sexta-feira, fevereiro 05, 2016

Sou a louca mais domesticada que conheço.
E não há quem se sinta mais decepcionado com isso do que eu.
[E um pequeno parêntesis sobre António Costa, Passos Coelho e sobre as histéricas e venenosas viúvas laparianas]


Bem, no post que se segue já falei de moda e da minha relação com ela, já mostrei a moda primavera-verão 2016 segundo a casa Chanel e já mostrei a preparação das peças de alta-costura.

E agora estou a aqui a hesitar se hei-de gozar que nem uma perdida com o desplante do láparo, com a falta de moral, a falta de bom senso da criatura que agora aparece todo posudo, outra vez feito putativo estadista, fazendo de conta que não andou por cá nos últimos 4 anos a espatifar o país -- ou se não toque com as minhas mãos nas teclas que me levarão a escrever palavras de agonia e fale mas é de outra coisa.

Já decidi: vou falar de outra coisa.



Mas antes, deixem que abra aqui um parêntesis, coisa pouca.

O Orçamento, como já aqui tinha dito, foi aprovado pelo Governo, por Bruxelas (que tem mais que fazer do que meter-se em trabalhos com os tugas que nunca dão trabalho nenhum e que são umas boas cobaias para tudo, até para ensaiar uma inflexão na política europeia) e que agora vai ser aprovado no Parlamento. 

António Costa  tem vindo a afirmar-se como um mestre na negociação, uma mistura de negociador marroquino (quer chegar a 10 e, ao mesmo tempo, agradar à contraparte, e, então, começa por 100 para ir negociando, negociando, chegando onde quer e deixar o outro todo contente pela vitória que teve) e de príncipe florentino, cheio de manha, charme, todo escolado na arte da sedução e conquista. E, portanto, foi uma vez mais nas calminhas que levou a água ao seu moinho. 

Não sei se há algum maquiavel a aconselhá-lo ou se ele é conselheiro e príncipe numa única pessoa, como parece ser. Um case study, de qualquer maneira.
As histericazinhas do regime, as viúvas do láparo -- que nada percebem, que nada tentam perceber e que apenas têm a sua ignorância, a sua perfídia e o seu ódio a movê-las -- bem andaram por aí a inventar grandes crises, a vilipendiar, a tripudiar e a torpedear mas, hélas, não tiveram sorte em nenhuma das frentes de batalha que abriram, nomeadamente nas externas.


Só espero, agora, uma coisa: que o Governo e a coligação que o apoia percebam a importância da comunicação. Os saudosistas do láparo e os avençados a soldo dos endinheirados e diligentes agentes dos mercados tudo fazem e tudo farão para minar a opinião pública.


Há, pois, uma pedagogia séria a fazer, uma desmontagem de todos os ardis e bacoradas que foram propagados insistentemente. Durante quatro anos os portugueses foram vítimas de uma perversa lavagem cerebral que ganhou fundas raízes já que o terreno é fértil: os portugueses, dada a sua matriz cultural judaico-cristã, formatados para assumirem a culpa (nem que seja dos pecados dos outros), facilmente assimilaram uma história falsa.

Há muito trabalho a fazer neste domínio e, do que tenho visto, isto não está a ser acautelado. As notícias que ouço nas televisões são manipuladoras, facciosas, indutoras de ideias distorcidas. A desinformação deve ser percebida como o um risco sério que é.

Uma democracia saudável precisa de uma população bem informada. A desinformação massiva torna as populações vulneráveis a todo o tipo de manipulações e daí até aos regimes populistas, extremistas e perigosos, vai apenas um pequeno passo.


....

Mas, enfim, hoje estou sem grande vontade de vos maçar com este género de conversa pois só me apetece falar à bruta e acho que quem me lê não tem que levar com a minha revolta. Hoje, depois do rio manso da moda que corre mais abaixo, estou de mar revolto. E ou estou aqui num apertado esforço de contenção, coisa em que não sou especialista, ou parto para a bordoada e acho que, numa sexta-feira, ninguém merece.

Por isso, com vossa licença, vou partir para outra. Ora vamos lá. Vamos falar da loucura que é ser livre.

(...)


Loucura mesmo é perder os descaminhos por andar demasiado tempo sobre os trilhos. A trilha não compensa. É preciso não temer em demasia o beijo na lona. Contudo, admito, sou um maria-vai-com-as-outras. 


