Se não me alongar, percebam que estou um bocadinho cansada. Um bocadinho só.
O dia foi muito bom, bom, bom, mas preparar os comes todos (que aqui não se compra comida feita, é tudo feitinho de raiz e algumas receitas foram a atirar para o elaborado), ter a casa cheia, com muuuuuito movimento, o som sempre no máximo que é tudo gente com boa garganta, e depois arrumar minimamente a casa deixou-me assim a little bit com vontade de, agora, me encostar e descansar.
Os presentes foram bons, todos muito inesperados, todos surpreendentes e gostei francamente de tudo.
Os festejos começaram na véspera, decorreram hoje desde antes de almoço até já ser noite e continuam esta quarta-feira. É assim e é bom, do melhor que há. Mas isto tem um reverso: é que chego a esta hora e estou como vos disse: capaz de cair para o lado.
Por isso, desculpar-me-ão mas não vou falar de nada que faça sentido. Os meus dedos por aqui andam como as galinhas sem cabeça, mexendo-se descomandados, às voltas.
Se eu tivesse energia contava a receita do rolo de carne e respectivo molho de acompanhamento ou a receita do galo capão e a do arroz de forno que o acompanhou ou a receita dos rolinhos folhados de ricota e alheira ou ricota, maçã e salmão fumado, ou a dos cor flakes salgados e com queijo ralado no forno. Das ervilhas temperadas com hortelã ou do bacalhau com todos não daria a receita porque são coisas já muito conhecidas. Acontece que estou off e se me ponho a escrever receitas nunca mais consigo adormecer como um bebé.
Se tivesse energia também contava quais os presentes que recebi para verem como foram tão bons, todos inesperados e surpreendentes. Gostei francamente de tudo e até gostava de vos contar. Mas não dá. Talvez amanhã ou depois. Agora a minha cabeça, que está desligada, está a querer encostar-se e sem fôlego. Até podia fotografar algumas para verem como não estou a exagerar.
Ou contava graças e gracinhas dos meninos, uns já tão grandes, outros a caminho disso e o bebé tão boa onda e afoito. Tão bonitos, tão queridos, tão inteligentes, tão irreverentes e traquinas. Mas tantas eles fazem que, se me punha para aqui a contar, toda babada, embalava até de madrugada e vocês todos chateados, a acharem que estou uma daquelas maçadoras que não se calam a contar peripécias de crianças sem perceber que estão a exagerar na dose.
Mas, se não se importam, conto só esta: estava o meu filho a zangar-se com o do meio, ele a esconder-se atrás de mim, estávamos no hall junto à copa, e o meu filho à minha volta e e o menino a correr agarrado às minhas pernas, quando, não me perguntem como, me senti a cair desamparada, de costas, no chão de tijoleira da copa, com ele praticamente debaixo. O miúdo aflito, a chorar, 'desculpa, desculpa'. O meu filho acorreu logo, 'então, como foi isso?' e puxou por mim, para me ajudar. Levantei-me meia dorida, a minha filha que andava na cozinha com o bebé ao colo também acorreu a rir à gargalhada depois de me ver deitada de costas, e todo o mundo veio da sala ver o que tinha acontecido. O meu filho disse que tive sorte por não ter partido o fémur que é o que costuma acontecer às velhinhas que caem, o menino, depois de refeito do susto, disse que tinha sido um bom golpe de judo e eu confirmei, atirou-me ao tapete com uma grande pinta. Também podia contar como o bebé atacou a minha filha que o tinha ao colo, primeiro a dar-lhe marteladas com o martelinho do xilofone e, acto contínuo, quando ela se queria defender das marteladas, com a outra mão a puxar-lhe o cabelo -- enquanto ela gritava por socorro a rir-se, espantada com o sorrisinho safado do sobrinho mais novo.
Mas não me alongo. Aliás, já me alonguei foi demais. Se não se importam, agora vou apenas deixar-me estar aqui a ouvir uma música, convosco. Roo Panes acompanha-nos e, digo eu, ficamos em boa companhia. A pintura que acompanhou estas minhas palavras meio descomandadas é da autoria do pintor chinês Wang Xingwei e, se acham que, uma vez mais, nada têm a ver com o texto, saibam que eu não apenas acho que têm tudo a não-ver como aposto que ainda hei-de voltar a ele pois parece ser rapaz cá muito dos meus.
Se acordar, talvez ainda cá volte.
7 comentários:
Com essas suas iguarias, bem, eu perder-me-ia, cada uma melhor que a outra.
