sábado, dezembro 24, 2016

Um feliz Natal a todos
- e umas palavras especiais a alguns





Não sei se antes da noite desta véspera conseguirei cá voltar. E no dia 25 de certeza que só lá mais para a noite conseguirei abrir o computador. Por isso, agora que já é dia 24, gostaria de aqui deixar umas palavras natalícias aos meus Leitores.

Se quiser ser sincera, direi que sou agnóstica. Portanto, não atribuo significado religioso ao Natal. Contudo, festejar o Natal faz parte da minha vida, da minha tradição, da minha memória. Lembro-me de, bem pequena, do dia de Natal, dos presentes, dos meus avós a chegarem lá a casa, da minha família reunida, do tronco de natal delicioso que a minha tia fazia. Lembro-me de, a seguir, ir a casa de outras meninas mostrar a boneca nova que tinha recebido pelo Natal. Lembro-me, mais tarde, da alegria ao ver os livros novos.


Lembro-me, já eu casada, dos meus avós já mais velhinhos. Lembro-me da minha avó paterna, a primeira a partir, nos últimos anos, já com comportamentos um bocado erráticos que irritavam o meu pai que parece que se recusava a perceber que a mãe, por vezes, já não pensava lá muito bem. Lembro-me de um dia de natal muito estranho, ela a levantar-se a meio da refeição, a dizer que queria ir ver se um dos meus tios ainda estava em casa, e o meu pai incomodado, que ela se sentasse, como que irritado pelo comportamento inconveniente da mãe. O meu avô calado, triste, vendo o que se passava.

Depois, aos poucos, foram indo.


Lembro-me também da manhã de Natal em minha casa, os miúdos a acordarem muito cedo, eu ainda cheia de sono por termos chegado a casa já de madrugada, e eles irrequietos, cheios de impaciência, depois a sua alegria ao abrirem os presentes. Eu fotografava-os, encantada com a felicidade dos meus meninos, fofos, de pijama, todos eles sorrisos.

A véspera, por essa altura, era em casa dos meus sogros onde, para além dos seus filhos, se juntavam alguns dos seus irmãos. Quase não cabíamos na sala. Antes de para lá irmos, passávamos por casa de umas tias que preferiam passar a véspera em casa, sossegadas.

Quando já não restava quase nenhum dos mais velhos, deixou de ser este o programa de festas.

E não vou continuar porque a história dos natais é assim: uma história que é feita de muitas ausências.

Mas é também uma história em construção porque novos protagonistas vão chegando e novas casas vão fazendo variar o cenário.


Lembro-me da primeira vez em que faltou um elemento da família. Havia algumas lágrimas disfarçadas que os outros fingiam não ver. Depois parece que nos fomos habituando a este facto tão normal da vida. Ou talvez nem seja isso. Talvez seja que as crianças, sempre presentes, introduzem uma força vital que se sobrepõe à falta que sentimos dos que se ausentaram.

Escrevo isto e, no entanto, sei bem como se sente triste o coração dos que perderam pessoas muito próximas. E pode a perda não ser morte mas apenas separação, afastamento. Sei da saudade que sente um coração que não pode estar perto dos que se amam.

Imagino a solidão e tristeza dos que se sentem abandonados ou preteridos e que, nestes dias de reunião, se sentem postos de lado, esquecidos. Ou dos que têm famílias pequenas ou que passam por dificuldades e passam um Natal desolado, sem mesas fartas, conversas ruidosas e risos de crianças. 


Quando falo da minha casa, da barafunda que por aqui se gera, das conversas que se sobrepõem, crianças a correr e a brincar, cantigas e guitarradas, penso muitas vezes que isto pode ser uma lâmina afiada que atravesse o coração de quem se sente triste, sozinho em casa, infeliz por não conhecer a experiência do afecto partilhado. Espero que isto seja um temor infundado pois o que eu gostava mesmo era de estender esses laços de estima a quem me lê. Já me disseram que é como se eu fosse a família que não têm -- e isso encheu o meu coração de alegria e gratidão.

