Nisto do Vieira, tal como no caso do Berardo e tal com vários casos anteriores, o que me surpreende é que se continue a falar de casos isolados que se vão avolumando à vista de toda a gente que deveria ver (Assembleias Gerais dos Bancos ou de Sociedades de que tipo forem, Conselhos Fiscais, Revisores de Contas, Auditores externos e/ou Reguladores) sem que ninguém dê por nada.
E interrogo-me: se não vêem nem percebem nada, se não alertam nem actuam... então para que servem?
E não há legislação que enquadre estas actividades e que determine sanções quando notoriamente se perceba que todas estas camadas de controlo não funcionam e não agem segundo as melhores práticas e princípios éticos?
E quem tanto se insurge contra estes casos avulsos não percebe que enquanto o circo se arma e se foca exclusivamente em torno destes casos mediáticos, em muitos outros casos igualmente pouco lineares se continua a agir na maior impunidade?
Por exemplo, não deveria haver uma análise sistemática à actividade de todas sociedades, rastreando movimentações financeiras entre sociedades sem actividade económica, ou seja, empresas instrumentais e/ou de fachada (offshores ou não)?
Uma vez mais, as televisões estão em delírio com os supostos esquemas do Vieira tal como há uma ou duas semanas estavam com os supostos dislates do Berardo. E as justiceiras-mor da Assembleia estão em grande, sentindo que as suas sessões inquisitórias produziram efeito. E eu volto a dizer: efeito zero. Limitaram-se a alimentar o circo.
Enquanto os deputados (e o poder político em geral) não perceberem que há um trabalho de fundo a fazer -- e que tem a ver com a criação de mecanismos de rastreio e controlo efectivo sobre tudo o que há de ilícito e que, em regra, se passa à vista de toda a gente -- nada mudará.
Estou a parecer ingénua ao dizer isto mas não sou (ou, pelo menos, não completamente) porque sei bem que a Assembleia da República está infestada de advogados ligados a Sociedades (de Advogados) que, por acaso, prestam consultoria na optimização fiscal e prestam assessoria com vista a assegurar o respaldo jurídico a todas as jogadas que por aí se praticam, tendo, pois, como interlocutores os donos ou gestores dessas empresas usadas como veículos por toda a espécie de meliantes encartados.
Portanto, quando se incluirá no código de ética da Assembleia alguns pontos de exclusão, nomeadamente a ligação a Sociedades de Advogados?
Claro que, para se ser deputado, também deveria ser obrigatório testes ao QI para evitar que tanto burro por ali ande armado em doutor -- mas isso talvez já fosse pedir de mais.
6 comentários:
Olá UJM, concordo consigo. Mas o circo mediático embora despropositado é muito útil para acabar com a sensação de impunidade que permeia na sociedade portuguesa e que nos faz a todos olhar para o lado em muitas pequenas e grandes ilegalidades que presenciamos calados. E é bom para mostrar que a justiça portuguesa existe, bem ou mal estruturada, mas está lá. E também é bom para evitar que as pessoas sintam necessidade de migrar para partidos de extrema por se sentirem injustiçadas. Quanto à assembleia ter ética vai ser difícil. Há dois tipos de pessoas que vão para a política, os extremamente egocêntricos e os extremamente altruístas. É uma mistura que dificilmente se controla! Bjs Ana
Estou de acordo na generalidade ……
Mas andam por aí alguns com as costas quentes….
E o circo continua …palhaços não faltam na comunicação social em geral.
Tempos sombrios vive-se hoje em geral com ausência de dignidade ,e responsabilidade em geral.
Era o que faltava os advogados não poderem ser deputados enquanto médicos, engenheiros, gestores de bancos, etc., fazem negociatas bem piores do que os advogados. Eu defendo a exclusividade dos deputados. A exclusividade, não a discriminação da advocacia. Mal seria.
Olá Ana,
Percebo-a e, de certa forma, dou-lhe razão. Mas só de 'certa forma'. Porque estamos em 2021 e andam a investigar desde 2014...? Anos e anos e anos... Nesta nossa Justiça tudo se arrasta. Anos.
E depois não há respeito nenhum, há fugas de informação que são uma vergonha. Como é que se sabe o que encontraram nos cofres do homem? Acho uma vergonha e uma devassa. Não acrescenta nada, é apenas uma devassa. Revistam as casas e depois põem a descrição do que encontraram nos jornais e televisões. Não gosto.
Mas, enfim, é o que temos.
Um bom domingo, Ana!
Olá Carlos Correia
Sim. Tenho muito respeito pelos palhaços de verdade mas sinto um enjoo muito grande quando vejo uns figurões, geralmente uns papagaios, seja na política seja na comunicação social, armados em palhaços.
E, claro, com tanta palhaçada à solta, os meliantes, com o apoio das grandes sociedades de advogados, continuam à rédea solta.
Um belo domingo, Carlos.
Olá Senhor Indignado,
Também acho que ser deputado deveria ser ocupação em regime de exclusividade. Não um part-time.
Contudo creio que um médico ou um engenheiro têm menos campo de caça do que um advogado, em especial os que trabalham em sociedades que prestam assessoria/consultora jurídica a tudo o que mexe neste país.
Dias felizes!
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