sexta-feira, março 21, 2025

Um segredo tão azul e Um ordenado paraíso

 

Quem me espreitou no Instagram terá visto o que nos aconteceu. Mal menor quando comparado com o que presenciámos nas redondezas e nas reportagens mas, ainda assim, um susto e um transtorno. 

De noite, um estrondo violento que não identificámos. Apenas de manhã vimos. Daquela árvore gigante que tem raízes aéreas, quebrou-se um tronco que, ao rachar e vergar, fez quebrar vários outros troncos abaixo. Agora não apenas nos parece desequilibrada e muito menos harmoniosa como, desde lá de cima da árvore até ao chão, há ramadas, folhagens. O caminho para o jardim ficou tapado.

O meu marido já esteve a serrar e esteve lá durante não sei quanto tempo e já desobstruiu o caminho mas não quer (não quer ele nem quero eu) ir lá acima, a não sei quantos metros de altura, para serrar melhor onde o tronco quebrou e para soltar os troncos que estão presos. Tem que vir cá alguém que tenha arnês e cordas e se calhar daquelas botas com picos para se fixar aos troncos. E depois há que levar todo aquele material que certamente encherá uma camioneta.

Os vasos também estavam caídos, mesmo os grandes, mas milagrosamente não se partiram.

De resto, as cadeiras e as almofadas que estavam, supostamente, abrigadas debaixo do telheiro voou tudo, foi tudo parar longe. Mas isso nem é tema.

O pobre cão, coitado, tem um medo que se pela destas intempéries, tremia, tremia, todo encostado às minhas pernas. 

Enfim, parece que o pior já lá vai. Só espero que no campo, in heaven, esteja tudo bem. Como o vizinho que mora no fim da rua não nos telefonou, presumimos que o Martinho não fez das dele por aquelas bandas.

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Ontem disse que hoje falaria um pouco dos meus livros. Aqui vai um pouco sobre dois deles. São dois romances nunca passaram pelo blog. São originais. 

Um Ordenado Paraíso tem uma grande componente verídica -- quase diria que uma certa componente autobiográfica -- e tem muito a ver com a incompreensível dinâmica da casa ao lado. Já passaram por ali vários ocupantes e nunca conseguimos compreender as relações, as ocupações, as vivências daquelas pessoas. Sempre foi tema que nos intrigou, muitas possibilidades nos ocorreram, mas nunca conseguimos chegar a qualquer conclusão. Ainda há dois dias vi uma das principais personagens e, de novo, constatei uma mutação que nem eu nem o meu marido compreendemos. E pensei que ela nem sonha que inspirou a Dona Amélia do meu livro.

Claro que, depois, a minha mente perversa me desencaminha e me leva para maus caminhos e aí a história ganha contornos algo picantes. 

Quando escrevo, parece que estou sempre à espera do momento em que posso portar-me mal. E, mal a oportunidade se desenha, eu salto e faço das minhas. E divirto-me imenso. Aliás tenho até que e conter para não me atirar completamente para fora de pé.

A capa é uma fotografia de uma flor aqui do jardim. O título foi extraído de um poema de Jorge Luis Borges.

Há em 3 versões e, claro, só pode ser adquirido via Amazon, nestes links: em capa normal (tapa blanda, em espanhol) e em capa dura e também em e-book

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O outro romance original é daquelas histórias de quem se pode quase dizer que é uma história digamos que maldita. Não o romance em si mas a história subjacente ao romance.

Já uma vez aqui falei do que aconteceu.

No Liceu tinha um colega um pouco incomum, inteligente mas vagamente esotérico. Interessava-se muito por descobertas, invenções, e por explorar fenómenos paranormais. Sempre achou que eu tinha dons telepáticos e usava-me muitas vezes para experiências. Com frequência eu adivinhava coisas segundo testes ou exercícios que ele fazia. Quer eu quer ele, sendo pessoas já na altura ligadas mais à Ciência e pouco a religiões, a nossa curiosidade era mais encontrar explicação para o que parecia inexplicável. Não seguimos o mesmo curso mas voltei a encontrá-lo como colega do meu marido. Quando nos encontrávamos as nossas conversas eram sempre estimulantes mas uma delas impressionou-me bastante pois, na verdade, relacionou-se com coisas estranhas e misteriosas que me tinham acontecido. Há algum tempo, quando trouxe cartas de casa dos meus pais, encontrei cartas dele, com uma caligrafia perfeita e ideias extraordinárias. 

No romance Um segredo tão azul relato essas coisas estranhas que me aconteceram e relato a conversa que tive com ele a propósito disso. E falo de um palacete muito real, que frequentei, e que aparece não apenas neste romance mas noutros livros. É um palacete ou solar, como se queira, no centro de uma das nossas mais belas vilas. Alguns dos personagens foram inspirados pelos donos desse palacete.

E a história da mãe da personagem feminina, a pintora, é também muito inspirada na mãe de um amigo meu que viveu uma vida incrível.

Ou seja, é um romance que tem componentes inspirados em vidas muito reais.

