Desde quinta-feira que temos o regabofe instalado na comunicação social. Como foi publicada uma sondagem em que a AD tinha 20% das intenções de voto, o PS 15% e o conjunto da esquerda 3%, a maioria dos comentadores e algumas televisões (claro que a SIC foi a mais entusiástica) não se calaram a tecerem loas à governação do Montenegro, concluindo que Portugal são uns Estados Unidos em miniatura e que, tal como o MAGA em relação ao Trump, a malta se está nas tintas para os "enviesamentos" (para ser meigo) do Montenegro.
Mas vale a pena analisar a sondagem com mais profundidade e rigor do que foi feito propositada ou involuntariamente (quiçá por falta de conhecimento) por alguns dos jornalistas e comentadores.
Segundo a ficha técnica da sondagem, o universo da amostra é 802 pessoas (que correspondem aos escassos 15% que responderam às questões o que, já de si, mereceria uma ponderação). Analisemos, então, os números, segundo a informação publicitada.
- Na AD afirmaram ir votar 160 pessoas,
- 120 pessoas afirmaram votar no PS
- 72 pessoas têm intenção de votar no Chega
- na IL temos 32 pessoas
- e, em cada um dos partidos de esquerda, menos mal, lá houve uns 8 que têm intenção de votar ou no PC ou no Livre ou no BE.
Não parecem quantidades de respostas impressionantes para que tanto alarido tenha sido feito.
Aliás, na mesma sondagem,os dados mais interessantes talvez até tenham sido estes:
- 313 pessoas responderam que ainda não tinham decidido
- e 417 pessoas responderam que os esclarecimentos do Montenegro são insuficientes.
Portanto, as conclusões -- admitindo que com um número de respostas tão pequeno podemos considerar os resultados válidos -- são:
- temos mais indecisos do que o conjunto de intenções de voto nos dois maiores partidos, PDS e PS
- e mais pessoas do que o total de pessoas que afirmou terem intenções de votar em qualquer dos partidos responderam que pretendem saber mais sobre o Luís e a sua empresa (Spinunviva).
Ou seja, afinal, as "historietas" do Luís não passaram à história.
Apresentar os dados desta forma é bastante diferente do que tem sido alardeado pelos órgãos de comunicação social. Seria mais honesto e mais ético apresentar os números como eles são (honi soit qui mal y pense).
Nota: o total das percentagens não dá 100% pelo que pode haver uma questão de casas decimais e/ou de intenções de votos em pequenos partidos aqui não mencionados ou, mesmo, imprecisões nos dados divulgados.
Já agora, e não querendo aborrecer o Luís, pergunto:
- Não parece esquisito que, a ser verdade o que tem sido noticiado e não desmentido, o valor do metro quadrado de construção declarado por ele para a luxuosa casa de Espinho -- que até elevador tem --, tenha sido inferior ao preço médio da construção em Espinho?
- O valor declarado estará relacionado com alguns subsídios? Ou terá também a ver com alguma 'optimização fiscal'?
- Não parece esquisito que uma empresa que se dedicava a atividades relacionadas com o RGPD, só 18 meses depois de iniciar a atividade tenha cumprido os requisitos legais nesta área?
- Não parece esquisito que não estejam reduzidos a escrito os contratos relacionados com as avenças da Spinunviva?
- Não parece esquisito que alguém que pormenorizou o número e tipo de árvores que tinha em cada terreno não se tenha lembrado das relações comerciais da empresa de que era proprietário?
- Não parece esquisito que o advogado Luís não soubesse que a passagem das quotas para a mulher o mantinha como proprietário da Spinunviva?
- Ou que não podia unir andares com diferentes proprietários?
- E que os pedidos de licenciamento não podem se apresentados trinta dias depois do início das obras?~
- ...
E finalmente, mais uma cereja no topo do bolo. A célebre Inês Patrícia afirmou numa entrevista que a Spinunviva se auto geria. Até fiquei comovido: recordou-me o PREC e as empresas em autogestão. E das duas uma: ou estamos perante perigosos revolucionários ou querem enganar-nos. Só faltava mais esta pérola! Não parece esquisito... é, no mínimo, muito esquisito!
- Questão adicional: não seria mau, para sabermos se também não será esquisito, conhecermos quais as despesas contabilizadas na Spinunviva. Terão sido contabilizadas despesas não decorrentes da estrita atividade da empresa? Estando a empresa em "autogestão", não terão sido indevidamente consideradas admissíveis? Senhores Jornalistas temos e devemos saber!
E uma sugestão aos Senhores Jornalistas: leiam 'Como mentem as sondagens' do Luís Paixão Martins. Talvez vos seja útil.
4 comentários:
Olá UJM e seu Marido, é realmente impressionante o modo como alguma comunicação social nos quer manipular. Veja-se a primeira página do Expresso, no que respeita à pseudo-sondagem que refere no seu post: “AD À FRENTE COM RECORDE DE 39% de indecisos”. Sabem o que acho? Que metade do País, aquele que lava o dinheiro ou foge descaradamente aos impostos, revê-se nas chico-espertices que parecem estar em tabela no caso do PM. Preferem ter no governo gente com quem se identifiquem, estão mais seguros nas suas atividades menos transparentes. Recomendo o artigo do psiquiatra José Gameiro, no Expresso desta semana, intitulado “Coisas Estranhas” ( embora o Expresso infelizmente seja já pouco recomendável)
Resto de um bom domingo
Filo
Exatamente.Na mouche.
Olá Filo,
Tal e qual. Veja-se o resultado das eleições na Madeira...
Custa a perceber o pensamento de quem sabendo que algumas pessoas são pouco recomendáveis, dados a esquemas e a chico-espertices, votam nelas. Talvez seja mesmo o que diz.
Como chegámos a esta mediocridade, não é? Uma pena.
Uma boa semana para si, Filo
Abraço!
Em nome do meu marido (que a esta hora já dorme o sono dos justos -- são quase duas da manhã -- agradeço.
Uma boa semana para si, Ccastanho.
Abraço.
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