bela sexta-feira

quinta-feira, março 27, 2025

O que é um optimista? - É alguém que tem sempre esperança.
E o que é a esperança? - A esperança é a coisa com penas que, empoleirada na alma, canta a melodia sem palavras e nunca pára

 

Simples, não é? 

Claro que os pessimistas não sabem do que estou a falar. Se calhar nunca sentiram esta coisa sem penas empoleirada na alma a cantar melodias sem palavras, e que nunca se cansa.

Está mau tempo? -- O tempo bom não tardará, ouviremos a coisa a sussurrar, sem palavras

Esta pessoa fala sem parar, esgota a nossa paciência? -- Já vai cansar-se, cantará ela, na sua suave melodia.

O populismo e o extremismo pró-fascista estão a alastrar como uma mancha de óleo putrefacto? -- Haveremos de encontrar o antídoto e toda a gente se mobilizará para limpar os estragos, dirá a coisa com penas.

Parece que já não há pessoas interessantes, tão interessantes que a gente deixe tudo para as ouvir? - Deve haver, estão é resguardadas. Mas haveremos de convencê-las a partilhar as suas ideias connosco. Dirá ela, e nos acreditaremos.

Temos dores e sentimo-nos desalentados? - Isso há de passar. E até parece que já nos sentimos melhores.

A esperança é o combustível que move os optimistas, é o oxigénio de que precisam para viver. A esperança não regateia, não cobra, não censura. A esperança está lá. Um ombro amigo, uma mão que se oferece, um sorriso que alenta, a flor que traz a luz quando a nuvem espreita. 


Helena Bonham Carter lê 'Esperança' de Emily Dickinson 
| 365 Poems for Life by Allie Esiri


“Hope” is the thing with feathers -
That perches in the soul -
And sings the tune without the words -
And never stops - at all -

And sweetest - in the Gale - is heard -
And sore must be the storm -
That could abash the little Bird
That kept so many warm -

I’ve heard it in the chillest land -
And on the strangest Sea -
Yet - never - in Extremity,
It asked a crumb - of me.

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Dias felizes para si que me lê

quarta-feira, março 26, 2025

O Montenegro é o verdadeiro vendedor de banha da cobra
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Vi hoje no noticiário da TVI um excerto do programa do Goucha onde o Montenegro dizia que estava a ser acusado porque trabalhava. É preciso ter uma "ganda" lata, um topete infinito, um descaramento a toda a prova, uma dificílima relação com a verdade, uma jactância interminável e um grande amor à não-verdade para fazer esta afirmação. É o contrário, Luís, está a ser acusado de, entre outras coisas, receber avenças sem fazer nenhum. É exatamente o contrário Luís! 

O Luís também está irritadíssimo porque aparece num cartaz ao lado do José Sócrates. É a vida, Luís. Provavelmente achou que tinha piada, pelo menos não criticou, o cartaz quando o mesmo aconteceu ao António Costa e ao Fernando Medina. Agora foi a sua vez. Azarinho. Mas realmente não percebo a razão de tanto incómodo. Quem não deve não teme e, até ser condenado, o Sócrates é tão inocente como o Luís. Objetivamente, se alguém tem razão de queixa em relação ao cartaz. se calhar até será o Sócrates que não deve gostar nada de se ver exposto ao lado de um Primeiro-Ministro alegadamente avençado.

O Luís Montenegro diz o que lhe convém, independentemente de ser verdade ou mentira, e tem dois pesos e duas medidas em cada situação. Não é sério. Para vendedor de banha da cobra já chega o Ventura.

NOTA: Obviamente não concordo com a associação que Ventura faz entre os anos de democracia e a corrupção. Mas essa, que eu saiba, não é a razão da indignação do Montenegro.

Um dos homens mais poderosos do mundo, num jantar de gala, entretém-se a brincar, à mesa, com avioezinhos feitos com os talheres

 

Vê-se e custa a acreditar. Em Mar-a-Lago, num jantar de gala, uma vez mais sem respeitar o dress code, Elon Musk mostra as suas dificuldades em portar-se 'normalmente'. Com uma faca e colheres em equilíbrio ali está entretido a fazer uma gracinha. 

Claro que isso poderia não ser problema nenhum, cada um é como cada qual, não fora dar-se o caso de Trump lhe ter concedido poderes ilimitados. As decisões mal fundamentadas, irracionais e tantas vezes desumanas de Musk têm-se revelado um poço de problemas não apenas -- e sobretudo -- para as vítimas mas também para os republicanos, para o próprio Musk (veja-se a pancada que as contas da Tesla estão a levar) e, espero bem, para o Trump.

terça-feira, março 25, 2025

MP & Madeira, uma dupla porreira -- não desfazendo do Marcelo e do Luís
-- A palavra ao meu marido --

 

A esquerda perdeu as eleições na Madeira e todos os partidos desta área deveriam refletir sobre os resultados e tentar perceber se o respetivo discurso e prática politica coincide com os anseios e objetivos dos eleitores ou se estão apenas a "fazer politica" para eles próprios e para os seus incondicionais. 

Quando já se sabiam os resultados da Madeira, foi paradigmático ver ontem o Louçã no programa do Ricardo Araújo Pereira zurzir com dez vezes mais veemência o PS do que o PSD.

Mas existe um outro derrotado nestas eleições; chama-se Ministério Público. Os madeirenses e porto santenses que ontem votaram disseram que se estavam nas tintas para o MP e que não se incomodam por serem governados por um partido cujos militantes que estão no governo têm processos a decorrer na justiça. Depois de uma deslocação de um avião cheio  de policias à Madeira e de uma investigação que dura há mais de um ano sem qualquer avanço conhecido, o povinho confirmou que se marimba para este tipo de investigações teatrais e inconsequentes. Também o MP deveria refletir sobre os casos que mediatizou e que "pariram ratos" e, por uma vez, pôr a arrogância de lado e reconhecer os erros.

Ontem, o Marcelo, no final do futebol, também comentou o resultado das eleições na Madeira. É curioso que um assunto, julgo eu, importante para o País seja comentado ao mesmo nível do desempenho da Seleção. Até fiquei admirado que não tenha feito comparações entre os jogadores e os dirigentes políticos da ilha. Mas... uma "piquena" questão para o PR: não lhe causa nenhum desconforto que os eleitos passem este atestado de menoridade ao MP?

