quarta-feira, julho 05, 2023

Um mundo mais verde

 

O tema de se encarar uma terra seca, pedregosa e de mato rasteiro não como um caso perdido mas como uma tela em branco é-me muito caro.

As nossas terras, dadas as alterações climáticas, estão fadadas a ser crescentemente assim. Quaisquer mapas do país o mostram. Do Algarve para cima, ao longo dos próximos anos, o país aparecerá pintado a escuro, encarnado, laranja, amarelo (aclarando à medida que se vem para norte).

E as nossas populações maioritariamente estão-se a marimbar para isso. 

As televisões movem-se em torno de casos e casinhos, com comentadores pululando de canal em canal, os jovens movem-se em torno de influencers parvos no youtube e muita gente move-se em torno da miséria moral exposta pelo correio da manha.

Pouco sobra.

Nas férias, a malta precisa de descansar ou de se alienar e, segundo dizem as agências de viagens, ala moço que se faz tarde, grande parte da população parte para destinos longínquos.

E, no entanto, que interessante seria se o país (este nosso país e provavelmente todos os que estão em risco de terem condições de vida adversa dentro de pouco tempo) conseguisse mobilizar a população, nem que fosse uma semana por ano, para ajudar na reflorestação de terrenos em que não há biodiversidade. Claro que estas coisas devem ser estruturadas, planeadas. Não pode ser qualquer um, ad hoc, chegar ao pé de um terreno qualquer e pespegar uma árvore. Por isso falo em mobilizar a população em torno de projectos colectivos. Acredito que as pessoas se sentiriam bem, em regime de voluntariado, desde que sentissem que era uma marca sua que ficaria para assegurar um melhor futuro.

Já contei muitas vezes a transformação que operámos no terreno que circunda a nossa casa no campo. O que é agora não tem comparação possível com o que era quando para lá fomos. Toda aquela zona era de terra seca e mato escasso e rasteiro. E, no entanto, um pouco mais abaixo, havia uma mancha verde. Íamos lá passear e, ao entrarmos naquele pedaço, sentíamos o ar mais fresco. Havia árvores grandes, arbustos verdes. Contaram-nos que tinha vivido lá um homem que, durante uns anos, se tinha dedicado a cuidar daquele bocado de terra. Parecia um pequeno oásis. Ele já morreu há algum tempo mas ficou esse seu legado.

Encantou-me imensamente. Logo sonhei transformar o nosso bocado de terra também num espaço verdejante. Um pequeno bosque. Un petit bois

Sonhava ter árvores grandes, acolhedoras, generosas, que atraíssem pássaros. 

E foi isso que aconteceu. Os pássaros vieram e, até, esquilos. Os pássaros são muitos e cantam que é uma felicidade. 

Apesar de ser uma zona muito quente, ali há sombra e sempre arbustos verdes.

Nesta casa aqui, onde agora vivo, também o microclima é especial. Neste caso, o mérito não é nosso. Os anteriores proprietários tinham um gosto muito similar ao meu e plantaram árvores, arbustos, trepadeiras. Mas a verdade é que, no espaço de três anos, desde que cá moramos, a transformação também já é bem visível. Vejo fotografias de quando para cá viemos e vejo como está agora e a diferença é enorme.

Não sei porquê mas, de repente, tudo se desenvolveu com enorme pujança e graça. Creio que é porque não cortamos tudo. Não impedimos a natureza de seguir o seu curso. Claro que temos que, volta e meia, aparar algumas coisas. Mas, no que não é necessário, deixamos. Neste momento as glicínias já desenharam, elas próprias, uma pérgola que une a parede da casa ao muro. Fica lindo. O jasmim também já está a começar a cobrir uma vedação. O jasmim amarelo está enorme e faz uma cortina junto a uma mesa.

Quando vimos da rua, nestes dias de calor, e entramos no jardim, sentimos uma frescura acolhedora. 

A sensação de ajudarmos um bocado de terra a ser um lugar aprazível é muito boa. Seria bom que este passasse a ser um desígnio colectivo, nacional

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Os vídeos abaixo são ilustrativos do que digo.

Restoring a rainforest at Atlantic's edge in West Cork

There's been a spontaneous formation of a wild natural ecosystem.

Meet the man who has made it his life's work to rewild and restore a rainforest on his farm on the Beara Peninsula in West Cork.

In our 'Climate Heroes' series of reports, we shine a light on the people who are stepping up to protect the environment and tackle climate change. While these people come from all walks of life, they share a common purpose to improve the world around us 


Restoring Nature (Ireland's changing nature) 

  

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Um dia bom

Saúde. Uma alma verde. Paz.

1 comentário:

ccastanho disse...

UJM, Viva

Aqui mesmo ao lado, na vizinha Espanha, quando por cá, na governação de Cavaco Silva, os fundos eram aplicados para comprar apartamentos de férias no Algarve e jipes Toyota -os chamados amarelos vacas holandesas. para a agricultura-, os Espanhóis, criavam planos de rega de grande dimensão para o cultivo e por arrastamento na melhoria ambiental na defesa contra a seca.

Numa das minhas viagens aos picos da europa entrando por Badajoz até Leon, cheguei a parar o carro e ir ver os canais de rega que naquela altura dos anos 90 do século passado,já estavam a aproveitar as águas do Douro e do Tejo para o cultivo intensivo, por cá, a burguesia alapada nos fundos europeus gastava em diversão....

Para se ver a diferença de quem governava há época, o governo Espanhol, no começo dos primeiros fundos comunitários fez esta coisa extraordinária: foi a todas as universidades de Espanha, e pegou em três ou quatro alunos dos melhores em cada universidade, e mandou-os aprender as melhores técnicas de agricultura mais consideradas na europa e fora dela. Resultado enquanto os portugas gastavam nas estâncias turísticas, os espanhóis fomentavam o futuro da agricultura no seu país, sendo hoje uma realidade bastante competitiva na europa.