segunda-feira, janeiro 22, 2018

Culinária paleo (ou arraçada disso), um lanche paleo, uma queimada paleo...
[...e o estranho caso da bola desaparecida e do sapato roubado...]




Retomando, então, o fio à meada (na sequência do post abaixo).

Volto ao dia em que o menino de cinco anos me apareceu ao telefone a perguntar se eu tinha um livro do Van Gogh : a conversa não ficou por ali. Completo a descrição do telefonema. 

Quando lhe disse que ia procurar o livro, disse-me que estava bem e, acto contínuo, acrescentou: 'Olha, põe queijo no arroz, está bem?'. Precisei, de novo, de uns segundos. Perguntei então quando seria o repasto. Disse-me que no domingo. Estava apalavrado que iriam passar o dia ao campo para participar na queimada mas ainda não o dia em concreto. Depois perguntei: 'Mas o arroz é para acompanhar o quê?'. Responde-me 'Carne'. Ouvi a voz do meu filho: 'Pode ser pá com osso. No forno'. Perguntei se era de porco. 'Não, de vaca. O osso é o osso buco'. Não percebi bem de que se tratava mas ele incumbiu-se de tratar do assunto. Frequenta um talho de bairro onde encomenda cortes de carnes e onde o dono, conhecendo-lhe os gostos, lhe guarda cabeças de carneiro e outros pitéus meio sinistros. Perguntei que coisa era essa do queijo com arroz. O meu filho disse de longe: 'Comeu um risotto na casa duns amigos nossos e gostou tanto que não fala de outra coisa'. 

Resumindo e voltando à carne. O que cá veio parar a casa foi um pernão de vaca como não há memória. Pensei que se trataria de postas de carne em volta de um osso. Afinal a 'cena' era a perna quase inteira. 

Como só íamos no próprio domingo, com aquele tamanho e robustez de perna, não daria para apenas começar a cozinhar quando lá chegássemos, a menos que me levantasse de madrugada.


Então, foi assim: preparativos de véspera.

Pá de vaca no forno

No sábado à noite, num tabuleiro fundo, coloquei uns generosos fios de azeite. Sobre isso, cortei em bocados duas cebolas grandes, cinco ou seis dentes de alho, um ramo grande salsa e outro mais pequeno de coentros, umas folhas de louro. Por cima dessa cama perfumada, deitei a perna (a da vaca, claro) e besuntei-a com azeite, sal, tomilho-limão e alecrim. Virei-a e na outra face, apliquei o mesmo tempero. Tapei com papel de alumínio e deixei no frigorífico.
Isto porque o meu marido é madrugador e, portanto, ficou incumbido de começar a faena mal se levantasse, tendo eu deixado as respectivas instruções. 
Aquecer o forno ao máximo, durante 10 minutos, saída do calor por cima e por baixo. Depois do forno quente, inserir o tabuleiro e reduzir para 180º. Durante uns 15 minutos, fica assim. Então, baixar para 160º e ficar assim até sairmos de casa. 
Entretanto, levantei-me e rodei o pernão.

Quando chegou a altura de irmos, tirei o tabuleiro do forno, cobri com papel de alumínio, coloquei esse tabuleiro sobre o tabuleiro preto do forno e foi assim que o pernão foi transportado: bem instalado, no banco de trás.

Quando chegámos, de novo o forno a aquecer ao máximo durante uns dez minutos e, de novo, lá para dentro com temperatura a 160º, rodando, de vez em quando. Ah, sim, de vez em quando, juntava um pouco de água para que nunca secasse ou queimasse.

Entretanto, cozi feijão verde qu elevei e aproveitei para gastar a batata normal e a batata doce que lá tinha. Quando cozidas as batatas, aos cubos, coloquei no tabuleiro da carne para que tostassem. Batatinha de forno é sempre coisa boa.


Quanto ao risotto:

Num tacho: azeite, duas cebolas migadas. Fritar levemente, sem queimar, para ficar branca e macia. De seguida, juntei salsa e coentros abundantes e um pedaço pequeno de bom chouriço de carne, cortado. Tapei o tacho e deixei que cozinhasse durante um bocado. A seguir, com a varinha, triturei grosseiramente para que não se percebesse nem a cebola, nem a salsa ou coentros ou o chouriço. Juntei o arroz (risotto) e deixei-o embeber aquela massa húmida. Fui juntando água quente e mexendo. Temperei com sal. Juntei o conteúdo de uma lata pequena de cogumelos laminados depois de os passar por água. Continuei a juntar água quente e a mexer. Quando já tinha embebido a água toda, juntei um pouco mais e tapei, deixando estar um bocado mais a cozer. Juntei um pouco do molho da carne assada. No final, juntei uma embalagem de queijo ralado e, claro, sempre mexendo. Usei mozarella para não ter um sabor muito forte, não fossem os meninos não gostar.