Por outro lado, o Montenegro, confirmando a postura ética a que nos habituou, parece não saber quais os limites da acção de um governo de gestão. Não só publicita decisões que ultrapassam a mera gestão corrente associada a esta fase pré eleitoral como anda a fazer campanha eleitoral como PM, anunciado não sei quantas auto estradas, estradas, variantes  e circulares. Para o Luís vale tudo, "até tirar olhos". No Luís nada me surpreende mas chateia-me ligeiramente aquele sorriso sacana com que diz estas coisas parecendo que está -- ou estando mesmo -- sempre a gozar com  a malta. 

A "ruralidade" (Marcelo dixit) está-lhe colada à pele e a falta de cultura democrática também.

segunda-feira, março 24, 2025

Lanche ajantarado

 

A modalidade nos últimos fins de semana tem sido o lanche ajantarado. Em época de testes, assim conseguem aproveitar melhor o tempo de estudo. Chegando por volta das quatro e tal ou cinco, dá para conviver, depois lanchamos, conversamos, e, quando vão, já não precisam de ir jantar, quando muito petiscam ou ceiam. E eu gosto desta versão pois, como gosto de improvisar e variar, posso fazer várias coisas, sempre na expectativa de que possam ter por onde escolher.

De cada vez, tenho uma ideia. Penso no que uns gostam e avanço por aí, sei que outros nem por isso e evito ou arranjo alternativa. Claro que tenho sempre aquelas velhas dúvidas quanto às quantidades. Pelo sim pelo não, faço a mais, pensando que é bom que sobre pois, se quiserem, podem levar marmita para o dia seguinte.

Para este domingo o meu marido disse que podíamos fazer bifanas e eu lembrei-me de fazer uma quiche de frango assado, uma quiche de camarão e uma tortilha de salmão. E para sobremesa resolvi fazer uma coisa que vi no instagram, com aveia e tangerina.

Fui ao supermercado e, como sempre, não levei lista. Penso sempre que não vale a pena, pois, à medida que for passando nos corredores, vou-me lembrando do que preciso. 

No entanto, quando já estava perto da caixa com o carrinho a transbordar e de tal forma pesado que mal o conseguia manobrar, vi que me tinha esquecido da massa quebrada para as quiches. Claro que poderia fazer em casa mas, no meio da azáfama que são as minhas culinárias, seria inútil perder tempo com uma coisa que se se compra feita e que é boa. Lá fui. 

E lá voltei para a caixa.

Mal cheguei a casa, vi que me tinha esquecido de comprar frango assado. Gaita. E nem cru o tinha. Ou seja, quiche de frango assado já era. Fiquei passada. Apostava tanto naquela quichezinha...

Como trouxe costeletas para o almoço -- e em quantidade generosa, já a contar que sobrassem para o almoço desta segunda --, pensei que teria que ser quiche de costeletas. Quem não tem cão, caça com gato. E assim foi, desossei e parti em bocadinhos quatro costeletas fritas de cebolada, juntei a cebola, juntei uma boa quantidade de espinafres que tinha amolecido por cima das costeletas (depois destas já estarem fritas), e com o leite, os ovos e queijo ralado por cima bem com bacon aos minicubos, fez-se.

A quiche de gambas fiz com crème fraiche, ovos e um pouco de ketchup. Para evitar gordices, não usei natas nas quiches. Tinha fritado os camarões ainda com casca, com louro e alho. Depois o meu marido descascou-os e tirou a tripinha, abrindo-os ao meio longitudinalmente. Eram grandes. O caldo da fritura foi misturado com o resto. Como tinha 'planchado' uns lombos de salmão, também com alho, cebola, louro, e receando que os camarões, apesar de muitos e grandes, se perdessem na quiche (dado que têm uma textura muito leve, praticamente neutra), lasquei ainda um lombo de salmão dos que tinha feito para a tortilha. Penso que estava boa (não comi pois sou alérgica a marisco de casca encarnada). Mas, de facto, o meu filho disse que a textura dos camarões perdia-se na quiche, mais valia que se tivessem comido por si só.

Para a tortilha, estufei, com um pouco de azeite, legumes variados (cenoura ralada, alho francês, couve lombarda, micro bocadinhos de pimento, cebola, salsa, batatas aos cubos). Quando estava cozinhado, lasquei os lombos de salmão, juntei seis ovos, envolvi tudo. Aqueci uma frigideira muito grande e, quando o azeite estava quente, deitei tudo lá para dentro. Depois foi aquela cena de rodar a frigideira para não se pegar, depois de tostado virar com um prato grande, voltar a colocar, rodar, etc, e mais uma vez.

E fritei as bifanas de porco. Tinha comprado vinte e tal bifanas. Quando estava a fritar, pensei que era um exagero. Depois do resto, ninguém comeria tanta bifana. O meu marido também achou demais mas disse que fritasse, o que sobrasse eles levariam.

Foi tudo para a mesa bem como uma taça de salada de alface. E o meu marido levou a frigideira com as bifanas para a mesa, disse que cada um faria as que entendesse. Aqueci um monte de bolinhas de Rio Maior que também foram para a mesa bem como mostarda e ketchup. 

Resultado: sobrou um pouco de tortilha, pouco, uma fatia pequena de quiche de camarão e duas míseras bifanas. Fiquei zonza. Quando tinha acabado de fazer aquilo tudo, juraria que tinha sido um daqueles exageros de que sempre me acusam. Mas não. Para a próxima tem que ser mais. E nem sei se o mais novo não é o que come mais. Como dizia a minha avó, 'benza-o Deus'. Dá gosto vê-lo comer. E aprecia. E dá opinião. Até o 'doce' ele comeu de gosto. Meu rico menino.

E o que comem vê-se: estão todos a ficar enormes. Não imaginam como fico pequena ao lado deles quase todos. Um deles, o que está quase a fazer catorze anos, quando passou junto ao muro de lado  -- para ir com o primo e o tio para ajudarem o avô que não tinha conseguido desencarcerar sozinho um dos troncos grandes que se quebraram na noite de vendaval  -- perguntou-me: 'O muro sempre foi assim tão pequeno?'. E não estava a fazer-se engraçado. Não. Estava mesmo intrigado. É que antes ele era bem mais pequeno que o muro. Agora está quase da mesma altura. Uma coisa impressionante.

