No vasto mundo sideral, flutuam palavras que ligam, entre si, desconhecidos que têm em comum o gosto pela leitura e/ou pela escrita.
Para ajudar aqueles que gostam de escrever, aqui deixo alguns conselhos. E são dos bons. Não quer dizer que se sigam mas, ainda assim, nada como a gente saber o que é que devia fazer.
(...)
"A prosa vigorosa é concisa. Uma frase não deve conter palavras desnecessárias, nem um parágrafo frases desnecessárias, pela mesma razão que um desenho não deve ter linhas desnecessárias, nem uma máquina partes desnecessárias. Isto não quer dizer que um escritor faça breves todas as suas frases, nem que evite todo detalhe, nem que trate seus temas apenas na superfície; apenas que cada palavra conta".
Para Strunk (...), os preceitos de um bom estilo podem resumir-se no seguinte:
1. Use uma linguagem positiva: em vez de "habitualmente não chegava à hora", diga "habitualmente chegava tarde"; em lugar de "não recordou" diga "esqueceu" - e isso porque, consciente ou inconscientemente, o leitor prefere que se diga o que é a o que não é.
2. Seja concreto: "Sobreveio um período de tempo desfavorável" constitui uma vagueza. "Choveu diariamente uma semana" seria a boa fórmula.
3. Abrevie o mais que puder: escrever "atos de natureza hostil" é alongar de dois centímetros "atos hostis".
4. Não qualifique: sempre que não se tratar de estabelecer uma opinião, a qualificação prévia é desnecessária. Dizer que é "interessante" o fato que se vai narrar, é pichar o leitor de inimaginativo.
5. Não use adornos: o estilo não é um molho para temperar uma salada; o estilo deve estar na própria salada.
6. Coloque-se atrás do que escreve: escreva de tal forma que a atenção do leitor seja despertada sobretudo pelo sentido e pela substância do que está dito, e não pelo temperamento e pelos modismos do autor. O primeiro conselho a dar ao escritor que começa seria, pois: para chegar a um estilo, comece por não ter nenhum.
7. Use substantivos e verbos: evite o mais possível adjetivos e advérbios. Não há adjetivo no mundo que possa estimular um substantivo exangue ou inadequado; isto sem subestimar adjetivos e advérbios, quando corretamente empregados. Mas a verdade é que são os nomes e os verbos que dão sal e cor ao estilo.
8. Não superescreva (significando aqui, don't overwrite): a prosa excessivamente rica, adornada ou gorda torna-se mais facilmente nauseante.
9. Não exagere e seja claro: primeiramente, porque o exagero pode tornar o leitor suspicaz; e a clareza, é lógico, facilita a comunicação. Mais vale recomeçar uma frase longa com que se está brigando, que persistir na briga. Freqüentemente uma frase longa nada mais é que duas curtas.
10. Não opine sem razão: ter por hábito ventilar opiniões próprias é prejulgar que o leitor as esteja pedindo, o que constitui um sinal de vaidade.
É isto em resumo. Há mais. Mas não espaço.
E depois, é como diz o outro: se todos fossem da mesma opinião, o que seria da cor amarela? (Sendo que, neste caso, até que eu "entrava bem", pois trata-se da minha cor preferida ... ). Mas pobre Proust, pobre Dickens, pobre Balzac, pobre Melville, pobre Otávio de Faria...
E depois, é como diz o outro: se todos fossem da mesma opinião, o que seria da cor amarela? (Sendo que, neste caso, até que eu "entrava bem", pois trata-se da minha cor preferida ... ). Mas pobre Proust, pobre Dickens, pobre Balzac, pobre Melville, pobre Otávio de Faria...
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Excerto de Os Elementos do Estilo de Vinicius de Moraes in 'Para viver um grande amor'
As pinturas têm em comum conterem gatos e, obviamente, não têm nada a ver com o texto. Ou talvez tenham. Se calhar é que, para se fazer retratar com um gato, é preciso ter-se um certo estilo.
Lá em cima Para viver um grande amor, interpretado por Vinicius e Toquinho, é também, como disse, o nome deste gostoso livro que tenho aqui ao meu lado.
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Até já.
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4 comentários:
E logo Vinicius que me parecia tão distante dos austeros Strunk & White... Omit needless words, o Vinicius de «Samba da Benção»? Vivendo e aprendendo.
São, sem dúvida, bons conselhos para quem escreve e pretende ser lido. E, no entanto, duvido que os escritores exerçam a pensar em todos eles. Mas atendem a alguns.
Pois é, Mr.X., vivendo e aprendendo. Eu acho que é capaz de ser aquilo que eu lá escrevi: é sempre bom a gente conhecer os conselhos mesmo que não seja capaz de segui-los. Ou, então, é aquilo de os exuberantes apreciarem a contenção e vice-versa.
Não sei. Sei é que também gostei de ver aqui, neste livro, estes conselhos.
E gostei de vê-lo a si por aqui.
Uma boa noite, Mr.X.
Olá bea! Boa noite.
Os escritores que vão levados pela inspiração talvez nem se lembrem de tal mas, quando revêem o que escreveram, acredito que tenham algumas destas preocupações.
Eu que sou uma escrevinhadora do caraças sigo muito um deles. Volta e meia, disparada, escrevo frases de légua. Quando as releio, ponho-me a ver como torná-las perceptíveis e, muitas vezes, tem que ser justiça salomónica: partidas ao meio a ver se cada uma, por si, se porta melhor aos olhos dos leitores do que as duas engalfinhadas uma na outra.
Um dia feliz, amanhã.
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