segunda-feira, julho 17, 2017

My green heaven


O que tenho a declarar, depois da post sobre o que Gentil Martins disse sobre homossexualidade e anomalias e CR/ e barrigas de aluguer, é que o aeroporto de Lisboa está mesmo à beira da saturação. A barafunda (que este domingo de manhã voltei a testemunhar, desta feita na zona das partidas) revela bem que há muito que se deveria ter encontrado uma alternativa ou um complemento à Portela. 




Tirando isso, o que tenho a dizer é que a semana passada me esqueci dizer que apenas vi um dos bebés-gatos-brancos. Brincava perto da mamã-gata. Cresceu. Ele esquivo, ela tranquila a olhar para mim. Espero que o outro esteja bem, que eles eram dois.


Este domingo não os vi. Com o calor que está, onde beberão água? Um dia destes terei que pensar nisso. Mas não quero ficar como aquela cat-addicted que anda pelo Ginjal carregada de ração, enlatados e tupperwares cheios de esparguete a chamar pelos gatos que já andam lontrudos e pastelões tantas as calorias que ela lhes dá a ingerir, ou a repreender-me por fotografar gaivotas que assim elas não se sentem à vontade para irem alimentar-se com massa guisada. Não. Tenho que perceber que animais do campo, habituados a viver em liberdade, não precisam de mão humana para sobreviver. Contudo, com este calor...

Tirando isso, o que tenho a confessar é que estar no campo me revigora, me descansa, me enche de luz. 


Ando, em silêncio, ouvindo as cigarras, sobressaltando-me quando um pássaro se levanta numa agitação de asas contra a folhagem, sorrindo quando uma lagartixa se afasta num ápice à minha frente. Fotografo a luz. À tarde a luz torna-se dourada, os verdes alouram-se e a serenidade deixa-se ficar pousada como um pássaro feliz.


Os pedaços de tronco continuam em cima do muro e, como cabeça de fila, a casinha de pássaros que o meu filho me deu e que estava pendurada na pernada que foi cortada. Gosto de ver como tudo ganha novas funções mesmo que mudando a sua forma ou mesmo que aparentemente sejam agora formas sem vida. Um tronco cortado continua vivo, não sei como mas continua, mesmo que seja numa outra forma de vida.


Ao princípio da tarde vimos fumo a vir lá de baixo, do campo que envolve a aldeia. Fiquei logo um pouco assustada. Mas não se ouviram bombeiros, o que foi extiguiu-se logo. Mas fui à janela de cima, do quarto do meu filho, espreitar. Em cima, o céu limpo. Em baixo, o plátano e a ameixeira de jardim e toda o verde que me rodeia e que envolve os que, lá mais abaixo, dançam em roda sobre um fundo azul.

De tarde, pus-me a ler e, claro, com o calor e com a efervescência dos últimos tempos, deixei-me dormir passado pouco tempo. Gosto destas sestas profundas. Acordo fresca e pronta para outra. Agarrei no livo e estive a ler de gosto. Ainda os Caminhos e Destinos. Este livro enche-me as medidas: bem escrito, uma lucidez elegante. Referências que aparecem de forma inteligente e com as quais aprendo. À minha volta, o meu marido fotografava-me. Disse-lhe: 'Vê se me tiras alguma decente para eu poder publicar'. Não atendeu ao meu pedido. Por isso, ao contrário do que eu gostava, não posso plantar-me no meio do texto, tenho que me contentar com as fotografias que fiz nos eus passeios.


Saímos de lá já tarde. Não há vontade de deixar aquele mar de verde. Nos dias de ventania, o som do vento nas árvores parece o som das ondas. Gosto de passear à noite junto à praia, ouvindo o som das ondas que vem do mar negro. E é esse som que as minhas árvores fazem quando o vento as faz dançar. Mas este domingo, estava de calmaria, era como se o mar estivesse chão, nada bulia, só as cigarras se agitavam.

É verdade, acho que ainda não contei: vejo agora rebentinhos de pinheiro um pouco por todo o lado. Dá-me pena arrancar mas estou só a adiar: não poderemos ter tal profusão de pinheiros, alguns mesmo ao lado uns dos outros. A natureza é maravilhosa.

Em vez de mais uma semana de reuniões, de canseiras, de clausura em edifícios cujas janelas não abrem, tão bem que eu estaria ali, em paz, no meio dos pássaros, dos gatos brancos, coberta de luz.

Mas tivemos que vir.


Em Lisboa, as luzes acesas, já a noitinha ia caindo, um gelado. Não podia deixar de. Não podia. E havia de kumquat, de longe o meu preferido. Fruto e casca, todo amarelinho, cheio de pontinhos de luz doce e boa. Fresquinho. Para me auto-perdoar, o cone foi dos sem açúcar.

E pronto. É mais uma semana de trabalho que está a começar. Pode ser que o ar do campo e a luz que tão docemente brilha in heaven permaneçam, todos estes dias, bem vivos dentro de mim.

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E, caso estejam numa não de bucolismo mas de anomalias e justiça popular sobre quem peca contra a moral e bons costumes ou a modos que, é descer que eu e o Dr. Gentil Martins estamos à vossa espera.

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