quarta-feira, maio 17, 2023

Receita para curar hipocondríacos

 


Por acaso, e pelo menos até ver, não sou hipocondríaca. Mas sei bem o que isso é pois tenho convivido de perto com quem o é.
 
Não é coisa de que se deva gozar pois é uma doença se calhar pior do que as doenças de verdade. 

As pessoas hipocondríacas julgam que estão doentes (talvez porque tenham um medo descontrolado de estar) e, a partir daí, desenvolvem toda a espécie de sintomas que comprovam que têm mesmo essa doença.

O google e a própria bula dos medicamentos incentivam bastante este tipo de problemas. Para quem sofra desta síndrome, os sintomas aí estão à disposição. À la carte.

Quando dizemos a essas pessoas que o problema delas é a ansiedade e que deveriam procurar apoio psicológico ou tomar um ansiolítico ofendem-se e rejeitam liminarmente essas sugestões pois temem que, com isso, desvalorizemos os seus sintomas ou que, ao ficarem menos ansiosas, os sintomas fiquem ofuscados. 

Durante as fases de hipocondria aguda, as pessoas que disso padecem ficam voluntariamente entregues, quase a 100%, a si próprias, a olharem para dentro de si, tentando identificar e caracterizar os sintomas, validando na documentação a que acedem que esses sintomas confirmem a doença, tentando identificar outros que o reforcem, tentando verificar se também os sentem.... etc. 

Não querem conviver pois não querem perder de vista os seus sintomas não vá a coisa agravar-se, não querem que os outros digam que é tudo inventado (ou imaginado). Geralmente ficam deprimidas, mal encaradas. Comportam-se como se estivessem mesmo mal e melindram-se com o descaso que verificam nos outros.

A hipocondria pode focar-se em maleitas distintas que vão variando. Um dia estão muito mal, com todos os sintomas, com um problema na cabeça, e não descansam enquanto não são vistos por um médico e não fazem exames. Mal sabem que estão bem todos os sintomas desaparecem, sendo desvalorizados. E nem querem que se fale no assunto. Pouco tempo depois, estão com outra doença, sempre grave, localizada no peito, com sintomas irrefutáveis. Podem descrever de tal forma o que têm que a única solução é ir para as urgências. Dias depois tudo isso se varreu e já estão noutra. 

Quando lhes dizemos que padecem de hipocondria mórbida negam em absoluto, dizem que ninguém no mundo quereria mais não padecer de nada do que eles. Falam como se um hipocondríaco fosse alguém que gosta de estar doente. Não é. Um hipocondríaco é alguém que desenvolve medos quase paralisantes de estar doente.

Uma pessoa hipocondríaca não é apenas uma pessoa que destrói a sua própria qualidade de vida como a dos que a cercam pois, quem está por perto, teme sempre o dia em que algum daqueles sintomas seja real e que, por o ter desvalorizado, fique responsável por a pessoa não ter sido acudida a tempo. E, por outro lado, não é confortável ficar no papel de quem é insensível e inconsciente a ponto de não prestar atenção a alguém gravemente doente. Mesmo perante o hipocondríaco que se sente portador de doença grave e/ou terminal, como ficamos se mostramos que aquilo não passa de mais uma daquelas invenções habituais e transitórias?

Por isso, que não se menospreze o poder devastador da hipocondria.

________________________________________

Mas passo a palavra ao ChatGPT

Eu:

O que é, a que se deve e como se trata a hipocondria?

ChatGPT:

A hipocondria, também conhecida como transtorno de ansiedade de doença, é um transtorno psicológico caracterizado pela preocupação excessiva e persistente com a possibilidade de ter uma doença grave, mesmo na ausência de evidências médicas que justifiquem essas preocupações. As pessoas com hipocondria geralmente interpretam sintomas físicos normais como sinais de doença grave e tendem a buscar constantemente exames médicos e investigações para confirmar suas preocupações.

A causa exata da hipocondria não é conhecida, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, ambientais e psicológicos. Pessoas com histórico familiar de transtornos de ansiedade, traumas passados ou experiências negativas com doenças podem estar em maior risco de desenvolver hipocondria.

O tratamento da hipocondria envolve uma abordagem multidisciplinar que pode incluir:

Terapia cognitivo-comportamental (TCC): A TCC é uma forma de terapia que visa identificar e modificar os padrões de pensamento negativos e distorcidos associados à hipocondria. O terapeuta ajuda a pessoa a examinar e desafiar as crenças irracionais relacionadas à saúde, desenvolvendo estratégias para lidar com a ansiedade e reduzir os comportamentos de busca por reassurance médica.

Terapia de exposição: A terapia de exposição gradualmente expõe a pessoa a situações temidas, como consultar médicos com menos frequência ou adiar a procura de informações médicas, com o objetivo de reduzir a ansiedade associada à hipocondria.