Mas falta falar do doce. Aí é que não acharam muita graça. Lá está: não gosto de fazer doces, não tenho mão. Fiz uma papa de aveia com leite, com quatro ovos, casca de duas tangerinas e, lá dentro, não me lembro se quatro ou cinco tangerinas (sem caroço). Ainda dois paus de canela e açúcar mascavado. Como geralmente nunca ponho açúcar em nada, tenho sempre receio que, ao pôr, fique doce demais. Por isso não pus muito. Provei e pareceu-me bom. Depois de estar bem cozido, grossinho, e etc, retirei os paus de canela e a casca das tangerinas e triturei bem tudo o resto, até ficar bem cremoso. Quando fui pôr no maior tabuleiro que tenho, quase deitava por fora. Fiz uma quantidade exagerada. Voltei a colocar os paus de canela e polvilhei. Quando provaram, estranharam pois acharam que eu me tinha esquecido do açúcar. Uns juntaram mais açúcar e já toleraram. Acharam que parecia papa de pequeno-almoço. 

Também tinha feito um tabuleiro de frutas. Disponho em riscas. Uvas brancas. Mirtilos. Gomos de tangerina. Morangos. Papaia aos cubos. Acho que fica bonito. Tiram à mão e servem-se. Voa num instante. 

Como sobrou imensa 'papa' (não sei como me saiu tamanha quantidade...) levaram  para comerem à noite, à ceia, ou, então, ao pequeno-almoço. Lá proteica e saudável é. 

Ficou um bocado para o meu marido que disse que gostou.

E é isto. 

Sobre o resultado das eleições na Madeira não falo. Indispõe-me. Há coisas que custam a perceber. Também me poupei à conversa do Portas. Vi o Louçã no Isto é Gozar com quem trabalha. Foi desenterrado pela Mortágua. E, para meu espanto, constatei que elege como inimigo o PS. Uma coisa surreal. Grande parte do tempo a cascar no PS -- isto em vez de cascar no Chega. Gente com astigmatismo político, caraças.

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Uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Dias felizes

domingo, março 23, 2025

Será que as sondagens mentem tanto como o Montenegro?
-- A palavra ao meu marido --

 

Desde quinta-feira que temos o regabofe instalado na comunicação social. Como foi publicada uma sondagem em que a AD tinha 20% das intenções de voto, o PS 15% e o conjunto da esquerda 3%, a maioria dos comentadores e algumas televisões (claro que a SIC foi a mais entusiástica) não se calaram a tecerem loas à governação do Montenegro, concluindo que Portugal são uns Estados Unidos em miniatura e que, tal como o MAGA em relação ao Trump, a malta se está nas tintas para os "enviesamentos" (para ser meigo) do Montenegro.

Mas vale a pena analisar a sondagem com mais profundidade e rigor do que foi feito propositada ou involuntariamente (quiçá por falta de conhecimento) por alguns dos jornalistas e comentadores. 

Segundo  a ficha técnica da sondagem, o universo da amostra é 802 pessoas (que correspondem aos escassos 15% que responderam às questões o que, já de si, mereceria uma ponderação). Analisemos, então, os números, segundo a informação publicitada.

  • Na AD afirmaram ir votar 160 pessoas, 
  • 120 pessoas afirmaram votar no PS
  • 72 pessoas têm intenção de votar no Chega 
  • na IL temos 32 pessoas 
  • e, em cada um dos partidos de esquerda, menos mal, lá houve uns 8 que têm intenção de votar ou no PC ou no Livre ou no BE. 

Não parecem quantidades de respostas impressionantes para que tanto alarido tenha sido feito.

Aliás, na mesma sondagem,os dados mais interessantes talvez até tenham sido estes:

  • 313 pessoas responderam que ainda não tinham decidido 
  • e 417 pessoas responderam que os esclarecimentos do Montenegro são insuficientes.

Portanto, as conclusões -- admitindo que com um número de respostas tão pequeno podemos considerar os resultados válidos --  são:

  • temos mais indecisos do que o conjunto de intenções de voto nos dois maiores partidos, PDS e PS
  • e mais pessoas do que o total de pessoas que afirmou terem intenções de votar em qualquer dos partidos responderam que pretendem saber mais sobre o Luís e a sua empresa (Spinunviva). 

Ou seja, afinal, as "historietas" do Luís não passaram à história.  

Apresentar os dados desta forma é bastante diferente do que tem sido alardeado pelos órgãos de comunicação social. Seria mais honesto e mais ético apresentar os números como eles são (honi soit qui mal y pense).

Nota: o total das percentagens não dá 100% pelo que pode haver uma questão de casas decimais e/ou de intenções de votos em pequenos partidos aqui não mencionados ou, mesmo, imprecisões nos dados divulgados. 

Já agora, e não querendo aborrecer o Luís, pergunto:

  • Não parece esquisito que, a ser verdade o que tem sido noticiado e não desmentido, o valor do metro quadrado de construção declarado por ele para a luxuosa casa de Espinho -- que até elevador tem --, tenha sido inferior ao preço médio da construção em Espinho? 
  • O valor declarado estará relacionado com alguns subsídios? Ou terá também a ver com alguma 'optimização fiscal'? 
  • Não parece esquisito que uma empresa que se dedicava a atividades relacionadas com o RGPD, só 18 meses depois de iniciar a atividade tenha cumprido os requisitos legais nesta área? 
  • Não parece esquisito que não estejam reduzidos a escrito os contratos relacionados com as avenças da Spinunviva? 
  • Não parece esquisito que alguém que pormenorizou o número e tipo de árvores que tinha em cada terreno não se tenha lembrado das relações comerciais da empresa de que era proprietário? 
  • Não parece esquisito que o advogado Luís não soubesse que a passagem das quotas para a mulher o mantinha como proprietário da Spinunviva?
  • Ou que não podia unir andares com diferentes proprietários?
  • E que os pedidos de licenciamento não podem se apresentados trinta dias depois do início das obras?~
  • ... 

E finalmente, mais uma cereja no topo do bolo. A célebre Inês Patrícia afirmou numa entrevista que  a Spinunviva se auto geria. Até fiquei comovido: recordou-me o PREC e as empresas em autogestão. E das duas uma: ou estamos perante perigosos revolucionários ou querem enganar-nos. Só faltava mais esta pérola! Não parece esquisito... é, no mínimo, muito esquisito!

