quinta-feira, janeiro 12, 2017

Cavalos pouco selvagens e um Homem-Aranha muito castiço


Depois de ter escrito o post abaixo fiquei um bocado sem palavras. As memórias, por vezes, levam-nos para territórios que pensávamos apagados e que, afinal, renascem tão facilmente. E que nos prendem. Presa fiquei, pois. 

Tento lembrar-me: para onde terão ido todos os cestos de baracinha que o meu avô fez? Terão sido deitados fora? Se calhar, foram. A minha família é assim mesmo, despegada, ninguém liga muito a nada. A minha prima, por exemplo, não quis nada. Os meus pais e os meus tios também não. Acho que a minha mãe ainda ficou com alguma louça de Sacavém. De resto, tenho ideia de que foram apenas as coisas de que me lembrei que foram salvas: a telefonia antiga, com pano à frente, o cadeirão, o móvel pequenino onde estava a televisão, os copos de vidro cor-de-rosa e os outros, com pinturas a dourado. A enxada. O pau com o ferro curvo na ponta para baixar os ramos altos das árvores de fruta. Estão in heaven. As cadeiras da casa de jantar que eu achava tão bonitas (e que agora estão aqui à volta da mesa redonda) também. Acho que, na altura, não me lembrei de mais nada. Portanto, devem ter dado tudo a quem quis. Não faço ideia. Se lá tivesse estado, teria, certamente, salvo mais coisas, certamente os cestinhos. Também não os vejo há anos em casa dos meus pais. Ter-se-ão estragado? Tenho que perguntar à minha mãe. Também tenho pena de não ter aprendido a fazê-los. Logo eu que gosto tanto de trabalhos artesanais, não me lembrei de aprender com o meu avô.

Mas, enfim, agora nada a fazer.

Dizia eu, no post abaixo, que a seguir ia mostrar cavalos. Agora parecem-me aqui deslocados. Ainda por cima estive a dar uma espreitadela nos onlines e, face às (perigosas) macacadas do Trump e às ameaças que vão aparecendo um pouco por todo o lado, até parece maluqueira minha continuar, por aqui, como se não se passasse nada no mundo para além das minhas insignificantes passeatas.

Mas não tenho paciência, agora, para me pôr a chover no molhado (para além de que esta da chuva, por estes dias, terá sempre dúbia conotação). Estou neste comprimento de onda e é para este registo que as minhas mãos me puxam.

Cavalos, portanto. Para além da polícia a pé, em carros, em motas e no helicóptero, há os polícias a cavalo. E hoje, em frente do Palácio Real, apanhámo-los de três forças diferentes: os da polícia normal, os municipais e os da guarda de honra. Não os fotografei a todos porque, por vezes, me distraio e me esqueço de registar tudo o que mexe.

O que é engraçado é que, conversadores e alegres como os espanhóis são, mesmo os da polícia, não apenas se ouvem os passos dos cavalos como a algazarra dos polícias que os montam. Não passam despercebidos. Aqui abaixo, uma era mulher e a conversa ia bem alegre.


Mas vamos com música. 
Os cavalos que aqui mostro são tudo menos selvagens mas esta interpretação é linda e eu coloco-a aqui apesar de, talvez, deslocada.

Solveig Slettahjell interpreta "Wild Horses"


Estava eu a observar as pessoas e a paisagem e os cedros altíssimos e as casas (grande parte delas em recuperação, sejam edificios públicos ou privados -- não há-de o desemprego em Espanho descido fortemente?), quando ouço o resfolegar de cavalos e eco de conversa que se adivinhava amistosa. Espreitei. Num plano mais abaixo, os guardas conversavam e um fazia festas no cavalo do outro. Achei uma ternura.

O afecto entre pessoas toca-me. Mas ver o afecto estendido aos animais parece que me enternece ainda mais.


E o render da guarda, os soldadinhos a marcharem, coordenados, e a tocarem tamborzinho, tudo tão delicadamente encenado, tudo tão de um outro mundo. Por um lado, andam armados por tdo o lado. Ontem até o segurança do museu da Biblioteca -- que viu a minha carteira, os telemóveis, a máquina fotográfica, tudo visto a raios X, e que fez o meu marido despejar os bolsos para deixar de apitar no controlo anti-metais (e afinal era a embalagem das minhas pastilhas da garganta, aquela prata, que apitava) -- andava armado e com uma fiada de balas no cinto. Um aparato bélico. E depois, à porta do Palácio Real, esta inocente fantasia, esta coreografia tão pacifista.

Enfim, contradições dos tempos modernos.


E agora o gordo Homem-Aranha da Plaza Mayor. Não tem a ver com cavalos ou com polícias mas é também um personagem característico da cidade. E, também, não é afinal o spider man também um salvador das cidades? 


Sempre que por aqui passo, e isto desde há anos, cá está ele. Penso que seja português pois, embora fale espanhol, volta e meia parece que reconheço o sotaque português que ele bem tenta disfarçar. Ninguém sabe quem é. Por ali anda fazendo poses malucas, metendo-se com quem passa, completamente descarado, e recebendo uma moedas. É a sua forma de vida. De resto, uma forma de vida muito mais honesta e muito menos onerosa para os outros do que muito emproado que por aí anda (e só porque ando num registo zen é que não dou já aqui uma dúzia de luso-exemplos, a começar pelo Sérgio Monteiro). 


Mas, enfim, o tema não passa pelos discípulos dessa nódoa que dá pelo nome de Carlos Costa do BdP. Portanto, adiante: convosco, Senhoras e Senhores, The Fat Spider Man.





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E, para quem aqui chegou de novo, o meu convite: queiram, por favor, descer para lojinhas especiais polvilhadas com memórias.

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1 comentário:

Anónimo disse...

Que excelente escolha musical foi escolher, em Solveig Stettahjell! Magnífico!
Divirta-se por aí, em Madrid!
P.Rufino