Medicamentos: Em alguns casos, medicamentos como antidepressivos ou ansiolíticos podem ser prescritos para ajudar a reduzir a ansiedade e os sintomas relacionados à hipocondria. É importante lembrar que os medicamentos devem ser prescritos por um profissional de saúde e seu uso deve ser acompanhado de perto.

Além dessas abordagens, é fundamental o suporte de uma equipe médica e profissionais de saúde mental especializados no tratamento da hipocondria. É importante que a pessoa com hipocondria tenha um ambiente de apoio, com familiares e amigos compreensivos, para ajudar na superação desse transtorno.

Se você ou alguém que você conhece está lidando com a hipocondria, é recomendado buscar ajuda de um profissional de saúde mental para obter um diagnóstico adequado e um plano de tratamento personalizado.

___________________________________________

Uma outra abordagem 

- que entre a malta da Porta dos Fundos

Segundo o Google, tenho apenas mais dois dias de vida. Tudo começou com uma coceira de nada no pescoço, cocei tanto que desloquei meu ombro e chamei meu amigo Jorge para colocar no lugar. Ele não conseguiu ajudar e devia estar gripado, pois agora também estou espirrando e com uma dor de garganta muito forte. E juro que não tem nada a ver com a mamada que eu dei nele na hora. Adeus, mundo!

------------------------

3 comentários:

Pôr do Sol disse...

Bom dia UJM,

Como seria o Universo se todos nos regessemos pela sensatez do equilíbrio?

Com a idade, o medo de contrair doenças levam, por vezes algumas pessoas que sonharam viver em cidades de província e eram felizes, voltar para as capitais onde os hospitais estão mais perto e os médicos mais acessíveis.

Outras aceitam que à medida que a idade avança, esta máquina complexa que é o corpo humano, vai murchando, aos poucos ficando lenta, o discurso mais pobre, a paciencia escassa dando lugar à ansiedade e é tudo normal, faz parte do processo de envelhecimento.

Por vezes no desejo de nos mantermos ativos, somos acusados de ir ao limite do possivel e não nos pouparmos.

Como encontrar o tal equilibrio? Como nos mantermos à tona neste mar de exageros?

Toda a vida houve bebés mais dificeis de dormir -hoje procura-se uma consulta do sono.
Toda a vida as crianças tiveram de aprender a lidar com as frustações - hoje recorre-se ao psicologo.
Toda a vida as crianças ocuparam os tempos livres a brincar e a inventar brincadeiras - hoje são inscritas em varias actividades extra escola.

E assim, no estado em que o mundo está, tudo nos alerta para a saúde mental.

Por mim tento fazer o que me parece melhor.

Espero que esteja a habituar-se bem à sua nova vida e que brevemente nos dê a alegria dos seus livros à venda. Estou ansiosa.

Um beijinho e até sempre, cuide-se.

Pôr do Sol disse...

Isto está a ficar complicado.

Agora ao ler o comentário que fiz, lembrei-me das noites que passou com o seu filho quando bebé em termos de sono. Resolveu o assunto. Acha que um psicologo teria ajudado?

A vida mudou tanto que se chega a esta idade e temos mesmo de nos adaptar a ela.

Até logo.

Um Jeito Manso disse...

Olá Querida Pôr do Sol

Tem toda a razão.

E é verdade: o meu filho que chorava, puxava os vómitos, se atirava da cama... Alguma vez me passou pela cabeça ir para o psicólogo com ele...? E hoje é um homem feito, pai de família, excelente pai, homem de família, cheio de amigos.

Ou a minha filha que era um castigo para comer...? Horas a enrolar a comida na boca...? Alguma vez fui com ela para o médico ou para o psicólogo com ela? E hoje é também excelente mãe de família, uma mulher cheia de vida, com amigos, amiga da família.

Não é fácil, hoje, não.

Ainda me lembro de uma rapariga que trabalhava comigo e que andava com o miúdo no psicólogo e que dava Ritalina ao miúdo porque, segundo ela, o miúdo era mal comportado nas aulas, sempre irrequieto, com energia a mais. E um dia que o miúdo passou lá a tarde vi que o miúdo coitado tinha peso a mais e passou a tarde a comer gomas, a comer bolachas e a beber refrigerantes. Disse à mãe: "Mas isso tem excesso de calorias... Não admira que o miúdo depois tenha que gastar a energia. Ele não devia comer comida mais saudável?". Diz ela que era o que o miúdo queria, que só comia pão daquele de forma, branco, refinado, sem côdea... E ela não era capaz de contrariar o miúdo mas era capaz de o encher de comprimidos...

Quanto aos medos das doenças que as pessoas de idade têm, pode ser compreensível. Contudo, racionalmente seria melhor aproveitar bem a vida. Mas, enfim, estas coisas muitas vezes não seguem a racionalidade... e temos que ter paciência e compreensão...

Agradeço o seu comentário tão cheio daquela sabedoria feita de experiência.

Um beijinho, Sol Nascente. Tudo de bom para si e para os seus.