  • Questão adicional: não seria mau, para sabermos se também não será esquisito, conhecermos quais as despesas contabilizadas na Spinunviva. Terão sido contabilizadas despesas não decorrentes da estrita atividade da empresa? Estando  a empresa em "autogestão", não terão sido indevidamente consideradas admissíveis? Senhores Jornalistas temos e devemos saber!

E uma sugestão aos Senhores Jornalistas: leiam 'Como mentem as sondagens' do Luís Paixão Martins. Talvez vos seja útil.

sábado, março 22, 2025

Eros... Eros...
[Algumas proezas da menina Vera Mulanver que, como é sabido, é danadinha para a brincadeira]

 

Hoje, de tarde, voltou a passar por aqui uma pontinha de vento que, em pouco tempo, virou tudo do avesso. Não sei como se chama a isto, se é um mini-tornado, se é uma fúria momentânea do vento. O que sei é que até uma mesa de madeira pesada desandou e iria por ali afora não se desse o caso de o meu marido ter posto uma rede a separar o terraço do relvado. 

Desde que o nosso cão mais fofo quase ia morrendo (com a língua inchada e escura) sob efeito de uma lagarta do pinheiro, agora, a partir de Fevereiro, o meu marido coloca uma rede nos acessos ao relvado. Supostamente, já terá terminado a altura das maganas descerem dos ninhos e virem enfiar-se na terra mas no INCF disseram-nos que, dado o mau tempo, admite-se que algumas se tenham atrasado. Por isso, por precaução, a rede ainda ali está. 

E uma cadeira que costuma estar ao pé do sofá comprido seguiu o mesmo caminho e ficou também ao fundo, encostada à mesa. E a mesinha pequena, metálica, idem.

E um dos cadeirões que trouxe de casa da minha mãe também voou e também ficou retido na rede, bem como as as almofadas. E uma almofada grande, rectangular, não sei como mas voou por cima da rede e foi aterrar ao pé de um pinheiro, na subida relvada. 

Depois de toda esta revoada, a ventania acalmou. 

O tempo anda assim, insolente, mais do que atrevido, descarado mesmo. E parece que esta noite a coisa vai outra vez acelerar. 

Gosto de chuva, em especial quando não é demais. Mas tenho medo do vento. É bicho sem dono, sem obediência, sem princípios.

Mas, enfim. É o que é. Fiz a 'reportagem' -- e como o Instagram é mais à base de imagens do que de palavras, coloquei-as lá, quer nas Stories quer no Feed. 

Ainda não ganhei bem a mão àquilo, ao Instagram, dá ideia que o que desperta mais a atenção são as 'lives', os vídeos -- muita gente a vestir-se, muita gente a maquilhar-se, muita gente a fazer ginástica, muita gente a desembrulhar coisas (unboxing, dizem). Mas a verdade é que me ponho a ver e de alguns até gosto, em especial vídeos de decoração, de pintura, de trabalhos manuais, de cortes de cabelo. É viciante. Mas, para eu fazer, ainda não percebi bem o que posso fazer que tenha algum jeito. Quando faço vídeos ficam uma porcaria...

Bem. Adiante. 

Hoje vou falar dos dois livros que têm tido 'mais saída', os de contos eróticos. 

Depois de ter visto as capas, os títulos e as sinopses dos livros 'eróticos' que estão à venda na Amazon, fiquei a achar que os meus, inocentes, são apenas umas gracinhas. Mas já estava, já estavam registados, com aquele número de registo atribuído, o ISBN, já não podia fazer nada. 

Quando o meu filho me informou que não ia ler nenhum dos meus livros ditos eróticos, a minha filha encolheu os ombros e disse que as minhas cenas eróticas são uma coisa assim mais ou menos, mais para o eroticozinho. Pois não sei. Quem se der ao trabalho de ler, ajuizará de si.

Os livros são uma selecção de contos que, ao longo dos tempos, em especial lá mais para trás, aqui fui escrevendo. Mas juntei alguns originais. 

  • Um deles, o da Festa de Beneficência, foi escrito há pouco tempo e inspirado numa festa real, tão bem frequentada quanto a descrevi, com particularidades como ali aparecem. E, se o conto for lido por alguém que lá esteve, poderá confirmá-lo.
  • A do Quarto Escuro foi inspirada por uma coisa que está muito em moda, mas mais para cenas de terror. Ao ouvir as descrições dos sustos que lá apanham, a minha mente -- que é como sabem, dada a desvios por maus caminhos --, ocorreu-me que poderia ser um belo presente de aniversário...

Vou transcrever apenas uns excertozinhos inocentes. Sendo este um blog de família, aqui não posso esticar-me. Por isso, aqui é apenas uma amostrazinha. De qualquer forma, não quero induzir ninguém em erro: que ninguém espere hard porn. Quando muito, soft porn.

Mostro também as capas dos dois livros.

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Uma festa de beneficência

A festa era de beneficência e nela participavam todos os que em Lisboa e arredores nadam em dinheiro mas não gostam de o alardear. Estavam lá também alguns aristocratas que, não tendo grandes rendimentos, têm ainda propriedades e jóias e, sobretudo, um prestígio antigo que dá uma certa patine a estes eventos. Tinham também sido convidados administradores de grandes empresas, daqueles que ganham bem e que, embora nas suas finanças pessoais sejam mais poupadinhos do que os verdadeiramente pobrezinhos, podem abrir os cordões à bolsa das tesourarias já que o dinheiro não é deles e é o tipo de despesas que pode trazer benefícios fiscais às empresas. 

Havia jantar com ementa apurada ou não estivessem algumas das senhoras da organização muito habituadas a seleccionar criteriosamente os caterings dos encontros familiares. E havia música, fado e quartetos de cordas, tudo generosidade dos respectivos intérpretes. E, claro, leilão.

(....)

Eu: ‘Muito bem. Então não quer ser um cavalheiro?’

Ele: ‘Ser um cavalheiro? Como?’

Eu: ‘Sendo. Venha comigo. Acompanhe-me. Não vai deixar uma senhora aventurar-se sozinha pelos misteriosos recantos de uma noite escura.’