No fim, a carne (chambão) estava saborosa e muito macia. Ao todo, descontando o tempo em que viajou no banco de trás, deve ter estado umas quatro horas no forno.


Estava uma peça muito bonita mas, como sempre, esqueci-me de a fotografar. Só quando o meu filho se atirou ao osso é que registei o momento.

Para além do risotto que estava apaladado e do feijão verde (que temperei com azeite e vinagre balsâmico), acompanhei também com salada de alface e com rábano às rodelas finas.

De sobremesa, fruta variada e mousses de chocolate (do supermercado).

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Para o lanche, que contou com o resto da trupe, houve torradas feitas na lareira, chouriço assado também na lareira, queijos vários, presunto, sumos, chá de lúcia-lima, fruta e iogurtes, bolachas marinheiras, mel. Delicioso o pão de sementes aquecido também na lareira que comi com requeijão de cabra. Os meninos deliram. Mas, senhores, a confusão que é... Parece uma daquelas famílias de italianos em que toda a gente fala e ri e faz barulho e em que ninguém se entende mas em que ninguém se importa com isso e continuam todos a rir e a falar. Pelo meio, bem disposto e comilão, o bebé despacha tigelas de papa, come banana e pão à mão, ri, bate palmas e dança sozinho, na cadeira ou ao colo, feliz da vida.

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E agora o trabalho


Entretanto, antes das comezainas, tínhamos um bidão usado que conhecido nosso fez o favor de nos arranjar. Contudo, estava hermeticamente fechado. Então, a primeira tarefa foi serrá-lo para o abrir. O meu filho trouxe a rebarbadora e, com a experiência que adquiriu na reforma da sua casa, atirou-se à arriscada tarefa, sob o olhar atento do pai.

De seguida, levaram-no para o 'campo de futebol' e teve, então, início a queimada controlada. Mato e mais mato e mais mato. Os pimentinhas, numa alegria e numa azáfama, transportando ramos dos montes para o pai e o avô irem queimando. De manhã ao fim do dia. Pelo meio, como já disse, juntaram-se-nos a minha filha e os outros queridos pimentinhas. A alegria do costume. A ajudar com o mato, a ver a horta (tudo pegadinho de dar gosto!), as grutas pequenas, o musgo, os caminhos novos.

Ah... e os cães.

Quando chegámos, de manhã, lá andava o gatinho branco. Entretanto, escondeu-se e não mais o vimos. Mas agora temos uma novidade. Na casa do outro lado da nossa rua, lá mais ao fundo,  há três cães. Um grande (que era novinho, de uma cor castanha clara e olhos claros, e que agora está um gigante meio assustador), um de tamanho médio, malhado, bonito, e um pequeno, atrevido. Pois bem. Estes dois mais pequenos deram em entrar para o nosso terreno. Saltam por entre o gradeamento e lá andam, querendo brincadeira e festas.

No outro dia, um dos meninos deixou uma bola colorida num abrigo. Hoje a bola não estava lá. Estranhámos. Como é que a bola desaparecia dali? Não acreditávamos que alguém tivesse entrado para roubar uma bola. Pois bem. Lá estava ela junto aos arbustos ao pé do gradeamento. Não conseguiram levá-la nos dentes por entre as grades. 

Pior.

O meu filho deixou os sapatos à porta de casa pois andou nas faenas da queimada com galochas. Quando veio, antes de almoço, foi tomar banho, vestir outra roupa e calçar-se. Sim, sim... Só lá estava um sapato. Ficámos passados. Como é que desaparecia um sapato? Lembrei-me: Não me digas que foram os cães? E o meu filho já a ver o caso mal parado: Querem ver que o cão me roubou o sapato... Mas a filha disse: Eu vi o cão ir a correr daqui ali para aquele lado. Lá fomos. E ufff...! Ao fundo, do outro lado, lá estava o sapato caído. Vá la que também não conseguiu saltar com ele na boca.

Está bonito, isto. O meu marido diz que vai pôr uma rede ou coisa do género para ver se os impede de entrar. Safados. Ainda hoje vi tufos de pêlo de coelho, num dos caminhos. Na volta, ainda se andam a atirar aos coelhos.

(Isto já para não falar na hipótese de por lá habitar alguma raposa que desde que o vizinho do fundo disse que tinha tido que arranjar uma burra para o ajudar a espantar as raposas, não fossem elas atacarem as ovelhas, tenho andado com este pressentimento. Aquela gruta grande... não sei não...)

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Bem. Fico-me por aqui. Isto já vai para lá de longo de mais. Nunca mais aprendo a sintetizar.

A primeira e a terceira fotografias são da autoria da menina linda (que adora fotografar). Para nos acompanhar no texto, escolhi uma canção popular italiana porque sim.

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E uma semana feliz a todos quantos por aqui me acompanham!

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