segunda-feira, agosto 19, 2019

Sobre mamas ao léu na blogosfera, sobre leituras com voz sumida, sobre mulheres que se objectificam.
E, por favor, ponham aspas no que leram.
E sobre a castração absurda que o politicamente correcto tenta impor a quem é saudavelmente livre.


© Erin M. Riley and P.P.W. , New York


Nas minhas deambulações blogosféricas de vez em quando acontecem-me surpresas.

E, note-se, nisto como em regra, distingo a 'obra' do seu autor. O facto de achar piada a um blog não quer dizer que me identifique com o seu autor (ou autora, bem entendido) em tudo o que faz ou diz.

Gosto sobretudo do que me parece novo. Não me atraem os reciclados especialmente quando não trazem nada de novo ou não são elegantes, inteligentes ou esteticamente suportáveis.

Entendo um blog como um espaço de liberdade em que o seu autor deve poder fazer o que lhe dá na bolha. E quem não gostar, em vez de lá ir despejar fel, tem melhor opção: virar-lhe as costas. Ao fim de algum tempo nisto da blogosfera, continuo sem perceber as pessoas que andam pelas caixas de comentários dos blogs a espalhar ressabiamentos, visões acanhadas, insinuações descabidas e, mesmo, maldade. Já recebi visitas e comentários de gente assim e, muito sinceramente, não percebo o que as move. Uma vez li um artigo, que continha um vídeo igualmente interessante, sobre este tipo de pessoas: são geralmente pessoas solitárias, doentiamente frustadas.

de Harley Weir

Pela parte que me toca, quando percebo que está ali alguém que é geneticamente um (ou uma) hater, desisto de querer percebê-lo/a e, quando acho que o fel é incomodativo de mais, não o quero a conspurcar este espaço que é meu.

Mas, voltando a blogs que, sempre que posso, gosto de visitar posso dizer que talvez tenham em comum a genuinidade, a forma franca e, por vezes, espontânea como usam o seu espaço. Podem ser fotografias, músicas, desabafos, confissões, furtivas lágrimas, impropérios, recomendação de trabalhos alheios, declarações apaixonadas, umas vezes de guerra, outras de amor. Mas usam, muitas vezes, formas invulgares, sobressaltos ditos com irreverência, provocações, e, em geral, são esteticamente impactantes, mesmo que, em alguns casos, sóbrios e minimalistas.

 Marta Bevacqua

O Imprecisões da Alexandra G é um desses casos. Mesmo quando à sua autora lhe chega a mostarda ao nariz e deixa que se soltem raios e coriscos, disparando um linguajar vernacular e sem rebuço, eu acho piada. É genuína. Pode ser destravada mas até a isso acho graça. Não é politicamente correcta mas quem é que tem paciência para os apertadinhos/as que, nos blogs, não partem prato que se veja nem despertam um ah de surpresa?

Um dia destes, a Alexandra, numa fotografia esteticamente interessante, mostrou uma mama -- que, por sinal, parece bonita -- e desafiou os restantes hóspedes a mostrarem também algo de seu. E, do que vi, muitos (ou todos?) corresponderam. Gostei especialmente da série do Luís que não apenas tem uma mão muito bonita como soube fotografá-la de uma forma quase emocionante. Não coloco o link para os posts que refiro pois acho que apenas percorrendo-os a todos se consegue captar a vitalidade daquele blog.

© Foto © Alexandra Von Fuerst/Odiseo, gennaio 2017.

Hoje fui surpreendida de novo ao ler um post em que a brava hospedeira soltava os cachorros para cima de alguém que, supostamente, a tinha incomodado. Fiquei intrigada, Não sabia quem teria sido até ver depois a troca de comentários. Uma pessoa, pelos vistos sua leitora habitual, maçava-a sobre o seu tom de voz, tom esse que acho bonito, a um tempo com um certo toque de inocência e outro de sensualidade. Mas, mesmo que não gostasse, que sentido teria ir maçar a pessoa que, em sua casa, generosamente lê uma coisa para partilhar? Não consigo perceber.

E, percorrendo os comentários, vi que uma outra pessoa quase a insultava, achando que uma mulher fotografar um seio é fazer de si um objecto. Fiquei perplexa. Perplexa e incomodada pois custa a perceber este tipo de pensamento não apenas em tempos como os nossos como desde o início dos tempos. Fico a pensar no que levará alguém a tal distorção no pensamento e não chego a nenhuma conclusão. Parece-me tão estranho.