Desci a escada de pedra. Ele veio atrás. Avancei pelo jardim. Quando senti a relva, descalcei-me. Com os sapatos pela mão, continuei a avançar. Ele ao meu lado. 

Um pássaro piou numa árvore.

Quase às escuras, avancei até ao lago, até ao banco debaixo do chorão. Ele, em silêncio, ao meu lado.

Quando chegámos, disse-lhe: ‘Então não quer pôr-se à vontade?’

Ele, sem saber o que fazer: ‘Faço o quê? Tiro os sapatos? As meias?’

Eu: ‘Olhe para mim. A luz é fraca, o luar pouco ilumina. Por isso olhe com atenção. Olhe para mim. Veja como eu faço.’

Então coloquei um pé em cima do banco e tirei uma meia. Uso meias com liga de renda com autocolante. Ele sorriu. Passou-me uma mão pela perna. 

Depois tirei a outra meia. 

Disse-lhe: ‘Sente-se. Olhe para mim. Preste atenção’.

Sentou-se. 

Com um pé fui conferir. Estava com atenção, sim.

 

(Continua...)
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O quarto escuro como presente de aniversário

Chega-se àquela fase da vida em que não há nada de material que verdadeiramente se deseje. Pelo contrário, um certo despojamento começa a ser apreciado. Talvez por isso, como presente de aniversário, naquele ano, pedi um quarto escuro. 

Se calhar sempre assim foi e eu é que desconhecia, mas tenho ideia de que, até não há muito, estas experiências não estavam à venda. Não sei. Seja como for, agora tudo se vende. Mesmo o que não faz parte do cardápio, se o cliente quer, logo os fazedores de experiências as customizam. 

E, portanto, quando me perguntaram o que é que eu desejava para festejar mais uma volta em redor do sol, foi isso que me ocorreu.

(...)

Enquanto a música tocava, eu ouvia passos, respirações. Não sabia quem mais estaria ali. Estava com os sentidos todos despertos, inquietos.
 
Então senti um sopro, como uma aragem. Parecia que uma janela se tinha aberto. De facto, logo senti como se fossem suaves afagos. Devia ser uma cortina de seda, adejando, roçando-se no meu corpo. Sem saber o que era esperado de mim, deixei-me ficar.

 Um corpo masculino encostou-se a mim, de frente, roçando-se também. Senti que outro corpo se encostava por trás. Novamente uns seios.

Depois rodaram à minha volta. Quando uns lábios afloraram os meus, não fui capaz de perceber se eram os dele ou os dela. Depois foi uma língua a entrar na minha boca. Poderia, com a mão, ter averiguado. Mas estava quase hipnotizada, obedecia submissamente.


(Continua...)

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Podem adquirir-se na Amazon (seja como e-book, seja como livro de capa normal). Junto o link para cada um:



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E quero dizer uma coisa. A Amazon apenas me informa qual o país origem das encomendas. Não sei quem encomenda. Portanto, a privacidade dos clientes e leitores está absolutamente garantida.

E quero aqui fazer uma ressalva. Tenho dito que os livros só estão à venda na Amazon mas, há pouco, ao googlar, apareceram-me à venda noutras plataformas. Fiquei intrigada. Depois é que me lembrei que, quando publico os livros, ponho um 'pisco' na opção de permitir que outras empresas de vendas de livros que tenham acordos com a Amazon os possam vender. 

Ou seja, alguns dos meus livros estão também à venda na Waterstones, BAM! Books-a-Million e creio que noutras. Mas funcionam com distribuidoras pois eu só tenho contrato com a Amazon. Para quem compra é indiferente, comprem onde comprarem, os livros são sempre impressos na Amazon.

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E é isto. 

Um bom sábado!

sexta-feira, março 21, 2025

Um segredo tão azul e Um ordenado paraíso

 

Quem me espreitou no Instagram terá visto o que nos aconteceu. Mal menor quando comparado com o que presenciámos nas redondezas e nas reportagens mas, ainda assim, um susto e um transtorno. 

De noite, um estrondo violento que não identificámos. Apenas de manhã vimos. Daquela árvore gigante que tem raízes aéreas, quebrou-se um tronco que, ao rachar e vergar, fez quebrar vários outros troncos abaixo. Agora não apenas nos parece desequilibrada e muito menos harmoniosa como, desde lá de cima da árvore até ao chão, há ramadas, folhagens. O caminho para o jardim ficou tapado.

O meu marido já esteve a serrar e esteve lá durante não sei quanto tempo e já desobstruiu o caminho mas não quer (não quer ele nem quero eu) ir lá acima, a não sei quantos metros de altura, para serrar melhor onde o tronco quebrou e para soltar os troncos que estão presos. Tem que vir cá alguém que tenha arnês e cordas e se calhar daquelas botas com picos para se fixar aos troncos. E depois há que levar todo aquele material que certamente encherá uma camioneta.

Os vasos também estavam caídos, mesmo os grandes, mas milagrosamente não se partiram.

De resto, as cadeiras e as almofadas que estavam, supostamente, abrigadas debaixo do telheiro voou tudo, foi tudo parar longe. Mas isso nem é tema.

O pobre cão, coitado, tem um medo que se pela destas intempéries, tremia, tremia, todo encostado às minhas pernas. 

Enfim, parece que o pior já lá vai. Só espero que no campo, in heaven, esteja tudo bem. Como o vizinho que mora no fim da rua não nos telefonou, presumimos que o Martinho não fez das dele por aquelas bandas.

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Ontem disse que hoje falaria um pouco dos meus livros. Aqui vai um pouco sobre dois deles. São dois romances nunca passaram pelo blog. São originais. 

Um Ordenado Paraíso tem uma grande componente verídica -- quase diria que uma certa componente autobiográfica -- e tem muito a ver com a incompreensível dinâmica da casa ao lado. Já passaram por ali vários ocupantes e nunca conseguimos compreender as relações, as ocupações, as vivências daquelas pessoas. Sempre foi tema que nos intrigou, muitas possibilidades nos ocorreram, mas nunca conseguimos chegar a qualquer conclusão. Ainda há dois dias vi uma das principais personagens e, de novo, constatei uma mutação que nem eu nem o meu marido compreendemos. E pensei que ela nem sonha que inspirou a Dona Amélia do meu livro.

Claro que, depois, a minha mente perversa me desencaminha e me leva para maus caminhos e aí a história ganha contornos algo picantes. 