E acontece que fui escrevendo, escrevendo e, às tantas, o Fred, o personagem inspirado pelo meu amigo morre inesperadamente. Custou-me muito prosseguir com a escrita pois quase sentia que estava a matar uma pessoa real. Parei algumas vezes. Escrevia e até me encolhia por estar a acontecer aquilo, a falar da morte de um personagem que, na minha cabeça, era esse meu amigo. Mas lá me fui convencendo que era ficção e lá continuei. Claro que, lido assim, parece estúpido pois se estava a incomodar-me, alterava a história e não o punha morto. Mas não consegui. Na minha cabeça tudo aquilo só fazia sentido se ele tivesse morrido sem a personagem feminina saber, com o choque que ela sentia ao descobrir. 

Um dia estava a conversar com o meu marido e ele falou nele. Achei engraçado ele estar a lembrar-se de uma pessoa que tinha entrado na história que eu estava a escrever. Não sabíamos que era feito dele. Contei-lhe que o tinha googlado e que não o tinha descoberto mas que ele era uma pessoa meio secreta, não admirava que não deixasse rastos. Contei-lhe que curiosamente estava a usá-lo como personagem no livro que estava a escrever mas não fui capaz de confessar que o tinha liquidado. Tive vergonha ou receio, nem sei. Aliás sei: sei que ele ia achar péssima ideia, não ia gostar.

Entretanto, estando já na recta final do livro, já a história tinha evoluído num outro sentido, já havia amor e malandrice no ar, ligou-me uma amiga. Estivemos a conversar e, às tantas, ela falou-me num colega, digamos que Rosário. Até estremeci, estava, do nada, a falar-me dele. Disse-lhe que me lembrava bem dele, das nossas conversas telepáticas. E ela disse: 'Ah sim, mas eu estava a falar do António Rosário. Esse de que falas é o Nunes Rosário.' Os nomes não são estes mas para o caso tanto dá. E, então, diz ela: 'Mas o Nunes Rosário, não soubeste?, morreu...'. Fiquei gelada. Fiquei verdadeiramente impressionada. 

Contei ao meu marido. Ficou também deveras impressionado. 'Falámos nele há dias...'. Continuei a não ser capaz de lhe contar que, na minha história, ele também tinha morrido.

Nesse dia, equacionei verdadeiramente não acabar o romance. Estava assustada. Incomodada com tudo aquilo. 

Mas, uma vez mais, forcei-me a pensar: 'É ficção. Não tem nada a ver com a realidade. Foi apenas uma coincidência.'

Quando acabei o livro, como sempre, pedi ao meu marido que lesse.

Como se levanta sempre muito antes de mim, quando me levantei estava ele muito mal disposto, aborrecido. Disse que não queria acabar de ler o livro. Já tinha chegado ao ponto em que se sabia que ele tinha morrido. Perguntou-me: 'Mas quando escreveste isto já sabias?'

Claro que não. Já tinha escrito essa parte há semanas. Não tinha como saber. Contei-lhe que tinha ficado passada e indisposta quando tinha sabido não apenas pelo facto em si, sobretudo por isso, mas também por eu ter 'antevisto' isso ao escrever.  

Mas a verdade é que se recusou a ler o resto do livro, incomodado, incomodado com a coincidência.

Mas isto é a história por detrás da história. A história em si tem mistério mas não é esotérica ou sinistra. Não, nem pensar.

A capa é a tal que a minha filha acha pirosa. Mas eu queria mostrar uma pintora que procurava o azul perfeito. Talvez um dia arranje uma capa menos realista. 

Neste caso, ainda não criei a versão capa dura: apenas há em e-book e em capa normal

Este é o terceiro livro mais comprado e mais lido. Os dois primeiros são, sem surpresa, os dois livros de Contos Eróticos... )

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Depois logo falo de outros dos livros. 

Gosto de falar de livros, mesmo que sejam os meus. Só espero que, para vocês, não seja uma seca...

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Uma boa sexta-feira.

2 comentários:

Pôr do Sol disse...

Olá Um Jeito Manso, claro que não é uma seca, pelo menos para mim, pois há muito que os aguardava.
Parabens pela resiliência e pela capacidade de trabalho. Tenho de dar corda aos sapatos, como diz a minha pequenina, para me pôr em dia. Certo que me vai dar muito gosto, e assim ajudará a aliviar a tensão em que este mundo nos põe.
Em tempos fiz compras na Amazon mas já não me lembro das senhas, vou ter que me dedicar a essa tarefa.
Um abraço, saude, e bom fim de semana sem intempéries desastrosas.

Um Jeito Manso disse...

Olá Querida Pôr do Sol,
espero que os meus livros predisponham bem. Gosto de escrever histórias que, apesar do enredo, acabem 'bem', tenham um final feliz. Não gosto de escrever coisas depressivas. Gosto de personagens que enfrentam problemas com coragem, com criatividade. E gosto de um clima de romantismo. Espero que, quando o livro acabe, quem o lê fique bem disposto, de preferência com um sorriso.
É muito fácil comprar coisas na Amazon, são muito fiáveis, entregam na data, corre sempre bem. Penso que é fácil recuperar a senha, devem mandar um mail a dizer o que fazer. (Senão é criar uma conta nova...)
Espero que vá tudo bem consigo e com os seus (com os seus e com as suas, as suas meninas). Este tempo anda escuro, frio, aborrecido. Já dá vontade de ir apanhar sol, passear com calma, sem ser à chuva, não é?
Saúde!
Um abraço, Sol Nascente!