E por falar em efeito manada, em seguir a onda, loucura mesmo é achar a coisa mais comum do mundo quando o mar quebra na praia. As marolas nunca são iguais. Espuma e melancolia são coisas muito subjetivas, pois cada um investe poesia na sua vida da maneira que dá conta. Em tempo: o ato mais lírico e insano que já cometi foi ter cometido filhos. É um tipo de amor que não possui métrica. Não consigo rimar nada parecido com isso.

Loucura mesmo é buscar a fama sabendo que a fome da terra nos espera com os dentes de anteontem. Há uma pressa incompreendida no nascer-e-morrer do universo. Ninguém explica isso sem partir para o fanatismo. 

Não sei se você concordaria com isso, mas, fanatismo é reverenciar uma boa hipótese. 

Se sacasse alguma coisa a respeito dessa tal Geração Y, eu perguntaria aos universitários, sem titubear: o que é a vida, chapas? Rio só de imaginar as caras deles.

Pensando bem, se prestarmos muita atenção nos detalhes da nossa longa existência no planeta, notaremos que loucura mesmo é derrubar hectares e mais hectares de mata-virgem para asfaltar a relva e plantar espigões de concreto onde seres humanos se empilham. Há pouca ou nenhuma humanidade nisso. Não faz tanto sentido quanto afirmam os arquitetos. (...). 

Rômulo e Remo acharam plausível, líquido e certo mamar nas tetas de uma loba. Então, mamaram. Era uma questão de sobrevivência. O que esse adendo mítico tem a ver com a minha história? A não ser pela sedução do trocadilho, nada. Não reclame. Eu avisei que estava com a macaca. Você trepou com o meu texto porque quis. Mesmo assim, não se amofine. Estou aqui, próximo de um fim, agarrando-me a qualquer fio-da-meada que se me oferecer.

Loucura mesmo é ter coragem de levar a vida na flauta, à margem da escala-de-dó dos que sofrem por falta de tempo, com sanha por patrimônio material. Que vida odiosa levam os que buscam um futuro melhor gozando o presente da pior maneira. Loucura mesmo é contar dinheiro, várias vezes ao dia, na esperança de que apareça um pouco mais dele. É organizar carnês por data de vencimento. É fazer ginástica financeira, mas, enfartar por causa do sedentarismo. Coronárias não aceitam banha-de-porco, quem dirá, desaforo.

Você foi alfabetizado, amigo? Então, conte nos dedos quantos loucos deram certo na vida. Todos. Eu digo e repito, com medo de acertar: todos. Os malucos anônimos e os malucos geniais. Os loucos magníficos, mesmo sem pleitearem os louros, entram para a história e se tornam eternos. É comum que dependuremos os seus pôsteres nas paredes, a fim de admirarmos tanta petulância. É como se falássemos ao espelho: Queria tanto ter sido como você; doido, lindo, sincero e verdadeiro.

Mas existem demandas demais, compromissos demais, impostos demais, impostores demais esperando por nós: os homens normais. Esse status tolo no qual eu e você estamos inseridos faz parte do enfadonho, triste e conveniente convívio social — não necessariamente nesta ordem. Porque, quando o assunto é desordem, não entendemos nada. Quem dela se alimenta são os loucos-de-pedra. Os homens mais livres que já caminharam sobre a face da terra.


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O texto a itálico é um excerto de Loucura mesmo é ser livre do médico e cronista Eberth Vêncio na Revista Bula. O título do post pertence à parte do texto que não transcrevi (depois de o passar para o feminino, bem entendido que eu cá não sou louco coisa nenhuma, sou é louca mesmo).

As fotografias provêm da Vogue e são da autoria de alguns dos vários fotógrafos que têm contribuído para o prestígio da revista. A partir de dia 11 de fevereiro a exposição Vogue 100: A Century of Style pode ser visitada na National Portrait Gallery.


Lá em cima Sonia Wieder-Atherton interpreta Song In Remembrance Of Schubert.


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E queiram, agora, se para aí estiverem virados, descer até ao post já a seguir para saberem como me visto e para uma conversinha levezinha sobre a moda segundo aqui a vossa jeitosa mais mansa 
(ora aí está um bom nome para um outro blogue que eu invente A Jeitosa mais Mansa.)

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1 comentário:

Anónimo disse...

António Costa é um negociador exímio, sem qualquer sombra de dúvidas.
Bom fim de semana
L.