Quando escrevo, parece que estou sempre à espera do momento em que posso portar-me mal. E, mal a oportunidade se desenha, eu salto e faço das minhas. E divirto-me imenso. Aliás tenho até que e conter para não me atirar completamente para fora de pé.

A capa é uma fotografia de uma flor aqui do jardim. O título foi extraído de um poema de Jorge Luis Borges.

Há em 3 versões e, claro, só pode ser adquirido via Amazon, nestes links: em capa normal (tapa blanda, em espanhol) e em capa dura e também em e-book

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O outro romance original é daquelas histórias de quem se pode quase dizer que é uma história digamos que maldita. Não o romance em si mas a história subjacente ao romance.

Já uma vez aqui falei do que aconteceu.

No Liceu tinha um colega um pouco incomum, inteligente mas vagamente esotérico. Interessava-se muito por descobertas, invenções, e por explorar fenómenos paranormais. Sempre achou que eu tinha dons telepáticos e usava-me muitas vezes para experiências. Com frequência eu adivinhava coisas segundo testes ou exercícios que ele fazia. Quer eu quer ele, sendo pessoas já na altura ligadas mais à Ciência e pouco a religiões, a nossa curiosidade era mais encontrar explicação para o que parecia inexplicável. Não seguimos o mesmo curso mas voltei a encontrá-lo como colega do meu marido. Quando nos encontrávamos as nossas conversas eram sempre estimulantes mas uma delas impressionou-me bastante pois, na verdade, relacionou-se com coisas estranhas e misteriosas que me tinham acontecido. Há algum tempo, quando trouxe cartas de casa dos meus pais, encontrei cartas dele, com uma caligrafia perfeita e ideias extraordinárias. 

No romance Um segredo tão azul relato essas coisas estranhas que me aconteceram e relato a conversa que tive com ele a propósito disso. E falo de um palacete muito real, que frequentei, e que aparece não apenas neste romance mas noutros livros. É um palacete ou solar, como se queira, no centro de uma das nossas mais belas vilas. Alguns dos personagens foram inspirados pelos donos desse palacete.

E a história da mãe da personagem feminina, a pintora, é também muito inspirada na mãe de um amigo meu que viveu uma vida incrível.

Ou seja, é um romance que tem componentes inspirados em vidas muito reais.

E acontece que fui escrevendo, escrevendo e, às tantas, o Fred, o personagem inspirado pelo meu amigo morre inesperadamente. Custou-me muito prosseguir com a escrita pois quase sentia que estava a matar uma pessoa real. Parei algumas vezes. Escrevia e até me encolhia por estar a acontecer aquilo, a falar da morte de um personagem que, na minha cabeça, era esse meu amigo. Mas lá me fui convencendo que era ficção e lá continuei. Claro que, lido assim, parece estúpido pois se estava a incomodar-me, alterava a história e não o punha morto. Mas não consegui. Na minha cabeça tudo aquilo só fazia sentido se ele tivesse morrido sem a personagem feminina saber, com o choque que ela sentia ao descobrir. 

Um dia estava a conversar com o meu marido e ele falou nele. Achei engraçado ele estar a lembrar-se de uma pessoa que tinha entrado na história que eu estava a escrever. Não sabíamos que era feito dele. Contei-lhe que o tinha googlado e que não o tinha descoberto mas que ele era uma pessoa meio secreta, não admirava que não deixasse rastos. Contei-lhe que curiosamente estava a usá-lo como personagem no livro que estava a escrever mas não fui capaz de confessar que o tinha liquidado. Tive vergonha ou receio, nem sei. Aliás sei: sei que ele ia achar péssima ideia, não ia gostar.

Entretanto, estando já na recta final do livro, já a história tinha evoluído num outro sentido, já havia amor e malandrice no ar, ligou-me uma amiga. Estivemos a conversar e, às tantas, ela falou-me num colega, digamos que Rosário. Até estremeci, estava, do nada, a falar-me dele. Disse-lhe que me lembrava bem dele, das nossas conversas telepáticas. E ela disse: 'Ah sim, mas eu estava a falar do António Rosário. Esse de que falas é o Nunes Rosário.' Os nomes não são estes mas para o caso tanto dá. E, então, diz ela: 'Mas o Nunes Rosário, não soubeste?, morreu...'. Fiquei gelada. Fiquei verdadeiramente impressionada. 

Contei ao meu marido. Ficou também deveras impressionado. 'Falámos nele há dias...'. Continuei a não ser capaz de lhe contar que, na minha história, ele também tinha morrido.

Nesse dia, equacionei verdadeiramente não acabar o romance. Estava assustada. Incomodada com tudo aquilo. 

Mas, uma vez mais, forcei-me a pensar: 'É ficção. Não tem nada a ver com a realidade. Foi apenas uma coincidência.'

Quando acabei o livro, como sempre, pedi ao meu marido que lesse.

Como se levanta sempre muito antes de mim, quando me levantei estava ele muito mal disposto, aborrecido. Disse que não queria acabar de ler o livro. Já tinha chegado ao ponto em que se sabia que ele tinha morrido. Perguntou-me: 'Mas quando escreveste isto já sabias?'

Claro que não. Já tinha escrito essa parte há semanas. Não tinha como saber. Contei-lhe que tinha ficado passada e indisposta quando tinha sabido não apenas pelo facto em si, sobretudo por isso, mas também por eu ter 'antevisto' isso ao escrever.  

Mas a verdade é que se recusou a ler o resto do livro, incomodado, incomodado com a coincidência.

Mas isto é a história por detrás da história. A história em si tem mistério mas não é esotérica ou sinistra. Não, nem pensar.

A capa é a tal que a minha filha acha pirosa. Mas eu queria mostrar uma pintora que procurava o azul perfeito. Talvez um dia arranje uma capa menos realista. 

Neste caso, ainda não criei a versão capa dura: apenas há em e-book e em capa normal

Este é o terceiro livro mais comprado e mais lido. Os dois primeiros são, sem surpresa, os dois livros de Contos Eróticos... )

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Depois logo falo de outros dos livros. 

Gosto de falar de livros, mesmo que sejam os meus. Só espero que, para vocês, não seja uma seca...

