Posso ter uma maneira de me exprimir muito assertiva. Aliás, sei que tenho. Se acredito numa coisa, não me parece necessário mostrar-me mosca morta, passiva, ou dar voltas ao bilhar grande, sendo manipuladora, ou exaltar-me, sendo agressiva. De facto, creio que já o contei, nos testes de personalidade que, de quando em quando, fazemos em contexto profissional, apareço, entre outras coisas, caracterizada através disto mesmo: praticamente 100% assertiva.
No entanto, que não se pense que tenha certezas absolutas sobre tudo. Não tenho. Mas se a minha opinião é uma, então explano-a com convicção apesar de admitir que seja falível. Li agora mesmo um comentário de alguém que me questiona sobre o que eu escrevi dizendo: 'mas quem é você para dizer que (patati-patatá)?'. Leio e fico estupefacta.
Quem sou eu para exprimir a minha opinião?
Ora essa.
A resposta é simples: sou uma pessoa como outra qualquer que, vivendo num país livre, diz o que pensa. Então, em vez de exprimir a minha opinião, deveria fazer de conta e exprimir, como minhas, opiniões alheias, só para agradar aos donos dessas opiniões ou a quem me lê? Essa é boa.
Há pessoas que parece que têm tiques ditatoriais. Parece que não admitem que alguém pense de maneira diferente da sua. Parece que não gostam de ver os outros a exprimir-se livremente.
Para mim seria impensável escrever um comentário assim. Mas, enfim, o mundo é diverso e há que receber toda a gente com boa cara mesmo os que não a sabem mostrar aos outros.
Gosto de ler, como é sabido, e leio tudo. Livros, blogs, jornais, capas de revistas nas estações de serviço, revistas com mais de um ano nas salas de espera dos médicos, mails, comentários, o que calhar.
Gosto de ler, como é sabido, e leio tudo. Livros, blogs, jornais, capas de revistas nas estações de serviço, revistas com mais de um ano nas salas de espera dos médicos, mails, comentários, o que calhar.
Gosto de ler a escrita de quem não pensa como eu, gosto de ser surpreendida com maneiras de pensar antagónicas em relação à minha, gosto de ler sobre temas que desconheço, gosto de ser confrontada com argumentos que desmontam os meus. Mas em tudo o que gosto de ler tenho que encontrar elegância, inteligência e tolerância.
E, já agora, para a coisa se aproximar da perfeição, ainda alguma musicalidade -- mas isso já é pedir demais.Ia começar a escrever sobre o perfume dos livros quando li aquele comentário que, por não me soar bem, me desviou. Depois desse, chegou outro do mesmo calibre ao qual já lá respondi. Ele há com cada uma...
Mas não me detenho mais sobre os azedumes que volta e meia por aqui vêm aterrar e retomo o meu tema.
Até há algum tempo, achava-me uma amante de livros cheia de inconfessáveis particularidades. Pensava eu que uma amante de livros a sério tinha forçosamente a capacidade de ter a biblioteca bem organizada e arrumada e, para conseguir lá chegar, tentava arrumar cada livro no lugar certo mal chegava com ele a casa. Pensava também eu que teria que ler todos os livros em que pegasse até ao fim e impunha-me essa disciplina mesmo quando me arrastava de página em página. Pensava, sobretudo, que teria que ser alheia em relação a tudo o que pudesse ser considerado fútil e, portanto, tentava omitir aspectos que, para mim, eram (e são) vitais: o grafismo da capa, o tipo de letra, a paginação. E pensava ainda que jamais um amante de livros seria sensível ao seu cheiro e, por isso, apesar de ter um prazer apreciável em abrir uma estante e sentir o perfume dos livros, nunca me referia a tal.
Sei agora que estava enganada. Não há regras -- mas não há num nem noutro sentido.
Agora que o mundo inteiro está disponível para ser visto, é frequente verem-se bibliófilos rodeados de pilhas de livros, caoticamente dispersos pela casa, tal como é de pasmar verem-se paredes revestidas a estantes imaculadas e ordeiras.
Sobre já não me dar ao trabalho de me forçar a ler aquilo que não aprecio, tive o consolo de saber que Borges poucos livros leu por completo.
E, sobre o cheiro dos livros, tive o agrado de saber que é gosto partilhado por muita gente e que há. até, investigações sobre o tema.
A que cheira um livro antigo? A que cheira um livro novo?
Varia, claro, mas não há livro em que eu pegue que não aspire o odor que dele se desprende. Leio que podem ser identificadas notas de baunilha, sândalo, café. Não sei. Para mim cheira a memória de bibliotecas, cheira a casas de infância e refúgios secretos, cheira à casa da Mariazinha que tinha longe o marido, médico, e em cuja sala pouca luz entrava, uma sala com sofás de pele já gasta e cheia de estantes com os livros dele, dos quais retirava os livros do Fernando Namora que me ia emprestando. Cheira às minhas longas noites de leitura, noite adentro, cheira ao prazer de ler as palavras que outros, um dia, escreveram. Cheira a livrarias infinitas, a labirintos, a galerias imensas, cheira a cera de abelhas, cheira a um mundo desconhecido, cheira a mãos que acarinham as folhas que lêem, cheira a um mundo que contraria a efemeridade de quem os escreve, cheira a um mundo fora do mundo.
O império da palavra - O futuro da leitura
Agora que o mundo inteiro está disponível para ser visto, é frequente verem-se bibliófilos rodeados de pilhas de livros, caoticamente dispersos pela casa, tal como é de pasmar verem-se paredes revestidas a estantes imaculadas e ordeiras.
Sobre já não me dar ao trabalho de me forçar a ler aquilo que não aprecio, tive o consolo de saber que Borges poucos livros leu por completo.
E, sobre o cheiro dos livros, tive o agrado de saber que é gosto partilhado por muita gente e que há. até, investigações sobre o tema.
A que cheira um livro antigo? A que cheira um livro novo?
Varia, claro, mas não há livro em que eu pegue que não aspire o odor que dele se desprende. Leio que podem ser identificadas notas de baunilha, sândalo, café. Não sei. Para mim cheira a memória de bibliotecas, cheira a casas de infância e refúgios secretos, cheira à casa da Mariazinha que tinha longe o marido, médico, e em cuja sala pouca luz entrava, uma sala com sofás de pele já gasta e cheia de estantes com os livros dele, dos quais retirava os livros do Fernando Namora que me ia emprestando. Cheira às minhas longas noites de leitura, noite adentro, cheira ao prazer de ler as palavras que outros, um dia, escreveram. Cheira a livrarias infinitas, a labirintos, a galerias imensas, cheira a cera de abelhas, cheira a um mundo desconhecido, cheira a mãos que acarinham as folhas que lêem, cheira a um mundo que contraria a efemeridade de quem os escreve, cheira a um mundo fora do mundo.
de Bois de Jasmim: What Does The Scent of Books Reveal? |
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Já agora,
O império da palavra - O futuro da leitura
Alberto Manguel
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E queiram deslizar até ao post seguinte caso queiram ler sobre uma Separação escrita por quem a sabe sentir.
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1 comentário:
A propósito desse polémico post (O amor e o desejo são inconciliáveis?
), numa formação com auditores, revisores de contas e CC, a dúvida transversal à sala foi o pagamento de quantias superiores a 1000 euros (tem que se identificar o sujeito passivo), e a circularização de bens, principalmente de empresários da construção civil-))
anónimo mesmo
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