sábado, janeiro 27, 2018

Moad





Dia longo. Chego a casa tarde. Descalço-me, dispo-me, tiro os brincos e o colar, desmaquilho-me da quase invisível maquilhagem, escovo o cabelo. Depois, quando limpa do ar que, durante o dia, cobriu o meu corpo, já confortavelmente pouco vestida e descalça, chego finalmente ao meu canto do sofá, onde me abrigo entre almofadas.


Ligo o computador e vou espreitar os mails. De entre todos, prende-me um que tomo a liberdade de aqui o transcrever:
Mesmo que lhe  falte o tempo ou a oportunidade ou ainda a paciência não importa que o poema fique perdido no vazio.
Talvez alguma lua virtual e benfazeja lhe soletre os versos, ou aves sonâmbulas lhe ouçam a voz...
Talvez Moad (*) o recolha como se fosse um hino a venerá-la. 
E trazia um ficheiro de voz onde se ouve o Leitor LS a dizer o seu poema. Estive a ouvi-lo e gostava de o partilhar convosco. Mas aqui apenas sei inserir vídeos do youtube. Não sei como inserir no blog ficheiros de outro tipo. Mas, se não consigo ter aqui a voz do Autor, tenho as suas palavras que, agradecendo ao LS, também aqui tomo a liberdade de partilhar com todos os meus Leitores.


Nua caminhas sob o sol sedento
Da nudez da tua pele,
Te moves pela inquietação do vento
Com o teu corpo feito a cinzel.

Na claridade do teu rosto
Toda a estrela encandece,
É aí que o frio se aquece
E eternos os dias sem sol-posto.

Seguindo a curvatura dunar dos teus seios
a beleza ensandece
E é nessa doçura que se tece
A ânsia de todos os anseios

Sob a fímbria do teu púbis, no lugar mais recatado
Descansa a delicada, rósea flor.
Os néscios dizem que aí mora o pecado
E eu quero pecar, seja o pecado aquilo que for.

Singro o mar de tempestade
Do teu corpo deslizando sobre as águas,
É nele que busco a eternidade,
É nele que sublimo as minhas mágoas.

Neste sonho em que tu segues
Há um saber que não consigo,
Saber se és tu que me persegues
Ou se sou eu que te persigo.



(*) Moad - Ente mítico que habita a ondulação do mar e preside ao chilreio dos pássaros. As Sibilas afirmam que também pode ser vista, na forma de uma bela mulher, assombrando amores impossíveis.

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