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Uma boa sexta-feira.

quinta-feira, março 20, 2025

Eu, Vera Mulanver, me confesso

 

Tenho andado a adiar... Sabem o que é...? Não me sinto segura. Tenho receio que haja erros, que pareça trabalho pouco asseado.

Mas como também não tenho paciência para me debruçar sobre eles a tentar descobrir-lhes imperfeições, resolvi que não valia a pena esperar que se revissem sozinhos porque, notoriamente, isso não vai acontecer.

Então, vou revelar. 

Como creio que já contei, reuni vários textos antes aqui publicados, uns como 'folhetins', outros como 'prosas' soltas e 'montei' uns livros que tenho vindo a publicar na Amazon.

Tenho também três outros que são completamente originais (um dos quais para crianças).

Mesmo nos que são compilação de textos, há textos originais.

Só que eu gosto é de escrever, não de rever, não de burilar. É que, quando me ponho a rever, ou me apetece reescrever de cabo a raso ou, então, distraio-me ou lá o que é e, às tantas, já não estou a prestar qualquer atenção.

Portanto, se se derem ao trabalho de adquirir algum e se descobrirem pontos onde deviam estar vírgulas ou palavras repetidas ou omissas, só vos peço que façam a caridade de me informar para eu poder alterar.

Quero ainda explicar a razão da escolha da Amazon. Enviei dois originais para algumas das principais editoras mas as que responderam disseram que já tinham fechada a lista de livros a publicar este ano. Depois enviei um deles para três das editoras em que o autor é o responsável pelo investimento inicial, através da aquisição de cerca de 60 ou 70 exemplares. E isto parece ser a prática usual. Todos responderam elogiando o livro, dizendo que queriam publicá-lo. Mas naquelas condições. Dizem que na sessão de lançamento, os autores costumam vender, eles próprios, esses seus livros. Ora não estou a ver-me a 'cravar' amigos e conhecidos e a 'impingir-lhes' livros. 

Contactei o José Cipriano Catarino que, lembrava-me, tinha falado no seu blog Viajante no Tempo que tinha publicado livros na Amazon. Foi simpaticíssimo, tranquilizou-me, disse-me que não era muito difícil, que, ao contrário de outras editoras, são transparentes nos cálculos, que corre bem.

Portanto, meti mãos à obra.

E já publiquei uns quantos. Comecei nos últimos dias de Dezembro, creio que a 22 ou 23. Depois retomei em Janeiro. 

Paginar, fazer as capas, escrever a sinopse, escolher as palavras chave, seleccionar as categorias... E lá vai disto.

Quando viu as capas que eu tinha feito, a minha filha achou uma piroseira. Portanto, tive que fazer reset e refazê-las. 

Mostro esta pois acho que ficou bonita. E esta ela aprovou.

Só não refiz uma delas porque percebo o que ela diz mas acho que mostra o que eu tinha em mente quando escrevi. Ela acha uma coisa mesmo pirosa, e até estou tentada a dar-lhe razão, mas, até ver, fica como está. 

Talvez um dia a refaça mesmo... 

Depois, ao ver uma outra capa, a do 1º volume dos Contos Eróticos, a minha nora disse-me que estava muito parecida com a capa de 'A Criada'. Desconhecia. Aliás, desconhecia o livro, desconhecia a autora. Fui ver e de facto estava parecida. Fiquei perplexa. Como foi tal possível? Portanto, nova capa. Uma trabalheira...

Enfim. Todo um novo desafio...

Vender livros na Amazon é o mesmo que plantar um florzinha pequena no meio de uma selva. Ninguém vai descobrir a florzinha. Segundo a Amazon, deveria oferecer livros às comunidades que fazem leituras de livros e vão lá ao site avaliar pois, ao que parece, as pessoas compram sobretudo pelas reviews. Ou deveria fazer campanhas de marketing ou sei lá. Parece que as redes sociais também ajudam e, então, à pala disso, resolvi criar uma conta no Instagram (podem pesquisar pelo nome, que lá está, uma coisa ainda a apalpar terreno e apenas iniciada em Fevereiro). 

Mas a verdade é que, já mesmo quando trabalhava, gostava mais de comprar do que de vender. Não tenho à-vontade como vendedora, muito menos a vender coisas minhas. Mesmo para escrever as sinopses que, supostamente, devem ter um cariz comercial, apelativo, sinto um certo pudor. Estar a enaltecer o que escrevo parece-me petulância, falta de noção.

Idealmente, publicava-os e fazia como aqui, ou seja, nada, publicidade nenhuma. Até hoje a autoria deste blog é desconhecida da maior parte das pessoas da minha família e de todos os meus amigos. Volta e meia alguns amigos dizem-me que tenho jeito para escrever, que devia publicar. E eu caladinha. Nem conto do blog nem dos livros. Nada. 

Quando aqui estou, escrevo, publico e está feito, quem quiser que leia. Com os livros era bom que fosse a mesma coisa. 

Mas, por outro lado, é estúpido, não é? Se publico, parece fazer algum sentido que alguém saiba disso. E, sabendo, se quiser, compra. Se não quiser, segue adiante.

Publiquei os livros em versão e-book e em versão capa normal. Em dois deles, publiquei também com capa dura, que são bem melhores. Mas, como saem mais caros, ainda não estendi aos outros mas, na volta, um dia destes, ocupo-me disso.

Tive que escolher o preço de venda para cada um. Penso que coloquei um valor relativamente baixo, pelo menos comparativamente com livros de outros autores. A margem para mim também é baixinha. Mas não penso ficar rica com a venda de livros. Contudo, não sei se, em termos de marketing, é a opção mais inteligente. Geralmente parece que a gente desconfia do que é mais barato, não é?

Não sei. 

Por causa daquilo da capa, fui informar-me e li que a autora de A Criada, Freida McFadden, por não conseguir que as editoras 'normais' a publicassem, optou pela Amazon. E que decorreram 10 anos até que uma editora 'normal' tivesse resolvido apostar nela. Já vendeu milhões, todos os livros são best sellers.

Não creio que vá ter a mesma sorte mas, pelo menos, fiquei animada... Talvez ter os livros na Amazon não seja sinónimo de ninguém conhecer os meus livros para todo o sempre... Claro que ela é mais nova que eu... Mas não faz mal, sou optimista, tenho sempre esperança.