© “Hermaphrodite”, di Alexey Sovertkov (@le_heretic)

Obviamente a Alexandra G. não precisa do meu apoio para nada pelo que me limito a deixar aqui o meu chega para lá a todos quantos andam de blog em blog a verem com quem podem embirrar, que verrina podem destilar em casa alheia. E um conselho a essas almas penadas: entretenham-se, antes, a ver-se ao espelho e a criticar o que eles vos devolve.

Era bom que toda a gente percebesse que a vida pode ser bem melhor se cada um respeitar a liberdade e os gostos dos outros, especialmente quando não ferem nem a integridade física nem a emocional nem a inteligência dos outros.

De qualquer maneira: força, Alexandra G.

----------------------------------------------

E, por ora, é isto que se me apraz dizer. Espero que gostem da selecção de imagens (todas provenientes da Vogue Italiana) e, também, de Les Indes Galantes de Jean Philippe Rameau sob condução de Christophe Rousset. Viva a vida em toda a sua maravilhosa diversidade e em toda a sua tocante nudez.


-------------------------------------------------

Seguem-se, abaixo, os considerandos do Pardal e uns breves apontamentos sobre o desnorteado PSD e o revivalista BE -- mas, muito francamente, não sei se ainda há pachorra para tal.


5 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Não há pachorra para essa padronização típica do narcísico-cagarola, que está sempre a medir toda e qualquer coisa que faz como se revelar a sua humanidade fosse quase uma derrota homérica de um campeonato permanente em que se imagina. Pior, piorio é que como são gente pouco individuada e com uma identidade-fotocópia daquilo que acham grandioso, têm de estar sempre a mandar bitaites aos outros.
Por acaso nunca visitei o blogue "Imprecisões", mas se fosse leitor e comentador "habitué" provavelmente aceitava o desafio e enviaria uma foto bem artística dos meus pés 😁😁

Um bela semana!

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco!

Então já livre de trabalhos? Já simplesmente a banhos? Como tem estado o tempo pela sua magnífica baía? Neblinas matinais, não?

Quanto ao tema: já viu? Uma pessoa está aqui sentada na sala, na boa, escrevendo o que lhe vem à cabeça, sem querer ser modelo para coisa nenhuma, sem querer impressionar ninguém, tudo na maior descontra, e depois aparecem uns chatos a maçar, a chamar-nos nomes, com conversas da treta, maluquices que não interessam nem ao mais pintado...? Ao ler o que escreveram no blog Imprecisões -- um a mandar vir com o facto de ela ter fotografado um seio, outra a criticar-lhe o tom de voz... -- percebi bem o ataque de fúria que deu na Alexandra G.

O que seria o mundo, Francisco, só com gente narcísica e tresloucada a ser aplaudida por bandos de fotocópias, bem comportadinhas? Um pesadelo.

Viva a diferença, viva a irreverência. Viva a vida.

Abraço e uma bela semana, Francisco.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

De trabalhos não me livro, mas há tempo para banhos à vontade.

O tempo por aqui tem dias, mas quando é para se por bom, normalmente está melhor na praia, o que não é o típico.

No sábado passado tive ensaio do coro da igreja entre as 3 e as 5 e os planos eram de ir para a praia em seguida, pelas 4 e tal começo a ver o tempo a fechar e havia mais gente que fazia intenção também de ir para a praia. Pensámos logo, "ai que já se foi a praia", mas afinal estava maravilhoso e às 7h e picos quando me vim embora estava impecável na mesma. O ambiente estava "copacabana" autêntica, pois a maré estava cheia e este ano ironicamente está mais gente que o normal, fora as tias, os tios e os piquenos do costume. No próximo domingo é a regata de encerramento das férias, mas calculo que os veraneantes costumeiros se mantenham até dia 31.

Os pessoal que vive do verão ganha para o ano inteiro, mas quem não vive passa o mês de agosto desejoso que chegue a semtembro.

Viva mesmo!

Boa 3.ªf

Um Jeito Manso disse...

Francisco!

Com que então é mesmo menino do coro...?!? E eu que tanto uso a expressão... Não me leve nunca a mal, não sabia.

Imagino a vida tranquila e harmoniosa que tem, vivendo num lugar tão bonito, tão calmo, e tendo a possibilidade e o gosto de praticar essas actividades que tanto o devem aroximar das outras pessoas. É um sortudo, sabe?

Dias muito felizes para si, Francisco.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Acha que levaria a mal, eu também a uso...
Faço parte de um dos coros (há 2) desde abril. Apesar de não ter formação musical, faço parte de um movimento onde cantar é essencial e isso ajudou-me a dar o suficiente na coisa.

Tem razão, não me posso queixar...

Obrigado e dias muito felizes também para a UJM