Enquanto escrevo, olho à minha volta. O chão da minha sala está cheio de presentes e eu penso na alegria ou surpresa de quem os vai receber. Mas penso também nos que não recebem nenhum. Há muito mercantilismo nisto. Mas há também qualquer coisa do gosto ancestral da dádiva. Eu gostava de levar algum presente aos meus Leitores que não vão receber outros, gostava de levar uma palavra de conforto aos que estão doentes, assustados, preocupados ou sozinhos. Gostava que soubessem que é, sobretudo, nesses meus Leitores que agora penso.


Os meus votos vão para todos: votos de saúde, de alegria, de dias vividos em harmonia. Mas vão, em especial, para os que não vão ter um abraço, não vão sentir vontade de rir, não vão ter alegria e afecto à mesa. A esses desejo que a sua sorte mude, que a saúde regresse (se for caso disso), que a alegria volte a ser sentida em casa, que a sorte esteja de volta muito em breve. Desejo que acreditem que dias melhores virão.

Costumava dizer o nome dos meus Leitores, gostava de pensar em cada um. Mas hoje não vou fazê-lo pois temo esquecer algum nome e não quero magar ninguém. Quero, contudo, agradecer a vossa companhia, a vossa simpatia. Recebi muitos mails de Leitores e ainda não consegui responder a todos. Quando acabar este post tentarei responder a mais alguns. Seja como for, a todos, o meu sentido agradecimento e saibam que retribuo os votos de festas felizes, de dias felizes.

Um bom dia de Natal.


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Pinturas de Fra' Filippo Lippi, (c. 1406 – 8 Outubro 1469). 

Sarah Schmidt e The Piano Guys interpretam Where Are You Christmas?

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10 comentários:

Anónimo disse...

Feliz natal, UJM, tudo de bom e que continue a fazer-nos companhia por muitos anos.

UC

Anónimo disse...

Olá, UJM!

Muito obrigada pelo seu post e pelos votos formulados!
Retribuo os votos de festas felizes, de dias felizes...
Um abraço apertado,
Conceição (Porto)

redonda disse...

Obrigada e Feliz Natal também
um beijinho
Gábi

Rosa Pinto disse...

HO HO HO

Cheguei a tempo....aqui fica a minha prenda: um beijinho para a nossa UJM.

Desejo-lhe um bom Natal e que 2017 traga tudo o que deseja.

Paz e Amor para todos.

Beijinhos

Um Jeito Manso disse...

Olá UC,

Gracias very much. E continue também por aqui, a fazer-me companhia, está bem?

E tudo de bom também para si, UC!

Um Jeito Manso disse...

Olá Conceição!

Que bom saber de si! Que saudades! Espero que vá tudo de vento em popa pelos seus lados. Obrigada pela companhia e de vez em quando dê notícias, está bem?

Um big abraço também para si, Conceição!!!!

Um Jeito Manso disse...

Olá Dona Redonda Gabi!

Bom vê-la por estas bandas. Obrigada pela presença aí desse lado e pelos votos.

E tudo de bom para si, Gabi! E um abraço.

Um Jeito Manso disse...

Olá Srª Dona Rosa Pinto!

Veio com sonoros Ho Ho Ho e eu até fiquei à espera de uma anedota com pais natais alentejanos ou assim... Mas mesmo sem anedotas ou poemas só a sua presença anima a sala e eu fiquei toda contente de vê-la por aqui. Gracias Rosa.

E já me despachou, aviando já os votos para 2017... Mas pronto, agradeço... Mas só lhos retribuo lá mais para o fim do ano. Não, envio já porque votos bons nunca são demais. Um belo, belo 2017 para si, bela Rosa. Que seja um ano cum surpresas boas. E saúde e alegria.

Beijinhos, Rosa.

Rosa Pinto disse...

Rosa, sff.

Até ri com o despacho!!! Sou assim. Mas volto para lhe desejar um bom ano.

Agradeço as palavras.
HO HO HO. As anedotas alentejanas (que conheço) não são natalícias - AI!

Até já!

Anónimo disse...

Olá
obrigada pelo que escreveu e sei que é sentido :)
Não fiz parte dos 50 leitores online nessa noite mas compreendo perfeitamente a ânsia com que alguns esperarão o conforto das suas palavras

Beijos GG