sexta-feira, maio 28, 2021

Boas maneiras à mesa

 

Não sou dada a grandes etiquetas nem sou muito preconceituosa. Contudo, há coisas que me custam a suportar. Pessoas que dão pontapés na gramática estão, à partida, fadadas ao insucesso junto de mim. Quem tem a pouca sorte de deixar sair um quaisqueres ou um faria-se ou um haviam vezes é como se fosse direitinho para a casa de partida e já de lá não conseguisse sair.

À mesa também há coisas que me custam muito a suportar. Disfarço, faço de conta que nem reparo, forço-me a relevar. Mas, dentro de mim, a coisa fica complicada.

Uma das que me custam é quando, em ambiente não estritamente caseiro, alguém se senta à mesa, se serve e, sem olhar para o lado, começa a comer. Não lhe ocorre que os outros ainda não se serviram e, que obviamente, nem pensar pôr-se a comer antes dos outros. É preciso a pessoa ser um narcisista do pior que há, ter qualquer coisa de autismo ou, simplesmente, ser um mal educado da pior espécie para fazer tal coisa. Pior ainda, claro, se não estiver em sua própria casa.

É certo que, quando a refeição é volante ou em regime de self-service, não é preciso esperar que a pessoa certa dê o sinal de partida. Mas, entre isso e marimbar-se para a dinâmica do grupo e sentar-se no seu canto a comer como se estivesse sozinho, vai uma grande diferença.

Outra que me deixa a pensar de lado na pessoa (e falo em 'pensar' e não 'olhar' pois a boa educação obriga-me a fazer de conta que não vejo) é quando alguém, acabando a refeição, dobra o guardanapo usado muito dobradinho e o coloca ao lado do prato. Qual será a ideia? Fazer de conta que não o usou..? 

Uma que é também uma lástima é quando algumas pessoas que querem fazer-se muito apreciadoras de vinho pegam no copo segurando-o na parte bojuda e não no pé. Não lhes ocorre que o pé do copo tem uma função? 

E já nem falo nas pessoas que se encostam completamente à mesa, debruçando-se sobre o prato, esquecendo-se da regra básica de que é a comida que vai à boca e não a boca que vai à comida. Também nem vale a pena falar dos infelizes que enfiam a faca na boca, esses, coitados, parece que estão mesmo a pedi-las.

E há ainda outra que me tira do sério: quando alguém, tipo marrãozinho, notoriamente um wannabe. decora as regras todas e está à mesa a querer exibir o que acabou de aprender, sem naturalidade, preocupado em que os outros percebam que leva os ensinamentos à risca. Geralmente, ficar com uma pessoa dessas na mesa é um desastre: são uns chatos, não dão uma para a caixa, não têm uma ideia na cabeça, só estão focados em fazer boa figura.

Estar à mesa tem que ser uma coisa natural, em que a boa educação não atrapalha. Pelo contrário, as boas maneiras facilitam a vida a toda a gente.

Jamila Musayeva, de uma maneira muito simples, percorre as regras mais básicas para se estar bem à mesa (e, não menos importante, para pôr bem a mesa). Gostei de ver e é com gosto que aqui partilho este vídeo convosco.

Dining Etiquette: how to master the basic table manners



E nada de sorrisinhos maliciosos a achar que isto não interessa para nada. Interessa, sim senhores.


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Dias felizes.
Saúde. Boas paparocas. Sorrisos.

13 comentários:

Paulo B disse...

Olhe que não implicando muito eu com jeitinho ia para a casa da partida: tenho queda para o trambolho gramatical (é "genético": é verdade que sou um privilegiado por ter tido acesso à cura... Mas mesmo assim as sequelas ficam lá... E eu contacto com quem não teve oportunidade de debelar a "doença"... Se lhe mostrasse SMSs dos meus pais... Hahahaha... Eu e o meu irmão rimo-nos à brava!). E depois tem essa do copo. Sei lá, um gajo rude do campo olha para aquele pé, aquilo parece tão frágil que tem medo de partir ou que lhe vá "espipar" pelas mãos... Vai daí toca a abocanhar com a mãozapa toda no balão do copo. ;)

Abraço UJM!

Maria Dolores Garrido disse...

