quinta-feira, junho 18, 2020

Contra os chatos e os convencidos
marchar, marchar





Porcaria da internet. Isto hoje está naqueles dias impossíveis. Carrego numa qualquer opção e o ecrã põe-se branco, atordoado dos pensamentos, em total estado de estupor catatónico. Há bocado, estava eu a tentar descortinar uma complicação no meu computador, ouço o bebé: 'Pocaria da internet!'. Perguntei: 'Então, que se passa?'. E diz ele, apontando para o computador que estava a usar: 'Isto não anda!'. De facto. Todo o dia tem sido este desespero. Não mexe. Impossível escrever aqui com isto neste estado, em aberto e acintoso contravapor. Apetece-me desistir.


Enquanto não desisto, conto uma coisa. Quando estavam a sair, digo ao bebé: 'Olha, meu amor, gostei muito que cá tivessem estado' e responde-me ele: 'Nós ainda cá estamos...'. O meu filho disse: 'O tempo verbal que usaste não lhe pareceu correcto'. E fiquei a pensar que a nossa pressa em viver leva-nos a cometer estes erros, a transformar em passado o que ainda é presente. menino mais fofésimo.

Os manos estiveram com aulas e avaliações, tiveram boas notas, brincaram, zaragatearam um com o outro, brincaram com o maninho mais novo e, como sempre, encheram-me o coração. Os pais trabalharam, nós trabalhámos. E o tempo avança.

Entretanto, para além dos números assustadores de países em que a pobreza intelectual ou económica impera, vamos sabendo de novos surtos do corona na China e que, por cá, os números não descem tanto quanto deviam. Na volta, ainda nos arriscamos a ter mesmo a tal segunda onda que nos impedirá de voltarmos tão cedo a uma vida descontraída. Estou bem como estou mas, ao mesmo tempo, penso que qualquer dia vou mesmo ter que voltar a trabalhar em torres de vidro, sem janelas, e isso traz-me uma certa ansiedade. O bebé, quando se fala em escola, muda de conversa, levanta-se. Não lhe agrada. Está bem assim. Eu também estou.


Bem. Hoje vinha para falar de outra coisa. Aliás de duas coisas.

Uma é um mistério: estando aqui sossegada em casa, por que estranha razão não me dá para ler? Volta e meia pego num livro mas, confesso, ao fim de pouco tempo, pouso-o. Não sei porquê. Parece que não quero trazer para dentro desta insólita liberdade que agora vivo nenhum dos meus anteriores hábitos. É absurdo dizer isto a propósito dos livros e, na volta, nem tem nada a ver mas, se não é por isso, por alguma razão é.

A outra é esta: não tendo aqui senão a televisão corrente, quase não a vejo. Não suporto ver gente que se leva muito a sério, gente que se acha, gente que sabe tudo e não se ensaia nada de tecer juízos morais sobre os outros. Parece que toda a gente que ali vai se acha importante, sabedora, superior. Um tédio, uma seca, um saco. Desligo. Mudo-me para a netflix ou vou descobrir vídeos.



E penso: à distância, em reuniões remotas, consigo evitar muitos maçadores. A hipótese de voltar a frequentar a cidade, os corredores, os salões e demais antros de gente parva é daquelas que também me assusta.

Por exemplo, o vídeo abaixo. Uma graça.


Ou este:


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Fotografias de  Fee-Gloria Groenemeyer

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Saúde e alegria para todos

4 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Videos e detalhes fotográficos deliciosos.
.
Um dia feliz
Cumprimentos

Anónimo disse...

Nem toda a gente está em tele-trabalho. Como gestor de uma (importante) empresa não me calhou tal tarefa.
Vou gerindo o que os outros têm de fazer...no tal tele-trabalho.
Agora, concordo que alguma coisa irá mudar. As empresas poderão (e, em minha opinião deverão)ter de mudar a atitude para com quem colabora com elas. O tele-trabalho, pelo menos em parte, irá acabar por vingar. Mais, tem custos bem mais aceitáveis. Que, contam, qualquer que seja a empresa (sobretudo privada). Defendi, por isso mesmo, essa nova prática laboral, onde se deveriam incluir uma parte dos gestores das empresas, neste caso, da nossa. Isso implicaria reduções salariais, já que, trabalhar em casa não é o mesmo que ir para a empresa, deslocar-se a outros pontos do país para reuniões, etc. O vírus trouxe-nos esta nova forma de olhar para a empresa e de como rentabilizar o trabalho, sem os custos anteriores. Há reações negativas, há com certeza. Mas, é o futuro.
Por aqui, estamos a pensar até em reequacionar a necessidade de ter uma área tão grande para escritórios. Para quê? Em face das circunstâncias, que não são fáceis, há que rentabilizar e reduzir custos. A começar pelo pessoal e colocá-lo em tele-trabalho. Menos gastos para eles, menos para a empresa.
A mim foi-me solicitado um projecto de redução de custos, na área dos recursos humanos. E assim procedi. Uns dispensam-se, com indemnizações, outros mantêm-se em tele-trabalho, incluindo gestores, em ordem a salvar a empresa. Não concordam? Bem, o oposto é a empresa entrar em dificuldades financeiras. E os empregados sofrerem com isso. Incluindo alguns da equipa de gestores. Mas, é terrível dizê-lo, pior ainda cá mais para baixo.
É o Covid 19.
Mas, foi um despertar de gestão de empresas. Manter em casa quem pode trabalhar em casa. Como no seu caso e no seu marido. Com redução salarial. A bem da empresa. É injusto? Não, é a sobrevivência de uma empresa. E esta é bem grande!

Paulo B disse...

Ai esta moda "das pessoas que colaboram" com as empresas... :)

Mas só uma nota mais séria? "Menos gastos para eles, menos para a empresa." A primeira parte da equação parece-me muito muito questionável. Um trabalhador em casa tem gastos de água, electricidade, aquecimento, alimentação, limpeza e afins. Consumíveis vários. Telecomunicações. Mais, tudo isto, num contexto de uma empresa, tem custos unitários provavelmente muito mais reduzidos por via do efeito de escala.
Como fazer esta "contabilidade" é um procedimento naturalmente complexo. E como o poder negocial dos trabalhadores é cada vez menor - com excepção de meia dúzia de áreas - parece-me clarissimo que é a segunda parte da premissa que leva a melhor.

Paulo B disse...

Perdoe-me ser chato, mas realmente isto do CoVid não me parece ir no bom caminho.
Os efeitos da pobreza e das péssimas condições de trabalho (nomeadamente em Lisboa) não parecem dar um sinal de muita confiança para um grande controlo da situação.
E, estranhamente, não se fala muito, mas o SNS "normal" está entupido. Os cuidados primários ficaram com a responsabilidade de fazer o seguimento dos casos confirmados e suspeitos - a atividade normal está reduzida a uma espécie de serviços mínimos e consultas telefónicas. Os hospitais e as especialidades antes disto já tinham extensas listas de espera. 3 meses praticamente parados... não só acumularam mais casos como até os que já estavam a ser seguidos têm visto as suas consultas adiadas e remarcadas para as calendas (salva-se, aparentemente, o IPO, até porque muitos tratamentos são caríssimos para serem interrompidos).
Anda tudo entretido ao organizar o futebol, final de liga dos campeões e websummit, mas recursos e energia é necessária para coisas mais prementes. Parece-me. Mas eu nem queria ser chato... ;(