domingo, outubro 30, 2016

Onde Isabel ainda traz o regaço cheio de rosas
- e consegue a proeza de eu me mostrar aqui, numa selfie involuntária


Deixo para trás a minha oferta comercial destinada aos putativos senhores duplamente doutores formados em social-galdeirice e jota-trampolinice e, continuando o passeio por entre paredes faladeiras e as pessoas levitadeiras, vou revelar-vos o belo lugar por onde ando.

Isabel, a Rainha Santa, ainda por aqui anda e eu, ao mostrar-vos as rosas que traz no regaço, descobri-me por detrás dela. Pensei: não mostro esta fotografia. Mas depois, tomada por um súbito misticismo, achei que milagre que é milagre não dispensa uma selfie para o testemunhar.


Bem. Isabel está um pouco por todo o lado. Por vezes mais formosa, por vezes mais feiosa. Umas vezes com cinturinha de vespa, outras mais encorpada. Mas a coroa, as rosas e o ar generoso acompanham-na pela cidade.


Pelas ruas reina a animação. As cidades arranjaram-se, souberam descobrir os seus ex libris, e os habitantes e o turismo retribuiram o cuidado.


Património Mundial, a universidade e a cidade são preciosidades a céu aberto. O rio suavíssimo, romântico com a sua paisagem circundante, o casario, os fantásticos edifícios, as igrejas, os salões para os doutores de verdade formalizarem os seus rituais, a biblioteca. Tudo é encantador.

E, falando em biblioteca, a Biblioteca Joanina! 

Não se pode fotografar. Que desgosto não poder fotografar para vos mostrar. Linda, linda de morrer, linda. Aliás, linda não. Magnífica. E o cheiro! Tão bom. Andar por ali. O cheiro das madeiras, dos livros. As cores coadas por uma luz muito ténue. Devia poder lá ir à noite, apenas eu e os morcegos. Seria extraordinário. Não devia haver um único português que não conhecesse esta biblioteca. 


Natural, pois, que pelas ruas, para além da estudantina que enche o ar de música ou de jovial alegria, se ouçam brasileiros, espanhóis, franceses, muitos. Repito-me: entre paredes velhas, monumentos imponentes, torres históricas, uma animação. Não uma enchente como se vê em Lisboa mas muita gente, vozes alegres, línguas diferentes. Dá gosto.


Não vou pôr-me a falar de cada maravilha que porque são muitas, porque sei que, se me pusesse aqui a descrever cada sala, cada escadaria, a beleza da paisagem, a revitalização de espaços, a esplanada do museu pairando sobre a cidade, me tornaria ainda maçadora do que é costume.


O que vos digo é que, se ainda não conhecem, deverão tentar vir conhecer. É mesmo muito bonito.


No post abaixo já vos contei: fiz duzentas e tal fotografias. Agora nem sei o que escolher para tentar transmitir a ideia do que é a cidade ou para despertar em vós a vontade de aqui vir. Monumentos, estátuas. paisagens, ruas da cidade? 


Ou o rio? As pontes? A Sé? As omnipresentes escadas? As Faculdades?
Um aparte: admirada com o conhecimento de atalhos e de percursos que o meu marido demonstrava, já estava a ficar desconfiada. É certo que, durante um período, vinha frequentemente cá, a trabalho. Mas presume-se que uma pessoa que vem em visitas profissionais não sabe como chegar melhor ao largo das escolas ou de onde se tem uma grande vista. Perguntou-me, então, se eu já me tinha esquecido que ele tinha feito lá um semestre. É verdade, já nem me lembrava de tal coisa. Sem que consiga explicar bem qual o racional da coisa, veio fazer o 1º semestre do curso aqui. Ele e outro. Presumo que foi a ideia de virem para a borga. No entanto, nado e criado em Lisboa, acabou por achar que a terra era provinciana demais para os seus hábitos, que não era bem aquilo que procurava. Hoje seria certamente diferente mas lembremo-nos que isto de que falo foi na pré-história.
Foi num dessas alturas em que, estando ainda aqui a estudar aqui mas já a ver como se transferir, o vi um dia a entrar num pavilhão cheio de gente, olhando em volta e detendo um prolongado olhar em mim. Foi nesse momento que a coisa se deu. Nesse momento de puro acaso. 
Se não se tivesse desgostado desta cidade e ido em busca do regresso à capital, se não tivesse entrado ali naquele dia ou se o nosso olhar não se tivesse cruzado, a nossa vida teria sido outra. Ele diz, malícia na voz: 'já viste? podias ter ficado com os calmeirões angolanos que andavam atrás de ti e ser muito mais feliz...'. Típico. Tinha que sair parvoíce. Na altura, eu namorava outro mas ele faz de conta que já se esqueceu do facto e tenta ser jocoso. De facto, havia uns angolanos esculturais, negros, negros, que me achavam graça e a quem eu também achava graça. Mas, enfim, a graça que eu lhes achava talvez não fosse a mesma que eles achavam em mim. Mas não sei, nem isso interessa. Seja como for, rio-me (e, por prudência, não lhe dou troco).
Adiante.