Bom dia!
Idem idem aspas aspas. Eu acrescento o famigerado houveram, o não pousar a faca suja enquanto se faz um gesto, e outras menos agradáveis à vista como falar sem os alimentos terem efetuado a devida descida...
Com o copo, quase nem reparo, porque já o devo ter feito! Estou como o PB: e se se parte?
Um bom fim de semana e que todas as partidas ou chegadas sejam boas.

José Duarte disse...


Olá, boa tarde! Os tropeções na gramática vêm sofrendo notável incremento, designadamente por parte de algumas figuras públicas em intervenções televisionadas. Desde clássicos como "hemorregia", "póssamos", "tênhamos", "interviu", "saiem", "aqui atrasado", etc., até ao mais recente e pavoroso "derivado a" (em vez de "devido a"), nódoa que parece ter vindo para ficar e que vai medrando por aí como fogo em savana. Outro dia, um fulanito com avultadas responsabilidades sociais informava o povão de que passaria as próximas férias no País "derivado ao coronavírus". Fora precedido em tempos por um ciclista que, de pulmões "rebentados", confessava tristemente aos admiradores que não conseguira chegar à meta "derivado ao calor"... E assim vai Portugal, uns a falar bem e outros (muito) mal... [Olá, Fausto!]

Estevão disse...

A exigência da UJM quanto à forma como se devem segurar os copos não será lá muito consensual. Por exemplo, Ana Saldanha, no seu “Manual de instruções para não fazer má figura à mesa” diz-nos que “… os copos de vinho branco seguram‐se pelo pé e os copos de vinho tinto pelo balão (é provável que os especialistas em vinhos discordem profundamente dos especialistas em etiqueta neste ponto particular) …”

https://www.gqportugal.pt/etiqueta-mesa

O que deveria ser consensual é não esticar o mendinho na hora de segurar o copo como se este dedo fosse uma antena.

E já agora, por mera curiosidade, como comer uma laranja não descascada quando nos dão para tal, um prato, um garfo, uma faca e uma colher, todos de sobremesa ?

Um Jeito Manso disse...

Olá Paulo,

Talvez eu a si perdoasse alguma coisita...

Mas o vinho não pode ser aquecido com o calor da mão, em especial o branco ou o champanhe. No tinto, no inverno, se estiver abaixo da temperatura adequada, ainda vá que não vá. Mas, ainda assim, deve usar-se o pé para balouçar ligeiramente o copo para que os aromas se desprendam.

E não se parte... a menos que as suas mãos não sejam mãos de um investigador de gabinete mas de um rude camponês... :)

Abraço, Paulo, extensivo aos seus pais.

Um bom sábado.

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Dolores,

Ah sim, houveram... há-des... (Verbo mais difícil e traiçoeiro...)

Tenho um serviço de copos que uma tia do meu marido nos ofereceu, e fomos escolhê-lo com ela, uns copos finíssimos, quase uma película transparente, elegantíssimos... De tal maneira lindos e frágeis que raramente os uso com medo que se partam. Claro que hoje jamais os escolheria. Mas na altura o meu sentido prático era nulo... e a tia do meu marido, solteira e com um sentido estético cuidado que se impunha ao resto, também não primava pelo sentido prático.

A ver se um dia destes os fotografo para os mostrar. São lindos... mas, na prática, umas florzinhas de estufa...

Um bom sábado, Maria Dolores!

Um Jeito Manso disse...

Olá José Duarte,

partilho da sua opinião em relação a tudo o que diz. Mas eu que recebo muitos mails (especialmente profissionais) e que tenho que ler relatórios, não apenas apanho com os pontapés da oralidade mas, também, com aqueles que apenas escritos se detectam: pusé-mos, falá-mos, conviece, fizece. Coisas deste calibre. Uma pessoa fica doente. O que se faz? Aramamo-nos em mestre-escola e devolvemos tudo corrigido e devidamente assinalado ou fazemos de conta que não demos por nada?

Um dilema difícil de resolver.

Um belo sábado, se possível por este rio acima (mesmo que apenas em imaginação).

Um Jeito Manso disse...

