Há relação entre a maneira de ser do criador e a qualidade das suas criações? Tenho para mim que não e que o melhor é nem conhecermos o criador das criações que apreciamos para não corrermos o risco de nos decepcionarmos ou de cedermos ao facilitismo de deixarmos que o apreço pela obra fique beliscado.
Escrevo isto e logo me ocorrem alguns exemplos mas é tudo muito déjà-vu e eu não estou aqui para me armar em papagaia de gente erudita.
Escrevo isto e logo me ocorrem alguns exemplos mas é tudo muito déjà-vu e eu não estou aqui para me armar em papagaia de gente erudita.
Fico-me, pois, por casos mais comezinhos. Por exemplo: não é que me decepcione com as cartas de amor que James Joyce escreveu a Nora -- claro que não: são cartas amorosas, fofinhas, destilando aquele amorzinho bobo e ridículo tão próprios dos amores platónicos -- mas acho que não haverão de contribuir em nada para o apreço que se possa sentir pelas suas obras.
No entanto, note-se, gosto de ler entrevistas a escritores. Não que queira saber o que justifica ou motiva a história, que não quero, mas, apenas, para perceber a génese do processo criativo em geral.
É a mesma curiosidade que me leva a procurar livros de e com pintores. Interessa-me conhecer como se forjam realidades materiais (uma história, um quadro) a partir do nada ou de uma pequena semente. É o processo que me fascina.
É a mesma curiosidade que me leva a procurar livros de e com pintores. Interessa-me conhecer como se forjam realidades materiais (uma história, um quadro) a partir do nada ou de uma pequena semente. É o processo que me fascina.
Não li o Ulisses e ainda não me senti tentada a isso. À medida que a linha da vida avança -- uma linha cuja derivada não prenuncia uma dilatação da variável tempo -- faço, cada vez mais e em relação a quase tudo, uma avaliação muito simples: o prazer que terei justifica o tempo ou o esforço que despenderei para o obter?
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Mas nesta vida, quando a coisa é subjectiva, não há muitas questões que sejam definitivas. E, por isso, lá está, há questões que mantenho em aberto. E a leitura do Ulisses é uma delas. Tenho vindo a ser aconselhada a lê-lo desde cedo e, mais, aconselhada por gente cuja opinião prezo. Mas nisto estou como estava com a decisão de deixar de fumar -- eu sabia que haveria de chegar o dia em que diria: 'é hoje'.
Durante muitos, muitos anos, fumei. Pensava que fumava até deixar de querer. O dia nunca mais chegava e eu continuava a fumar. Achava uma estupidez, estava consciente dos malefícios, mas era como se não sentisse pressa, como se soubesse que ainda tinha tempo até que o dia chegasse.
Mas o dia chegou. Sem que o tivesse premeditado, um dia, de manhã, decidi: nunca mais fumo. Pouco tempo depois, abri a gaveta da secretária e vi um maço. Peguei para deitar fora. Mas, poupadinha como sou, achei que era mal empregado. Então tirei um cigarro e fumei. Mas tinha mais dois. Fumei-os. Deitei, então, o maço vazio no lixo. E, até hoje, nunca mais fumei. E já lá vão uma data de anos. E nunca mais vou fumar.
Portanto, pode ser que chegue o dia em que decida: 'é hoje' e pegue no Ulisses e, pimbas, de penalti.
Bem. Pensando melhor, com o que sei do bicho, acho que não é coisa que lá vá de penalti. Mais coisa para ir de fininho.
E, nos entretantos, vou-me cultivando para estar au point para o receber condignamente quando chegar o dia de o papar.
E, agora, alguns apontamentos soltos e completamente ao calhas para uma adequada preparação para a grande obra
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A voz ao tradutor da mais recente edição, no Literatura Aqui -- entre os 2' 40" e os 9' 40"
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3.
Ora vamos lá a saber: porque é que se deve ler o Ulisses de James Joyce?
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Ora vamos lá a saber: porque é que se deve ler o Ulisses de James Joyce?
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E, já agora, a leitura das cartinhas de amor de James Joyce a Nora, aqui a cargo de Paget Brewster
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Para quem não domine bem a língua em que as cartinhas ditadas pelo mais inocente cupido foram escritas, aqui as deixo ditas no português com açúcar e com afecto de Caco Cioler
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E aqui fica a promessa: um dia que meta pernas a caminho e acompanhe o dia inteirinho do senhor coiso e tal, chegando viva ao último Yes
I was a Flower of the mountain yes when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used or shall I wear a red yes and how he kissed me under the Moorish wall and I thought well as well him as another… then he asked me would I yes to say yes my mountain flower and first I put my arms around him yes and drew him down to me so he could feel my breasts all perfume yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will Yes.
cá estarei para vos dizer qual a minha mui douta opinião.
PS: Se algumas imagens vos parecem deslocadas, lamento mas é impressão vossa.
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PS: Se algumas imagens vos parecem deslocadas, lamento mas é impressão vossa.
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