A ver se num outro post, vos mostro algumas das casas da cidade, as ruas à noite, algumas montras. Mas, para já, deixo-vos com esta fotografia que me vi aflita para fazer pois orientasse eu a câmara como orientasse, alguma coisa ficava torta. A inclinação do piso e das ruas não facilitam uma perspectiva neutra. Mas acho esta parte da cidade tão fantástica que vos mostro mesmo assim com alguns prédios a parecerem que estão quase a cair -- mas não estão.


Subi por aquela rua estreita à direita e durante não sei quanto tempo mais continuei a subir.

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E claro que já toda a gente sabe a que cidade em que estou mas, para o confirmar, aqui fica a prova dos nove.




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Coimbra. Belíssima Coimbra.


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E queiram, Caros Leitores, continuar a descer porque a descer todos os santos ajudam. 

E, caso estejam a precisar de ser doutores, não deixem de ir bater à porta da UJM (Universidade Janadona e Marada) onde se servem canudos a pedido. 

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6 comentários:

Anónimo disse...

Coimbra é uma cidade encantadora. Vou lá por vezes.
Ainda há pouco, como lhe referi, organizou um belo Festival de Jazz.
P.Rufino

bea disse...

Fiquei com má impressão de Coimbra a última vez que a visitei. Mas se lembrar a primeira e o encanto da biblioteca joanina, da universidade, de um jardim que achei lindo e de que nem sei o nome, do rio, sou capaz de dizer que foi a mostra de outro mundo. A sua última foto está mesmo linda.

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Sim, é uma cidade com charme. Gosto de ir assim como agora fui, mesmo em turismo, sem programa, apenas flanar. Parece que só assim, à descoberta, é que se consegue ser surpreendido pela beleza dos lugares.

Só tenho pena é de ir sempre com pouco tempo. Mas se não há mais, paciência, aproveita-se o que há.

Uma boa noite para si, P. Rufino.

Um Jeito Manso disse...

Olá bea,

Coimbra modificou-se bastante nos últimos anos. Pelo menos, é a ideia que tenho. Desenvolveu-se, alindou-se.

O nosso país é muito bonito. Cada vez gosto mais de andar de terra em terra, e encantar-me. Mas, bea, se puder voltar a Coimbra, não deixe de lá ir. E vá como eu, fazendo de conta que é a primeira vez.

Uma noite boa para si, bea!

Anónimo disse...

Pra mim, Coimbra será sempre uma cidade romântica.
Há uns anos vivi lá uma semana de intensa paixão. Lembro-me da felicidade que senti em vários lugares que destacou. Há um sitio que me merece especial destaque, a Quinta das Lágrimas, para mim um dos sítios mais belos de Coimbra. Talvez por ter estado lá tão enamorada e ter até sentido ali a 'presença' de Pedro e Inês. Não sei.
Os seus textos e fotos sobre Coimbra trazem-me saudade e até algum desassossego, apesar de agora ser pouco dada a romantismos, confesso.
Obrigada por partilhar connosco os seus momentos.
L.

Um Jeito Manso disse...

Olá L.

Então, em especial para si, vou mostrar-lhe a Quinta dos seus apaixonados amores!

Espero que goste. Vou fazer isso agora.

Obrigada eu pela sua companhia e pelas suas palavras.