Olá Amofinado,

Sobre os copos de vinho, já falei acima. Pegar à bruta num copo por razão nenhuma é coisa que não fica nada bem. No inverno, se o vinho estiver frio demais, fará sentido tentar subir-lhe um pouco a temperatura. Mas há a forma como se sente o sabor, o aroma, tudo. Se é simplesmente a mão a agarrar o copo com pouca elegância e despropósito, não há perdão possível.

Quanto à fruta, vi no outro dia um vídeo que explica muito bem. A ver se amanhã não me esqueço de o procurar. É um desafio quando temos que comer fruta que está com casca. Ou sabemos as técnicas e temos à vontade ou mais vale não nos metermos por aí. Tenho visto com cada figurinha... céus...

Um belo sábado, Amofinado!

Fernando Ribeiro disse...

Eu não quero ofender a UJM, mas... Logo depois de ter escrito que «pessoas que dão pontapés na gramática estão, à partida, fadadas ao insucesso junto de mim», a UJM escreveu «uma das que me custa». Foi de propósito? Foi sem querer? Quer ficar fadada ao insucesso junto de si mesma?

Ou escreve «uma das que me custam», ou escreve «uma que me custa». De acordo com o que a UJM também escreveu, as pessoas que escreverem «uma das que me custa» hadem ir «direitinhas para a casa de partida».

Um Jeito Manso disse...

Obrigada, Fernando, já corrigi. Escrevo sempre tão tarde e tão cheia de sono que nunca releio. São textos não editados e tremo de pensar que podem sair gralhas que me ofendam.

Mas nada a fazer... Conto com a generosidade dos que me lêem com atenção e que fazem o favor de me alertar.

Agradeço, de novo.

Um bom domingo.

Anónimo disse...

Dar pontapés na língua portuguesa tornou-se o desporto de estimação de figuras públicas - públicas por se dedicarem à gestão da coisa pública e públicas por aparecerem na televisão.
Jornalistas a dizerem "interviu" já não se estranha; ouvir falar o António Costa, com as faltas de concordância em género e número entre substantivos , adjectivos, e formas verbais, dói e já se entranha. Ouvir o Sr. Dr. Ministro Siza Vieira dizer "cidadões" provoca urticária (e pensa-se logo em "cidadonas", forma que corresponderia talvez ao feminino, cujo uso conjunto com o masculino se tornou tão caro ao linguajar politicamente correcto). A melhor, no entanto, foi ouvir uma jornalista (?) da Rádio Renascença anunciar que um determinado evento contaria com a presença do bispo de Tété ( e não se referia à ursinha amiga do Nodi). É que já não se trata de um "mero" desconhecimento de qual é a sílaba tónica na ausência de sinal gráfico - dizer TÉTÉ para se referir à cidade e província de Tete traduz uma profunda ignorância da história e geografia. Talvez para evitar futuros embaraços o endereço rr.sapo.pt fala num bispo de Tête ...
E peço desculpa por ter trocado as iniciais de UJM num meu comentário anterior.
MPDAguiar

Um Jeito Manso disse...

Olá MPDAguiar

Mas sabe que, se os jornalistas por vezes se trocam todos com as letras, com os números a coisa é ainda mais assustadora. Para eles, serem milhões ou milhares de milhões é igual ao litro. Podem dizer coisas totalmente disparatadas com o ar mais natural do mundo. Percebe-se que não têm a menor sensibilidade à dimensão das coisas.

Mas, no dia a dia, sabe o que me acontece quando troco mails com pessoas que dão erros brutais...? Fico com a sensação que devem achar que sou eu que não acerto uma.

Ao longo de toda a formação académica, não importa qual, deveria haver uma disciplina sobre expressão em língua portuguesa e outra sobre matemática. São eixos que nunca deveriam ser descurados.

Quanto às letras de MUJ, JUM, JMU, MJU...pode trocá-las à vontade... (aliás nem dei por isso) :)

Um dia feliz1

Unknown disse...

Desculpe mas tinha de dizer isto:

"Pela boca morre o peixe"

Mais humildade, nem todos somos bem nascidos. A etiqueta vale o que vale, tudo se aprende... Eu valorizo o caráter a generosidade e o bom coração.

Um bem haja para todos ❤️