Nas velhinhas a fratura do colo do fémur é tramada, mas como a UJM não é velhinha, safar-se-ia bem (lagarto, lagarto, lagarto).
Espero que já esteja mais recomposta de tão esborrachante jornada.
Um belo primeiro dia de saldos.
Abraço.
My dear Old Lady,
Espero que esteja bem!
Não pode permitir que lhe apliquem golpes desses, e logo num chão de tijoleira...
A sério, espero que esteja mesmo bem ⚘
Gostei do Wang Xingwei!
🌲L
Gosto sempre de ler a descrição das suas festas alegres - menos da queda, de que espero que tenha recuperado, pela energia com que escreve. E dos menus, dos quais já partilhou generosamente connosco algumas receitas noutros anos e que revisitei hoje. Será este ano que experimento fazer as tiropitas. Um abraço e continuação de Boas Festas,
Ana
PS - Ao reler alguns dos posts antigos, gostei da ideia de lavar as couves debaixo do chuveiro. Muito prática e é sempre bom pensarmos na casa ‘fora da caixa’. Já tenho deixado amigos entre o espantado e o divertido ao pôr o bacalhau a demolhar e o peru em salmoura no lobby da casa, que por não ter aquecimento está nesta altura do ano na temperatura adequada e sempre me liberta o frigorifico.
Olá Francisco,
Bem sei que começaram os saldos que bem tenho visto as filas de carros a caminho dos centros comerciais. Mas eu não me dediquei a isso. Almocei em casa do meu filho e daí fomos para casa dos meus pais onde a minha filha e os miúdos já estavam. Lanchámos lá e os miúdos fizeram uma daquelas suas chinfrineiras doidas que, felizmente, o meu pai não ouviu (estava meio a dormir, está surdo todos os dias e a porta do quarto estava encostada) senão haveria de ter ficado num nervosismo. Por mais que a minha mãe ainda tente que falem baixo, é escusado: transbordam de enrgia, não conseguem contê-la.
E da ida ao tapete (ou melhor, à tijoleira) não restaram sequelas, pelo menos que eu dê por elas. Tanto trabalho, tanto me mexo, tanto ando com o texuguinho ao colo (o "tchuguinho mais fofo", como eu chamo ao mais novo, gosta é de correr, trepar, saltar -- mas eu não perco uma oportunidade para andar com ele ao colo) que o meu corpo está preparado para tudo. Se a Telma Monteiro me dessa uma coça, haveria de me levantar do tapete fina e pronta para outra...
E já anda a decorar o cenário para o bailarico do réveillon...? Trate de caprichar, ouviu...? :)
Abraço, Francisco.
Olá Ms Tree Lover,
Como já disse ao Francisco, não me dói nada pelo que penso que estou fresca -- embora não tenha muita vontade de dizer que estou pronta para outra, pois, no momento da queda, quando a gente percebe que vai cair desamparada, vem sempre aquele breve receio de que a coisa dê para o torto, especialmente a nível de pancada na cabeça. Mas, por sorte, levantei-me dorida mas passado pouco tempo já não me lembrava sequer de onde é que me tinha doído.
Uma boa quinta-feira aí pelas terras frias!
Olá Lady Anne,
Por ter lido essa do peru em salmoura no lobby da casa é que me deu vontade de contar como deixei o meu galo de molho em banho perfumado, uma espécie de spa para galináceos (excepto que não é para consolo dos próprios mas para consolo de quem os papa).
E arrisque nas tiropitas. Sem medo. Práticas de fazer e de sucesso garantido. Faço-as com o que me vem à cabeça e ficam sempre boas. Só uma vez que fiz com queijo e compota é que os miúdos protestaram: iam à espera de uma entrada e saíu-lhes um doce. Pediram-me para eu me deixar disso e eu deixei. Agora é com salmão, farinheira, alheira e o que calhar. E sempre a ricota e a fruta, que acho que fica ali bem. Nem se dá por ela porque tudo se funde mas acho que fica bem.
E tem razão: essa de pôr os bichos à fresca numa divisão bem temperada da casa é boa ideia. Eu não foi isso mas o ter feito o rolo de véspera e ter deixado o galo em banho de imersão também me desafogou o frigorífico porque isso é sempre um problema.
Um abraço, Ana!
Folgo em saber que é boa de queda.
Que maravilha os seus meninos ainda terem os bisavós, agora imagino que às vezes para os seus pais tanta energia seja assim um reboliço.
Já estou a preparar isso tudo!
Um abraço.
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