sábado, julho 28, 2018

Só espero que, daqui por uns cem anos, ache mais graça ao eclipse da lua.



Estava sem curiosidade sobre isso do eclipse, nem pensei em apanhá-lo. Uma coisa que aparece meio escondida não me parece tema empolgante. Mas já se sabe que ando niquenta, para mim só coisinha apurada, petisquinho sofisticado, acepipe jamais sonhado. Não isto, muito déjà vu. Todo o ano há um eclipse ou uma lua de um tamanhão ou de uma cor nunca vista, já não se consegue perceber qual o espanto. Agora parece que é o mais longo. Qualquer dia vai ser: bora malta, vamos ver o eclipse mais curto do século. Ou, bora malta, vamos lá ver o eclipse às bolinhas amarelas. Uma seca. Uma falta de imaginação.


Quando saímos do cinema
-- e devo dizer que sim (e a Bening fantástica) mas que, talvez dado o meu estado de mal-dormida ou talvez dado que estava francamente bem instalada, durante a primeira parte tive que me esforçar para não cair no sono -- 
olhei para o céu e lá estava ela. Desdenhei: Qual a diferença de estar em quarto minguante? Como sou míope não vi o que o meu marido viu: a parte oculta. 

Por isso, mal cheguei a casa, fui-me à hiper machine e zoom com ela. E vi. E pareceu-me ver, mais abaixo, à direita, uma sombra ou um reflexo da própria lua. Abri-lhe a claridade e vi-a melhor.


Mas, fazer o quê?, continuei desempolgada. Pensei: se ainda se visse um bando de mil bailarinas a dançar a dança dos véus, cada véu de sua cor, cada mama de seu tamanho, ou cavaleiros a fazer cortesias montados em unicórnios coloridos com rabos de cavalos platinados e tão longos que só pudessem ser extensões, ou macaquinhos aos saltos ou muitos milhares de freirinhas circunspectas a entoar cânticos gregorianos que se ouvissem cá em baixo -- ainda era capaz de ter alguma graça. Agora só isto...? Vou ali e já venho.

E, assim sendo, fui-me à fotografia, injectei-lhe cor e consegui ver uma bolinha (uma bolinha ratada, claro) com alguma graça. E lá está a outra, o tal reflexo suspenso no espaço. Porque é que ninguém fala nesta imagem-outra da lua que ali me aparece diluída na sombra nocturna do céu adormecido?


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