domingo, setembro 17, 2017

O gatinho branco que habita in heaven provou que o Prémio Ig Nobel 2017 da Física foi bem atribuído


Estava num cantinho, como que aconchegado, debaixo de um banco. Nós por ali, tão perto, conversando, e ele sossegadinho a olhar para nós.


Mal o vi, fui a correr buscar a máquina. Deixou-se fotografar. No outro dia, quando não o víamos, miava baixinho como se estivesse a chamar-nos. Parece apreciar a nossa companhia. Aos irmãos e à mãe não os vemos. Mas ele, fofinho, parece é sentir-se bem aqui, perto de nós.

Mas, então, hoje, ao fim da tarde. 

Olha-me tranquilo, deixa que me aproxime, não tira os olhos de mim. Digo: 'Gatinho lindo, gatinho lindo...', 'Bschhhhh, bschhhhh', e ele olha-me. 

Depois, aproximo-me ainda mais, puxo um ramo seco que ali está. Assusta-se com o som do ramo a arrastar-se, levanta-se, sai do seu abrigo. Depois vira-se para trás para me olhar. Tranquilo. 


A seguir, devagar, muito calmo, chega-se à vedação que naquele sítio impede os meninos de caírem para o caminho mais abaixo. E passa serenamente por um espaço em que eu juraria, juraria mesmo!, que ele jamais poderia passar. Mas passou nas calmas.


Como é que, com aquela elegância natural, ele conseguiu encolher-se para caber ali, não consigo perceber.

Mas, enfim, provou que o Prémio Ig Nobel 2017 da Física foi bem atribuído. Segundo leio, Marc-Antoine Fardin foi o feliz galardoado por se servir da dinâmica dos fluidos para resolver a questão "Poderá um gato ser sólido e líquido ao mesmo tempo?". É que só isso explicaria a capacidade dos gatos para adaptarem o corpo de modo a serem capazes de se enfiar em qualquer espaço, por exíguo que seja.




Passado um bocado voltou. Veio devagar, com confiança. Acolheu-se ao mesmo lugar, olhou para mim.

Não sei se devo aproximar-me mais. Não sei se os gatos gostam de festas ou se preferem ser ariscos.


Perguntei ao meu marido: 'Será que devíamos levá-lo connosco?'. Para a cidade, quero eu dizer. O meu marido deu a resposta habitual: 'És maluca'. Não insisti. Presumo que à solta, no campo, ele seja mais feliz. Fechado em casa não teria com que se entreter. Ali é o que não lhe falta.

Mas à noite, frio, tanto frio que se pôs... Preocupo-me com ele: 'Tão pequenino, exposto ao frio.' O meu marido disse: 'Frio, agora? Frio vai estar no inverno.'. Estas coisas não o comovem. Tive uma ideia: 'Vamos arranjar uma casinha para ele, vamos ver se descobrimos uma casinha. Ponho uma mantinha lá dentro.'. O meu marido respondeu: 'Porque é que o gato vai achar que deve ir para uma casa?'. Pois não sei. Mas preocupa-me o gatinho, tão pequenino, ali ao frio. Deixei-lhe lá um recipiente com água. Também me preocupo com isso: onde é que ele arranja água para beber? E de que será que se alimenta? Parece-me tão frágil e indefeso. Gatinho lindo.

Mas fico sempre neste dilema: para a felicidade do gatinho, qual será a melhor atitude a ter em relação a ele?

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