Não sou de dar lição. Dou palpite. Coisa fraca, bagatela. Opinião, quando muito. Mas lição não dou. Não sei o suficiente. Não me peçam conselho. Quando muito direi: eu, se fosse eu, faria assim. Mas pode acontecer que eu, noutra altura, já fizesse de outra maneira.
Já contei: amei a relatividade. Parecia coisa poética e eu, já na altura, era dada à poesia. Também já contei: estava no Portinho a ler o ABC da Relatividade e o homem mais lindo do mundo e com um corpo demasiado belo para ser de verdade aproximou-se de mim quando eu estava a nadar, e vinha de debaixo de água, e isto para me dizer que me tinha visto a ler sobre a relatividade. E falou em francês para ser tudo ainda mais improvável. E desde aí nunca mais larguei isto da relatividade. Coisa do domínio do improvável, de uma elegância que mais se diria ser coisa quitada. Aprendi: tudo muito relativo, tudo, o tempo, o espaço, o que a velocidade faz à massa dos corpos, a luz. E aquilo das ondas curvas e melódicas que atravessam o universo ainda mais ajuda à festa. Uma beleza absoluta, isto da relatividade.
Quero eu dizer: não sei nada. Eu própria posso ser nada. Quem sabe, nada mais senão uma partícula anónima circulando no imenso espaço.
Até porque é mesmo isso: estou de passagem. Meio mundo está para ficar. Lutam para aprisionar o tempo entre as mãos.
Mas nada se segura entre as mãos. Só o afecto, coisa fugaz, mas isso também não conta para aqui.Sabem tudo, querem tudo, nada arriscam para não perturbar a monotonia que os encanta. Eternos. Para todo o sempre por cá, agarrados aos seus privilégios, garantias adquiridas que perdurarão até ao infinito. Gente feliz.
Eu não, eu sou efémera, perecível. Desligada de certezas. Despreocupada e desavergonhada como um bicho inocente.
Também não sei interpretar, muito menos decompor a semântica, enunciar signos ou desfiar semióticas. Mesmo que quisesse fingir que sim, a verdade é que não. E o pior é que não quero. Só quero ser capaz de gostar ou não gostar, sem explicações, sem convenções.
Atraem-me as topologias abastractas, as bolas ditas abertas, os espaços sem fronteiras, as geometrias variáveis, as palavras que rasgam o véu que normaliza a realidade. Coisas assim que, como se vê, não alimentam grande conversa.
Ah. O texto parece meio solto. Está meio solto. Mas não podia ser de outra maneira porque as ideias soltas estão. Não quero aprisioná-las.
As escolas deviam ensinar a subverter, a manter os pensamentos em liberdade, a inventar caminhos. Mas isto sou eu, desconstruída mental, a falar.
Não sou de seccionar frases. Sou mais de limpar polinómios. Cansa-me o ruído. Atrai-me o silêncio.
E comecei a escrever este texto para falar do que acho que deveria ser a escola hoje mas, porque não sei do assunto nem sei dizer bem o que penso, deixei que aquela velha driving force que constantemente me leva para sítios imponderáveis, me fosse desconduzindo para lugar nenhum.
E comecei a escrever este texto para falar do que acho que deveria ser a escola hoje mas, porque não sei do assunto nem sei dizer bem o que penso, deixei que aquela velha driving force que constantemente me leva para sítios imponderáveis, me fosse desconduzindo para lugar nenhum.
Por isso, esqueçam.
3 comentários:
Ui!!!
Quem,
eu?!!!
Esta agora!...
UJM,
Disse o que disse, ali em baixo, porque se não toleram do mesmo modo os discursos a um idiota e a uma cabecinha pensadora. E essa postura que enceta teorias sobre "os professores", "os médicos", "os jogadores de futebol", "os patrões", "os camionistas", enfim, a atitude que pressupõe o conhecimento particular e sempre generalizado dos complexos meandros de tudo quanto é actividade alheia, baseado apenas e só numa opinião pública que nem só o facebook manipula, bom, não costuma merecer-me mais do que um encolher de ombros. No caso, aqui neste blogue, fiquei um bocadinho incomodada com o excesso de "senso comum", digamos assim.
Não obstante o formigueiro, dispenso-me irada, revoltada. Felizmente poucos assuntos e raríssimas situações me insuflam ainda tais sentimentos muito próximos dos vitais interstícios. Talvez sejam reacções aprendidas, condicionadas, à injustiça. Ou então são só frescuras de uma idealista frustrada. "És uma lírica!" - já escutei, e o tom não era elogioso.
O certo é que, nos tempos que correm e por motivos variadíssimos, mal pressinto próximas essas ondas, me apresso a fugir para longe. Cobardia? sem dúvida. Já não me disponho a
desconhecer-me nos resultados de tão apaixonadas investidas. Qual agente decisor do meu próprio departamento de gestão de risco, não autorizo, por ora, mais créditos.
Finalmente, agradeço a rara oportunidade de para aqui vir mandar umas bocas, bem como este post que não sei bem se de algum modo me é dedicado. De resto, dada a "relatividade" morfológica do meu crânio, qualquer carapucinha se me assenta, mais não seja para experimentá-la. Depois miro-me ao espelho e nem sempre me agrada aquilo que vejo. É a vida.
Bem hajam as ideias!
... e os afectos!
bem hajam as ideias e os afectos. os afectos e as ideias.
Lady Kina,
Espero que goste de se ver reflectida no seu comentário. Está um belo statement. Partilho muito do que diz. E gosto de ler o que escreve. Tem aí umas metáforas das boas. Não sei se lhe saíram espontaneamente ou se as estudou. Não interessa. O que interessa é que me soam bem, inteligentes e bem confeccionadas. Fui carregar no seu nome a ver se ia dar a algum blog mas não fui dar a lado nenhum. Portanto, concluo que, para ler o que escreve, terei que procurá-la nos comentários. Certo?
PS: Tenho geralmente os comentários fechados porque me sinto um bocado mal por não responder e agradecer e, geralmente, quando aqui escrevo, já estou com tanto sono que não dá. Mas saiba que tenho pena pois gosto de ler a opinião de quem me lê, mesmo que seja para me darem na cabeça.
Obrigada por me acompanhar e pelas suas palavras.
Desejo-lhe um bom fim de semana, Lady Kina.
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