A Amazon recomenda que se escreva um sub-título. Parece que pode ajudar nas pesquisas. Lá o fiz. Mas parece-me disparatado. A dois dos livros, livros de contos, dei como subtítulo 'Contos Eróticos' e classifiquei-os na categoria de 'erotismo' ou 'literatura erótica'. Quando fiz uma pesquisa na Amazon, por lá os livros ditos eróticos parecem ser porno da pesada. Quem vai à espera de encontrar coisa da pesada, ficará frustrado com os meus tão cheios de subtilezas, ironias, brincadeirinhas...

Como balanço, à data de hoje, já foram comprados 701 exemplares. A grande, larguíssima maioria, foi comprada no Brasil. Mas também, Estados Unidos, França, Espanha, Alemanha e, até, Japão. E há também uma modalidade, que eu desconhecia, em que, se bem percebo, em vez de os leitores comprarem o livro, podem ler online, pagando um x (1 ou 2 cêntimos, creio) por página lida. Até hoje já foram lidas 2.444 páginas. Sinceramente, pasmo como me descobriram. Eu própria, se não me pesquisar pelo nome, não me encontro.

Que eu me tenha dado conta ainda não foi comprado nenhum livro em Portugal. Para os meus filhos comprei-lhes eu, claro, e foram provas de autor, não contam para a estatística.

Podem ser comprados através da Amazon.es ou Amazon.com ou em qualquer outra. 


Já é muito tarde e isto já vai longo mas amanhã ou depois logo falo um pouco de cada livro, está bem?

(E tenho mais uns quantos originais para avançarem para publicação. Falta-me é o tempo pois ocupo-o sobretudo a escrever, a escrever torrencialmente, uma coisa do caraças...)

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E vai por aqui um vendaval que nem vos digo nem vos conto. Prevejo que parte dos meus vasos estão caídos e tomara que não partidos. Tenho ouvido estrondos que só visto. Mas nem ouso abrir a janela, de tal forma o Martinho está desencabrestado.

Desejo-vos um bom dia
 (e agora vou dormir)

quarta-feira, março 19, 2025

De facto, nunca se sabe...

 

Quando vejo o que já fiz fico espantada. 

Lembro-me sempre de quando um colega de trabalho veio a minha casa. Quando apontei as carpetes de Arraiolos (por exemplo, esta aqui ao lado) e disse que tinha sido eu a fazê-las, ele ficou espantado. Na brincadeira disse: 'Mas como? Quando vou ao seu gabinete, nunca a vi a fazer...'. Na realidade, chegando a casa sempre bastante tarde, tendo filhos, tendo jantar a fazer, levantando-me sempre cedo, como conseguia eu fazer aquelas grandes carpetes apenas à noite ou ao fim de semana, sendo que, ao fim de semana, íamos para o campo com toda a demorada logística que isso acarretava, lá andava nas jardinagens e noutras actividades, como conseguia...? E, no entanto, conseguia. Adorava fazer. E bordava a um ritmo impressionante.

Hoje fotografei duas colchas de crochet, uma das quais feita por mim (a que está aqui abaixo). Em que momento a consegui fazer, tão grande? Creio que a fiz ainda solteira. Ora, como se, durante a semana, estava por minha conta e muito longe de crochets, e se, ao fim de semana, tinha o meu namorado lá em casa? Custa-me a perceber. Mas a verdade é que a fiz.

Da mesma maneira quando vejo as dezenas, dezenas, muitas, muitas, telas que pintei. Como? Como consegui eu pintar tudo aquilo?

Talvez seja o mesmo espanto com que fico quando me ponho a seleccionar ou a tentar organizar textos que escrevi aqui (e no Ginjal & Lisboa, a love affair). Não sei como consegui escrever tanto, em especial quando a maior parte foi escrita estando eu a trabalhar de sol a sol, carregada de trabalho até à ponta dos cabelos. 

Olho para trás, para todas estas fases e espanto-me como se não fosse eu. Na verdade, não me lembro de qualquer esforço, nem tenho ideia de que fosse grande feito. Apenas sei que o fazia com prazer. E, em qualquer dos casos, apenas deixei de fazê-lo por não ter onde pôr o que fizesse, se continuasse a produzir. 

E não estou a falar de tudo, pois, por exemplo, também houve a fase do tricot. Fiz camisolas, casacos, até que chegou a Zara com malhas giríssimas e a bom preço e já não fazia sentido usar as minhas peças.

Mas o que, nisto, para mim é mais espantoso não é nada do que falei: o mais espantoso é que, durante todos esses anos, a minha actividade principal não teve nada a ver com nada disto. Era uma executiva, creio que bem sucedida, exigente, creio que uma boa profissional. Contudo, olho para trás e parece que pouco ficou. Do resto ficaram colchas, tapetes, pinturas. Mas das longas décadas de trabalho o que ficou foram memórias que com o tempo se esbaterão pois parece que tudo aquilo só fazia sentido naquele contexto, naquele tempo. Saída desse contexto, o que vivi parece que pouco ou nada interessa, nem a mim nem a ninguém.

De facto, nunca se sabe o que fica daquilo que é a nossa vida. 

Estou agora numa outra fase. 

Hoje fomos almoçar a um restaurante naquela zona da cidade de que tanto gosto, Alvalade. Felizmente arranjámos facilmente estacionamento e felizmente fomos muito bem servidos. E aproveitámos para passear e ver o pequeno comércio tradicional, de que tanto gosto. Mas o ruído da cidade, o trânsito, isso já nos incomoda um bocado. Parece que estamos melhor no nosso sossego, nas nossas insignificantes tarefas domésticas, respirando o ar puro, jardinando, cozinhando, passeando com o nosso cão. 

Aqueles tempos exigentes do traçado dos objectivos, das sempre difíceis avaliações, dos projectos complexos, das fusões de empresas, das grandes reorganizações, na negociação de grandes contratos internacionais, parecem coisas meio difusas das quais não sobrou prova, pelo menos nada que possa pôr no chão, numa parede, numa cama.

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Mountain Girl 

- Documentary Short Film

Award-winning (Silver Telly 2024 - Documentary Under 40 Minutes) inspiring mini-documentary about aging gracefully and overcoming the obstacles in life with an 80-year old retired fashion model (Vogue, Bazaar) and a star of a cult classic film "Manos: The Hands of Fate" (as Diane Mahree). 


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Dias felizes